Por
ocasião dos debates do foro do G20, o ministro-general Augusto Heleno, revivendo
o garboso trato dos tempos da caserna, lançou uma proverbial recomendação aos
respeitáveis estadistas europeus que pediam esclarecimentos sobre a política
ambiental brasileira: “vão procurar a sua turma”.
E qual
seria a turma do general Heleno? Difícil determinar já que há diversas “turmas”
entranhadas no governo. Há a ‘olavete crew’ ou ‘turma terraplanista’ que inclui,
além de alguns ministros bizarros, a desvairada prole Bolsonaro. A “turma do agrotóxico”
ou “turma do veneno”, capitaneada pela ministra da agricultura. A turma evangélica
designada “turma da goiabeira” ou “turma azul e rosa” encabeçada pela ministra
Damares. A “turma Ipiranga” ou “turma previdenciária” que cuida da Economia. No
Legislativo, temos “turma do laranjal”, reforçada por alianças ocasionais com
outras turmas: a turma da bala, a turma da bíblia, a turma do boi. E nos
bastidores, a “turma do barulho” incumbida de espalhar freneticamente milhares
de whatsapps e fake news jogando lama nas turmas desafetas.
O
general Heleno certamente não pertence a nenhuma dessas turmas. A turma dele é
mais sóbria e discreta, e a que mais cargos ocupa no governo. É a “turma verde-oliva”.
Mas a dúvida permanece pois essa categoria é na verdade um conglomerado de
turmas. Em qual delas militaria o
assessor presidencial? Certamente não na do general Santos Cruz que andou se
estranhando com a poderosa olavete crew,
e acabou escorraçada dos altos escalões. Tampouco na turma do general
Mourão, também chamada de “turma do deixa disso”, preocupada em desanuviar o
mal estar causado pelas declarações estapafúrdias do presidente. Sendo de
reserva, o general Heleno também é incompatível com a turma da ativa do recém
empossado general Ramos.
Seria
então o ministro Heleno um ‘lobo solitário’ ou formaria a turma do ‘eu
sozinho’? Ou, quem sabe, pertenceria à turma dos inclassificáveis?
Essa
turma de turmas que gravita em torno do presidente, não obstante sua
heterogeneidade, tem um denominador comum: o orgulho de ter tirado do poder a temível
turma rival (tachada de ‘quadrilha’) que por 13 anos esteve no comando,
distribuindo cargos e vantagens exclusivamente para quem era da turma. Essa
turma desarticulou-se quando seu comandante-chefe foi tirado de circulação pela
turma da Lava Jato sediada em Curitiba
Quando
no poder, caracterizou-se ela por ter dividido a nação em duas grandes turmas antagônicas:
a turma do ‘nós’ e a turma do ‘eles’. Àqueles que não pertencessem à turma do ‘nós’,
ficando alijados das benesses do poder, restavam dois caminhos: 1) Vender seu
apoio, vindo a integrar a turma do ‘mensalão’; ou 2) Manter sua (o)posição, passando
a constituir a turma dos ‘inimigos do povo’.
E assim
ficou estabelecido que o país ficaria irremediavelmente reduzido a duas turmas:
a “turma dos mortadelas” e a “turma dos coxinhas”. Todos, até mesmo os veganos,
teriam de optar. Não havia “turma” do meio.
O
segundo turno das eleições reforçou a divisão. O voto útil já havia desidratado
as turmas menores, do Alckmin, da Marina, do Ciro. O espólio foi arrematado pelas
duas turmas que sobraram da primeira fase do pleito.
Face
ao ingrato dilema Bolsonaro X PT, muitas pessoas, incapacitadas de escolher, tiveram
de resignar-se pela turma “menos pior”.
A
discussão, sobretudo nas redes sociais, ao invés de centrar-se em programas e
propostas, passou a focar nos podres da turma contrária. As duas turmas, tão
opostas no espectro político, revelaram-se surpreendentemente parecidas nos
métodos agressivos de convencimento, na sordidez dos argumentos e na falta de
ética.
Levado
a esse lamaçal, o país tornou-se opaco de ideias. Tendo de escolher entre o
branco e o preto, tornou-se cinzento.
Aquele
que se recusou a alinhar-se a uma das duas vertentes passou a ficar
‘desenturmado’. Passou a se sentir um peixe fora da água, ou melhor, fora do
cardume. Muita gente ficou nessa condição. Poderiam até criar uma enorme turma
dos ‘sem-turma’.
Na
impossibilidade de escolher uma turma, houve quem tentou comparar os
candidatos. De um lado, um civilizado professor universitário, advogado, afeito
ao diálogo. De outro, um capitão bronco, belicoso, defensor da tortura. A
escolha parecia fácil. O problema era ter certeza de que o voto iria eleger
efetivamente o moderado professor ou a turma dele...
Houve
alguns insurgentes que rejeitaram sujeitar-se a uma das turmas disponíveis, decidindo
com hombridade pelo voto nulo. Aqueles que conscientemente escolheram a ‘terceira
via’, não optando por nenhuma das duas turmas, arrumaram encrenca com as duas. Ficaram
segregados como se fossem ET’s. Tiveram que se explicar pra turma que não
faziam parte da turma inimiga.
O
fato é que esse negócio de turmas já deu. Bons tempos quando as únicas turmas que
importavam era a Turma da Mônica, a Turma do Didi, a Turma do Balão Mágico. Tempos
em que a turma podia se reunir, contar piadas, falar sobre religião, futebol e
política sem ofensas, cobranças ou doutrinação.
Exagero?
Não concorda? Ok, então vá procurar sua turma.