Meu destino foi moldado pelos filmes que assisti. A música que os acompanhou faz a trilha sonora da minha vida. Segue a 5ª e última parte:
81) GREASE (Randal Kleiser), 1978
GREASE NOS TEMPOS DA BRILHANTINA, o
musical adolescente estrelado por Olivia Newton John e John Travolta, dirigido
pelo estreante Randal Kleiser, foi um dos mais bem sucedidos da história. As
músicas trazem rock’n’roll cinquentista com uma pegada pop dos anos 70. O álbum
foi um dos mais vendidos de 1978 (disputando liderança com outro musical de
Travolta, OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE), com destaque para YOU’RE THE ONE THAT
I AM e SUMMER NIGHTS, ambas interpretadas pelo casal de atores, além da música-tema
com Frankie Valli de autoria de Barry Gibb (Bee Gees).
82) A SUMMER PLACE (Delmer Daves), 1959
O diretor Daves, especializado em
faroestes, alcançou o pico do sucesso com um melodrama, A SUMMER PLACE (no
Brasil, AMORES CLANDESTINOS), que se sobressaiu pelo tema musical composto por
Max Steiner, estrondoso sucesso na interpretação da orquestra de Percy Faith, consolidando-se
como a canção instrumental que mais tempo permaneceu no top 1 da Billboard! O
austríaco Steiner é um dos gigantes de Hollywood, assinando mais de 300 trilhas,
24 delas indicadas ao Oscar, destacando-se os clássicos CASABLANCA e E O VENTO
LEVOU, além do primeiro (e melhor) King Kong, o de 1933.
Esse filme britânico de orçamento modesto
sobre um professor imigrante negro (Sidney Poitier), encarando uma turma de
alunos rebeldes de uma escola do subúrbio de Londres, foi um fenômeno
arrecadando na bilheteria 70 vezes o valor de seu custo. Mais surpreendente foi
a música-tema interpretada pela cantora escocesa Lulu (uma das alunas) que,
apesar de se tornar o single mais vendido do ano nos EUA (puxando as vendas da
trilha sonora), sequer mereceu indicação ao Oscar. A canção se consagrou como
homenagem ao Dia do Professor.
84) LISBELA E O PRISIONEIRO (Guel Arraes), 2003
A elogiada produção nacional
protagonizada por Selton Mello e Débora Falabella recebeu uma trilha
assumidamente kitsch e pouco convencional compilada pelo roqueiro André Matos.
O músico trabalhou com o grupo Sepultura que participou de duas faixas, uma das
quais ao lado de Zé Ramalho, numa insólita união, interpretando A DANÇA DAS
BORBOLETAS de Alceu Valença. Outra pérola é VOCÊ NÃO ME ENSINOU A TE ESQUECER,
canção brega de Fernando Mendes, lapidada por Caetano Veloso. Participam ainda
Elza Soares, Los Hermanos e Yamandú Costa. Foi uma das trilhas de filmes
nacionais mais vendidas de todos os tempos.
Scorsese é apaixonado por rock em
especial pelos Rolling Stones que comparecem com frequência em suas películas,
como em OS BONS COMPANHEIROS, CASSINO e OS INFILTRADOS, sem falar nos inúmeros
documentários musicais (The Band, Stones, Dylan, George Harrison e uma série
sobre blues). A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO se diferencia não apenas por se
afastar dos recorrentes temas americanos e da Máfia, mas por contar com uma
trilha de world music com sons étnicos, de autoria de Peter Gabriel, ex-vocalista
do Genesis (registrada no álbum PASSION), com participação de músicos do
Oriente Médio, Ásia e África, como o violinista indiano L Shankar, o
paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan e os senegaleses Youssou N’Dour e Baaba Maal.
86) BELEZA AMERICANA (Sam Mendes), 1999
Estreia do diretor do aclamado drama de
guerra 1917 e de dois dos 007’s mais recentes, AMERICAN BEAUTY com Kevin Spacey
valeu-lhe 3 Oscars, incluindo melhor filme. A trilha minimalista e
introspectiva de Thomas Newman que usa instrumentos de percussão não
convencionais também se notabilizou, com destaque para a bela e reflexiva ANY
OTHER NAME, executada com um suave e emotivo piano. Thomas (que é filho do
campeão das trilhas, Alfred Newman, 9 Oscars), musicou outras películas
marcantes como UM SONHO DE LIBERDADE, À ESPERA DE UM MILAGRE e PROCURANDO NEMO,
87) BATMAN (Tim Burton), 1989
Tim Burton é um cineasta sui generis de
terror gótico com uma dose de humor e visual caricatural. BATMAN, BATMAN
RETURNS, A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATES, BEETLEJUICE, EDWARD MÃOS DE
TESOURA, MARTE ATACA, PEIXE GRANDE, GRANDES OLHOS e as animações NOIVA CADÁVER
e O ESTRANHO MUNDO DE JACK são algumas de suas principais obras. Grande parte
de sua filmografia foi musicada por Danny Elfman, compositor proveniente do
grupo new wave Oingo Boingo, que derivou do rock para o mundo das trilhas
sonoras. BATMAN, estrelado por Michael Keaton e Jack Nicholson, ganhou de
Elfman uma música-tema instrumental que se tornou famosa. Paralelamente, foi
lançada uma segunda trilha com músicas de Prince que alcançou sucesso comercial.
A celebrada ópera-rock TOMMY do grupo
The Who, lançada num álbum duplo em 1969, ganhou uma badalada versão
cinematográfica. O enredo conta com o próprio vocalista Roger Daltrey, como um
garoto cego que desenvolveu habilidade em jogar pinball. O elenco, traz também
Ann Margareth e Oliver Reed, além de astros do rock como Elton John, Tina
Turner e Eric Clapton que incrementaram a trilha sonora. Daltrey atuou como
ator em outro filme do diretor, LISZTOMANIA, trilha do tecladista Rick Wakeman.
Russell tem em seu currículo o provocativo MULHERES APAIXONADAS (1969) com
cenas eróticas ousadas para a época.
89) BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (Michel Gondry), 2004
Drama surrealista, uma das atuações mais
elogiados de Jim Carrey que sai de seu estereótipo de fanfarrão, contracenando
com seriedade com Kate Winslet. O casal se submete a um experimento para apagar
a memória, gerando um conflito emocional com o procedimento. A trilha foi
composta por Jon Brion, mais afeito ao pop alternativo. O grande diferencial
fica por conta do cantor Beck que ‘roubou a cena’ com sua magistral
interpretação de EVERYBODY’S GOTTA GET LEARN SOMETHING, único hit do grupo
britânico The Korgis.
90) I AM SAM, UMA LIÇÃO DE AMOR (Jessie Nelson), 2001
A sensível diretora Jessie Nelson aborda
aqui um tema espinhoso: a relação entre um pai amoroso, mas intelectualmente
deficiente, representado por Sean Penn, e sua esperta filha de 7 anos, Dakota
Fanning. O personagem vivido por Penn era fã ardoroso dos Beatles, o que
originou uma trilha sonora curiosa, que alcançou grande sucesso: canções do
quarteto de Liverpool cantadas por uma nova geração de intérpretes (Aimee Mann,
Eddie Vedder, Stereophonics, Sheryl Crow, Sarah McLachlan, Black Crowes, Nick Cave etc.)
91) CORRA, LOLA, CORRA (Tom Tykwer), 1998
O cineasta alemão Tykwer, diretor da superprodução PERFUME A HISTÓRIA DE UM ASSASSINO, também assinou a direção desse singular drama, digno exemplar do cinema europeu contemporâneo, sobre uma frenética jovem que em 20 minutos necessita dispor de uma vultosa quantia em dinheiro para salvar seu namorado de ser assassinado devido a uma dívida contraída com traficantes. A história é contada diversas vezes com pequenas nuances nos detalhes. A aventura é embalada por uma pulsante trilha sonora techno, composta pelo próprio diretor mais colaboradores. Franka Potente, a principal atriz, interpreta diversas canções.
92) HELLO DOLLY (Gene Kelly), 1969
Gene Kelly, mais conhecido como ator e
dançarino, dirigiu esta superprodução, adaptação para a telona do homônimo
espetáculo da Broadway de 1964, mantendo-se as músicas compostas por Jerry
Herman, com algumas adaptações. No filme, a personagem principal é vivida por
Barbra Streisand que representa uma viúva à procura de novo marido. A
canção-tema interpretada por Barbra já era bem conhecida na voz de Louis
Armstrong, o maior hit da carreira do trompetista (seu single tornou-se célebre
por ter derrubado a liderança dos Beatles que dominavam as paradas).
93) O GUARDA-COSTAS (Mick Jackson), 1992
Ainda que tenha recebido críticas
desfavoráveis, esse suspense romântico estrelado por Kevin Costner e pela
cantora Whitney Houston (em sua estreia no cinema) foi a segunda maior
bilheteria de 1992. Fenômeno ainda maior foi a trilha sonora que alcançou impressionantes
vendas de quase 50 milhões de cópias, o terceiro álbum mais vendido de todos os
tempos. O êxito foi catapultado por I WILL ALWAYS LOVE YOU, interpretada por
Whitney (original de 1973 com Dolly Parton). O tema instrumental é de Alan Silvestri
que tem uma longa parceria com o diretor Robert Zemeckis (DE VOLTA PARA O
FUTURO, FORREST GUMP, CONTATO, O NÁUFRAGO, A MORTE LHE CAI BEM), afora produções
da Disney e da franquia Marvel.
Intitulada no Brasil FÉRIAS DE AMOR,
essa comédia romântica tornou-se famosa pela dança carregada de sensualidade
(nada explícita, apenas sugerida pelos lentos movimentos), protagonizada pela
dupla central William Holden / Kim Novak durante um piquenique numa pequena
cidade do Texas, uma das cenas mais icônicas do cinema. A canção que embalou o
par tornou-se hit, atingindo a liderança na Billboard numa versão orquestrada
(coisa rara). Na verdade, tratava-se de um medley combinando uma composição de
George Duning, responsável pela trilha do filme, com o standard de jazz
MOONGLOW, dos anos 30.
95) PHILADELPHIA (Jonathan Demme), 1993
Demme tem em seu currículo filmes de
peso como O SILÊNCIO DOS INOCENTES e PHILADELPHIA. Esse último, interpretado
por Tom Hanks, trata de um tema amargo: preconceito contra portadores do vírus
HIV e homofobia. Recebeu uma trilha marcante com intérpretes do quilate de
Peter Gabriel, Neil Young e Maria Callas. A canção STREETS OF PHILADELPHIA
interpretada por Bruce Springsteen (vencedora do Oscar), aclamada por crítica e
público, teve seu videoclipe dirigido pelo próprio Demme. O cineasta teve forte
conexão com a música pop, dirigindo também STOP MAKING SENSE (com canções do
Talking Heads) e TOTALMENTE SELVAGEM (com uma seleção musical de primeira).
O controverso diretor dinamarquês Lars
Von Trier de filmes como DOGVILLE, MELANCOLIA, ANTICRISTO e NINFOMANÍACA (I e
II) costuma utilizar em suas trilhas peças de música clássica ou rocks (Bowie,
Deep Purple, Metallica). No caso do musical DANÇANDO NO ESCURO, a cantora
Björk, além de atuar (surpreendendo com uma performance bastante elogiada no
papel de uma imigrante tcheca), compôs e interpretou as músicas, agrupadas em
seu álbum SELMASONGS. A mais conhecida é I’VE SEEN IT ALL, concorrente ao Oscar,
contou (mas não na versão do filme) com a participação de Thom Yorke, vocalista
do Radiohead.
97) HAWAII CINCO-0 (Leonard Freeman), 1968
A longeva série policial ambientada no
Hawaii (o 50º estado dos EUA, daí o título), de grande sucesso, teve duas
versões: a primeira com 12 temporadas durou de 1968 a 1980 e a segunda de 2010
a 2020 com 10 temporadas. A conhecidíssima música-tema instrumental, composta
por Morton Stevens para a série inicial, foi mantida na continuação (reboot),
com arranjo mais moderno. Lançada em single pelo grupo de surf rock The Ventures,
alcançou o topo das paradas.
98) LOVE ME TENDER (Robert Webb), 1956
Temos aqui um caso incomum em que a
música determinou a trajetória do filme (no Brasil intitulado AMA-ME COM
TERNURA). A balada LOVE ME TENDER já havia sido lançada por Elvis Presley, com
enorme sucesso, quando este faroeste estava sendo rodado com o título
provisório de THE RENO BROTHERS, tendo sido rebatizado com o nome da canção
para aproveitar sua exposição. O filme marca a estreia do ‘rei do rock’ no
cinema, não como ator principal, embora, devido à sua condição de superastro,
tenha roubado as atenções, especialmente quando interpretou as 4 músicas
escaladas, lançadas num EP (que passou a ser informalmente a ‘soundtrack’ do
filme).
99) BICHO DE SETE CABEÇAS (Laís Bodanzky), 2000
Protagonizado por Rodrigo Santoro, o premiado
filme nacional conta o drama vivido por um jovem internado à força num hospital
psiquiátrico após ser flagrado pelo pai com um baseado, passando por momentos
de horror na instituição. Contando com diversas composições do ex-Titã Arnaldo
Antunes, a trilha composta por André Abujamra (do grupo Karnak) fez mais
sucesso do que o filme, com destaque para a canção homônima, composta por
Geraldo Azevedo e Zé Ramalho interpretada por Zeca Baleiro.
100) ASSASSINOS POR NATUREZA (Oliver Stone), 1994
Oliver Stone é um dos diretores mais
provocativos e politicamente engajados do cinema, com trabalhos relevantes como
PLATOON, NASCIDO A 4 DE JULHO, WALL STREET e THE DOORS (com músicas da famosa banda
capitaneada por Jim Morrison). No sanguinolento NATURAL BORN KILLERS, faixas de
artistas como Leonard Cohen, L7 e Bob Dylan compiladas e arranjadas por Trent
Reznor, líder do grupo de rock industrial NIN. Trent também compôs (sendo
laureado com o Oscar) para a animação SOUL (Pixar/Disney) e REDE SOCIAL de
David Fincher (CLUBE DA LUTA, SEVEN) com quem, aliás, estabeleceu exitosa
parceria.
Confira 4ª parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2025/10/trilhas-da-minha-vida-4-parte.html





















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