Manter diálogo com um petista é uma
tarefa desafiadora que requer preparo, jogo de cintura e sobretudo bastante controle
emocional.
O primeiro passo é conhecer bem o perfil
do interlocutor. O biotipo 'homo petistus' deve ser compreendido dentro da
totalidade de seu universo particular.
Inicialmente, devemos saber se a
pessoa em questão é de fato um autêntico exemplar da espécie. Há maneiras empiricamente comprovadas
de identificá-lo em poucos segundos. Faça um teste simples. Fale com ele sobre “os
benefícios da Operação Lava Jato para o país”, “a falta de liberdade em
Cuba” ou “a morte de Celso Daniel”. Se ele mudar de assunto, pode
apostar: é petista!
Um método menos constrangedor é
perguntar-lhe casualmente qual o último presidente eleito: se responder que foi
a “PRESIDENTA” Dilma, entregou o jogo: petista!
Obviamente, ninguém nasce petista. As
pessoas nascem ‘normais’, sem rótulos, crescem, fazem escolhas durante a vida,
desenvolvem-se. Ao petista, esses passos são sempre mais difíceis
pois são acompanhados de julgamentos críticos e sentimentos de culpa.
Ao contrário dos demais mortais, o petista
é desprovido do dom do livre arbítrio que lhe é retirado durante a fase escolar. Desde cedo, o noviço que só queria brincar,
namorar e ser feliz é aterrorizado e subjugado por questões dramáticas como
a “influência nefasta da globalização nos mercados emergentes” ou “os efeitos
negativos do neoliberalismo sobre a distribuição de renda”.
Os conceitos embutidos pelos
educadores (petistas) em seu cérebro cristalizam-se e transformam-se em verdades
absolutas. Para ele, a diversidade, celebrada em questões raciais ou sexuais, é inadmissível do ponto de vista político, onde questionamentos são inconcebíveis.
O pensamento binário do petista pode ser sintetizado em dois princípios básicos: 1) todo tucano é inimigo, 2) todo inimigo é tucano. Nem
tente argumentar que a realidade é mais complexa.
Ele não vai processar essa informação.
A intolerância aos tucanos se
contrapõe à condescendência a políticos de estirpe diversa como
Sarney, Maluf ou Collor, poupados por terem sido aliados de ocasião. No
universo petista não existe motivação lógica, ideológica ou epistemológica. A
questão se resume ao preceito: mais vale um aliado corrupto do que um desafeto
íntegro. Ou, em outras palavras, “quem não está por nós, está contra nós”.
E dá-lhe votar contra tudo que não é obra
do PT: Constituição de 88? Foram contra. Plano Real? Contra. Lei de Responsabilidade Fiscal? Contra. E
já podemos antever: Reforma na previdência? Serão contra. Reforma política?
Contra. Reforma tributária? Contra. Reforma do judiciário? Contra. Reforma
trabalhista? Contra. Reforma penal? Contra. Contra, contra, contra. São apenas
a favor deles mesmos.
Para combater o purismo petista, seja
tolerante e agregador. Não seja “contra” eles. É uma forma de mostrar-lhes que
o mundo pode ser mais interessante quando incorporamos alternativos pontos de
vistas.
De nada adiantará deixá-los irritados, lembrando maldosamente que, em 2014, os petistas votaram em Temer para vice. Dizer que o Lula é corrupto, então, é
motivo de rompimento definitivo de relações. Jamais mencione isso.
Seria o mesmo que pedir a um muçulmano para admitir que Maomé é imperfeito. Há dogmas que não devem ser profanados.
Também não incorra no erro comum de
tentar entender o PT como partido político, o que só provoca estéreis
discussões ideológicas. Entenda o PT como uma seita ou um time de futebol. E seus
correligionários como sua torcida organizada. O petista empunha bandeira, veste orgulhoso sua
camiseta vermelha e encara seus integrantes como ídolos a serem venerados.
Pouco importa sua idoneidade moral ou seu pensamento político. O que interessa é
que ele joga no seu time. Você já tentou convencer um membro da Gaviões da Fiel
que o Palmeiras pode ser melhor opção do que o Corinthians? É o mesmo. Não lhe peça uma
reflexão ou uma autocrítica. Seria exigir demais da criatura.
Compreenda-o como uma criança birrenta
e trate-o com amor para abrandar seu ódio perene. Ele tem qualidades. É
aguerrido, perseverante e tem sensibilidade artística latente (embora nunca
abra mão de exercer o patrulhamento ideológico dos ídolos). Aprecia bons filmes
(com conteúdo social) e bons livros (de autores de esquerda). Um diálogo
construtivo com esse ente pode ser gratificante para ambas as partes.
Não se furte a reconfortá-lo nesse
momento difícil para ele. Não é só por
causa da queda da Dilma. Seus ídolos também se tornaram escassos e medíocres.
Antes louvava Guevara e Mao Tse Tung, hoje só tem Maduro e Kim Jong-un. Admirava
Celso Furtado e Darcy Ribeiro, hoje cultua Jean Wyllys e Ciro Gomes. Antes recitava
Adorno e Marcuse, hoje cita a Mídia Ninja e o blog do Sakamoto. Sua leitura de cabeceira era O Capital, hoje
é a Carta Capital. Preconizava a revolução do proletariado, hoje defende o
bolsa-família.
Um último recado: embora a maioria
deles se declare ateu, não leve a sério. Eles acreditam sim em Deus. Para eles,
deus vive entre nós e tem barba. E só quatro dedos na mão esquerda.