Caso um turista estrangeiro, não informado
das excentricidades desse singular país tropical, por aqui aportasse, certamente
ficaria perplexo com a movimentação incomum ocorrida nos últimos dias que
parecia colocar o país em pé de guerra.
Durante esse período conturbado, o país
viveu uma crise sem precedentes entre os três poderes: o presidente da
república ofendeu com palavras de baixo calão integrantes do STF; militares
ameaçaram com quarteladas o parlamento; apoiadores do governo mobilizaram-se em
ruidosas concentrações; blindados desfilaram pelas ruas de Brasília.
O desavisado forasteiro certamente perguntaria,
intrigado, qual a razão de tal efervescência. Ao ser-lhe esclarecido que essa balbúrdia
toda foi motivada pela “urna eletrônica”, ele questionaria, incrédulo, qual o
grave problema detectado nesse sistema de votação para gerar tamanha celeuma: fraude
nas apurações? manipulação de resultados? interferências de hackers?
Nada disso. As eleições no Brasil têm
transcorrido num clima de excepcional tranquilidade e com uma respeitabilidade invejável.
Poucas horas após o escrutínio, o resultado é tornado público sem nenhuma contestação
relevante, jamais tendo sido constatada qualquer irregularidade. Uma Justiça
Eleitoral isenta tem garantido exemplarmente a transparência e a credibilidade
do processo, tanto que os resultados têm sido acatados por todas as partes sem impugnações.
Se tudo vem transcorrendo num ritmo
de absoluta normalidade, qual então razão de toda essa algazarra?
Para responder essa pergunta, será
preciso ressuscitar um medicamento que esteve em evidência até há pouco tempo:
a CLOROQUINA.
“Ué!”, indagaria o cada vez mais confuso,
gringo “Que diabos tem a ver um remédio de ineficácia comprovada com as urnas
eletrônicas de eficácia comprovada? ”
Explico.
Em 2020, a pandemia disparou e o
Brasil assumiu a malfadada liderança no número de óbitos. O assunto pegou o
governo de calças curtas. O presidente, pouco afeito a lidar com questões de tal
complexidade, tratou de varrer o problema para debaixo do tapete, fazendo pouco
caso da ‘gripezinha’ e desacreditando as máscaras e o isolamento, ao contrário
do que fizeram governantes sérios das demais nações. Abriu mão de coordenar
ações de enfrentamento à doença letal e foi dedicar-se ao que realmente gosta
de fazer: passear de jet ski.
Mas seria injusto acusar Bolsonaro de
omisso. Ele guardava na manga uma receita infalível para combater a pandemia,
uma droga milagrosa, capaz de debelar do país o coronavírus: a CLOROQUINA.
Enquanto todas as nações mobilizavam-se
em conseguir vacinas, o Brasil revelava as maravilhas da cloroquina que o resto
do mundo era incapaz de vislumbrar. E assim, os apoiadores do governo,
ignorando os cadáveres que se acumulavam sob seu nariz, exaltavam os milagres
propiciados pelo infalível medicamento que a medicina teimava em desconsiderar.
Dois gabaritados ministros da saúde
que se recusaram a aceitar a esparrela para não cair em descrédito perante a
comunidade científica, foram sumariamente defenestrados e substituídos por um
militar servil que nunca abriu uma bula de remédio na vida, colocando o chamado
“tratamento precoce” na ordem do dia.
Todos foram engolfados pelo assunto e
de repente qualquer pé-rapado ganhou status de mestre em infectologia, em
condições de colocar no chinelo os diretores do Einstein e do Sírio Libanês. Nas
cervejadas e reuniões familiares, o futebol e as novelas perderam espaço. O quente
agora era exaltar as virtudes do santo remédio receitado pelo Mito, panaceia
para todos os males, exceto a burrice.
Nosso presidente-cloroquina dispensou
de vez os ritos da liturgia do cargo para assumir em suas lives o papel de
garoto propaganda da abençoada droga. Tentou convencer até uma ema a usá-la. Cômico
se não fosse trágico.
As outrora respeitáveis Forças
Armadas foram convocadas a protagonizar a comédia dramática. Enquanto vacinas
que poderiam ter impedido centenas de milhares de mortes foram recusadas, o
exército investiu uma fortuna na fabricação de milhões de comprimidos de
cloroquina, formando estoque suficiente para atender duas gerações futuras de
usuários.
Após quase um ano de alucinação
coletiva, as milícias digitais do governo perceberam que o assunto não rendia
mais ibope, em vista da adesão em massa à vacinação e resolveram enfim sepultar
a cloroquina.
Porém era preciso invocar outro tema
para ‘manter as bases mobilizadas’. É aí que entra em cena o “VOTO IMPRESSO”.
O dilema “urna eletrônica x voto
impresso” era até anteontem assunto alheio para 99% da população, preocupada
com questões mais prementes (e indigestas) como a volta da inflação e a crise
social crescente.
Os estrategistas do Planalto então
montaram um plano orquestrado para bombar a matéria. Robôs articularam mensagens
em massa para as mídias sociais para levar o “voto impresso” ao topo dos
assuntos mais comentados da internet, desviando o foco de temas indesejáveis
como as investigações da CPI e os acordos com o Centrão.
Pessoas humildes, antes preocupadas
com questões ‘prosaicas’ como a falta de comida na geladeira e a elevação no
preço do gás, passaram, de uma hora para a outra, a ser ferrenhas defensoras do
voto “auditável” (eufemismo utilizado para dar ao cacareco uma aparência
glamourosa).
Para contrapor-se à catarse coletiva,
a parcela mais lúcida e esclarecida da população viu-se na obrigação de gastar
pacientemente o verbo tentando ingenuamente convencer o ‘gado’ que dois mais
dois são quatro. Em vão.
Estamos vivendo tempos bíblicos em
que os oprimidos não apenas acatam espontaneamente as narrativas do opressor
como supõem serem bandeiras contra a opressão. Maquiavel e Orwell se sentiriam humilhados.
E enquanto as pessoas digladiam-se em
discussões acaloradas e promovem enquetes no facebook para aferir a necessidade
de se implantar o tal do voto impresso, o presidente aderiu a um novo hobby: passear
de moto.
A maneira mais eficiente de poupar o (e)leitor
de assistir sua sanidade se esvaindo com essa questão bizantina é compreender que esse falso dilema de fato não
existe. É fruto de uma hipnose coletiva. Tal qual a cloroquina, é uma falácia
dos artífices do presidente para impedir a sociedade de respirar alguns
momentos de tranquilidade e manter um clima permanente de beligerância, modus
operandi dos atuais donos do poder.
Libertemo-nos, pois, dessa ilusão,
deixemos as urnas em paz e nos debrucemos para as grandes questões nacionais que
realmente importam.
Ao que tudo indica, o ‘voto impresso’
será em breve enterrado pelo congresso e tudo voltará à normalidade. Mas não
por muito tempo... Não se anime, caro (e)leitor, pois assim que o assunto for
encerrado o presidente bufão e sua trupe de lunáticos tirarão da cartola uma
“nova cloroquina” para perturbar nosso sossego.
Um comentário:
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