Não é difícil identificar os apoiadores de Bolsonaro. Eles
são muitos. Já foram mais, é verdade. Parte deles teve o bom senso de reconhecer
a cagada. Outros estão a caminho de fazê-lo. Mas um núcleo de uns 20% segue fiel ao ‘Mito’
até a morte (de um dos dois).
São esses que desfilam com seus carrões em frente ao Palácio
do Planalto e na avenida Paulista conclamando os mais pobres a saírem do
isolamento e exortando-os a trocar a geladeira vazia pela câmara mortuária.
Os homens, brancos, de meia idade, cabelos e barba aparados,
bem nutridos. Dentre eles, muitos empresários e policiais, nenhum estudante
universitário. As mulheres, peruas, louras, trajam camisetas amarelas da
seleção. Cristãs guerreiras, mantém na gaveta do criado mudo uma Bíblia e um
38. Se a palavra de Deus não converter o infiel, chumbo nele. Favoráveis à pena de morte, sobretudo para
enfermeiras, assistentes sociais e empregadas palpiteiras.
Tire da cabeça manter um diálogo racional com um desses
espécimes. Acreditam que a Terra é plana e se você mostrar fotos tiradas de
satélite, dirão que as imagens estão ‘redondamente’ enganadas: “Fake!” é seu
mantra para exorcizar argumentações para as quais não têm resposta. Ou seja,
todas.
Se apresentarmos estatísticas revelando a explosão de óbitos
por coronavírus, alegarão, numa absoluta inversão da lógica, que a culpa é dos
governadores que adotaram o isolamento. Dá para conversar com alguém assim,
mantendo a sanidade?
Não cometa a injustiça de considerá-los malucos já que mesmo
o pior dos loucos tem lampejos de sabedoria. Nem incorra no erro comum de
considerá-los de extrema direita. São de extrema toupeirice.
Como jornais são escritos por comunistas, sua fonte de
informação são os robôs do Carluxo. Um twitter de 2 linhas tem a extensão
necessária e suficiente para fazê-lo compreender as complexidades da sociedade com
a profundidade de um sermão de Silas Malafaia.
Como as redes sociais deram voz a toda sorte de energúmenos,
o bolsonarista passou a discutir em pé de igualdade com um Nietzsche sobre as virtudes
da cloroquina e as tendências esquerdistas do nazismo.
Do alto de sua sabedoria, o bolsonarista pode dizer que colocou
alguém com sua estatura intelectual no poder. Um cara que recepciona
importantes líderes internacionais de chinelos e com a camiseta do Palmeiras.
Um autêntico representante do povo. E assim justifica orgulhoso por que colocou
um jumento na presidência.
O argumento de que um sujeito com tal (falta de) qualificação
não está preparado para um cargo de responsabilidade não cola. Para ele, não há
grandes diferenças entre comandar uma nação e dirigir um puteiro.
Comete uma terrível injustiça em odiar o PT para quem tem uma
dívida eterna. Se os governos petistas não tivessem sucateado a educação, as
escolas jamais produziriam 58 milhões de eleitores de Bolsonaro. O ódio a FHC e
à Globo, alianças com o Centrão e a recente aversão a Moro e à Lavajato são outras
características herdadas de seu maior inimigo.
Ambos têm fixação pela ditadura militar embora com sentidos diversos.
Enquanto o petista ainda não superou 1968, o bolsonarista não vê a hora de
chegar lá. Falta muito já que ainda estão na Idade Média.
No entanto, sejamos justos. O petista, embora dogmático e de
cabeça feita, consegue elaborar um raciocínio para sustentar suas ortodoxias
programáticas. Ao contrário do bolsonarista que não consegue completar um
argumento sem fundir seus três neurônios.
Ao menos temos de reconhecer que os bolsonaristas tiraram o
país da lama. Para jogá-lo no esgoto.
Um comentário:
Você é brilhante, como sempre. Cuidado, eles estão de olho nos brilhantes.
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