quinta-feira, 23 de outubro de 2025

TRILHAS DA MINHA VIDA – 4ª PARTE

Meu destino foi moldado pelos filmes que assisti. A música que os acompanhou faz a trilha sonora da minha vida. Segue a 4ª parte:

 61) SHAFT (Gordon Parks), 1971

O filme marca a ascensão de heróis negros no cinema americano (no caso, o durão detetive particular John Shaft) em oposição à prevalência de personagens centrais brancos. THEME FROM SHAFT, principal tema musical do filme, vencedor do Oscar, que combina funk, soul e jazz, composto pelo músico Isaac Hayes, tornou-se lendário. Foi lançado como faixa principal de um álbum duplo que alcançou um sucesso arrasador trazendo outros temas do filme (em boa parte, instrumentais). Em 2000, foi feito um remake com Samuel L Jackson no papel principal (como sobrinho do Shaft original) dirigido por John Singleton (BOYZ N THE HOOD), com nova versão do histórico tema original.

62) BLOW UP (Michelangelo Antonioni), 1966

O clássico do diretor italiano (mas rodado inteiramente em inglês), estrelado por David Hemmings e Vanessa Redgrave, trata de um suposto assassinato captado acidentalmente por um fotógrafo de moda, história baseada num conto do escritor argentino Julio Cortazar. A trilha foi composta pelo pianista Herbie Hancock sendo executada por uma trupe de primeira (Freddie Hubbard, Joe Henderson, Ron Carter, Jack DeJohnette, Jimmy Smith etc.). Todavia, o charme é o rock STROLL ON executada pelo grupo Yardbirds (com Jeff Beck e Jimmy Page) que aparece ao vivo tocando no filme. Antonioni tem outros filmes famosos como A NOITE, PROFISSÃO REPÓRTER (O PASSAGEIRO) e ZABRISKIE POINT, cuja trilha se tornou cultuada por conter canções inéditas do Pink Floyd.

63) A LIBERDADE É AZUL (Krzysztof Kieslowski), 1993

O compositor polonês Zbigniew Preisner distinguiu-se por criar e executar as trilhas da celebrada ‘trilogia da cores’ (TROIS COULEURS) do seu conterrâneo Kieslowski, a saber, A LIBERDADE É AZUL (BLEU), A IGUALDADE É BRANCA (BLANC) e A FRATERNIDADE É VERMELHA (ROUGE), com base na composição da bandeira francesa e nos ideais da Revolução Francesa. O primeiro e mais conhecido episódio, BLEU, é estrelado por Juliette Binoche. Priesner também musicou outro filme famoso do mesmo diretor, A VIDA DUPLA DE VÉRONIQUE, além de O JARDIM SECRETO, filme-fantasia com produção executiva de Francis Ford Coppola.

64) O HOMEM DE BRAÇO DE OURO (Otto Preminger), 1955

Diversos clássicos do diretor Otto Preminger tiveram trilhas marcantes como LAURA (cuja música tema de David Raskin tornou-se um concorrido standard de jazz), ANATOMIA DE UM CRIME (trilha assinada pelo mestre Duke Ellington) e EXODUS (com uma trilha épica condizente). A conhecida música de O HOMEM DE BRAÇO DE OURO, filme estrelado por Frank Sinatra, Kim Novak e Eleanor Parker, é assinada pelo afamado maestro Elmer Bernstein, responsável por outras grandes trilhas como a de OS SETE MAGNÍFICOS, O GRANDE MOTIM, MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA e (pasme!) da comédia sobrenatural GHOSTBUSTERS (OS CAÇA-FANTASMAS), cuja música tema tornou-se grande sucesso.

 65)  BIRD (Clint Eastwood), 1988

Clint Eastwood é um aficionado por jazz, como demonstra a música que acompanha boa parte dos filmes em que atuou como diretor, a maioria dos quais composta pelo próprio Clint. Esmerou-se nessa produção que trata da vida atribulada (vício em drogas e problemas financeiros e de racismo) e curta (faleceu aos 34 anos) de Charlie Parker, ou Bird, como era conhecido, na tela representado por Forrest Whitaker. A trilha apresenta 11 canções remixadas do saxofonista criador do bebop, sendo adicionados aos solos originais de Parker acompanhamentos de músicos contemporâneos.

 66)  FLASHDANCE (Adrian Lyne), 1983

Lyne é um bem sucedido cineasta com produções de grande bilheteria como 9 ½ SEMANAS DE AMOR (com sua trilha sensual), PROPOSTA INDECENTE e ATRAÇÃO FATAL. Maior sucesso da carreira de Jennifer Beals, FLASHDANCE foi comercialmente um arraso, assim como sua trilha. Apesar das críticas mal humoradas, poucos não se emocionam ao escutar WHAT A FEELING com Irene Cara (Oscar de canção original) ou MANIAC com Michael Sembello. As canções foram compiladas pelo DJ Giorgio Moroder, produtor de Donna Summer, e com vasta atuação durante a era disco. No cinema, assinou também as trilhas de EXPRESSO DA MEIA NOITE (ganhadora de Oscar), TOP GUN, GIGOLÔ AMERICANO, SCARFACE e A MARCA DA PANTERA.

67) MELODIA IMORTAL (George Sidney), 1956

THE EDDY DUCHIN STORY foi um filme biográfico estrelado por Tyrone Power e Kim Novak (no auge de sua beleza) sobre o pianista Eddy Duchin, sendo os números musicais tocados pelo consagrado Carmen Cavallaro. A trilha sonora, cujo álbum foi um dos campeões de vendas de 1956, inclui até uma versão de AQUARELA DO BRASIL de Ary Barroso. A música tema, TO LOVE AGAIN, é baseada num noturno de Chopin. Sidney é especializado em musicais, tendo trabalhado com Gene Kelly, Judy Garland, Frank Sinatra e até Elvis Presley. Destaque para ANCHORS AWEIGH em que Kelly dança com o ratinho Jerry (de Tom & Jerry), numa inédita integração com animação.

 68) THE WALL (Alan Parker), 1982

Os filmes do diretor britânico Alan Parker têm em comum trilhas relevantes que fizeram sucesso comercial, sendo difícil selecionar uma: FAME (sobre jovens talentos de uma escola de música), MIDNIGHT EXPRESS (música eletrônica de Giorgio Moroder), THE COMMITMENTS (jovens de Dublin querendo montar uma banda de soul), EVITA (de Andrew Lloyd Webber com Madonna), BIRDY (assinada por Peter Gabriel), MISSISSIPI EM CHAMAS (impactante trilha de Trevor Jones num contexto de racismo). No caso de THE WALL, o filme/animação se baseia no álbum homônimo do Pink Floyd de 1979 com roteiro do baixista/vocalista Roger Waters com críticas ao autoritarismo e ao belicismo.

69)  A PROFECIA (Richard Donner), 1976

Donner foi um cineasta versátil que dirigiu películas de gêneros diversos: ação, aventura, comédia, terror. Destacam-se SUPERMAN, O FEITIÇO DE ÁQUILA, OS GOONIES, MÁQUINA MORTÍFERA (1 a 4), TEORIA DA CONSPIRAÇÃO, MAVERICK. O aterrorizante A PROFECIA (OMEN) com Gregory Peck, é sobre um garoto que se revelou filho do demônio. Jerry Goldsmith caprichou na trilha que mescla música orquestral e elementos atonais, em especial a faixa AVE SATANI, com um coro cantado em latim que soa como uma missa negra. Com ela, Jerry, um dos mais famosos compositores de trilhas - STAR TREK, PLANETA DOS MACACOS (de 1968), CHINATOWN, ALIEN, PATTON, POLTERGEIST etc. - faturou seu único Oscar.

70) ROCKY III (Sylvester Stallone), 1982

A saga do fictício lutador Rocky Balboa é uma das mais bem sucedidas do cinema. A série iniciou-se em 1976, sendo o primeiro episódio dirigido por John Avildsen, o melhor avaliado pela crítica, contando com trilha de Bill Conti inclusive a música-tema, GONNA FLY NOW (indicada ao Oscar). Porém o personagem ficou vinculado à canção EYE OF THE TIGER interpretada pelo grupo Survivor, associada a garra e superação, presente no terceiro filme da franquia. Stallone agregou à trilha de Conti esse rock com a intenção de atrair um público mais jovem. EYE OF THE TIGER tornou-se um sucesso retumbante, tendo sido um dos singles mais vendidos do ano.

71) AMARGO PESADELO (John Boorman), 1972

Estrelado por Burt Reynolds e Jon Voight, esse polêmico filme, originalmente DELIVERANCE, cujo título em português dá uma ideia do tormento vivido por um grupo de 4 amigos que escalam um rio quando são atacados e seviciados por habitantes rudes da região. As cenas de violência sexual extrema foram suprimidas pela censura em sua primeira exibição no Brasil. O momento mais célebre ocorre quando um dos personagens faz um desafio musical com um banjo com um rapaz aparentemente deficiente mental da região (“DUELING BANJOS”). O duelo musical foi transposto para a trilha sonora do filme.  

72) ARQUIVO X (Chris Carter), 1993

A série televisiva, uma das mais duradouras da história, ficou no ar por nada menos do que 10 anos com 9 temporadas e mais de 200 episódios, dando origem também a um longa. Trata-se de uma temática insólita em que um casal de agentes do FBI investiga casos paranormais. O inconfundível tema de abertura foi composto por Mark Snow utilizando assobios, ecos e elementos eletrônicos.

73) HARRY & SALLY (Rob Reiner), 1989

Comédia romântica não precisa necessariamente ser piegas, como prova essa divertida e esmerada produção protagonizada por Meg Ryan e Billy Cristal, que passam o filme inteiro se estranhando até acabarem juntos. A cena do orgasmo no restaurante é emblemática.  A graciosa trilha sonora que fez tanto sucesso quanto o filme foi executada pelo estreante e promissor cantor e pianista Harry Connick, Jr, tido então como o futuro Sinatra e é composta por clássicos do jazz (irmãos Gershwin, Rodgers & Hart, Duke Ellington etc.) Ao fim, Connick Jr não se tornou um novo Sinatra nem emplacou novas trilhas, vindo a fazer alguns papéis como ator coadjuvante. O diretor Reiner teve outros filmes de importância como STAND BY ME (outra trilha memorável) e LOUCA OBSESSÃO (MISERY).

74) O FEITIÇO DA LUA (Norman Jewison), 1987

O diretor canadense Jewison carrega em sua bagagem filmes importantes como NO CALOR DA NOITE (trilha de Quincy Jones com tema de abertura de Ray Charles), O VIOLINISTA NO TELHADO (musical com temas tradicionais judaicos), THOMAS CROWN AFFAIR (trilha de Michel Legrand) e OS GLADIADORES DO FUTURO (André Previn). O FEITIÇO DA LUA (MOONSTRUCK) é uma comédia romântica que conferiu à cantora Cher o Oscar de melhor atriz, no papel de uma ítalo-americana que se apaixona pelo personagem vivido por Nicolas Cage. A trilha mescla canções populares italianas com trechos de ópera, com destaque para THAT´S AMORE interpretada por Dean Martin.

 75) BAGDAD CAFÉ (Percy Adlon), 1972

Essa curiosa comédia dramática que contrapõe uma turista alemã com aparência fora dos padrões de Hollywood e a dona de um decadente posto de estrada é uma produção germânica que se passa nos EUA com atores americanos (inclusive o veterano Jack Palance). A nostálgica trilha sonora capta a solidão dos personagens e o clima do deserto de Mojave na Califórnia, onde a trama se desenrola. Mas o grande destaque é a balada CALLING YOU (indicada ao Oscar), interpretada por Jevetta Steele, com um enxuto arranjo de piano e flauta que se tornou sucesso mundial. A interpretação da cantora gospel arrancou rasgados elogios da crítica que a compararam com Whitney Houston.

76) YELLOW SUBMARINE (George Dunning), 1968

Os Beatles, o grupo de pop-rock mais famoso da história, lançaram também alguns filmes (A HARD DAYS NIGHT, HELP!...). YELLOW SUBMARINE destaca-se por ser uma animação em que eles aparecem caricaturados numa aventura em que salvam a cidade de Pepperland, tomada por malignos homens azuis que detestam música. A trilha sonora original contém apenas 4 canções inéditas do grupo e não chegou a alcançar grande sucesso comercial. O lado B contém temas orquestrais compostos pelo produtor musical George Martin. Mais tarde, foi lançada uma nova versão com todas as canções executadas no filme, a maioria já presente em outros álbuns. Apesar de tais restrições, o filme ganhou o status de cult por seus traços psicodélicos que revolucionaram a estética dos desenhos animados.

 77)  DIÁRIOS DE MOTOCICLETA (Walter Salles), 2004

A saga de Che Guevara pela América Latina, sob a direção do cineasta de CENTRAL DO BRASIL, recebeu uma bela trilha composta pelo argentino Gustavo Santaolalla com a canção tema AL OTRO LADO DEL RIO de Jorge Drexler. Santaolalla compôs para 2 outros filmes do diretor brasileiro: LINHA DE PASSE e ON THE ROAD. O músico recebeu dois Oscars mas por outras trilhas, igualmente belas, BABEL e O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN. São dele também as trilhas dos mexicanos AMORES PEJOS e BIUTIFUL, do portenho RELATOS SELVAGENS e do americano 21 GRAMAS.

78) GÊNIO INDOMÁVEL (Gus Van Sant), 1997

Reconhecido como um dos mais talentosos diretores surgidos nos anos 90, em especial em temas que tocam a juventude, Gus tem em sua filmografia, obras-primas como O ELEFANTE, MILK A VOZ DA IGUALDADE, ENCONTRANDO FORRESTER, UM SONHO SEM LIMITES e PARANOID PARK. Nenhum deles alcançou a projeção de GÊNIO INDOMÁVEL com Matt Damon e Robin Williams (valendo-lhe um Oscar). A trilha foi assinada por Danny Elfman, mas o destaque ficou por conta das 6 canções do garoto-prodígio Elliott Smith que integraram o álbum, em especial MISS MISERY (indicada ao Oscar).

 79)  CORRIDA CONTRA O DESTINO (Richard Sarafian), 1971

CORRIDA CONTRA O DESTINO (VANISHING POINT) é um road movie que, apesar do baixo sucesso comercial, tornou-se cult em função das cenas de perseguição e das relações pessoais que o personagem estabelece pelo oeste dos EUA, misturando filosofia existencial e crítica social, bem ao gosto da contracultura dos anos 70. Nesse contexto, a trilha mescla rock psicodélico, country e blues refletindo o espírito de rebeldia e liberdade da época. Ficou famosa no Brasil por utilizar a magnífica FREEDOM OF EXPRESSION, canção executada pelo desconhecido conjunto J B Pickers (na verdade, um improvisado grupo de músicos que se reuniu para gravar essa faixa para o filme), que se tornou conhecida por ser utilizada na abertura do Globo Repórter.

 80) SINGLES, VIDA DE SOLTEIRO (Cameron Crowe), 1992

O filme estrelado por Bridget Fonda, Campbell Scott e Matt Dillon é uma simpática e descompromissada comédia romântica do mesmo diretor de JERRY MAGUIRE, QUASE FAMOSOS e VANILLA SKY (todos com trilhas sonoras pop rigorosamente selecionadas) que retrata a complicada relação de jovens à procura do par perfeito. A trama transcorre em Seattle, cidade em que emergia um efervescente movimento musical que se estendeu pelo planeta e revitalizou o rock. A trilha que se tornou referência reflete a atmosfera ‘grunge’, com bandas como Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden, Screaming Trees etc.

  

 

 

Confira 3ª parte:

 https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2025/10/trilhas-da-minha-vida-3-parte.html


Confira 5ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2025/11/trilhas-da-minha-vida-5-parte.html

 

 

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

TRILHAS DA MINHA VIDA – 3ª PARTE

 Meu destino foi moldado pelos filmes que assisti. A música que os acompanhou faz a trilha sonora da minha vida. Segue a 3ª parte:

41) PULP FICTION (Quentin Tarantino), 1994

Tarantino divide os críticos. Menos quando se trata das trilhas sonoras, quando a opinião unânime é que o diretor não dá bola fora. PULP FICTION é não apenas seu mais badalado filme, como o que possui a trilha mais arrojada. Além da sacada de ressuscitar empoeirados clássicos da surf music, realizou a proeza de transformar em sucesso uma antiga canção de Neil Diamond interpretada por Urge Overkill (GIRL YOU’LL BE A WOMAN SOUL). Tarantino tem por hábito garimpar músicas antigas esquecidas para servir como pano de fundo a suas películas. Teve por mérito permitir ao lendário Ennio Morricone faturar seu único Oscar pela trilha de OS OITO ODIADOS.

42) SUPLÍCIO DE UMA SAUDADE (Henry King), 1955

Alfred Newman foi um verdadeiro colecionador de Oscars, tendo composto para mais de 200 filmes. Sua parceria com o diretor Henry King foi das mais profícuas dos anos de ouro de Hollywood. Dentre as trilhas mais marcantes de Newman, destacam-se A MALVADA (ALL ABOUT EVE), O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, COMO ERA VERDE O MEU VALE, CANÇÃO DE BERNARDETTE, AEROPORTO e a arrebatadora LOVE IS A MANY SPLENDORED THING, cujo tema (de autoria da dupla Fain/Webster) foi gravado por uma pá de artistas (Andy Williams, Matt Monro, Bing Crosby, Nat King Cole, Shirley Bassey, Frank Sinatra etc.) e até suplantou o sucesso do filme.

 43) ALÉM DA IMAGINAÇÃO (Rod Serling), 1959

A série televisiva TWILIGHT ZONE que reúne elementos de ficção científica, fantasia e terror, criada e apresentada por Rod Serling, alcançou sucesso sem precedentes no período 1959 a 1964 com 5 temporadas, originando três revivals que não repetiram o êxito, além de um longo produzido por Steven Spielberg. Apesar de a primeira temporada receber trilha do celebrado Bernard Herrmann que trabalhou em diversas películas do mestre Hitchcock, o tema que ‘emplacou’ foi o que abriu a segunda temporada e as 3 seguintes, de autoria de Marius Constant com sons dissonantes que criam uma atmosfera perturbadora. 

44) ZORBA O GREGO (Michael Cacoyannis), 1964

A trilha do filme greco-americano, estrelado por Anthony Quinn, Alan Bates e Irene Papas, composta por Mikis Theodorakis, fez bastante sucesso, sobretudo o envolvente tema instrumental, ZORBA´S DANCE, utilizado para acompanhar a dança tradicional grega. Mikis, conhecido por seu engajamento em causas sociais, compôs também a trilha de SERPICO de Sidney Lumet e duas obras primas do cinema político de Costa Gavras, Z e ESTADO DE SÍTIO.

 45) O PIANO (Jane Campion), 1993

O drama neozelandês transcorrido no século XIX e protagonizado por Holly Hunter e Harvey Keitel gira em torno da paixão de uma mulher muda desde a infância por seu piano, do qual se viu privada, ao iniciar vida em companhia do novo marido numa terra estranha. Com ele, a diretora Jane Campion consagrou-se como a primeira mulher a ganhar a Palma de Ouro de Cannes. A belíssima trilha ajudou a popularizar seu autor, o prestigiado pianista e compositor minimalista Michael Nyman. É dele também a trilha do instigante O COZINHEIRO, O LADRÃO, SUA MULHER E A AMANTE do diretor Peter Greenaway.

 46) O ÚLTIMO TANGO EM PARIS (Bernardo Bertolucci), 1972

Bertolucci foi um dos maiores diretores de todos os tempos com inúmeras obras primas. Várias de suas trilhas se destacam, como a de 1900, composta por Ennio Morricone, O CÉU QUE NOS PROTEGE, O PEQUENO BUDA e O ÚLTIMO IMPERADOR, as 3 de Ryuichi Sakamoto, além de OS SONHADORES e BELEZA ROUBADA que apresentam um bem selecionado painel de temas pop. O ÚLTIMO TANGO EM PARIS foi um filme que provocou polêmica pelo conteúdo sexual explícito (em especial a insólita cena da manteiga como lubrificante), contracenado por Marlon Brando e Maria Schneider. Controvérsias à parte, a trilha sonora, composta pelo saxofonista argentino Gato Barbieri se sobressai, em especial o tema principal, um dos mais belos e pungentes do cinema.

47) ROUND MIDNIGHT (Bertrand Tavernier), 1986

O saxofonista Dexter Gordon surpreendeu por sua atuação nessa película do diretor francês, concorrendo ao Oscar como ator. A trilha sonora (vencedora da estatueta) homenageia os anos dourados do jazz reunindo cobras como Herbie Hancock, Ron Carter (que também atuaram no filme), Bobby McFerrin, John McLaughlin, Chet Baker, Freddie Hubbard e Wayne Shorter, dentre outros. Uma celebração ao nobre gênero musical. A canção que dá nome à película, composição de Thelonious Monk, é um dos principais clássicos do gênero, tendo recebido dezenas de gravações.

48) O EXORCISTA (William Friedkin), 1973

Friedkin foi laureado com 5 Oscars (incluindo filme e direção) por OPERAÇÃO FRANÇA que teve trilha composta pelo trompetista Don Ellis. Em O EXORCISTA, um dos mais horripilantes filmes de terror de todos os tempos, Friedkin rejeitou a composição de Lalo Schifrin feita de encomenda, acabando por utilizar alguns temas clássicos contemporâneos. Além disso, lançou mão de trechos do já consagrado álbum TUBULAR BELLS do multi-instrumentista Mike Oldfield (expoente do rock progressivo) que, embora não tenha sido elaborado com essa finalidade, acabou associado à película. O diretor considerou a atmosfera densa e repetitiva do álbum (em que Mike executa todos os instrumentos) apropriada para o tom sombrio imprimido ao filme, sendo utilizada a faixa GEORGETOWN como tema principal  

49) MANHATTAN (Woody Allen), 1979

Woody Allen sempre foi apaixonado pelo som dos anos de ouro de New Orleans e pelos clássicos dos anos 20/30. As trilhas sonoras de seus filmes refletem suas preferências musicais. Em MANHATTAN, filmado em preto e branco, em que atua ao lado de Diane Keaton e Meryl Streep, podemos encontrar os principais chavões que caracterizam suas comédias cerebrais. A ideia do filme surgiu a partir de uma canção de Gershwin (assim como Allen, um apaixonado por NY). Todas as canções da trilha sonora são do compositor norte-americano e executadas pela Filarmônica de Nova York sob a regência de Zubin Mehta, com destaque para as conhecidíssimas RHAPSODY IN BLUE e EMBRACEABLE YOU. Outro filme famoso com músicas de Gershwin é AN AMERICAN IN PARIS de Vincente Minnelli.

 50) BEN-HUR (William Wyler), 1959

O compositor húngaro Miklós Rósza tornou-se conhecido por suas trilhas orquestrais de filmes épicos e bíblicos como BEN-HUR, EL CID, QUO VADIS, O REI DOS REIS, EL CID e JULIUS CAESAR, tendo influenciado fortemente John Williams. Indicado para 17 Oscars, faturou 3, incluindo BEN-HUR, personagem vivido por Charlton Heston, filme grandioso, um dos mais custosos da história, até então. São de Miklós também QUANDO FALA O CORAÇÃO de Hitchcock, UMA VIDA DUPLA de George Cukor (pelos quais também faturou Oscars), PACTO DE SANGUE e FARRAPO HUMANO, ambos de Billy Wilder, dentre outros.

51) BETTY BLUE (Jean Jacque Beineix), 1985

A carreira do celebrado compositor e pianista libanês Gabriel Yared (que chegou a morar no Brasil no início dos anos 70), deslanchou quando ele se dedicou à execução de trilhas para o cinema francês como CAMILLE CLAUDEL e SALVE-SE QUEM PUDER (Jean Luc Godard). Foi laureado com o Oscar pela trilha sonora do filme O PACIENTE INGLÊS de Anthony Minghella. Desse mesmo cineasta britânico, assinou as trilhas de COLD MOUNTAIN e O TALENTOSO RIPLEY, além de CIDADE DOS ANJOS. A película francesa 37º2 LE MATIN (que no Brasil recebeu o título de BETTY BLUE) teve uma trilha sonora que acabou se tornando mais badalada que o próprio filme.

 52) FOME DE VIVER (Tony Scott), 1983

Primeiro filme dirigido pelo irmão mais novo de Ridley Scott, que depois se especializaria em filmes de ação como TOP GUN (que lançou Tom Cruise ao estrelato), CHAMAS DE VINGANGA, INIMIGOS DE ESTADO e DIAS DE TROVÃO. Estrelado por Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon FOME DE VIVER (THE HUNGER) é um filme sobre vampirismo. Tornou-se cult por sua estética gótica, atmosfera sensual, abordagem sexual e pela trilha sonora que expôs como tema de abertura a canção BELA LUGOSI’S DEAD com o grupo Bauhaus, de 9 minutos de duração, que se tornou uma espécie de hino gótico com seus efeitos fantasmagóricos alucinantes.

53) AGUIRRE, A CÓLERA DOS DEUSES (Werner Herzog), 1972

Werner Herzog sempre foi um diretor obscuro cultuado por um grupo restrito de cinéfilos. Logicamente, as trilhas de seus filmes refletiam essa condição. Assim como ocorreu com o ator Klaus Klinki, o conjunto alemão Popol Vuh (capitaneado pelo tecladista Florian Fricke) foi colaborador recorrente do cineasta alemão. Assinou diversas trilhas, como as de FITZCARRALDO e NOSFERATU, conferindo às trilhas um clima onírico, combinando as viagens eletrônicas de grupos como o Kraftwerk e o Tangerine Dream com influências místicas e orientais e, no caso do filme em questão, andinas.

54) INTERESTELAR (Christopher Nolan), 2014

O diretor britânico Christopher Nolan tem uma parceria bem sucedida com Hans Zimmer que compôs algumas de suas trilhas mais icônicas como as de BATMAN BEGINS, BATMAN O CAVALEIRO DAS TREVAS, A ORIGEM e INTERESTELAR. Esse último, com um elenco (inter)estelar, liderado por Matthew McConaghey, é um épico de ficção científica ambientado num futuro distópico em que a Terra está ameaçada de extinção pela fome e catástrofes naturais. A trilha minimalista com o uso de órgão de tubos alterna suavidade e silêncio com momentos grandiosos. Zimmer musicou outras trilhas famosas como as de GLADIADOR, REI LEÃO, O ÚLTIMO SAMURAI e MELHOR É IMPOSSÍVEL.

 55) ALTA SOCIEDADE (Charles Walters), 1956

Dispensável falar da importância de Cole Porter para a cultura norte-americana. Celebrados pelos principais nomes da música, seus standards tornaram-se presença obrigatória em qualquer compilação representativa da era de ouro do jazz. Sem falar dos inúmeros espetáculos da Broadway, muitos transpostos para a tela. Filmes como CAN CAN, KISS ME KATE e O PIRATA trazem a marca de Porter. HIGH SOCIETY, do diretor de musicais Charles Walters (o mesmo de EASTER PARADE) traz Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly (seu último papel antes de se tornar princesa), e a presença marcante de Louis Armstrong e banda executando HIGH SOCIETY CALYPSO. Além de TRUE LOVE com Crosby e Grace, último grande sucesso do compositor.

56) IMENSIDÃO AZUL (Luc Besson), 1988

Éric Serra colaborou com o diretor francês Besson em diversas películas como O PROFISSIONAL, NIKITA e O QUINTO ELEMENTO. Em IMENSIDÂO AZUL (THE BIG BLUE), filme que trata da rivalidade esportiva entre dois mergulhadores que competem para obter maior profundidade no mar, procurou transferir para a música a sonoridade etérea do vasto oceano, misturando sons naturais com melodias suaves e elementos eletrônicos, com destaque para a faixa de abertura. Serra foi convocado também para compor a trilha de 007 CONTRA GOLDENEYE com Pierce Brosnan no papel de James Bond.

57) TRAINSPOTTING (Danny Boyle), 1996

O diretor de YESTERDAY (regravações de temas dos Beatles) e do premiado QUEM QUER SER UM MÍLIONÁRIO? (com canções indianas), já chamava a atenção dos cinéfilos desde os desconcertantes COVA RASA e TRAINSPOTTING, ambos com Ewan McGregor. Esse último retrata sem retoques o mundo das drogas em Edimburgo nos anos 80. A trilha tornou-se ainda mais cultuada que o filme, reunindo a nata da canção pop inglesa e americana da época: Lou Reed, Brian Eno, Iggy Pop, Blur, Primal Scream, New Order, destacando-se BORN UNSLEEPY com o grupo Underworld (que se tornou um hino rave).

58) TITANIC (James Cameron), 1997

O cineasta canadense James Cameron é o segundo com maior bilheteria (atrás apenas de Steven Spielberg). Duas de suas megaproduções receberam trilhas de James Horner, AVATAR e TITANIC. Esta última rendeu a Horner um Oscar, além de obter um enorme sucesso comercial com o álbum, um dos campeões de vendas de todos os tempos, em grande parte puxado pela canção tema (também de sua autoria em parceria), MY HEART WILL GO ON interpretada por Céline Dion, igualmente laureada pela Academia. Horner musicou ainda os filmes ALIENS, O RESGATE (também de Cameron), O HOMEM BICENTENÁRIO, CORAÇÃO SELVAGEM. APOLLO 13, COCOON, CAMPO DE SONHOS, JUMANJI, O NOME DA ROSA e DOSSIÊ PELICANO

 59) OS ÚLTIMOS PASSOS DE UM HOMEM (Tim Robbins), 1995

Tim Robbins é conhecido como ator (como no aclamado UM SONHO DE LIBERDADE). Aqui exercita seus dotes de diretor (além de roteirista e produtor) num filme que retrata um prisioneiro condenado à morte (representado por Sean Penn), sendo confortado em seus momentos finais por uma freira (Susan Sarandon, que faturou o Oscar), estabelecendo-se entre os dois uma relação intensa e debates sobre justiça, perdão e responsabilidade. A memorável trilha sonora inclui artistas pop de renome como Bruce Springsteen, Patti Smith, Tom Waits e Suzanne Vega. Mas o ponto alto são duas faixas cantadas em dueto por Eddie Vedder, vocalista do Peal Jam, com o cantor paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan que, a partir daí, ganhou visibilidade no Ocidente.

60) DO FUNDO DO CORAÇÃO (Francis Ford Coppola), 1982

O maior fracasso comercial da filmografia do cultuado diretor da trilogia O PODEROSO CHEFÃO talvez seja paradoxalmente o que tenha uma das trilhas mais cativantes, a cargo de Tom Waits. Não obstante Waits seja um músico cult, seu vínculo com o cinema fica mais por conta de suas atuações como ator coadjuvante, sobretudo em filmes de Jim Jarmush (DOWN BY LAW, COFFEE AND CIGARETTES) e do próprio Coppola (SELVAGEM DE MOTOCICLETA, VIDAS SEM RUMO, DRÁCULA DE BRAM STOKER). Em ONE FROM THE HEART, no entanto, brilha como compositor (sendo o autor das 12 faixas que integram o álbum) e como cantor, fazendo dupla com Crystal Gayle, convertida do country para o jazz romântico.

 

 

Confira 2ª parte:

 https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2025/10/trilhas-da-minha-vida-2-parte.html

 

Confira 4ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2025/10/trilhas-da-minha-vida-4-parte.html


 

 

 

 

 

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

TRILHAS DA MINHA VIDA – 2ª PARTE

 

Meu destino foi moldado pelos filmes que assisti. A música que os acompanhou faz a trilha sonora da minha vida. Segue a 2ª parte:

 21) CASABLANCA (Michael Curtiz), 1942

Impossível não associar o cultuado drama ambientado durante a II Guerra a AS TIME GOES BY, uma das canções mais marcantes do cinema que, tocada num bar pelo pianista Sam, fez com que Humphrey Bogart se recordasse de seu antigo amor, Ingrid Bergman, suscitando que o galã proferisse a celebrada frase “play it again, Sam” (algo que na verdade ele nunca disse). Curiosamente, o aclamado tema é de 10 anos antes, não tendo sido composto para o filme, cuja trilha sonora pertence a Max Steiner. Tornou-se um standard de jazz que recebeu inúmeras interpretações. O diretor Curtiz realizou outro clássico, o capa-espada AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD com Errol Flynn de 1938.

 22) DIAMANTES SÃO ETERNOS (Guy Hamilton), 1971

Não se pode deixar de mencionar as diversas trilhas da franquia 007. Injusto ressaltar uma dentre elas, já que muitas foram marcantes, em especial aquelas compostas por John Barry (também um dos autores do famoso tema de James Bond). Cada novo filme revelou uma canção principal com algum intérprete renomado: Paul McCartney (LIVE AND LET DIE), Carly Simon (NOBODY DOES IT BETTER), Matt Monro (FROM RUSSIA WITH LOVE), Louis Armstrong (WE HAVE ALL THE TIME IN THE WORLD), Tom Jones (THUNDERBALL), Duran Duran (A VIEW TO A KILL), Nancy Sinatra (YOU ONLY LIVE TWICE), Sheena Easton (FOR YOUR EYES ONLY), Adele (SKYFALL) etc. Mas a coroa vai para Shirley Bassey, agraciada com 3 temas (GOLDFINGER, DIAMONDS ARE FOREVER e MOONRAKER).

 23) LUZES DA CIDADE (Charles Chaplin), 1931

Nesse clássico que combina comédia e drama, Carlitos desempenha um vagabundo que sustenta uma florista cega que, ao voltar a enxergar, não consegue esconder a frustração ao reconhecer seu maltrapilho benfeitor. Não bastasse ser diretor, produtor, roteirista e ator principal, Chaplin ainda compôs a bela trilha sonora. Em se tratando de um filme mudo, a música desempenha papel primordial traduzindo as emoções dos personagens. É utilizada também a espanhola VIOLETERA como tema da florista. Deve-se ressaltar que Chaplin compôs outras duas pérolas: THIS IS MY SONG (sucesso na voz de Petula Clark) para o filme CONDESSA DE HONG KONG, além da célebre SMILE (filme TEMPOS MODERNOS), regravada por Nat King Cole, Michael Jackson, Judy Garland, Barbra Streisand e Lady Gaga, dentre tantos.

24)  OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE (John Badham), 1977

Na década de 60, os Bee Gees eram tidos como um trio de soft rock que alcançou sucesso com canções singelas como MASSACHUSETTS e I STARTED THE JOKE. Pegando carona na onda ‘disco’, os irmãos Gibb emplacaram uma das mais bem sucedidas trilhas, SATURDAY NIGHT FEVER com canções como STAYIN’ ALIVE, HOW DEEP IS YOUR LOVE, YOU SHOULD BE DANCING e NIGHT FEVER com John Travolta arrepiando na pista. De quebra, outros grupos representativos dos anos 70: Kool & the Gang, KC & Sunshine Band e Tavares.

 25) UM HOMEM, UMA MULHER (Claude Lelouch), 1966

Esse drama romântico de Lelouch, vencedor da Palma de Ouro de Cannes e do Oscar de filme estrangeiro, que consolidou a importância do diretor francês no contexto internacional, deve seu sucesso em grande parte à maravilhosa trilha de Francis Lai. Aliás, a parceria entre Lelouch e Lai estendeu-se para outros filmes do diretor, como VIVER POR VIVER, UM BOM ANO etc. Outra trilha icônica de Lai, que lhe valeu um Oscar, é a do blockbuster americano LOVE STORY de 1970. O tema instrumental de Lai, THEME FROM LOVE STORY, lançado em single por Henry Mancini, alcançou grande êxito comercial. Quando lhe foi adicionada uma letra, sendo rebatizado como WHERE DO I BEGIN?, voltou repetidamente às paradas nas vozes de Andy Williams, Tony Bennett e Shirley Bassey.

 26) SE MEU APARTAMENTO FALASSE (Billy Wilder), 1960

Billy Wilder é um dos mais respeitados diretores do cinema com obras primas inesquecíveis como CREPÚSCULO DOS DEUSES, PACTO DE SANGUE, FARRAPO HUMANO e SABRINA, versão com Humphrey Bogart e Audrey Hepburn. A que tem a trilha mais conhecida - composta por Adolf Deutsch - é provavelmente THE APARTMENT com Jack Lemmon e Shirley MacLaine, destacando-se a canção JEALOUS LOVER. Deutsch musicou também outra comédia de Wilder, QUANTO MAIS QUENTE MELHOR além de RELÍQUIA MACABRA (de John Huston) e o musical SETE NOIVAS PARA SETE IRMÃOS (Stanley Donen).

27) ORFEU NEGRO (Marcel Camus), 1959

Apesar de o enredo (baseado na mitologia grega) ter transcorrido no Rio de Janeiro durante o Carnaval, com elenco de atores brasileiros, os méritos ficaram com a França do diretor Camus nos grandes festivais em que concorreu, por aquele país ganhando o Oscar de melhor filme estrangeiro e a Palma de Ouro em Cannes. A trilha sonora, de autoria de Tom Jobim (em colaboração com Vinícius) e do violonista Luiz Bonfá, que compôs os temas MANHÃ DE CARNAVAL (interpretado por Agostinho dos Santos) e SAMBA DE ORFEU (ambos em parceria com Antônio Maria) marca o início da explosão da bossa nova. MANHÃ DE CARNAVAL consolidou-se como uma das músicas brasileiras mais conhecidas no exterior com versões de Sinatra, Sarah Vaughan, Nina Simone, Stan Getz, Paul Desmond, Quincy Jones etc.

28) THE BLUES BROTHERS (John Landis), 1980

A simpática comédia musical estrelada por John Belushi e Dan Aykroyd, por aqui recebendo o título de OS IRMÃOS CARA-DE-PAU, teve uma das ‘soundtracks’ mais bem sucedidas de todos os tempos. Boa parte das músicas (clássicos de blues, soul e R&B, inclusive uma versão de PETER GUNN de Henry Mancini) foi executada pela própria dupla, algumas ao lado de astros de primeira linha que participaram pessoalmente da trama como Ray Charles, Aretha Franklin, James Brown e Cab Calloway. Houve uma continuação, BLUES BROTHERS 2000, que, apesar da boa seleção musical, não vingou.

29) FALE COM ELA (Pedro Almodóvar), 2002

Preferido de Almodóvar, Alberto Iglesias compôs diversas trilhas para o cineasta espanhol como VOLVER, MÁ EDUCAÇÃO e TUDO SOBRE MINHA MÃE. A mais bela e pungente talvez tenha sido HABLE CON ELLA que abre espaço para temas da MPB com Elis Regina interpretando POR TODA A MINHA VIDA (Tom & Vinícius) e Caetano Veloso com CUCURRUCUCÚ PALOMA que aparece em pessoa cantando a pérola do folclore mexicano, faixa do álbum FINA ESTAMPA AO VIVO. Iglesias musicou outros filmes como LÚCIA E O SEXO, CHE, O CAÇADOR DE PIPAS e O JARDINEIRO FIEL, este dirigido por Fernando Meirelles.

 30)  MY FAIR LADY (George Cukor), 1964

Baseada no megassucesso do musical da Broadway, a comédia estrelada por Audrey Hepburn e Rex Harrison arrebatou 8 Oscars incluindo o de trilha sonora com a memorável I COULD HAVE DANCED ALL NIGHT interpretada pela própria atriz. A trilha foi composta e supervisionada pelo maestro e pianista André Previn, outro colecionador de indicações às estatuetas, tendo faturado mais três: GIGI, PORGY AND BESS e IRMA LA DOUCE, sempre fundindo pop com jazz e música clássica. Cukor foi também o diretor da mais famosa versão de NASCE UMA ESTRELA (1954) com Judy Garland e canções da dupla Arlen/Gershwin.

31)  EASY RIDER, SEM DESTINO (Dennis Hopper), 1969

O celebrado ‘road movie’ protagonizado por Peter Fonda (que também o produziu) e Dennis Hopper (que também o dirigiu) marcou o surgimento da geração beat com uma trilha sonora pertinente que traz The Jimi Hendrix Experience e The Byrds (com seu líder Roger McGuinn em duas faixas solo). Mas a canção que marcou realmente foi o hino libertário BORN TO BE WILD (que passou a ser também o hino dos motociclistas) interpretada pelo grupo Steppenwolf que a lançara em seu álbum de estreia um ano antes. À icônica canção é atribuída a origem do termo ‘heavy metal’, contido em um de seus versos.

32)  CANTANDO NA CHUVA (Stanley Donen), 1952

A cena começa com Gene Kelly deixando Debbie Reynolds em casa e termina com ele entregando o guarda-chuva a um necessitado, sob o olhar repreensivo de um guarda. Esses 4 antológicos minutos bastaram para credenciar SINGIN’ IN THE RAIN como um dos musicais mais famosos do cinema. O curioso é que quase nenhuma das músicas da dupla Freed/Brown que tocam no musical foi feita para o filme, tendo sido oriundas de outros espetáculos da MGM, inclusive a que dá título à película, composta em 1929, época em que não havia quase filmes falados, inspirando o diretor Donen que popularizou a canção.

 33)  MISSÃO IMPOSSÍVEL (Bruce Geller), 1966

Não estamos nos referindo à franquia estrelada por Tom Cruise com diversos longas metragens de ação iniciada em 1996, mas ao bem sucedido seriado para a TV em que ela se baseou, criado e produzido por Bruce Geller que foi ao ar entre 1966 e 1973 em 7 temporadas. O famosíssimo tema musical (reaproveitado na versão cinematográfica) marca o ponto alto da carreira de Lalo Schifrin. O maestro, músico e arranjador argentino trabalhou com diretores de renome, como Peter Yates (BULLITT com Steve McQueen) e Don Siegel (DIRTY HARRY com Clint Eastwood), além das trilhas de OPERAÇÃO DRAGÃO (Bruce Lee), A HORA DO RUSH (Jackie Chan) e TERROR EM AMITYVILLE dentre tantas.

34)  VELUDO AZUL (David Lynch), 1986

Angelo Badalamenti foi o compositor preferido de David Lynch, compondo 4 trilhas de destaque: TWIN PEAKS, CIDADE DOS SONHOS, ESTRADA PERDIDA e BLUE VELVET. Nessa última, a canção tema, mega-sucesso do cantor Bobby Vinton (interpretada no filme pela atriz Isabella Rossellini) inspirou o título. Roy Orbison também comparece com IN DREAMS, reforçando o clima pop vintage, justaposto por uma partitura orquestral conduzida por Badalamenti, tendo como referência o compositor clássico Shostakovich. A combinação desses elementos tão díspares criou um clima perfeito para o perturbador enredo com características neo-noir.

 35)  O PICOLINO (Mark Sandrich), 1935

Russo de nascimento, Irving Berlin foi indiscutivelmente um dos mais profícuos compositores da história, com inúmeras canções que se tornaram clássicos do cancioneiro americano. Dentre as trilhas mais famosas, O PICOLINO (TOP HAT) com a inesquecível CHEEK TO CHEEK em que Fred Astaire exibe suas habilidades vocais e de sapateado acompanhado de Ginger Rogers. Outros filmes que contaram com composições de Berlin são BLUE SKIES, EASTER PARADE (DESFILE DE PÁSCOA) e HOLIDAY INN que revelou WHITE CHRISTMAS imortalizada por Bing Crosby, referenciado como o single mais vendido de todos os tempos, com 50 milhões de cópias.

36) FURYO (Nagisa Oshima), 1983

A produção nipônica de guerra estrelada por David Bowie ganhou uma bastante pertinente trilha assinada por Ryuichi Sakamoto, combinando composição sinfônica ocidental com sons tradicionais do extremo oriente e um toque de música eletrônica. O conhecido tema instrumental ganhou uma maravilhosa versão vocal de David Sylvian do grupo Japan (que de japonês só tem o nome). Sakamoto viria também a compor para três filmes de Bernardo Bertolucci, O CÉU QUE NOS PROTEGE, O PEQUENO BUDA e O ÚLTIMO IMPERADOR (ganhando o Oscar por esse último).  Compôs também para OLHOS DE SERPENTE (Brian de Palma) e DE SALTO ALTO (Almodóvar). O diretor Oshima é o mesmo do arrojado IMPÉRIO DOS SENTIDOS, filme que desafiou os padrões de censura com suas cenas de sexo explícito.

37) ADEUS ÀS ILUSÕES (Vincente Minnelli), 1965

Nesse filme rodado na costa da Califórnia, o casal Richard Burton & Elizabeth Taylor protagonizou um tórrido romance proibido que desafiou as convenções moralistas da época. Apesar das críticas mornas e do desempenho comercial sofrível, o filme teve o mérito de revelar THE SHADOW OF YOUR SMILE (também conhecida como LOVE THEME FROM SANDPIPER), composição de Johnny Mandel, que, não apenas ganhou o Oscar de melhor canção, como foi, devido à sua melodia refinada, uma das preferidas por intérpretes ligados ao jazz, com incontáveis gravações: Tony Bennett, Andy Williams, Frank Sinatra, Barbra Streisand, Astrud Gilberto, Stevie Wonder, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, George Benson, Gerry Mulligan, Bill Evans etc.

 38)  HAIR (Milos Forman), 1979

O diretor e roteirista tcheco Milos Forman é um dos mais respeitados do cinema, com diversos filmes premiados como UM ESTRANHO NO NINHO, AMADEUS, HAIR e O POVO CONTRA LARRY FLYNT, dos quais, HAIR, recheado de hinos hippies é o que dispõe da trilha sonora mais conhecida. A ópera-rock antibelicista, baseada no musical homônimo da Broadway de 1968, captou o clima da contracultura e da rejeição à guerra do Vietnã. O álbum vendeu milhões de cópias revelando canções como AQUARIUS/LET THE SUNSHINE IN (imortalizada pelo grupo 5th Dimension) e GOOD MORNING STARSHINE (hit do cantor Oliver). Por sua vez, a trilha de AMADEUS com músicas de Mozart regidas por Neville Marriner ajudou a popularizar o músico erudito.

39) O SENHOR DOS ANÉIS (Peter Jackson), 2001

A quantidade de trilhas assinadas por Howard Shore impressiona. Musicou quase todos os filmes de Cronenberg (A MOSCA, VIDEODROME, SCANNERS, MARCAS DA VIOLÊNCIA) e diversos de Scorsese (O AVIADOR, OS INFILTRADOS, GANGUES DE NOVA YORK, AFTER HOURS), além de O SILÊNCIO DOS INOCENTES, SEVEN dentre tantas. Mas, indubitavelmente, suas trilhas mais conhecidas são as das trilogias O SENHOR DOS ANÉIS e O HOBBIT dirigidas por Peter Jackson com base na literatura fantástica de J R R Tolkien. A grandiosidade da tarefa de Howard é notável, empenhando uma orquestra com uma quantidade absurda de músicos e instrumentos. Como resultado, faturou 3 Oscars, inclusive melhor canção para INTO THE WEST (parceria com Annie Lennox).

 40)  FAÇA A COISA CERTA (Spike Lee), 1989

Spike Lee é conhecido por explorar, em filmes engajados, temáticas raciais. DO THE RIGHT THING foi seu maior êxito. O filme trata da escalada de violência gerada pela instalação no bairro predominantemente negro do Brooklin, NY, de uma pizzaria por um italiano branco e seus filhos. A trilha que serve como fundo a esse quadro de conflitos traz diversos ritmos da música black: hip hop (Public Enemy), jazz (Al Jarreau), swing (Teddy Riley), reggae (Steel Pulse), gospel (Take 6) e até salsa (Ruben Blades).

 

 

Confira a 1ª parte:

 https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2025/10/trilhas-da-minha-vida-1-parte.html

 

Confira 3ª parte:

 https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2025/10/trilhas-da-minha-vida-3-parte.html