Xô, Trump. Xispa! Vaza! Tira sua indigna bunda rósea da cadeira na sala oval (um dia ocupada por Lincoln, Roosevelt e Kennedy), empesteando com sua inculta soberba o aposento solene no qual você apequenou perante o mundo o país que prometera engrandecer.
Peço desculpas se a rudeza do vocábulo do meu desabafo feriu
a sensibilidade dos leitores. Eu mesmo, sujeito pacífico e ponderado, não me
reconheço proferindo expressões tão chulas e agressivas, ainda que se prestem a
qualificar tal ignominiosa criatura, alçada ao posto de dirigente do mais rico
e poderoso país do planeta.
Ora, direis, qual a razão desse tempestuoso revanchismo que
acomete esse irado cronista? Ao invés de desperdiçar o verbo praguejando impropriedades
contra o referido indivíduo e sua horda de asseclas, não seria atitude mais positiva
lançar loas para a era que se inicia? Afinal, Biden, ainda que nada faça de
especial, muito fará se restabelecer os primados da civilidade e da dignidade, usurpados
da Casa Branca nesses quatro deploráveis anos.
De fato, eu poderia rebuscar palavras mais gentis para poupar
o leitor do aborrecimento desse insensato embate. Poderia ser mais
condescendente com o derrotado (ainda que ele não o reconheça como tal). Uma
manifestação de piedade, quem sabe, de compreensão, ante esse momento ingrato
para ele.
Isso eu não farei! Vermes não merecem generosidade. Que minha
indignação acumulada reverta seus efeitos sobre a fonte do mal. Meu coração petrificou-se,
desumanizou-se, ‘trumpizou-se’, ‘bolsonarizou-se’.
Mas (ainda direis) por que tamanha revolta? O surgimento de governantes
cruéis não é novidade desde que o mundo é mundo. Não precisamos evocar
Calígula, Gêngis Khan, Robespierre, Hitler, Stálin, Idi Amin, Pol Pot, Pinochet,
Putin... A humanidade foi pródiga em produzir dirigentes facínoras, à direita e
à esquerda.
Não é preciso ir longe. Aqui mesmo em nosso paraíso tropical,
temos um mandatário nefasto que se diverte enquanto dezenas de milhares de
corpos de brasileiros mortos por COVID se amontoam em valas improvisadas e pacientes
padecem pela falta de oxigênio e pela ausência de medidas protetivas que o
próprio malévolo se incumbe de boicotar. Nenhuma novidade, afinal isso é
Brasil.
A surpresa é quando esse descalabro sanitário assola o
território próspero e pretensamente civilizado dos EUA, nação que há pouco servia
de farol para o mundo. Um país que produziu obras primas nas artes e gênios nas
ciências. Que, afora seu poderio bélico e econômico, difundiu os mais caros
valores para a humanidade.
Com Trump, esses valores foram não só abandonados mas espezinhados.
Escancarou ele o discurso do ódio, da segregação, do racismo, da agressão ao
meio-ambiente, do boicote às iniciativas de paz, de redução da desigualdade, de
combate à fome e à doença.
Com Trump, a hegemonia transformou-se em desprezo. America,
first, resto, shit. Foi ele o artífice da supremacia do homem bra(o)nco americano que odiava latinos, asiáticos,
africanos.
Superioridade traduzida na empáfia que o fez recusar-se a
reconhecer a derrota segundo a vontade popular manifestada no voto, a base da
democracia. A mesma que, paradoxalmente o conduzira ao poder em 2016.
Coroou sua prepotência ao furtar-se a um derradeiro gesto de grandeza:
apertar a mão do vencedor nas urnas, como reza a tradição (que ele
hipocritamente alega defender).
Que diferença para alguém íntegro como Obama! Homem de origem
humilde que, mesmo nos momentos difíceis, nunca deixou de se comportar como um
verdadeiro gentleman, sempre à procura do diálogo e do entendimento.
Deve ser humilhante para o trumpismo ter de reconhecer a
superioridade moral da postura digna de um homem negro, descendente de
muçulmanos frente à conduta prepotente de um bilionário arrogante branco,
criado dentro dos preceitos da ‘moralidade’ cristã. Prova da falácia da
supremacia da civilização exaltada por Trump e sua trupe de fanáticos.
Trump é o arauto do fim dos tempos, do apocalipse, quiçá um
anticristo. A eleição de figuras abjetas como ele e seu discípulo Bolsonaro
demonstra tristemente que a humanidade fracassou na tentativa de construir uma
civilização de respeito para com o próximo e em harmonia com a natureza que
pudesse assegurar a sobrevivência das futuras gerações.
Apesar do alento de sua derrota, tenho dúvidas de que seja
possível sepultar esse projeto homicida que ainda ressoa forte na sociedade.
Se for possível retomar um caminho para construir um mundo
melhor, a era Trump ficará marcada como uma triste mancha na história. Não deixará saudades...
Tchau, Trump, até
nunca mais.
Um comentário:
Muito bem posto, parabéns! Concordo com cada palavra...
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