A controversa reunião ministerial cujo vídeo veio a público,
ao invés de chamar atenção, como era de se esperar, pelas denúncias sobre
intervenção na PF, escancarou aos olhos estarrecidos da população o ambiente de
pocilga que vigora no alto escalão do atual governo.
Reuniões envolvendo equipe de governo deveriam ser uma
oportunidade para abordar assuntos de máximo interesse nacional de forma
integrada. O que se viu todavia foi, num clima de mesa redonda futebolística, o
desfile de uma porção de baboseiras desconexas sobrepostas pelas exigências
neuróticas do presidente de ter controle sobre as investigações que pudessem
alcançar seus familiares.
Eleito com discurso de promover “a moral e os bons costumes”,
o presidente conduziu a reunião como se estivesse comandando uma convenção de
milicianos. Trata de assuntos de interesse nacional com uma linguagem chula e
rastaquera recheada de palavrões, para gáudio dos seus apoiadores que sentem
com orgulho sua vulgaridade estampada na figura caricata do bronco capitão que ali
colocaram. Pessoas que nunca se sentiram representadas pelos políticos
tradicionais, deslumbram-se ao ver que os governantes podem ser tão boçais quanto
suas próprias vidas.
As redes sociais nas quais o bolsonarismo transita tão bem
servem de plataforma perfeita para tais apoiadores que gostariam de ver os
assuntos nacionais tratados em postagens no facebook ao invés de inextricáveis estudos
acadêmicos. Dados científicos são sumariamente descartados por fake news
enquanto complexas políticas públicas são condensadas em tweets de duas linhas,
o tamanho que sua compreensão consegue alcançar, sem fundir seus parcos
neurônios.
Deslumbram-se ao ver o presidente boca-suja dispensar
cerimoniais consagrados, recebendo chefes de Estado trajando sandálias
havaianas e camiseta de times de futebol. Um “homem do povo” no poder, que
transformou o ritual de governar a nação numa churrascada de domingo. Mito!
A fatídica reunião consagrou esse ‘modus operandi’. O apático
ministro Teich, recém empossado (tendo pulado fora do barco a tempo de salvar
sua carreira de renomado oncologista) assistia atordoado a ministra da
goiabeira ameaçar enjaular governadores, prefeitos que se interpusessem aos
desejos do Capitão Cloroquina de botar todo mundo na rua pegando coronavírus.
Sérgio Moro, carrancudo, remoia-se de arrependimento,
imaginando a barafunda em que foi se meter, ao abrir mão de sua consagrada
carreira de juiz da Lavajato para participar daquele festival de baixarias e
transgressões. Teve que escutar calado o Ministro do Desmatamento recomendar que
se aproveitasse da situação traumática do país ante o COVID 19 para promover a trambicagem
geral e irrestrita ao regramento ambiental e “passar a boiada” por cima dos
entraves impostos pela legislação.
Não menos patético foi o espetáculo encenado pelo ministro da
(falta de) Educação Weintraub que recitou com peito aberto suas opiniões simplórias
sobre indígenas enquanto pregava prisão aos “vagabundos” do STF.
Os militares do alto escalão integrantes do governo evitaram
entrar em polêmicas, assistindo com curiosidade aquelas idiossincrasias do
governo de que participam. Não ousaram comprometer suas insígnias com a pantomima
grotesca em curso, evitando se posicionar. O alheio vice-presidente Mourão parecia
entretido anotando os afazeres da semana em sua agenda ou fazendo sudoku, esperando
a balbúrdia terminar.
Assistindo a esse circo de horrores, dá para se ter ideia da
seriedade com que o aloprado governo Bolsonaro trata questões de Estado. Pode-se
entender o avanço desenfreado da pandemia no país. O sistema de saúde está á
beira do colapso e os cadáveres se acumulam aos milhares enquanto o Brasil é
dirigido por donos de boteco.
Perdeu o sentido a maior bandeira do governo eleito de
impedir que a corrupção e outras práticas irregulares venham a jogar o país na
lama. Bolsonaro e sua trupe demonstraram claramente que seu governo já chafurda
nela.