O depoimento abaixo sobre minha própria
experiência foi escrito para alertar pais que se preocupam com os hábitos de
seus filhos no que diz respeito às DROGAS.
Procurem conversar sempre com os jovens para
verificar seu comportamento na escola e junto aos amigos, identificar más
influências ou saber o que ocorre quando ficam fora de casa.
É preocupante a tolerância de muitas escolas
que não impedem a disseminação e até a venda de drogas em suas dependências. Em
festas, ‘raves’ e baladas, sua presença entre os adolescentes é comum.
A constante ingestão de substâncias químicas
em altas doses pode provocar danos irreversíveis ao organismo. Cabe aos pais detectar
o surgimento de tais problemas. Está provado que drogas podem gerar no indivíduo um desequilíbrio
orgânico, acarretando uma série de distúrbios físicos e mentais e deixando-o
vulnerável a doenças.
O consumo de drogas decorre quase que
invariavelmente da falta de cuidado e de acompanhamento dos pais. Os adultos
devem jogar o peso de sua experiência na orientação de seus filhos e assumir a
responsabilidade pelas consequências àqueles que deles dependem, sobretudo os
de menor idade.
Que minha vivência pessoal sirva de
contribuição a pais e educadores em sua tarefa de orientar nossos jovens,
mostrando-lhes sempre o caminho correto a seguir.
Segue meu depoimento:
-
Sou escravo do vício. Se fico sem “ela” durante
um dia inteiro, começo a perceber uma sensação esquisita, uma carência no
organismo. Não funciono direito, não consigo pensar nem me concentrar. A vida
fica meio vazia, faltando alguma coisa. Nos últimos anos, meu consumo tem
aumentado, a ponto de, nos últimos tempos, eu simplesmente não agüentar ficar
um dia inteiro sem a dita cuja.
Sempre tenho à mão certa quantidade. Deixo a
casa abastecida para não ter o risco de faltar quando vier a vontade. É comum
eu levantar no meio da noite com desejos incontroláveis. Aí vou, pé ante pé,
para não acordar ninguém, até a cozinha, meu local habitual de consumo, para
poder dirimir meu incontrolável desejo.
O problema é quando viajo. Nem sempre dá para
carregar um pacotinho comigo. Fora de casa, por não conseguir comprar e por não
ter lugar apropriado para guardar, chego a ter crises de abstinência. É
frequente acordar durante a noite com necessidade de ingerir a ‘mardita’. Aí
vem a irritação e o desespero: DROGA!
Quando vou para o exterior, então, a situação
torna-se trágica. Já começa pelo risco carregá-la no avião. Há formulários de
preenchimento obrigatório que deixam clara a restrição ao porte. Baseado nesta
declaração, estaria cometendo crime se a transportasse. Se descobrirem na
bagagem algum pacote escondido, não teria como explicar o que aquilo fazia
comigo. Se pegarem na alfândega, nem posso imaginar as consequências.
Tanto nos EUA quanto na Europa, é bem complicado
consegui-la, pois o consumo não é tão difundido como no Brasil. Tem-se que sair
procurando pelas ruas afastadas de centros comerciais, hotéis etc.
Quando viajo em grupo, as pessoas ficam
incomodadas quando sacam minha preocupação. Olham-me de um jeito esquisito. Têm um estereótipo de gente
como eu. Já nem ligo, estou acostumado. Tenho consciência de que se trata de um
vício menor, aceitável. O fato é que não consigo curtir o ambiente se não
estiver abastecido. Fico na minha. Não tô nem aí com o que os outros acham ou
deixam de achar. Ninguém tem nada com isso. Tô fora de drogas
pesadas, bebidas alcoólicas e nicotina. É o que me basta.
Viajando, descobri que, em nenhum lugar do
mundo, meu ‘xodozinho’ é tão farto e fácil de conseguir quanto no Brasil. Esse
país é uma maravilha para quem curte a danada. Plantam até no quintal. Os ambulantes
comercializam-na abertamente, sem muita repressão. O governo finge que não vê, acaba tolerando a
venda como um mal menor, desde que em lugares de pouca circulação, onde não
haja muita fiscalização. Já vi até, acredite, venderem em lanchonetes de
escolas e em postos em rodovias.
Quando fico ausente por vários dias, não vejo
a hora de voltar e fazer a festa com o que tinha em estoque. Para tirar o
atraso, refestelo-me com grande quantidade de uma só vez, saciando a carência
acumulada. A sensação de senti-la descendo pelo organismo, devagar, me põe em
estado de euforia.
Não sei quando começou minha dependência.
Quando eu era criança, detestava. Foi minha mãe quem me ensinou a apreciar. Ela
era também bastante chegada ‘numazinha’ e me forçava a ingerir após as
refeições. Quando bebê, ela me punha na língua, até que eu aprendesse a
consumi-la sozinho.
Meu filho também não gosta muito. Quando ele
era ‘menorzinho’, ainda dava uns ‘tapinhas’. Agora, adolescente, largou quase
por completo.
É tudo uma questão de hábito. Acabei por
tornar-me fissurado e não tenho a menor intenção de largar esse vício. Para
mim, só faz bem. Não tenho qualquer constrangimento em declarar minha
dependência e até de fazer propaganda. Acho que todos deveriam experimentar,
especialmente os mais jovens que não têm o hábito.
No início, gostava só de algumas, como
melancia, uva, banana. Depois, o vício começou a piorar e as costumeiras já não
me satisfaziam. Passei a incorporar o consumo de outras tais como maçã, pêra,
mamão. Até as mais extravagantes como acerola, lichia, kiwi, nêspera, atemoia,
graviola. Isso para não falar das secas, tais como amêndoa, noz, castanha,
damasco, tâmara. Recentemente, aderi às desidratadas que demoram para estragar
e são uma delícia.
Abro a geladeira e nem sei por onde começar a
me esbaldar: melão, caqui, figo, manga, ameixa, laranja, lima da pérsia, pinha,
goiaba, pêssego, carambola, jabuticaba. É um delírio. Pode ser batida no
liquidificador com leite ou água. À tarde é o horário mais gostoso para se
fartar com essas delícias.
Tem gente que prefere suco de latinha, garrafa
ou embalagem de papelão. Eu acho abominável, pois o gosto é claramente
artificial. Há aditivos, corantes e conservantes que desfiguram o sabor
verdadeiro. Em polpa, ainda admito. Mas o mais gostoso e saudável é in natura
mesmo, adquirida fresquinha na feira.
Vivemos num paraíso tropical e nem valorizamos.
Em que outro lugar, você pode pedir uma vitamina sem que lhe tragam uma pílula?
À exceção de sexo, tem coisa melhor na qual
ficar viciado? Deliciosa, barata, saudável, nutritiva e sem contra-indicações. Mamãe
tinha razão. Fruta é o que há.
Por isso, meu amigo e minha amiga, se seus
filhos estiverem, em casa, na escola ou em shoppings, consumindo DROGAS como hot-dogs,
salgadinhos, refrigerantes, energéticos, biscoitos recheados e outras porcarias
industrializadas cheias de substâncias químicas que provocam problemas de saúde
e obesidade, tenha uma conversa franca e orientadora com eles para que mudem
seus hábitos alimentares. Um dia eles lhes agradecerão.
Adaptado de texto do livro O QUE DE MIM SOU EU
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