domingo, 27 de dezembro de 2020

OS MELHORES LIVROS, SEGUNDO O PRESIDENTE

 


Para se contrapor ao ex-presidente Obama que anualmente publica sua lista de livros recomendados em que exalta o socialismo, o feminismo, a miscigenação e a ideologia de gênero, o presidente Bolsonaro, para instruir o gad..., digo, seus seguidores, passa a divulgar sua lista anual de recomendações literárias. A seguir, os maiores lançamentos editoriais do ano de 2020, segundo o presidente:


1)   OBRAS COMPLETAS DE PAULO GUEDES: Obra dividida em dois volumes de 700 páginas totalmente em branco, cada. O primeiro tomo contém as teses que o grande doutor da Universidade de Chicago nunca conseguiu desenvolver em sua vida acadêmica. No segundo tomo, as privatizações que o ministro deixou de efetivar e os projetos que deixou de apresentar na Assembleia para turbinar a economia.

 

2)   CLOROQUINA, A PANACÉIA DO SÉCULO XXI, Biblioteca do Exército Nacional. Amplo estudo sobre as virtudes do miraculoso medicamento disseminado pelo presidente Trump para conter a propagação do vírus chinês e outros males criados em laboratórios comunistas para solapar as bases da democracia. No prefácio, Osmar Terra demonstra que a COVID-19, na verdade, matou menos gente que unha encravada. E faz um vaticínio definitivo: a falsa pandemia será improrrogavelmente debelada até o dia 1º de abril de 2021, 57 anos após os militares derrotarem o vírus letal da subversão socialista. Ao final, um adendo mostrando os perigos da vacina que pode causar mutações genéticas irreversíveis que tornam seus usuários vassalos do domínio vermelho.

 

3)   O LEGADO DO GOVERNO MÉDICI, editora AME-O OU DEIXE-O, edição comemorativa patrocinada pelas Forças Armadas com histórico depoimento ‘in memoriam’ do saudoso coronel Ulstra sobre os gloriosos tempos do AI-5 e da eliminação da esquerda do cenário político. Ricamente ilustrada com os sofisticados aparelhos para tortura desenvolvidos no DOI-CODI com tecnologia totalmente nacional.

 

4)   O BRASIL, BALUARTE CONTRA A EXPANSÃO DO GLOBALISMO de Ernesto Araújo com prefácio de Olavo de Carvalho, editora ITAMARATY, apresentando as bases do terraplanismo científico e do combate ao multiculturalismo que assola a decadente Europa. Detalha ainda os ameaçadores princípios da conspiração ecológica promovida pela perigosa ativista Greta Thunberg para redução do aquecimento global e implantação de uma ditadura rubro-verde nos países ocidentais.

 

5)   AMAZÔNIA EM CHAMAS, editora AGRO É POP, com prefácio do ambientalista Ricardo Salles. O livro mostra como será a Nova Amazônia, após “a passagem da boiada”, tomada pela soja, pelo pasto, pelo garimpo e pelas madeireiras, com a eliminação do mato, das atrasadas comunidades indígenas e das ONGs que atravancam o progresso.

 

6)   PROJETO ATÔMICO PARA UM BRASIL GRANDE de Eneas Carneiro (edição comemorativa de 25 anos): Eneas sobressaiu-se no cenário político professando uma ideologia conservadora e aliciando um enorme rebanho. Antecipando os preceitos do twitter, conseguiu condensar todo seu complexo ideário em uma única frase de efeito poderoso e nenhum significado: MEU NOME É ENÉAS.

 

7)   A BÍBLIA, edição especial publicada pela Igreja Universal com prefácio do bispo Edir Macedo. A fim de restabelecer a moralidade, foram suprimidos trechos utilizados pelos esquerdistas para atentar contra os tradicionais valores judaico-cristãos. Na versão revisada, Maria Madalena é enviada por Cristo a um prostíbulo, os ladrões, ainda que bons, são renegados na cruz (seguindo à determinação “ladrão bom é ladrão morto”) e os mercadores do templo, ao invés de expulsos, são convidados a colaborar com o dízimo. Prefácio de Damares Alves.

 

8)   COMBATE À CORRUPÇÃO de Roberto Jefferson com prefácio de Ciro Nogueira. Mostra como a LavaJato, o STF e o Congresso ajudaram a disseminar a corrupção no país.

 

9)   AJUDE SEU FILHO A MONTAR UM ARSENAL BÉLICO DOMÉSTICO. Manual didático de como motivar as crianças, desde cedo, a montar uma coleção de armas, ajudando a proteger a casa contra a invasão dos sem-terra e das milícias bolivarianas, vindas de Cuba ou da Venezuela. Como adendo, sugestões práticas para transformar o espaço reservado para bibliotecas em um charmoso estande de tiros.

 

10)         BLACK IS BEAUTIFUL de Sérgio Camargo. O presidente da Fundação Palmares expõe sua tese de que o negro, através da meritocracia e aprendendo práticas civilizadas, pode ser tão bem sucedido quanto o branco. Basta adotar os valores da civilização cristã e renegar os costumes atrasados provindos da África como candomblé, ilê ayê, maculelê, agogô e mimimi. Com depoimentos exclusivos de Pelé e Ronaldinho Gaúcho.

 

BÔNUS

11)         A GRANDE FAMÍLIA (no prelo), obra com financiamento coletivo, sobre a saga da família Bolsonaro, o capitão e seus 4 filhos, pessoas de bem e com valores cristãos, que salvaram o país do comunismo ateu do PT. Prefácio de Alexandre Garcia.

 



sexta-feira, 27 de novembro de 2020

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM TRUMP

 

- Pleased to meet you, Mr. Trump.

- Excuse me, I know you?

- I´m a writer from Brazil. Can you say a few words to the brazilian people?

- Você brasileiro?

- O senhor fala português!?

- Sure. Eu aprender brasileiro quando fazer curso de marxismo cultural e terraplanismo avançado com mestre Olavo de Carvalho. Amazing! Ele dizer eu ser popular no Brasil.

- Sim, o senhor tem muitos admiradores entre os seguidores de Bolsonaro?

- Who?

- Bolsonaro, brazilian president

- Oh, yes, Bolzonero, um leal servo. Eu ser ídolo para filhos de Bolzonero. E eu ser um ‘TRUMPolim’ para carreira dele. Hahaha. Em 2022, depois ele perder eleiçon, falar para ele non se preocupar com tribunal de Haia por ele destruir Pantanal, matar índios e não fazer nada para acabar pandemia. Eu arrumar Green Card para ele morar na América com segurança. Ter emprego de capataz para ele em minha fazenda no Oklahoma. Para filho Edward que ter know-how em fritar hambúrgueres, eu conseguir trabalho no Trump Tower Grill em New York como chapeiro. Ele de fato meu ‘chapa’ hahaha. By the way, Edward me pedir para financiar rede internacional de brazilian barbecue.

- Churrascaria...

- Right! Ele indicar como meu partner his friend Richard Salles que fazer frigorífico em Xingu para produzir beef for exportation. Ele tirar de Amazônia mato e selvagens e colocar gado e soja. Eu também pensar em fazer na region the largest campo de golfe of the world, o Tropical Trump Golf Club. Eu adotar prática social e ambiental: empregar seringueiros nativos como gandulas e plantar muito grama verde.

- E o muro do México, presidente? Desistiu da ideia?

- Presidente Obrador, my left fellow in Latin America, me convencer: ‘no more muros’. Minha vitória em Flórida provar que hispânico agora ser aliado. Eu resolver consentir chicanos ilegales trabalhar para famílias americanas que non poder pagar previdência para empregados. Melhor que fazer muro com México, tornar México fundo de quintal do Texas. Criar novo slogan: ‘MAKE AMERICA EVEN GREATER: ATTACH MÉXICO’.

- Anexar o México aos Estados Unidos?

- Yeah, why not? ‘ATTACH’ México is better than ‘ATTACK’ México. México ser estado número 51 of USA: “una buena idea”, hahaha.

- E a vitória de Biden, presidente?

- Só psichologist poder explicar.

- Psicólogo??

- Yes. Vitória dele, só Fraude explica.

- Mas ele teve mais votos?

- Eu presidente legítimo. Se contar votos de homens e votos de brancos, eu ganhar.

- E as mulheres?

- Mulher ficar em casa, non saber nada segurança nacional e ser contra armas e guerras. Negócio de mulher FFF

- Força, foco e fé?

- FILHOS, FOGÃO and FUCK.

- E os negros? Eles também são americanos.

- I don´t think so. Quando eu ser presidente again, eu exportar niggers para Canadá e Austrália. Mão-de-obra barata para trocar petróleo, carvon, fossile fuels para acelerar aquecimento global e enfurecer Greta e Greenpeace. Já ter até um slogan: “VIDAS NEGRAS EXPORTAM”.

- E o vírus chinês?

- Vírus chinês ser apenas para mobilizar twitteiros que ter pavor comunismo. Bullshit! Já assinar tratado my friend Xi Jinping: em 2021 governo americano liberar 5G da Huawei e governo chinês abrir capital empresas chinesas na bolsa Nasdaq: Xing-Ling Holding Company. Produto baratinho com três meses garantia sem nota fiscal. Hahaha. New comunismo chinês impulsionar capitalismo again.

- E Putin?

- Putin maior líder europeu desde Goebbels. Ele comandar hackers que inundar celulares com ataques contra that disgusting Hillary em 2016. This man saber resolver problemas rápido. Quando aparecer opositor, ele injetar cianureto no vinho dele e resolver queston sem deixar vestígio. Usar arma química também para liquidar palestinos, muçulmanos revolucionários na Chechênia e crianças árabes em Alepo. Terrific! Eu ter muito aprender com ex-agente KGB.  

- Uma última palavra para seus fãs no Brasil, presidente.

- Eu gostar Brasil, principalmente a capital, Rio de Janero Island. Eu combinar Bolzonero ajudar construir nova Cancun em Angra com dois big empreendimentos: South America Trump Shore Resort e o Trump Carnival Casino. Contratar homens com sombreros e moustachón e mulheres bonitas para dançar mambo, samba, bolero e chá-chá-chá. As brasileiras son calientes. Desde que perder Cuba, americanos non ter bom lugar para gastar dólares. I’ll be there. Wait for me. Adiós, muchacho.

 



 

domingo, 18 de outubro de 2020

CARTA DO RAP PARA O JUIZ DO STF

 

Tudo beleza, Marco Aurélio? Véi, que zebrada tu armô, aliviando pro tal do sujeito do “rap”! Tá de sacanagem, mermão?

Sem essa de dizer que tu tava só aplicando a lei. Não tenho muita ciência desses barato, mas, pelo que saquei, as decisão nessa área são meio incerta. Escutei que um parceiro teu se baseou nessa mesma lei pra manter o bonitinho no xilindró. Chego à conclusão de que a lei se aplica nos conforme do gosto do freguês.

Na minha humilde opinião, o que tá cravado no código devia ser filtrado pelo cobrão que vai definir a pena do ripado e examinar as particularidade do caso pra tomar uma decisão batuta.

Se assim não fosse, a gente podia destituir os capa-preta folgado que nem tu. Bastava pegar um escriturário mané que verificasse que artigo o óme se enquadrava e carimbava no prontuário: “inocente”. Não precisava gastar toda essa dinheirama com juiz que surfa no jabá e ostenta vida de nababo, auxílio-rango, mordomia, o escambau.  Tava de bom tamanho colocar uns robô trampando período integral pra checar os artigo da lei que o malandro se enquadra. E pimba! “Inocente”, “Culpado”. Já era!

Um top que chega onde tu chegou devia ter um bocadinho de massa cerebral pra verificar com precisão quem é o elemento. Tipo dar uma checada no histórico do malévolo. Pra tua informação, o capeta que tu liberou tem nas costas uma ficha recheada de bandidagem que tu, do alto da tua empáfia jurídica, passou batido.

Tu nem se dignou verificar na capa do processo quem era esse rapper do mal. Deu só uma zoiada por cima, viu que tinha umas inconsistências nos auto, uns furo processual, faltou umas vírgulas na redação e pronto, decidiu que o cara merecia o habea. E botou a serpente na rua pra continuar aprontando, pouco se lixando com os nego que vai ser apagado ou cair na desgraça da droga em consequência da tua sentença embaçada. Claro, um boiola com escolta particular, protegido num condomínio murado de luxo, tá nem aí com o que rola solto nas quebradas onde rasteja o povaréu.

Quem sou eu, um gajo enxerido e pouco letrado, pra dar pitaco prum bacanaço que nem tu? Mas no teu lugar eu não ia dormir direito sabendo que o gatuno que tu colocou de volta às ruas vai prosseguir sua carreira nefasta de fabricar presunto, vender bagulho, sequestrar e estourar agências bancárias. O meliante tem carango zero-bala, helicóptero, lancha, tudo pago com as verdinhas do crime, as mesma que molha a mão dos escritórios atapetado de advocacia para encontrar brechas na lei e convencer os togados que os cliente são gente boa.

Eu não manjo de Direito mas saco bem o que é JUSTIÇA.  Meus pais que sempre levaram vida reta e as tias da escola primária me explicaram de criança o certo e o errado.  Não precisei entrar numa universidade de boyzinho pra sacar quem é sangue bom e quem é filho da puta nesse mundão.

Acho, no sério, que já nasci sabendo. Acredito que o homem vem limpo pro mundo. As coisas correta Deus já coloca no coração da gente quando nasce. A sociedade e as más influências é que corrompe a criatura. Por isso que tem uns que seguem uns rumos meio torto por aí. Esses vão pro caminho do crime ou vão fazer faculdade de Direito e tentar uma vaga no STF.

Penso que a tua patota que se forma em Direito e conhece as artimanha legal tinha obrigação moral de ser mais “direita” que os migué. Mas é o contrário. São os primeiro a defender as mamatas da curriola, e fazer pouco das “injustiças” social que não se avista lá do alto da torre de marfim onde vivem encastelados.

E ocê ainda tem a cara de pau de justificar pras rádio tua cagada sem noção. Guarda tua voz empostada de almofadinha esnobe que nunca passou necessidade na vida. Nem prestei atenção nas abobra que tu falou pois já tenho uma opinião formada sobre a treta. Pouco me interessa as minúcias do artigo x da lei y que tem o parágrafo z sobre a 2ª instância patati patatá. Foda-se!

Não quero saber! O que interessa é que um malandro vazou pela porta da frente da prisão abraçado com o bota-fora comparsa, deixando com cara de bundão os otários que dá duro e acha que vale a pena ser trabalhador honesto. Assim que o larápio se viu na libertina, pegou o jatinho particular e na maciota escafedeu-se pra outra freguesia. Legalmente. Com a grife da sentença do juiz da mais alta corte do país que não viu ‘culpa formada’ naquele jeremias de araque.

Qual é a tua, ô bundão? Botou fé na lábia do delinquente? Achou mesmo que o bom moço do PCC ia ficar comportadinho na sala de jantar com a patroa assistindo novela? Se quiserem por o bracelete nele de novo vão ter que ralar e gastar uma grana preta que podia ser usada nas merenda escolar, nos posto de saúde e prá tirar uma pá de gente da pindaíba. Mas, lógico, isso não é problema do honorável decano Marco Aurélio, o implacável ministro bunda mole cumpridor das leis.

O que eu tô mais preocupado é no que pensam nossas crianças. Que esculacho de Brasil varzeano tamo deixando para molecada? Um país que o chefão duma quadrilha barra pesada é considerado INOCENTE pela nossa respeitável elite togada. Acho que nem a máfia gringa conseguiu tanto. Que incentivo a garotada vai ter para crescer responsa?

O tiozinho da padoca resumiu tudo: “Os mesmos engravatados da lei que pegam pesado com os ladrão de galinha que apodrecem na cadeia, falam fino com os barão do crime, os sonegadores e os políticos corruptos.”

Eu com os meus botão fiquei pensando. Preferia que o tiozinho da padoca tivesse ocupando tua cadeira nessa tribuna de bosta. Esses são os heróis que eu boto fé: gente do povão, pessoas simples e corretas que metem os peitos na batalha pelo pão das criança. O maior desejo dessa gente é botar os guris numa escola boa pra subir na vida e ser aquilo que os pais não conseguiram ser. Não tem grande ambição. Jamais vão descolar um bico no Judiciário ou na Assembleia Legislativa, ganhando 100 vezes mais que um professor, trabalhando quase nada e dando uma banana pros desempregados que penam nas favelas ou mendigam uns trocado pelas bocas e becos desse país desigual.

Mas tenho certeza que a maioria dessas pessoas humildes e sem estudo tem melhor noção do que significa Justiça do que a gangue do Judiciário. Que ocê tão bem representa, seu juizeco babaca.

E, data vênia, meritíssimo, antes que eu me esqueça: vá procurar tua turma!

 


sexta-feira, 9 de outubro de 2020

GONÇALVES DIAS 202O

 

Seu Gonçalves, peço um favor:

Emprestar-me tua obra prima.

A CANÇÃO DO EXÍLIO me inspirou

Pra eu tentar cá umas rimas.

~

Tu falavas em palmeiras,

Campos, flores, sabiás,

Belas coisas brasileiras,

Faziam a gente se emocionar.

 ~

Voltar pra cá era tua vontade,

Só que a volta não tem mais volta.

De fora, tu sentias saudade.

De dentro, eu sinto é revolta.

De olhar como o descaso

Desfez este belo país.

O que parecia ser atraso

Fazia o povo mais feliz.

 ~

Nossa terra tinha palmeiras

Onde cantava o sabiá.

A palmeira virou fogueira,

O sabiá virou jantar.

 ~

Nosso céu tinha estrelas,

Tantas, nem dava pra contar.

Hoje mal consigo vê-las

Tanta fumaça tem no ar.

 ~

Água pura a esbanjar,

Tantos rios, córregos limpos.

Só que não vai muito durar,

Com o mercúrio dos garimpos

 ~

As palmeiras tinham ninhos,

Hoje têm ninho de cupim.

Se estão faltando passarinhos,

Tem barata com asas a não ter fim.

 ~

Tem pet shop de montão

Pra nossa fauna abrigar.

Tem frango, porco, gato, cão.

Só não ouço gorjeio de sabiá.

 ~

Tantos bichos (mas que dó!)

Já se foram, não voltam mais.

Nossos filhos, em breve, só

Em fotos vão ver animais.

Bichos, plantas em extinção,

A cada dia aumenta a lista.

Quem cuida da preservação

É a bancada ruralista.

 ~

Se o nosso agro é mais pop,

O lavrador ficou sem nada.

Orgânico aqui não dá ibope.

Tome-lhe comida processada!

 ~

As verduras todas coloridas,

Cada legume colossal.

O segredo: os herbicidas

E agrotóxico a dar com pau.

 ~

Nossa fruta tem mais venenos

Pra deixar de vir bichada.

Só que o sabor ficou de menos

E um asséptico gosto de nada.

Todas vêm com a mesma roupa:

Goiaba, manga, abacaxi.

Enquadraram tudo em polpa

Ou como suco Maguary.

Dizem que a gente é o que come.

Aí vieram os transgênicos.

Não acabarão com a fome,

Mas deixarão todos anêmicos.

 ~

O de cima faz a conta:

‘A economia tá evoluindo’.

Só que essa conta não leva em conta

Que a qualidade vem decaindo.

Dizem que o país cresceu,

Subiu a renda e o produto.

Se aumentou não foi o meu

Pois dessa grana não vi um puto.

 ~

O produto interno bruto

As pessoas embrutece.

Quanto mais cresce o tal produto,

Mais vejo gente que padece.

Culpa do neoliberalismo,

Tudo centrado no mercado.

Uns poucos ficam com o filão.

O grosso, marginalizado.

 ~

Criou-se um oásis de riqueza

Numa nação que se esfrangalha.

Alguns se banqueteiam à mesa,

O resto vive de migalha.

Acabaram com o fiado

E a vendinha do Juvenal.

Foi todo mundo massacrado

Pelo poder do capital.

Nosso progresso é macabro,

Na cidade deixa mazelas.

Pra cada shopping que eu abro,

Aparecem dez favelas.

 ~

O governo não tem planos,

Executa tudo às pressas.

O horizonte é quatro anos.

Depois disso, não interessa.

 ~

Corta a verba da educação.

Mas não mexe nos gastos bélicos.

Nem na grana do Centrão

Ou pra adular os evangélicos.

Acabaram com a cultura,

Arruinaram as artes e a ciência.

Nem durante a ditadura

Houve tamanha decadência.

 ~

Grana não falta pro patrão,

Tem crédito a CNPJ.

Ao pobre, só na época da eleição.

A árvore? Corta! Ela não vota.

 ~

O presidente belicista

Quer mais polícia e armamento.

Meio-ambiente? “Tira da lista!

Só atrapalha o crescimento”.

O bronco ignora a natureza.

Não percebe o potencial.

Pensa poder gerar riqueza

Dilapidando o capital

 ~

Parece até o ‘esperto’ da lenda.

Ovos de ouro ele juntava.

Pra crescer logo sua fazenda,

Matou a galinha que os botava.

 ~

Um modelo que leve em conta

A imensa riqueza natural

Faria deste um país de ponta

Na nova ordem mundial.

Natureza exuberante,

Tanto turismo a explorar.

Mas nosso tosco governante

Quer só commodities pra exportar.

 ~

Feito o estrago, o responsável

No futuro não vai estar lá.

Pelo país inabitável,

Quem nossos filhos vão cobrar?

Se o poeta estivesse vivo,

No exílio seria mais feliz.

Não teria mais motivo

Pra tecer loas a seu país.

 ~

Bons dias os de Gonçalves Dias.

Os de hoje em dia já não são.

Se o inverno e o outono têm mais dias,

Primaveras não se verão.

 ~

E o infeliz do sabiá

Era feliz e não sabia.

Ressabiado, foi gorjear

Numa outra freguesia.

Palmeiras, flores, sabiás,

Coisa boa não se herda.

Meia volta, marchar pra trás!

Que o progresso deu em merda.

 

 

(Adaptado do meu livro O QUE DE MIM SOU EU)



terça-feira, 29 de setembro de 2020

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL

 


Uma antiga lenda indígena relata como se deu o surgimento da vida.

No início, havia apenas trevas e do interior do nada, Tupã fez germinar a luz. No negro céu, em meio a um infindável vazio, o poderoso senhor dos trovões criou o sol, fonte incandescente de luminosidade, a lua e as estrelas com seu brilho ameno.

Durante o dia, sob a égide do deus Guaraci, a vida pulsaria fulgurante, multicolorida. À noite, envoltos no manto da escuridão e da quietude, os seres viventes se recolheriam, repousariam e recuperariam suas forças, acolhidos pela terna proteção da deusa Jacy.

Curupira e Caipora foram designados guardiões das matas e dos animais. À divina Yara, coube a missão de reger os mares, lagos, rios, pororocas, piracemas, igapós e igarapés, através dos quais a sabedoria perene das águas espalharia o sêmen da vida ao longo do Solimões para além das terras de Marajó.

Rupave e Sypave, respectivamente o pai e a mãe de todos os humanos foram moldados no barro. Um sopro divino conferiu-lhes o dom da anima. E puderam assim gerar homens e mulheres que se multiplicariam pelos vales e colinas.

Advertiu-lhes com severidade o sábio criador:

“Deixo-vos este Eldorado para ser vossa morada, para que possais nele criar vossa prole com fartura. Que a terra fértil possa abastecer de tudo o que vossas necessidades rogarem.

Os frutos da terra nutrirão a todos e dela emergirá o maná abençoado em profusão para os vossos filhos e para os filhos dos vossos filhos. As águas puras, frescas e cristalinas a brotar magicamente das pedras aplacarão prazerosamente vossa sede. As árvores exalarão bálsamos revigorantes e vos guarnecerão proteção contra os efeitos abrasivos do sol e um ninho acolhedor quando precisardes descansar vossos corpos. O fogo propiciará aquecimento para enfrentardes o frio e tornará palatáveis os alimentos.

Essas oferendas a vós concedidas farão das terras um éden para usufruirdes de uma existência plena e radiante, ainda que efêmera. Confio que usareis sabiamente as dádivas para fazerdes jus à felicidade que elas vos proporcionarão.

Tais bênçãos, todavia, não são privilégio de seres como vós, mas proverão as necessidades das demais formas de vida com quem convivereis, animais e plantas que convosco partilharão o espaço: borboletas, besouros, araras, andorinhas, arapongas, periquitos, tucanos, tamanduás, jaguatiricas, macacos, antas, capivaras, sucuris, sapos, jacarés, pirarucus, tucunarés, tambaquis, pacus, açaís, buritis, cupuaçus, ingás, jacarandás, ipês, cedros, jatobás...”

E assim os primeiros homens e mulheres, deslumbrados com a abundância de cores e formas que o generoso deus lhes havia oferecido, sentiram-se gratos pela bem-aventurança de que foram beneficiários e preservaram com zelo o que lhes cercava.

Essa harmonia entre entes tão distintos não chegou a ser gravemente abalada quando advieram aos humanos sentimentos de cobiça e rivalidade que colocaram irmão contra irmão e puseram em pé de guerra as tribos, surgindo os primeiros embates, sob o olhar reprovador de Tupã.

Ainda assim, o misericordioso relevou tais transgressões e entendeu que os seres, imperfeitos e mortais que eram, não chegariam mesmo a um congraçamento universal como seria de seu agrado. E a vida manteve seu tênue equilíbrio por muitas e muitas luas.

A situação não perdurou quando jovens guerreiros, tomados pela ambição, fizeram aliança com os espíritos malignos que sempre estiveram rondando, esperando a oportunidade para infundir a discórdia.

Abdicando da coexistência pacífica, prepararam-se para a guerra em busca de maior poder. Para ampliar seu domínio, subjugaram as espécies mais dóceis e eliminaram diversas formas de plantas e animais, empobrecendo a diversidade.

O boto rosa não mais foi avistado. A harpia alçou as asas em direção ao infinito. E o canto de Uirapuru nunca mais pôde ser ouvido.

Ervas utilizadas secularmente pelos xamãs em seus preparos foram extirpadas. Foram abolidos os rituais de pajelança e desdenhada a sabedoria milenar dos ancestrais. Sem os elixires, os males e as pragas divinas se espraiaram.

Rompido o equilíbrio, os mares ficaram revoltos, os ventos cada vez mais furiosos, a aridez da terra alastrou-se, a vida fragilizou-se.

Com seu uso desvirtuado, o fogo transformou-se em arma de extermínio e a fumaça cobriu a luz do sol e o brilho das estrelas. O ar e a água foram envenenados. O vívido azul dos mares e o cintilante verde das matas tornaram-se cinzentos e opacos.

Tupã assistiu tristonho o ocaso da vida que fizera brotar ao longo de rios, campos e montanhas. A obra da sagrada divindade fora corrompida pela ganância. As ruínas do seu reino foram apropriadas por Anhangá, o deus da morte que assumiu o comando.

Conta-se que o criador ao ver sua obra desfeita pela criatura, não a castigou nem reagiu. Deixou o inexorável destino cumprir sua sina, sem impedir que as ações insanas dos humanos sobre eles próprios revertessem seus nefastos efeitos, provocando sua auto-destruição.

Tupã se recolheu. Diz-se que se transmutou em espírito protetor de uma floresta distante, fora do alcance da insensatez. Sua voz grave porém ressurge retumbante e assustadora no ribombar dos trovões, quando as tempestades, cada dia mais fortes e avassaladoras, desabam sua fúria sobre os herdeiros da terra devastada.