Irrompeu
mais recentemente uma onda futebolística, movimento que se iniciou ao se trocar
o nome da estação Itaquera para Corinthians-Itaquera, pretendendo consumar, com
dez anos de antecedência, a incerta construção do futuro Itaquerão que ainda
nem saíra do papel e tampouco fora oficialmente homologada.
Com o
precedente criado, abriu-se caminho para o turbilhão de reivindicações que se
seguiram. Homenageado o Coringão, os simpatizantes dos outros times da
capital, Palmeiras, São Paulo, Portuguesa, requisitaram igualdade de direitos
metroviários, tendo sido atendidos. Cada um quer abocanhar uma estação, pouco
se importando com a circunstância de que os nomes existentes já estavam
consagrados pelo uso.
Aí, a turma
do Neymar resolveu meter a colher. Quiseram homenagear o Santos, apesar de
este clube nem ser da capital. Ofereceram para sacrifício a estação Imigrantes,
que passou a exibir a risível denominação de Santos-Imigrantes, não obstante o
pequeno detalhe de que o time de Vila Belmiro tem sua sede a não menos de 60
km da estação. Com esse precedente, poderiam, pela mesma lógica, nomear eventuais
estações próximas a Rodovias para: Dutra – Flamengo, Fernão Dias – Cruzeiro,
Bandeirantes – Ponte Preta, Régis Bittencourt – Atlético Paranaense, e assim
por diante.
Eu teria, a
esse respeito, respeitosamente, duas reclamações a fazer. A primeira, na
qualidade de são paulino, é que fosse apressada a construção da linha que
atenderá a região do Morumbi, a fim de que logo seja entregue ao público a estação
São Paulo – Morumbi, colocando o tricolor paulista em igualdade de condições
com os demais clubes da Divisão Especial, já aquinhoados pela benesse. Em
segundo lugar, como cidadão, revisaria a reivindicação anterior e passaria a
reclamar da mentalidade tacanha que privilegia interesses de segmentos
específicos da população, de clubes de futebol, de igrejas e colônias, em
detrimento da comunidade como um todo.
Nunca é
demais lembrar que os times de futebol já gozam de privilégios em excesso,
oferecendo em troca quase nada à comunidade. Elegem parlamentares medíocres,
pagam salários pornográficos a jogadores que nem suam a camisa, não quitam suas
dívidas previdenciárias, têm regalias sobre terrenos, estádios construídos com
dinheiro público, benefícios fiscais, etc. Em troca de tantas vantagens feitas
com sacrifício de todos os paulistanos, o que têm eles a oferecer é o
incentivo à ação criminosa de suas torcidas organizadas, verdadeiras
quadrilhas, que ameaçam a tranquilidade da população com arruaças, violência,
vandalismo, destruição de ônibus e equipamentos públicos. Não satisfeitos, ainda
recebem, em homenagem, o nome de estações de metrô, que, para tanto, precisam
ser esdruxulamente rebatizadas, tendo-se que alterar todas as placas e
documentos, com todo o custo que isso implica.
Qual o
sentido, se é que existe algum, por exemplo, de renomear a tradicional estação
Tietê para Tietê-Portuguesa, agregando ao nome de nosso principal rio, o de um
clube de futebol, só para satisfazer as poucas centenas de torcedores da Lusa,
cujo estádio do Canindé fica a cinco quilômetros da estação?
E aqueles
que não gostam de futebol, preferem talvez uma boa leitura, ou outra atividade
mais enriquecedora para a alma, também são obrigados a arcar com o ônus de
todas essas mudanças?
E os clubes,
entidades e agremiações esportivas que, embora tradicionais e de importância
para a capital, não atuam no futebol, tais como os clubes Pinheiros,
Paulistano, Paineiras, Espéria, Jockey, Hípica, Sírio, Monte Líbano, Hebraica,
Tietê e tantos outros, também não mereciam essa distinção do poder público? Por
que essa discriminação?
Enfim, os nomes das estações de metrô, cedendo a essas práticas
provincianas, descaracterizaram-se como ponto de referência. O nome do bairro
ou de algum ponto de localização conhecido, que já deveria ser suficiente,
cedeu espaço a interesses específicos de grupos de pressão e passou a ser
objeto de manipulação de pessoas com poucos escrúpulos e nenhum espírito
público.
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