terça-feira, 9 de junho de 2020

RETRATO SEM RETOQUE DE UM BOLSONARISTA



Não é difícil identificar os apoiadores de Bolsonaro. Eles são muitos. Já foram mais, é verdade. Parte deles teve o bom senso de reconhecer a cagada. Outros estão a caminho de fazê-lo.  Mas um núcleo de uns 20% segue fiel ao ‘Mito’ até a morte (de um dos dois).
São esses que desfilam com seus carrões em frente ao Palácio do Planalto e na avenida Paulista conclamando os mais pobres a saírem do isolamento e exortando-os a trocar a geladeira vazia pela câmara mortuária.
Os homens, brancos, de meia idade, cabelos e barba aparados, bem nutridos. Dentre eles, muitos empresários e policiais, nenhum estudante universitário. As mulheres, peruas, louras, trajam camisetas amarelas da seleção. Cristãs guerreiras, mantém na gaveta do criado mudo uma Bíblia e um 38. Se a palavra de Deus não converter o infiel, chumbo nele.  Favoráveis à pena de morte, sobretudo para enfermeiras, assistentes sociais e empregadas palpiteiras.
Tire da cabeça manter um diálogo racional com um desses espécimes. Acreditam que a Terra é plana e se você mostrar fotos tiradas de satélite, dirão que as imagens estão ‘redondamente’ enganadas: “Fake!” é seu mantra para exorcizar argumentações para as quais não têm resposta. Ou seja, todas.
Se apresentarmos estatísticas revelando a explosão de óbitos por coronavírus, alegarão, numa absoluta inversão da lógica, que a culpa é dos governadores que adotaram o isolamento. Dá para conversar com alguém assim, mantendo a sanidade?
Não cometa a injustiça de considerá-los malucos já que mesmo o pior dos loucos tem lampejos de sabedoria. Nem incorra no erro comum de considerá-los de extrema direita. São de extrema toupeirice.
Como jornais são escritos por comunistas, sua fonte de informação são os robôs do Carluxo. Um twitter de 2 linhas tem a extensão necessária e suficiente para fazê-lo compreender as complexidades da sociedade com a profundidade de um sermão de Silas Malafaia.
Como as redes sociais deram voz a toda sorte de energúmenos, o bolsonarista passou a discutir em pé de igualdade com um Nietzsche sobre as virtudes da cloroquina e as tendências esquerdistas do nazismo.
Do alto de sua sabedoria, o bolsonarista pode dizer que colocou alguém com sua estatura intelectual no poder. Um cara que recepciona importantes líderes internacionais de chinelos e com a camiseta do Palmeiras. Um autêntico representante do povo. E assim justifica orgulhoso por que colocou um jumento na presidência.
O argumento de que um sujeito com tal (falta de) qualificação não está preparado para um cargo de responsabilidade não cola. Para ele, não há grandes diferenças entre comandar uma nação e dirigir um puteiro.
Comete uma terrível injustiça em odiar o PT para quem tem uma dívida eterna. Se os governos petistas não tivessem sucateado a educação, as escolas jamais produziriam 58 milhões de eleitores de Bolsonaro. O ódio a FHC e à Globo, alianças com o Centrão e a recente aversão a Moro e à Lavajato são outras características herdadas de seu maior inimigo.
Ambos têm fixação pela ditadura militar embora com sentidos diversos. Enquanto o petista ainda não superou 1968, o bolsonarista não vê a hora de chegar lá. Falta muito já que ainda estão na Idade Média.
No entanto, sejamos justos. O petista, embora dogmático e de cabeça feita, consegue elaborar um raciocínio para sustentar suas ortodoxias programáticas. Ao contrário do bolsonarista que não consegue completar um argumento sem fundir seus três neurônios.
Ao menos temos de reconhecer que os bolsonaristas tiraram o país da lama. Para jogá-lo no esgoto.


Um comentário:

Isabel Fomm de Vasconcellos disse...

Você é brilhante, como sempre. Cuidado, eles estão de olho nos brilhantes.