A presente
crônica é endereçada aos jovens que, incitados por seu pubescente frescor, ensaiam
os primordiais e titubeantes passos no sentido de erigir uma promitente vida adulta.
Empenhar-me-ei
em transmitir-lhes algumas prudentes recomendações no intuito de abalizar suas vindouras
deliberações na tortuosa e lancinante demanda pelos caminhos exitosos da
realização, em meio às incertezas de um futuro inquietante.
Valho-me da
experiência acumulada por 19 anos, período em que me embrenhei com afinco na formação
acadêmica, agregados aos 36 anos devotados ao benemerente mister na área pública.
Acima de ambições pessoais e considerações de ordem pecuniária, pautei minha
atuação pelo diligente provimento de serviços à nossa desabastada população. Outrossim,
ministrei aulas em faculdades, ocasião em que pude familiarizar-me com as atribulações
que o discente afronta como parte da tenaz refrega para afirmar sua vocação.
Faço meus os cintilantes
termos incrustados no encômio proferido pelo eminente Ruy Barbosa: “Estou-vos
abrindo o livro da minha vida. Se me não quiserdes aceitar como expressão fiel
da realidade (...), recebei-a, ao menos, como ato de fé, ou como conselho de
pai a filhos, quando não como o testamento de uma carreira, que poderá ter
discrepado, muitas vezes, do bem, mas sempre o evangelizou com entusiasmo, o
procurou com fervor, e o adorou com sinceridade.”
As inspiradas e
eloquentes palavras exaradas pelo mestre soteropolitano ajustam-se com precisão
ao objetivo que ora me mobiliza, o de fazer valer os triunfos e os tropeços que
entremearam minha trajetória de labuta, para moldar um padrão de conduta para
que as gerações que se predisporão a assumir atribuições de responsabilidade e
comando, possam exercê-las imbuídas de sapiência e destreza, esquivando-se dos percalços
em que amiúde incorre o efebo idealista.
Hoje, consumidos
65 anos de jornada, fragmentados entre estudo e labor, encontro-me afinal aposentado.
Pretendo fruir da porção remanescente dessa causticante existência, ao lado de
minha adorável esposa, escudado pela meritória tranquilidade que me foi
obsequiada pela benfazeja injunção de fortuitas circunstâncias, benesse a que presumo
modestamente fazer jus.
Nessa condição, voluntario-me
a emprestar o pouco de discernimento e acuidade crítica que me foi permitido absorver
no decorrer dessa caminhada, atestados pela condição precária acometida pelos emergentes
cabelos brancos que começam a disputar a ascendência em meio aos exíguos fios
que afrontam minha inexorável calvície.
Aquilatado com tal
grau de proficiência, aventuro-me pois a proferir uma exortação definitiva aos
diletos púberes da nação: Jovem! Você, que entrevê à frente um extenso e penoso
caminho; que nutre profusos devaneios e esperanças concernentes aos caprichos que
o destino lhe reserva; que ainda não deliberou com perspicuidade o rumo a trilhar,
estando possivelmente claudicante acerca dos desafios avultados pelo primeiro
emprego. Meu conselho é:
MANDE TUDO À
MERDA!
É isso aí! Não
espere chegar à minha idade para descobrir que foi desavergonhadamente usado
por um sistema sacana que, após sugar sua energia, descarta-o, na expectativa
de que você bata com as botas de vez para parar de dar despesa para a
previdência. Ou vá para um asilo apodrecer pois você não serve mesmo mais pra bosta
nenhuma.
O sistema toma
os melhores anos da vida. E a grana que te dão em troca, tomam de volta, ao
criar uma porção de necessidades artificiais para que você torre em carrões e
apartamentos repletos de equipamentos inúteis e caros que o tornarão um burguesão
sedentário, fútil e medíocre, componente dessa engrenagem cruel que destrói o
planeta, divide as pessoas e relega bilhões a um estado de penúria.
Ao ingressar na
escola, você se torna vítima de um processo de lavagem cerebral em que é
ensinado a ‘ter responsabilidades’ e a assumir obrigações. Desde cedo, os caras
já querem moldá-lo como no filme The Wall, do Pink Floyd. Qual a finalidade
dessa penitência? Aprender o abominável alfabeto, decorar a chatérrima tabuada
e por aí vai...
Ao invés de se brincar
com os amigos, fica engaiolado entre as quatro paredes de uma sala de aula, sem
poder conversar ou rir. A professora, aquela tia mal amada, revolucionária e de
cabeça feita que você nunca viu e nem sabe que apito toca, é que vai inculcar
em seus miolos o que ela julga ser bom pra você. É assim que te afastam do
mundo das diversões que tanto gostava e para onde a vida e sua natureza te
impeliam.
Tem que madrugar
para ir ao colégio, onde mestres arrogantes te entopem de tarefas e te obrigam
a ler livros pentelhos que provocam tédio, mas caem na porra do vestibular e no
ENEM. Deve ficar quase todo o tempo na penitenc... digo, instituição de ensino
para permanecer afastado dos pais que não passam de “caretas” que nada de útil
podem lhe oferecer, mesmo que te amem pra cacete. Por isso, te aprisionam na
escola, como se fosse um reformatório para marginais, como castigo por ter
vocação para alienado. E para te isolar da ameaçadora realidade.
Se quiser
aproveitar sua curta jornada nesse planeta, faça o que seu coração diz que é o melhor
para você. Senão, quando ficar velho, você vai sentir uma sensação de vazio,
não vai ver significado em sua vida e vai lamentar o quanto deixou de fazer por
obedecer cegamente aos outros e não saber questionar as regras sem sentido que
lhe foram impostas. Não se iluda. Você está sendo manipulado por vermes que
ainda recitam palavras de virtude e honradez. Só quando a gente cresce e fica
esperto, percebe o embuste por trás disso. Pois nesse mundo não vence o mais
dedicado, honrado. Esse recebe um pé na bunda. Quem vence são os ególatras, os sem
caráter, os que corrompem e desviam grana. E ainda querem te passar lições de
moral... Canalhas!
E não repita o
erro da minha geração de acreditar que a política vai consertar o que há de
errado. Saiu a corja de milicos, entrou a gangue dos políticos. Corrupção,
violência, impunidade. Nunca acredite em político de partido nenhum. Esses são
os maiores safados que existem sobre a face da Terra. Os de direita são
reacionários, repressores. Os de esquerda, hipócritas e manipuladores. E ainda têm o descaramento de vir pedir seu
voto... Muitos jovens da minha geração quebraram a cara, enfrentando uma
ditadura repressiva para dar um futuro melhor para esse país. Fomos massa de
manobra, dando a cara pra levar porrada. Todo esse sacrifício para abrir espaço
pra uma nova leva de crápulas.
Faça diferente! Sua
maior vingança será aproveitar a vida a despeito do que eles querem que você
faça. E se te chamarem de louco, entoe: “mais louco é quem me diz e não é
feliz”.
Dê ao mundo bastante
amor e solidariedade e cresça sem precisar dar rasteira em ninguém. Ame as
pessoas, os animais e a natureza e prove que esses pequenos gestos são o que
verdadeiramente importa nessa vida. Não dê ouvidos a conselhos, ideologias e
papo furado dos mais velhos, representantes de uma geração inepta e frustrada que
tornou o mundo essa bosta que aí está.
Agora tire essa
bunda da cadeira e faça alguma coisa. Mas faça a coisa certa! Ou você acha
ficar grudado no celular trocando ideias vazias no facebook vai melhorar alguma
coisa?
O velho Barbosão
que eu citei acima também estava desiludido com os babacas do seu tempo:
‘De tanto ver
triunfar as nulidades,
de tanto ver
prosperar a desonra,
de tanto ver
crescer a injustiça,
de tanto ver
agigantarem-se os poderes
nas mãos dos
maus,
o homem chega a
desanimar da virtude,
a rir-se da
honra,
a ter vergonha
de ser honesto’
Falou! Acabou a
lição! Agora, vê se faz algo de bom, seu jacu. Ou então, vá à merda. Fim.
Adaptado de texto do livro O QUE
DE MIM SOU EU.
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