Meu destino
foi moldado pelos filmes que assisti. A música que os acompanhou faz a trilha
sonora da minha vida. Segue a 4ª parte:
O filme marca a ascensão de heróis
negros no cinema americano (no caso, o durão detetive particular John Shaft) em
oposição à prevalência de personagens centrais brancos. O vencedor do Oscar
THEME FROM SHAFT, principal tema musical do filme, que combina funk, soul e
jazz, composto pelo músico Isaac Hayes, tornou-se lendário. Foi lançado como
faixa principal de um álbum duplo que alcançou um sucesso arrasador trazendo
outros temas do filme (em boa parte, instrumentais). Em 2000, foi feito um
remake com Samuel L Jackson no papel principal (como sobrinho do Shaft
original) dirigido por John Singleton (BOYZ N THE HOOD), com nova versão do
histórico tema original.
62) BLOW UP (Michelangelo Antonioni), 1966
O clássico do diretor italiano (mas rodado inteiramente em inglês), estrelado por David Hemmings e Vanessa Redgrave, trata de um suposto assassinato captado acidentalmente por um fotógrafo de moda, história baseada num conto do escritor argentino Julio Cortazar. A trilha foi composta pelo pianista Herbie Hancock sendo executada por uma trupe de primeira (Freddie Hubbard, Joe Henderson, Ron Carter, Jack DeJohnette, Jimmy Smith etc.). Todavia, o charme é o rock STROLL ON executada pelo grupo Yardbirds (com Jeff Beck e Jimmy Page) que aparece ao vivo tocando no filme. Antonioni tem outros filmes famosos como A NOITE, PROFISSÃO REPÓRTER (O PASSAGEIRO) e ZABRISKIE POINT, cuja trilha se tornou cultuada por conter canções inéditas do Pink Floyd.
63) A LIBERDADE É AZUL (Krzysztof Kieslowski), 1993
O compositor polonês Zbigniew Preisner distinguiu-se por criar e executar as trilhas da celebrada ‘trilogia da cores’ (TROIS COULEURS) do seu conterrâneo Kieslowski, a saber, A LIBERDADE É AZUL (BLEU), A IGUALDADE É BRANCA (BLANC) e A FRATERNIDADE É VERMELHA (ROUGE), com base na composição da bandeira francesa e nos ideais da Revolução Francesa. O primeiro e mais conhecido episódio, BLEU, é estrelado por Juliette Binoche. Priesner também musicou outro filme famoso do mesmo diretor, A VIDA DUPLA DE VÉRONIQUE, além de O JARDIM SECRETO, filme-fantasia com produção executiva de Francis Ford Coppola.
64) O HOMEM DE BRAÇO DE OURO (Otto Preminger), 1955
Diversos clássicos do diretor Otto Preminger tiveram trilhas marcantes como LAURA (cuja música tema de David Raskin tornou-se um concorrido standard de jazz), ANATOMIA DE UM CRIME (trilha assinada pelo mestre Duke Ellington) e EXODUS (com uma trilha épica condizente). A conhecida música de O HOMEM DE BRAÇO DE OURO, filme estrelado por Frank Sinatra, Kim Novak e Eleanor Parker, é assinada pelo afamado maestro Elmer Bernstein, responsável por outras grandes trilhas como a de OS SETE MAGNÍFICOS, O GRANDE MOTIM, MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA e (pasme!) da comédia sobrenatural GHOSTBUSTERS (OS CAÇA-FANTASMAS), cuja música tema tornou-se grande sucesso.
Clint Eastwood é um aficionado por jazz, como demonstra a música que acompanha boa parte dos filmes em que atuou como diretor, a maioria dos quais composta pelo próprio Clint. Esmerou-se nessa produção que trata da vida atribulada (vício em drogas e problemas financeiros e de racismo) e curta (faleceu aos 34 anos) de Charlie Parker, ou Bird, como era conhecido, na tela representado por Forrest Whitaker. A trilha apresenta 11 canções remixadas do saxofonista criador do bebop, sendo adicionados aos solos originais de Parker acompanhamentos de músicos contemporâneas.
Lyne é um bem sucedido cineasta com
produções de grande bilheteria como 9 ½ SEMANAS DE AMOR (com sua trilha
sensual), PROPOSTA INDECENTE e ATRAÇÃO FATAL. Maior sucesso da carreira de
Jennifer Beals, FLASHDANCE foi comercialmente um arraso, assim como sua trilha.
Apesar das críticas mal humoradas, poucos não se emocionam ao escutar WHAT A
FEELING com Irene Cara (Oscar de canção original) ou MANIAC com Michael
Sambello. As canções foram compiladas pelo DJ Giorgio Moroder, produtor de
Donna Summer, e com vasta atuação durante a era disco. No cinema, assinou
também as trilhas de EXPRESSO DA MEIA NOITE (ganhadora de Oscar), TOP GUN,
GIGOLÔ AMERICANO, SCARFACE e A MARCA DA PANTERA.
67) MELODIA IMORTAL (George Sidney), 1956
THE EDDY DUCHIN STORY foi um filme
biográfico estrelado por Tyrone Power e Kim Novak (no auge de sua beleza) sobre
o pianista Eddy Duchin, sendo os números musicais tocados pelo consagrado
Carmen Cavallaro. A trilha sonora cujo álbum foi um dos campeões de vendas de
1956, inclui até uma versão de AQUARELA DO BRASIL de Ary Barroso. A música
tema, TO LOVE AGAIN, é baseada num noturno de Chopin. Sidney é especializado em
musicais, tendo trabalhado com Gene Kelly, Judy Garland, Frank Sinatra e até
Elvis Presley. Destaque para ANCHORS AWEIGH em que Kelly dança com o ratinho
Jerry (de Tom & Jerry), numa inédita integração com animação.
Os filmes do diretor britânico Alan Parker têm em comum trilhas relevantes que fizeram sucesso comercial, sendo difícil selecionar uma: FAME (sobre jovens talentos de uma escola de música), MIDNIGHT EXPRESS (música eletrônica de Giorgio Moroder), THE COMMITMENTS (jovens de Dublin querendo montar uma banda de soul), EVITA (de Andrew Lloyd Weber com Madonna), BIRDY (assinada por Peter Gabriel), MISSISSIPI EM CHAMAS (impactante trilha de Trevor Jones num contexto de racismo). No caso de THE WALL, o filme/animação se baseia no álbum homônimo do Pink Floyd de 1979 com roteiro do baixista/vocalista Roger Waters com críticas ao autoritarismo e ao belicismo.
69) A PROFECIA (Richard Donner), 1976
Donner foi um cineasta versátil que dirigiu películas de gêneros diversos: ação, aventura, comédia, terror. Destacam-se SUPERMAN, O FEITIÇO DE ÁQUILA, OS GOONIES, MÁQUINA MORTÍFERA (1 a 4), TEORIA DA CONSPIRAÇÃO, MAVERICK. O aterrorizante A PROFECIA (OMEN) com Gregory Peck, é sobre um garoto que se revelou filho do demônio. Jerry Goldsmith caprichou na trilha que mescla música orquestral e elementos atonais, em especial a faixa AVE SATANI, com um coro cantado em latim que soa como uma missa negra. Com ela, Jerry, um dos mais famosos compositores de trilhas (STAR TREK, PLANETA DOS MACACOS (de 1968), CHINATOWN, ALIEN, PATTON, POLTERGEIST etc.), faturou seu único Oscar.
70) ROCKY III (Sylvester Stallone), 1982
A saga do fictício lutador Rocky Balboa
é uma das mais bem sucedidas do cinema. A série iniciou-se em 1976, sendo o
primeiro episódio dirigido por John Alvidsen, o melhor avaliado pela crítica,
contando com trilha de Bill Conti inclusive a música-tema, GONNA FLY NOW
(indicada ao Oscar). Porém o personagem ficou vinculado à canção EYE OF THE
TIGER interpretada pelo grupo Survivor, associada a garra e superação, presente
no terceiro filme da franquia. Stallone agregou à trilha de Conti esse rock com
a intenção de atrair um público mais jovem. EYE OF THE TIGER tornou-se um
sucesso retumbante, tendo sido um dos singles mais vendidos do ano.
71) AMARGO PESADELO (John Boorman), 1972
Estrelado por Burt Reynolds e Jon
Voight, esse polêmico filme, originalmente DELIVERANCE, cujo título em
português dá uma ideia do tormento vivido por um grupo de 4 amigos que escalam
um rio quando são atacados e seviciados por habitantes rudes da região. As
cenas de violência sexual extrema foram suprimidas pela censura em sua primeira
exibição no Brasil. O momento mais célebre ocorre quando um dos personagens faz
um desafio musical com um banjo com um rapaz aparentemente deficiente mental da
região (“DUELING BANJOS”). O duelo musical foi transposto para a trilha sonora
do filme.
72) ARQUIVO X (Chris Carter), 1993
A série televisiva, uma das mais
duradouras da história, ficou no ar por nada menos do que 10 anos com 9
temporadas e mais de 200 episódios, dando origem também a um longa. Trata-se de
uma temática insólita em que um casal de agentes do FBI investiga casos
paranormais. O inconfundível tema de abertura foi composto por Mark Snow utilizando
assobios, ecos e elementos eletrônicos.
73) HARRY & SALLY (Rob Reiner), 1989
Comédia romântica não precisa
necessariamente ser piegas, como prova essa divertida e esmerada produção
protagonizada por Meg Ryan e Billy Cristal, que passam o filme inteiro se
estranhando até acabarem juntos. A cena do orgasmo no restaurante é emblemática. A graciosa trilha sonora que fez tanto
sucesso quanto o filme foi executada pelo estreante e promissor cantor e
pianista Harry Connick, Jr, tido então como o futuro Sinatra e é composta por
clássicos do jazz (irmãos Gershwin, Rodgers & Hart, Duke Ellington etc.) Ao
fim, Connick Jr não se tornou um novo Sinatra nem emplacou novas trilhas, vindo
a fazer alguns papéis como ator coadjuvante. O diretor Reiner teve outros
filmes de importância como STAND BY ME (outra trilha memorável) e LOUCA
OBSESSÃO (MISERY).
74) O FEITIÇO DA LUA (Norman Jewison), 1987
O diretor canadense Jewison carrega em sua bagagem filmes importantes como NO CALOR DA NOITE (trilha de Quincy Jones com tema de abertura de Ray Charles), O VIOLINISTA NO TELHADO (musical com temas tradicionais judaicos), THOMAS CROWN AFFAIR (trilha de Michel Legrand) e OS GLADIADORES DO FUTURO (André Previn). O FEITIÇO DA LUA (MOONSTRUCK) é uma comédia romântica que conferiu à cantora Cher o Oscar de melhor atriz, no papel de uma ítalo-americana que se apaixona pelo personagem vivido por Nicolas Cage. A trilha mescla canções populares italianas com trechos de ópera, com destaque para THAT´S AMORE interpretada por Dean Martin.
Essa curiosa comédia dramática que
contrapõe uma turista alemã com aparência fora dos padrões de Hollywood e a
dona de um decadente posto de estrada é uma produção germânica que se passa nos
EUA com atores americanos (inclusive o veterano Jack Palance). A nostálgica
trilha sonora capta a solidão dos personagens e o clima do deserto de Mojave na
California, onde a trama se desenrola. Mas o grande destaque é a balada CALLING
YOU (indicada ao Oscar), interpretada por Jevetta Steele, com um enxuto arranjo
de piano e flauta que se tornou sucesso mundial. A interpretação da cantora
gospel arrancou rasgados elogios da crítica que a compararam com Whitney
Houston.
76) YELLOW SUBMARINE (George Dunning), 1968
Os Beatles, o grupo de pop-rock mais
famoso da história, lançaram também alguns filmes (A HARD DAYS NIGHT, HELP!...).
YELLOW SUBMARINE destaca-se por ser uma animação em que eles aparecem
caricaturados numa aventura em que salvam a cidade de Pepperland, tomada por
malignos homens azuis que detestam música. A trilha sonora original contém
apenas 4 canções inéditas do grupo e não chegou a alcançar grande sucesso
comercial. O lado B contém temas orquestrais compostos pelo produtor musical
George Martin. Mais tarde, foi lançada uma nova versão com todas as canções
executadas no filme, a maioria já presente em outros álbuns. Apesar de tais
restrições, o filme ganhou o status de cult por seus traços psicodélicos que
revolucionaram a estética dos desenhos animados.
A saga de Che Guevara pela América
Latina, sob a direção do cineasta de CENTRAL DO BRASIL, recebeu uma bela trilha
composta pelo argentino Gustavo Santaolalla com a canção tema AL OTRO LADO DEL
RIO de Jorge Drexler. Santaolalla compôs para 2 outros filmes do diretor
brasileiro: LINHA DE PASSE e ON THE ROAD. O músico recebeu dois Oscars mas por
outras trilhas, igualmente belas, BABEL e O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN. São
dele também as trilhas dos mexicanos AMORES PEJOS e BIUTIFUL, do portenho
RELATOS SELVAGENS e do americano 21 GRAMAS.
78) GÊNIO INDOMÁVEL (Gus Van Sant), 1997
Reconhecido como um dos mais talentosos
diretores surgidos nos anos 90, em especial em temas que tocam a juventude, Gus
tem em sua filmografia, obras-primas como O ELEFANTE, MILK A VOZ DA IGUALDADE,
ENCONTRANDO FORRESTIER, UM SONHO SEM LIMITES e PARANOID PARK. Nenhum deles
alcançou a projeção de GÊNIO INDOMÁVEL com Matt Damon e Robin Williams
(valendo-lhe um Oscar). A trilha foi assinada por Danny Elfman, mas o destaque
ficou por conta das 6 canções do garoto-prodígio Elliott Smith que integraram o
álbum, em especial MISS MISERY (indicada ao Oscar).
CORRIDA CONTRA O DESTINO (VANISHING
POINT) é um road movie que, apesar do baixo sucesso comercial, tornou-se cult
em função das cenas de perseguição e das relações pessoais que o personagem
estabelece pelo oeste dos EUA, misturando filosofia existencial e crítica
social, bem ao gosto da contracultura dos anos 70. Nesse contexto, a trilha mescla
rock psicodélico, country e blues refletindo o espírito de rebeldia e liberdade
da época. Ficou famosa no Brasil por utilizar a magnífica FREEDOM OF
EXPRESSION, canção executada pelo desconhecido conjunto J B Pickers (na
verdade, um improvisado grupo de músicos que se reuniu para gravar essa faixa
para o filme), que se tornou conhecida por ser utilizada na abertura do Globo
Repórter.
O filme estrelado por Bridget Fonda,
Campbell Scott e Matt Dillon é uma simpática e descompromissada comédia
romântica do mesmo diretor de JERRY McGUIRE, QUASE FAMOSOS e VANILLA SKY (todos
com trilhas sonoras pop rigorosamente selecionadas) que retrata a complicada
relação de jovens à procura do par perfeito. A trama transcorre em Seattle,
cidade em que emergia um efervescente movimento musical que se estendeu pelo
planeta e revitalizou o rock. A trilha que se tornou referência reflete a
atmosfera ‘grunge’, com bandas como Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden,
Screaming Trees etc.
Confira 3ª parte:





















Nenhum comentário:
Postar um comentário