- Obrigado,
mestre, por dar essa canja.
- Tá, depois
você me manda uns alunos e fica tudo bem. Nunca deixo de prestigiar
profissionais não alinhados aos vermelhos.
- Como foi o processo de apoio ao presidente eleito?
- O Bozo? Sempre desconfiei que a vocação dele era
mais para estatista do que para estadista. Quase foi cooptado pelos militares esquerdistas.
Se me permite o infame trocadilho, estava ‘PRESTES’. Eu só o apoiei por causa dos
meninos. Eles me convenceram de que, durante a campanha, converteriam aquele capitão
bronco pra agenda liberal. Estavam certos. Bastou falar que, pra liquidar a
esquerda e o MST, era mais eficiente abrir a economia do que armar os fazendeiros,
ele topou na hora. Passou até a apoiar a reforma da Previdência. Esses meninos
são meu maior orgulho.
- O senhor se refere aos filhos do presidente?
- Claro! O Carlinhos e o Dudu são meus fieis
seguidores. Graças a discípulos como eles, minhas aulas estão sempre repletas
de otár..., digo, alunos. Eles me ajudaram também a arrecadar fundos para pagar
uma multa milionária por sonegação de impostos. Nem mesmo sob Trump, a Receita
americana larga do meu pé. Uma ingerência inaceitável do Estado na vida do
cidadão.
- E como o senhor avalia os primeiros meses do presidente?
- Meio decepcionado. Ele trocou militantes por militares.
A coloração do governo tá mais pra oliva do que pra Olavo. Precisa
‘endireitar’.
- O senhor não acha que esses embates com os militares
podem prejudicar o governo?
- E daí? Não posso abrir mão da minha imagem de
polemista desbocado. Bastou chamar o general Santos Cruz de “bosta engomada”,
meu livro subiu 3 posições na lista de mais vendidos.
- Mas isso, não pode desgastar Bolsonaro?
- O Mike Pompeo já me orientou a não perder tempo com
a América Latrina. Tudo que fica ao sul do Texas é shit. Não temos tempo a
perder com essas republiquetas. Só precisamos de muitos quilômetros de muros e
arame farpado pra manter essa sub-raça de viralatas de bombachas fora do
território americano. Termos ao Sul um vassalo servil quando precisarmos de
apoio estratégico, já é alguma coisa.
- O senhor mantém contato direto com o governo Trump?
- Eles me dão um subsídio mensal pra manter a pregação
entre os incivilizados do Terceiro Mundo com esse blábláblá de ‘hegemonia da
civilização ocidental’, ‘multiculturalismo’, ‘ameaça comunista’ e outras
baboseiras. Nosso foco é outro. A única figura imprescindível é o Netanyahu,
além das novas lideranças da direita europeia. Aquele cara da Hungria é bom,
mas meio fracote com os imigrantes. O da Bulgária também, mas é um cagão: pra
fazer média com a comunidade católica recebeu aquele comuna-mor de batina.
- O senhor refere-se ao papa? Mas o senhor não é fiel
a Cristo?
- Cristo? Aquele comunistazinho judeu que conspirava com
os bárbaros contra o portentoso Império Romano? Um merdinha revolucionário. Meu
negócio é direto com o pai. Quero lá saber do filho bastardo. Está na hora de fazer
uma revisão do evangelho e valorizar os ensinamentos do Antigo Testamento,
pilar da civilização judaico-cristã.
- Como o senhor avalia a influência que exerce sobre o
atual governo?
- Bom, o pai zonzão come nas mãos dos filhos que comem
na minha mão. Isso basta. Esse negócio de ministério é secundário. O chanceler Ernesto
Araújo é nossa grande aposta, um fiel escudeiro do trumpismo num posto chave. Só
que não deixam o homem trabalhar. O filho da p(*) do Mourão conseguiu congelar a
mudança da embaixada brasileira pra Jerusalém. E a representante da turma do
boi, a vaca da ministra da Agricultura ainda preparou um jantar pra bajular os
patetas muçulmanos e convencê-los a não barrar a importação de carne. Precisou
de um banquete com bastante kibe cru e kafka preparados com a autêntica carne halal
pra eles amansarem o discurso.
- O senhor quer dizer kafta...
- É isso! Precisamos apoiar a cruzada de Netanyahu
contra os infiéis de turbante. Israel é o baluarte do Ocidente glorioso naquele
c(*) de mundo, resolve pra nós o problema dos palestinos da única maneira
possível: exterminando todos. Pra cada israelense morto, ele mata 100 filhos da
p(*) na faixa de Gaza.
- Voltando ao Brasil, qual sua opinião sobre Lula?
- Longa vida na prisão para o bêbado barbudo. Sem ele,
não seríamos nada. O dia que ele morrer, morre junto o PT. E aí, quem vamos
martirizar? E ainda ele nos fez o favor de deixar no comando aquela idiota da Gleisi,
elogiando o Maduro e o STF. Não podíamos ter inimigo melhor pra bater.
- Pra finalizar, mestre, é verdade que o senhor não
acredita em aquecimento global?
- Claro que não. Assim como evolucionismo, teoria da
relatividade, heliocentrismo, vacinas e outras asneiras produzidas pelo
marxismo cultural. Estou preparando estudos desmascarando a farsa televisiva do
homem na Lua e provando pra esses cientistas ateus que o ‘buraco negro’
fotografado há pouco é, na verdade, o c(*) de Deus.
- Algum novo livro em vista?
- Tenho alguns ensaios quase prontos: “Estratégia
Gramsciana de Doutrinação Infantil nos Ensinamentos de Dona Benta”, “Benefícios
do Tabaco no Combate a Tumores Malignos”, “A Ameaça Globalista dos Médicos Sem Fronteiras”
e “Islamização do Ensino: Influência Nefasta dos Algarismos Arábicos na Destruição
dos Valores Cristãos da Matemática”
- Obrigado pela entrevista, mestre.
- Leve uns panfletinhos do meu curso de filosofia.
Aceito artistas. Órfãos da Lei Rouanet têm desconto. O Lobão e o Roger já são
meus discípulos. A Regina Duarte e a Nana Caymmi acabaram de se inscrever. Faço
também mapas astrais a preços módicos.