“Quando
vi todo mundo na rua de blusa amarela, minha cabeça talvez faça as pazes assim” (Chico
Buarque, Pelas Tabelas)
Hoje vi emocionado o verde-amarelo
ressurgir exuberante na avenida Paulista. Obviamente, não me refiro ao
verde-amarelo cívico, brega, que tristemente nos acostumamos a presenciar e a
temer, trajado por gente odiosa e odienta que enaltece armas, prisões, repressão.
Na verdade, rebanhos monocromáticos de bem nutridas ovelhas brancas. Cujos
filhos e filhas, desde cedo, são instados a se autoproclamar azul ou rosa.
O verde-amarelo que hoje me arrancou
um sorriso nada amarelo é o que resgata todas as cores, inclusive o vermelho,
tão recluso, coitado. Mas também o azul, o violeta, o laranja e as demais cores
do arco-íris da diversidade. Um palco onde desfila gente de todos os tons:
brancos, pretos, pardos e amarelos. Onde são bem-vindos, excluídos, indigentes,
índios, imigrantes, heteros, homos, trans. A galera do L, do G, do B, do T, do QIA
+ as outras letras do alfabeto que abriga todas as tribos que fazem a riqueza
do nosso povo mestiço e plural. Onde ninguém nem por isso
pede pra prender ninguém nem atirar em ninguém. Todos exaltando a aquarela da
tolerância e da alegria. Um multicolorido que expressa o real significado das
palavras democracia, fraternidade, inclusão. Onde todos têm direitos iguais, não
importa sua classe, sua religião, seu time de futebol, sua ideologia, sua orientação
sexual. Onde cada um é o que é e aceita o próximo do jeito que é.
Hoje pudemos tirar do fundo do
armário da vergonha nossas empoeiradas blusas amarelas para exibi-las, sem medo
de ser confundido com um babaca.
O amarelo que vi hoje não é embalado
por hinos ou marchas militares, mas por músicas para dançar, de funk a Madonna.
Sim, a diva loira, que aqui aportou para quebrar os tabus da opressão e do
preconceito. A ela, uma americana, uma cidadã do mundo, devemos a primazia de
resgatar para todos os brasileiros com orgulho as cores da sua bandeira, para
ódio dos falsos moralistas que a usurparam e a conspurcaram com seu ódio
varonil. Aqueles infelizes que usaram o verde-amarelo para ocultar o mundo
cinza de suas vidas incolores.