Quem é Deus? Deus é quem? É o quê?
Um homem? Um super-homem? Um nome? Um
ente? Um etê? Um astronauta? Um espectro? Um espírito? Uma trindade? Uma
entidade? Uma divindade? Um deus?
Matéria, antimatéria, energia,
sinergia, sincronia, harmonia, ordem, caos?
Só uma palavra? A ausência dela?
Uma crença? Uma fé? Um dogma? Uma
abstração? Uma hipótese? Uma fantasia? Uma alegoria? Uma metáfora? Uma farsa?
Uma concepção? Uma tendência? Uma noção aproximada?
O mínimo denominador? O máximo
múltiplo? O zero? O um? Os dois? O oito deitado? Noves fora... deu Deus.
A vida, a natureza, a criação, a
origem, a perfeição, a beleza, o universo, o cosmos, a imortalidade, o
infinito, a eternidade?
Tudo? Nada? Nada que não seja tudo ou
nada. Nunca um semideus com restritos poderes. Um pseudodeus relativo? Em
absoluto.
Imaterial, incorpóreo, intangível,
sobrenatural, onisciente, supremo?
Se Deus existe, não há provas. Se não
existe, provas não há. Houvesse prova, seria ele a própria prova. Ou aquele que
prova, ao provar.
A ciência não é precisa. A religião
não precisa... graças a Deus!
Talvez a poesia possa trazer alguma
luz divina. Se Deus quiser...
A Evolução das Espécies é a bíblia
dos ateus. Darwin, seu deus.
A Bíblia é a palavra de Deus escrita
por humanos: apóstolos cristãos e profetas juDEUS. Biografia não autorizada.
Samuel, Moisés, Josué, Salomão,
Mateus, Marcos. Lucas, João, Paulo. Em verdade vos digo: têm eles procuração?
Quem, por Deus, pensam ser estes homens? Deuses? Apenas homens que criaram o
deus que criou os homens que criaram o deus.
Um velho sábio de barba branca e
manta comprida que reside sobre as nuvens, cercado de anjos, com o livro dourado
da vida nas mãos a olhar benevolente para cada um de seus filhos na Terra?
Nosso pai eterno? Quem é a mãe? Deia? Deusdete? Deus seria uma deusa? Ora, que
estamos a discutir o sexo dos deuses...
O princípio organizador do universo,
que trabalha a matéria para dar-lhe forma. Modela-a contemplando o mundo das
ideias. Dono de todas as terras, todas as águas, todos os bens. E quanto aos
males? Arrendou? Terceirizou? Um acordo tácito com o Príncipe das Trevas? Deus
me livre...
Onipotente, determina o presente e o
futuro, por que não nos faz a todos felizes? Supremo, fonte da bondade e da
justiça, por que permite a maldade e a injustiça? Pai eterno, pastor das almas,
por que nos deixa ao deus-dará? Magnânimo, dotado de toda benevolência, por
que não nos faz deuses? Por sermos muitos? Concorrentes? Ou já somos todos
deuses? Faces do mesmo Deus?
Agnósticos, ateus, céticos,
incrédulos, crentes, beatos, carolas, devotos, estoicos, xiitas,
fundamentalistas, heréticos, profanos, ímpios, laicos, indecisos, estaremos
apenas a representar nosso papel nessa pantomima determinista chamada vida,
fazendo de contas que exercemos um livre arbítrio de cartas marcadas e final
conhecido? Onde Deus esconde as respostas?
Se as respostas a ele não me levam,
que as perguntas me levem. Posso chegar a ele através da oração devocional? Da
renúncia pessoal? Da negação de todo o mal? Do experimento quase mortal? Do
desdobramento astral? Da invocação espiritual? Da experiência extrassensorial?
Da meditação transcendental? De um fenômeno paranormal?
Está no céu, na terra? Assim na terra
como no céu?
Em minha mente, em meu peito, em meu
jeito, em meu gesto, em meu gosto, em meu rosto, em meu rasto? Está em mim,
enfim? Ou sou eu que estou nele? É ele meu senhor? É ele senhor? É ele? É?
Estará lendo esses versos? Ou não
precisa ler para saber o que escrevo? E o que deixei de escrever? Saberá também
o que não escrevi mas vou escrever? As palavras que escolherei? E as que me
faltarão? E se não existirem palavras, Deus saberá o que pretendo dizer? E se
eu não souber dizer, saberá que eu não soube? Se sabe o que vou dizer, para que
servem o dizer, o querer, o servir e o saber?
Posso invocá-lo desperto? Ou o sonho
é sua linguagem?
Orando falo com ele? Posso falar com
ele? Ou é calando que serei escutado?
Para vê-lo devo olhar? Ou fechar os
olhos? Posso vê-lo? Ou está nos meus olhos? Está tanto nos meus olhos como
naquilo que meus olhos olham? E no ato de olhar dos meus olhos em relação ao
objeto que meus olhos olham? Numa mesma totalidade, sujeito e objeto. No
princípio era só o verbo. Oremos
Ouvi-lo é possível? Ou é ele o
silêncio?
Qual dos cinco sentidos me leva a
ele? Ou só do sexto em diante? Seriam os sentidos filtros para impedir que se
chegue ao conhecimento supremo? Ou servem apenas para que exerçamos o ofício de
viver? E o sentido do todo, pelos sentidos não é sentido?
O que está acima da compreensão, não
nos é propiciado alcançar. Tudo o que percebemos como homens é o que é dado
aos homens perceber. O conhecimento produz ignorância, ao largo da verdade
inatingível. Só sei que nada sei. E nem disso tenho certeza, tal a extensão do
meu não saber. Juro por Deus!
Talvez Deus esteja no despojamento,
nas coisas simples e dele nos afastemos ao ‘endeusá-lo’. Talvez esteja conosco
o tempo todo e nós olhando nas alturas... Para o céu e não para os céus. Talvez
nasçamos deuses, na candura angelical, na bem-aventurada felicidade que nos é
dada no ato da concepção. E vamos perdendo-o ao nos tornarmos homens. ‘Desendeusando-nos’.
Talvez seja ele a graça do coração puro que vai sendo perdida quando o enchemos
de amarguras. As teorias sobre ele são o caminho que dele nos afasta.
Esperamos encontrá-lo após a morte,
quando ele era a própria vida. E o deixamos para sempre, ao dizer ‘adeus’.
Talvez seja ele o aqui-agora. Esteja
presente no eterno presente. E nunca exista no inexistente futuro. Talvez só ao
perdê-lo, possamos ganhá-lo.
Se apenas me aquieto, desisto de
entender.
Desprovido de mim, o que me resta?
Deus.
(Texto
original publicado no livro O QUE DE MIM SOU EU)
2 comentários:
MEU GRANDE IRMÃO, A QUESTÃO NÃO É QUEM É DEUS, OU MELHOR, O QUE É DEUS? A QUESTÃO É: O QUE E QUEM SOU EU. CREIO EM UM PODER QUE TUDO GEROU, QUE POR CONSEGUINTE, DADO A COMPLEXIDADE QUE VAI DO CONJUNTO DE MOLÉCULAS QUE FORMAM MEU CORPO ATÉ A FORMAÇÃO DE TODOS OS CORPOS QUE COABITAM ESTE IMENSURÁVEL UNIVERSO, OU QUEM SABE, UNIVERSOS, PORTANTO, CREIO QUE SEJA CONSCIENTE, E NÃO UMA FORÇA QUE TUDO GEROU APENAS POR GERAR, POR SIMPLES ACASO. CREIO QUE ESTAMOS EM UMA DIMENSÃO NA QUAL NÃO TEMOS COMO ALCANÇAR TAIS RESPOSTAS. PREFIRO FAZER TUDO PARA JUSTIFICAR MINHA EXISTÊNCIA, TENHA ELA ACONTECIDO PELO ACASO OU POR DETERMINAÇÃO DE UMA RAZÃO QUE CHAMAMOS DEUS. ISSO ME SATISFAZ PLENAMENTE. QUANTO A SUA CRÔNICA, PARABÉNS, NOS FAZ VIAJAR COM O GRANDE IRMÃO, E DEIXAR QUE NOSSA MENTE DIVAGUE PROCURANDO A RAZÃO DE NOSSO EXISTIR, A RAZÃO DA EXISTÊNCIA, A RAZÃO DA FÉ...
Parabéns, escritor Sérgio Sayeg, pela maravilhosa crônica, criativa e tão bem escrita, foi um prazer lê-la...
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