No momento em que o Brasil caminha a largos passos para se
tornar o epicentro da pandemia de coronavírus no planeta, nosso mandatário de
plantão tira da cartola a solução mágica para enfrentar a ameaça: a CLOROQUINA.
O presidente Bolsonaro assume com entusiasmo a condição de garoto propaganda da
novidade ante o avanço implacável do vírus que, não informado sobre isso,
continua a fazer a cada dia mais vítimas fatais.
Indicada para pacientes graves, leves, assintomáticos, de
todas as idades, a cloroquina pode ser consumida com ou sem receita como pastilha
Valda, é o que sugerem as mensagens disseminadas aos milhares na internet por
apoiadores do governo, indiferentes às sérias restrições levantadas por
inúmeros estudos.
Encampado pela ala terraplanista que apoia o presidente, a
difusão do uso da cloroquina mobiliza milhares de robôs nas redes sociais e o
séquito habitual de seguidores zumbis, prontos a alardear as maravilhas dessa
droga ‘miraculosa’. Deixou de ser um simples remédio para tornar-se uma arma
ideológica contra ‘esquerdistas’.
Deixada de lado no resto do mundo, a cloroquina tornou-se tão
poderosa por aqui que derrubou dois gabaritados ministros da Saúde. Desprezando
a opinião de especialistas, nosso Capitão Cloroquina, recorrendo à sua
sabedoria de caserna, alardeia aos quatro ventos a necessidade de incluí-la nos
protocolos do SUS. A despeito dos preceitos da Ciência Médica e das
recomendações da OMS, sobrepõe sua inquestionável opinião, formada com base em
bate-papos no whatsapp.
A verdade é que Bolsonaro tem uma atitude ausente, quando não
de boicote, em relação às medidas necessárias de combate ao coronavírus. É o
único líder mundial a jogar a favor da doença.
O resultado é que a situação no Brasil tornou-se caótica e o
número de mortos está em impressionante ascensão ao contrário do que ocorre em
quase todos os demais países. O presidente diariamente demonstra desprezo pelos
esforços do seu próprio ministério da Saúde, incentivando manifestações
públicas e aglomerações e tripudiando sobre o isolamento social, único remédio comprovadamente
eficaz para conter a propagação do vírus.
Com a defesa apaixonada e sem base científica da cloroquina,
imagina estar fazendo sua parte. Desobriga-se assim de participar de
entediantes reuniões de trabalho com gestores e de proceder a visitas a
hospitais de campanha repletos de gente doente, respiradores e sofrimento, podendo
dedicar-se a assuntos mais amenos como discutir a volta dos campeonatos estaduais
de futebol.
Indiferente ao empenho de governadores e prefeitos em
preservar a população da doença e aos esforços sobre-humanos de enfermeiras e
médicos nas frentes de batalha, o Capitão Cloroquina aproveita seu tempo com
churrascos, passeios de jet ski e clubes de tiro. Quando criticado por sua
atitude, tem uma resposta pronta: “E daí?”
Sua insensibilidade ante aos horrores da pandemia é
assustadora. Não demonstra qualquer emoção ante a desgraça que se abate sobre o
próprio povo que o escolheu. Sua expressão permanece fria. Seus olhos, gélidos e
sem vida, nunca marejam (exceto quando é ovacionado como ‘MITO’ por multidões
de puxa-sacos). Jamais se solidariza com as famílias dos mortos nem comunga da
sua dor. E ainda encontra espaço para piadas bizarras fazendo pouco caso dos
que padecem da enfermidade. Parece odiar aqueles que teimam em morrer, contrariando
seu ceticismo nos efeitos deletérios da doença.
Nutre uma ideia mórbida de que é preciso que todos fiquem
rapidamente infectados para criar a tal da ‘imunização de rebanho’. O custo
disso provavelmente será a perda de centenas de milhares de vidas, mas isso é ‘secundário’.
Também não é considerado o colapso do sistema de saúde, os hospitais
abarrotados e as pessoas que sucumbem (inclusive por outras causas) por não
poderem receber atendimento. Em sua fria avaliação militar, são vítimas
inevitáveis da tática de guerra adotada. Deixar o comando da Saúde nas mãos de
militares, ao invés de médicos, talvez faça parte dessa estratégia macabra.
Segundo essa lógica perversa, aqueles que, como ele, são
“atletas” (sic), não serão afetados gravemente pela “gripezinha”. No fim das
contas, sobreviverão à pandemia apenas os mais aptos biologicamente, os
‘melhores’. Essa eliminação dos menos capacitados, preconizada por Bolsonaro e
sua trupe extremista, recebe o nome de ‘eugenia’ e já foi aplicada por certo
líder na Alemanha nos anos de 1930.
Não importa o trágico destino reservado aos mais vulneráveis.
Idosos, portadores de doenças pré-existentes ficarão abandonados à própria
sorte, quando as UTI’s estiverem abarrotadas, o que está em vias de ocorrer. Tampouco
se incomoda com os economicamente mais frágeis: dezenas de milhões de
brasileiros que vivem em condições sub-humanas, sem ter como se proteger e que serão
atingidos em cheio pela virulência da pandemia.
Seu único foco é o desemprego e a ‘geladeira vazia’ dos mais
pobres, o que curiosamente preocupa apenas os mais ricos que desfilam bem
protegidos em carros de luxo bradando com megafones para os desprotegidos
voltarem ao trabalho, apinhados em transportes coletivos. Obviamente, a inquietação
do Capitão Cloroquina não é com o padecimento das pessoas desamparadas mas com a
retração do PIB e, por tabela, com o sucesso político de seu mandato.
Os militares, chamados a participar desse circo de horrores,
lavam as mãos ante as ‘excentricidades’ do Capitão Cloroquina e seus filhos
peraltas. Aproveitam, condescendentes, das benesses do poder, pondo por terra o
belo discurso de que as forças armadas são avalistas dos valores republicanos. Sua
presença em postos chave da administração chancela as barbaridades cometidas
pelo governo a que servem. Os cadáveres agora não se encontram nos cárceres da
ditadura, mas são produzidos em massa pela prevalência da política criminosa de
‘salvar a economia’ sobre o primado de ‘salvar vidas’, ao contrário do que
ocorre em todo o mundo civilizado.
O Brasil descola-se da imagem de cordialidade e alegria e
revela ao mundo sua face mais cruel. As belezas e as virtudes tão glorificadas de
nossa terra estão sendo sepultadas ao lado dos milhares de mortos da pandemia,
pessoas largadas à mercê do destino, sem poder contar com o amparo do
presidente que elegeram.
O país pitoresco e carnavalesco de outrora revelou-se uma
grande ‘fake news’ para enganar trouxas. Tal qual a CLOROQUINA.
3 comentários:
É com muita tristeza que temos que constatar essa absurda realidade!
Pra não dizer que não falei da Dolores, vamos combinar o seguinte: Quem apoia Bolsonaro toma CLOROQUINA, quem não apoia toma TUBAÍNA, e DEPOIS a gente vê como essa polêmica idiota termina!
O que eu quero é a min ha liberdade de escolha de volta, que os corruptos de plantão roubaram, ás custas de fazerem compras superfaturadas e forçarem a barra para tirar a CLOROQUINA do mercado e empurrar o tal REMDESIVIR, um medicamento caríssimo e ineficaz ao que se propunha. Um tratamento com a CLOROQUINA custa R$ 40,00 e com o REMDESIVIR, R$ 30.000,00. O corpo é meu e sou eu quem escolhe se vou ou não tomar remédio e qual remédio vou tomar. Mas, com certeza, R$ 30.000,00 eu não posso pagar. Feliz você que pode!
Mas, independentemente dessa controvérsia cretina (para rimar com Cloroquina e Tunaína), de uma coisa você pode ter certeza absoluta: BOSTADÓRIA é corrupto e tem mau caráter! E as ideologias de esquerda e de direita são uma merda! Pobre Brasil!
Eu gostaria de saber porque a imprensa ainda não foi em busca para saber o que há por traz desse grande emprenho do Presidente, na insistência da adoção em massa, da Cloroquina. Que insistência obsessiva essa? A troco de nada é que não é!
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