terça-feira, 27 de agosto de 2019

AS MÚSICAS MAIS CHATAS DA MPB (2a PARTE)



Ao criar  a primeira lista com as MÚSICAS MAIS CHATAS DE MPB, recebi tantas bordoadas nas redes sociais que  não me restou alternativa: fazer uma 2ª lista.
Como da outra vez, funk, pagode, axé e breganejo ficam de fora. Estamos tratando de MÚSICA. Mais especificamente, do andar de cima da MPB, o que exclui também Cláudia Leitte, Ivete Sangalo, Wanessa Camargo, Luíza Possi, Paula Fernandes, Anitta, Pablo Vittar et caterva.
Essa lista bem particular destaca as bolas fora dos craques da nossa música. Segue a lista (por ordem crescente de chatice):

20º ) RPM – LONDON LONDON
O álbum de estreia dos meninos do RPM foi batuta. Deviam ter parado por aí. O disco seguinte, ao vivo, mesmo vendendo 2 milhões de cópias, foi o anticlímax. Apesar das boas intenções, nada justifica, por exemplo, desencavar a extemporânea “London London” que, após a versão definitiva de Gal, deveria ter sido deixada quieta. Surreal: Paulo Ricardo entoando em inglês os versos melancólicos do exílio de Caetano perante uma atenta plateia de cocotinhas deslumbradas. Como diria Caetano, “vocês não estão entendendo nada”.

19º ) JOÃO GILBERTO – O PATO
A bossa nova está acima de críticas, ainda mais se vier interpretada pelo irrepreensível João Gilberto. O problema é que as indiscutíveis qualidades estéticas vieram muitas vezes acompanhadas de letras bobinhas e alienadas, centradas no corpo dourado, no sol de Ipanema e no chope gelado. Enquanto isso, a poucos metros, os morros exibiam uma realidade bem menos glamourosa. Já pondera Milton Nascimento: “ficar de frente para o mar e de costas para o Brasil não vai fazer desse lugar um bom país”. Dentre os revolucionários temas celebrados destacam-se  “o barquinho vai”, “você quer ser minha namorada?”, “era uma vez um lobo mau” e “o pato vinha cantando alegremente quém quém”. Quém é o pato dessa história?

18º) JOTA QUEST – FÁCIL
Jota Quest é um conjunto mineiro maneiro. Não chega a ser tão bom quanto o Skank mas é simpático. Comparados com alguns dos grupos que surgiram  mais tarde, são verdadeiros Beatles. Suas baladinhas honestas e descartáveis são inofensivas para a humanidade. Seu maior sucesso, “Fácil”, pelo menos não engana ninguém. A própria letra já explica a que veio: “Fácil, extremamente fácil, pra você e eu e todo mundo cantar junto”. O problema é que desgrudar dele é extremamente difícil.

17º) CHICO & MILTON – CÁLICE
Ok! Estamos falando de um ícone. Afinal, a pior música de Chico supera metade da programação da Nova Brasil somada. Mas, convenhamos, descontando-se sua condição de hino, “Cálice" está aquém do padrão do artista. Como tema de protesto, Chico fez coisas muito mais geniais como “Apesar de Você”, “Construção” ou as canções da peça Calabar. “Cálice”, na contramão do seu processo perfeccionista de criação, foi preparada a toque de caixa para apresentação na Phono 73, a pedido de Gil que fez a estrofe principal. A parceria não deu liga, os versos não fluem. Uma música pesada feita com muita raiva e pouca inspiração.

 16º ) BABY CONSUELO E PEPEU – O MAL É O QUE SAI DA BOCA DO HOMEM
Canções podem tratar de drogas sem provocar uma revolução: “Cocaine” (Eric Clapton), “Lucy in the Sky with Diamonds” (Beatles) ou “Legalize it” (Peter Tosh). Mesmo as lícitas: “É Proibido Fumar” (Roberto Carlos) e “Eu Bebo Sim” (Elizeth Cardoso). Nada contra. Pepeu Gomes, conhecido por ser um excelente guitarrista e um sofrível compositor/cantor (“Masculino Feminino” ou “Mil e Uma Noites de Amor”), optou por fazer uma abordagem ambígua: “você pode fumar baseado em que você pode fazer quase tudo”. Sutil como um mastodonte. Ao externá-la, faz jus ao título que o mal é o que sai da boca do homem. Decididamente uma droga.

15º) TIM MAIA – LÁBIOS DE MEL
Essa música está longe de ser ruim, nem poderia. Afinal estamos falando de mais uma eloquente performance do grande (em todos os sentidos) Tim Maia sobre uma composição de Édson Trindade, o mesmo que fez a maravilhosa “Gostava Tanto de Você”, a mais bacana canção do crooner carioca. O que atrapalha é aquele coralzinho nauseante que ocupa mais da metade da música gemendo insistentemente: “Deixa... Deixaaaaa... uhuhuhu Dei... Deixaaaaa... ahahaha”.

14º) TOM ZÉ – SÃO, SÃO PAULO, MEU AMOR
Alternativo, genial, “maldito”, Tom Zé tem todas as virtudes para ficar longe dessa passarela de vulgaridades. Incompreensível que tenha sucumbido ao populismo barato de apresentar uma música bocó homenageando São Paulo num festival realizado em... São Paulo. Obviamente a bajulação ganhou o público e até o júri que a premiou com o primeiro lugar à frente de concorrentes do quilate de Chico, Milton, Gil, Caetano, Vandré e Edu Lobo. A vingança é que, dentre as canções que louvam a cidade, o paulistano memoriza “Trem da Onze” de Adoniran, “Ronda” de Vanzolini, “Sampa” de Caetano e até a debochada “São Paulo, São Paulo” do Premê. De Tom Zé, só sobreviveu a estrofe chinfrim: “São São Paulo, meu amor”.

13º ) MARCOS VALLE – ESTRELAR
Há dois grandes templos às músicas de mau gosto. Na periferia, os pancadões; nas áreas nobres, as academias. Sempre me pergunto como se pode tornear um belo físico, sob o bombardeio continuado de intoleráveis bate-estacas. Nesse ambiente espúrio, é de se imaginar o que estaria fazendo uma canção  composta por um músico da categoria de Marcos Valle. O fato é que, a par de suas qualidades, Marcos tem o condenável hábito de ceder a modismos fúteis, como aderir a temáticas banais como o culto do corpo, o surf e outras, digamos, frivolidades: “tem que correr, tem que malhar, tem que soar”.

12º ) AMELINHA – FOI DEUS QUEM FEZ VOCÊ
O MPB-80 da Globo pode ser considerado o túmulo dos festivais. Dentre outras bizarrices, consagrou o cafonérrimo Jessé como melhor intérprete e premiou “Agonia” de Oswaldo Montenegro  cujo título auto-explicativo define com precisão a que veio. A vice-campeã não foi melhor: um 'forró-gospel' composto por Luiz Ramalho cujo único atributo é ser primo da Elba e do Zé. A letra boboca alardeia o tempo todo as obras divinas, embora o capeta que deve ter-se deliciado com o cacófato ‘foi-deus’.

11º) MARIA BETHÂNIA – É O AMOR
A compilação do disco “A Força que Nunca Seca” de Bethânia foi baseada em compositores  de primeira linha da música de raiz do Brasil pra gringo nenhum botar defeito: Villa Lobos, Ferreira Gullar, Catulo da Paixão Cearense, Caetano Veloso, Zé Miguel Wisnik e... Zezé di Camargo. What? Bem, a iconoclastia  talvez seja justificada pela famosa máxima de Caetano de que “Não há nada mais Z do que a classe A”. Tratando-se do surpreendente Caetano, dá pra relevar suas transgressões. O mesmo não se aplica à respeitável maninha que deveria ponderar duas vezes antes de abrir um flanco em seu seleto repertório para encaixar o tema sertanejo do tempero Sazon.

10º) ISABELA TAVIANI – A CANÇÃO QUE FALTAVA
Se Ana Carolina pode ser classificada como uma sub-Cássia Eller, Isabela Taviani seria a sub-sub. Nada de novo, Ângela Ro Ro já fazia com bastante competência o gênero ‘3º gênero’, bem antes. O problema é que as sucessoras herdaram mais a voz do que o talento. Se a carismática Cássia, fiel à sua índole debochada, arrombou as convenções com interpretações rasgadas sobre um repertório insólito, suas seguidoras são bem mais comportadas e... enfadonhas. Depois de “A Canção que Faltava” nada mais falta.

9º) JAIR RODRIGUES – MAJESTADE, SABIÁ
O “cachorrão”, como era conhecido, esteve presente em momentos históricos da MPB como na interpretação de “Disparada”, “Deixa Isso pra Lá” ou em sua inesquecível parceria com Elis Regina. Mas houve um período em sua carreira em que emergiu um lado sombrio de flertar com ‘lamentáveis lamentos’ provindos da roça  que definitivamente não combinam com sua adorável irreverência de sambista urbano. Dessa fase, “Majestade Sabiá” da rainha sertaneja Roberta Miranda, com a participação dos grão-duques Chitãozinho e Xororó. Deixa isso pra lá, Jair.

8º ) FAFÁ DE BELÉM – NOSSA SENHORA
Afora sua possante voz, seu jeito espalhafatoso e sua risada estridente, Fafá sempre procurou, acima de sua música, ressaltar suas coxas grossas e seus peitos fartos em vestidos escandalosos e decotados. De repente, num arroubo puritano, ressurge convertida em virgem, com ares angelicais, terço à mão, coberta com um imaculado véu, entoando com lágrimas nos olhos esse hino religioso da fase crente de Roberto Carlos: “Ave Maria, rogai por nós”. Senhor, apartai-vos de mim a hipocrisia.

7º ) JANE DUBOC – SONHOS
Jane Duboc trabalhou com nomes como Gismonti, Luís Eça, Érlon Chaves, Toninho Horta, Milton e integrou o memorável grupo Bacamarte. Chegou até a gravar um disco com o lendário Gerry Mulligan. Porém, quase fez desmoronar esse invejoso currículo quando, pressionada pela gravadora, topou vender a alma ao diabo, travestido de música ‘romântica’ (metáfora para ‘brega’). Essa transmutação, além de uns trocados a mais, rendeu-lhe uma safra de frutos podres: “Juntos pelo Amor”, “Só Nos Dois”, “Chama da Paixão” e a malfadada “Sonhos” que mais apropriadamente deveria chamar-se ‘pesadelos’.

6º) ZÉLIA DUNCAN – ALMA
Isoladamente a música simplória de Pepeu Gomes, a letra vanguardista de Arnaldo Antunes e a voz rouca de Zélia Duncan não chegam a comprometer. Mas a combinação desses três componentes resultou num petardo de suplício para o incauto ouvinte. Um estrupício sonoro repetitivo e enfadonho que metralha por mais de quatro minutos nossos ouvidos com ‘almas’, ‘calmas’, ‘palmas’ e ‘traumas’. A Globo amplificou o impacto deletério da desgraça inserindo a música na trilha, não de uma, mas de duas novelas (Alto Astral e O Clone), fazendo desse martírio um sucesso radiofônico de dupla potência. 

5º) SIMONE – É NATAL
Quando o ativista John Lennon compôs seu clássico natalino “Happy Xmas” (que significativamente tem o subtítulo de “War is Over”) estava pensando num manifesto a favor da paz, na linha de “Imagine” (em que sonhava com um mundo sem religiões). Não podia antever que sua canção fosse encampada por uma penca de artistas bregas e carolas que vão de Celine Dion aos Tenores, passando pela aborrecente  Miley Cyrus. No Brasil, a apropriação foi ainda mais indevida: Padre Marcelo, Roupa Nova, Victor e Leo, Luan Santana e, é claro, Simone, que tornam nossas festas de final de ano menos felizes.  No próximo Natal, chute o balde. Ponha pra rodar os Garotos Podres: “Papai Noel filho da (*), porco capitalista”.

4º) ZIZI POSSI – PER AMORE
Desde as óperas de Verdi, os italianos têm o peculiar dom de nos fazer derreter em lágrimas com temas melosos como “Dio Come Ti Amo”, “Roberta’, “Champagne” ou “Con te Partirò”. Trata-se de um singular talento carcamano. Por aqui, as paixões têm uma intensidade menos melodramática. Por isso, brasileiros que fazem incursões ao cancioneiro macarrônico conseguem resultados pífios. Primeiro, Renato Russo renegou sua adorável rebeldia punk ao aderir ao repertório kitsch de  Laura Pausini.   Depois, Zizi Possi denigre sua refinada elegância com açucaradas declarações de amor de Mariella Nava. Ma che cazzo!

3º ) PEDRO MARIANO E ROBERTA SÁ– UM SONHO A DOIS
Jairzinho, Simoninha, Max de Castro e Pedro Mariano têm 3 coisas em comum: a) gene artístico nobre, b) afinidade musical, c) chatice.  Os quatro prestam enorme serviço à memória de Jair, Simonal e Elis pois ao escutar os filhos sentimos a imensa falta que fazem os pais. Pedro Mariano, apesar de suas evidentes qualidades vocais, não consegue deixar de ser cruelmente irritante com suas ladainhas. Com esse duo com Roberta Sá, superou-se: fazer uma regravação da dupla Joanna/Roupa Nova sobre uma composição de Sullivan e Massadas, ou seja a fina flor da breguice reunida. A nova versão teve ao menos o mérito de provar que tudo o que parece ser insuportavelmente ruim, sempre pode ser piorado.

2º ) JORGE VERCILLO – QUE NEM MARÉ
Vá lá, um Djavan a gente aguenta. Mais dois já é demais. Jorge Vercillo era para ter sido jornalista. Para nossa infelicidade, resolveu dedicar-se à música, após escutar uma fita K7 do... Djavan. Parece que a fixação continuou pelo resto da vida. E o aprendiz imitou com tamanha perfeição  o mestre que o desbancou.  Deve ter realmente algum dom divino para conseguir fazer sucesso com músicas tão insípidas. Tem gente que consegue enxergar qualidade. Pode ser que lá no fundo, haja alguma. Mas uma coisa é consensual: o cara é realmente muito chato. Com “Que nem maré” a pieguice atingiu os píncaros “N’da mais vai me fazer desistir do amor, n’da mais, n’da mais, n’da mais”.  Q’pena!

1º ) ANA CAROLINA E SEU JORGE – É ISSO AÍ
Essa é unanimemente a canção mais chata dos últimos 519 anos. Poderiam até adotá-la nos caminhões que vendem bujões de gás, reabilitando a coitada “Pour Elise” que jamais mereceria esse inglório destino. Ana Carolina, desde que despontou nas FMs, não parou de vender discos e produzir bocejos. Jamais imaginou que fosse superar o massacre radiofônico perpetrado por "Someone Like You" de Adéle. Menos ainda através de  uma inimaginável versão do cantor deprê Damien Rice, utilizada no filme Closer. É claro, trocando a melancolia do original por torpor. Convocou para essa empreitada Seu Jorge que abandonou o swing black para incorporar o infindável  chororô.

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