segunda-feira, 3 de junho de 2024

AMARELOU

 
“Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela, minha cabeça talvez faça as pazes assim” (Chico Buarque, Pelas Tabelas)

Hoje vi emocionado o verde-amarelo ressurgir exuberante na avenida Paulista. Obviamente, não me refiro ao verde-amarelo cívico, brega, que tristemente nos acostumamos a presenciar e a temer, trajado por gente odiosa e odienta que enaltece armas, prisões, repressão. Na verdade, rebanhos monocromáticos de bem nutridas ovelhas brancas. Cujos filhos e filhas, desde cedo, são instados a se autoproclamar azul ou rosa.

O verde-amarelo que hoje me arrancou um sorriso nada amarelo é o que resgata todas as cores, inclusive o vermelho, tão recluso, coitado. Mas também o azul, o violeta, o laranja e as demais cores do arco-íris da diversidade. Um palco onde desfila gente de todos os tons: brancos, pretos, pardos e amarelos. Onde são bem-vindos, excluídos, indigentes, índios, imigrantes, heteros, homos, trans. A galera do L, do G, do B, do T, do QIA + as outras letras do alfabeto que abriga todas as tribos que fazem a riqueza do nosso povo mestiço e plural.  Onde ninguém nem por isso pede pra prender ninguém nem atirar em ninguém. Todos exaltando a aquarela da tolerância e da alegria. Um multicolorido que expressa o real significado das palavras democracia, fraternidade, inclusão. Onde todos têm direitos iguais, não importa sua classe, sua religião, seu time de futebol, sua ideologia, sua orientação sexual. Onde cada um é o que é e aceita o próximo do jeito que é.

Hoje pudemos tirar do fundo do armário da vergonha nossas empoeiradas blusas amarelas para exibi-las, sem medo de ser confundido com um babaca.

O amarelo que vi hoje não é embalado por hinos ou marchas militares, mas por músicas para dançar, de funk a Madonna. Sim, a diva loira, que aqui aportou para quebrar os tabus da opressão e do preconceito. A ela, uma americana, uma cidadã do mundo, devemos a primazia de resgatar para todos os brasileiros com orgulho as cores da sua bandeira, para ódio dos falsos moralistas que a usurparam e a conspurcaram com seu ódio varonil. Aqueles infelizes que usaram o verde-amarelo para ocultar o mundo cinza de suas vidas incolores.