No momento em que quase todos os hospitais do país estão abarrotados, sem
leitos disponíveis e pacientes morrem em filas de atendimento à espera de uma
vaga na UTI, nosso presidente vem à TV concitar todos a saírem às ruas de volta
às atividades.
É surreal que o homem que administra a nação, ciente da situação de
colapso nos centros de saúde, peça a seus governados que saiam de casa e se
exponham a contrair um vírus letal, sabendo que caso adoeçam não poderão contar
com amparo médico.
Devido a isso, muitos desistiram de entender os atos de Bolsonaro e
passaram a discutir sua sanidade mental. Estaria o Brasil sendo governado por
um demente? Ou ‘apenas’ um homem extremamente cruel e insensível?
Mais importante do que entender o governo Bolsonaro, é preciso conhecer o
homem Bolsonaro. Afinal quem é Bolsonaro? Ou o QUÊ é Bolsonaro? Vamos a ele nos
referir como B. É de fato B um ser humano?
A pandemia serviu para trazer à luz, o caráter desse indivíduo. As
posições de B frente à pandemia são conhecidas: é negacionista, contra a
ciência, desdenha o uso de máscaras e só parou de criticar a vacina quando percebeu
que isso estava desgastando sua popularidade.
B também é contra o distanciamento social. Repete insistentemente que as
pessoas devem retornar ao emprego, que o trabalhador está padecendo por não
poder sair de casa. Mas nem mesmo seu apoiador mais incondicional acredita que B
esteja sinceramente preocupado com o humilde trabalhador brasileiro. Sabemos
que B não tem empatia com pobres. A política econômica da administração B é
claramente voltada para os empresários e o mercado. Parece óbvio que a
preocupação de B não é com os dramas do homem simples do povo e sim com o
impacto que sua ausência ao trabalho vai ocasionar para a economia e, por
conseguinte, para o sucesso de seu governo. Perder a vida é um detalhe sem
importância ante a imperiosa necessidade de fazer a economia crescer.
Pode-se objetar que a formação militar de B faça-o encarar as perdas
humanas como baixas numa guerra. As centenas de milhares de mortos são o preço
a pagar. Mesmo aqui, B desonra a classe pois o militar digno, ao contrário de
B, nunca menospreza a vida do soldado sob seu comando.
Basta ver a reação de B face à escalada macabra da doença. Quando o
Brasil passou a ser o segundo do mundo em número diário de óbitos, B foi
passear de jet ski. Quando o número total de mortos chegou a 200 mil, foi assistir
a um treino do Flamengo. A verdade é que B está pouco se lixando para a
tragédia sem precedentes e para a desgraça sanitária que se abateu sobre o país.
O assunto parece não lhe dizer respeito.
Alguém já viu B visitar algum hospital para dar força moral aos médicos e
animar os pacientes? B alguma vez ofereceu conforto aos familiares das vítimas?
B preocupou-se em envidar esforços para socorrer municípios em situação de
calamidade?
Em discursos recentes, possivelmente aconselhado por algum assessor, B
aceitou incluir meia dúzia de palavras manifestando (sem transparecer
sinceridade) apoio às famílias.
Nem mesmo personalidades importantes do Brasil abatidas pela COVID, como
seu ex-aliado senador Major Olímpio, mereceram de B uma nota de pesar pela dor
da família.
A impressão que fica é que B odeia quem morre. Cada pessoa que perde a
vida, na conta de B, engrossa a estatística que corrói sua popularidade. B chegou
a chamar o sofrimento das famílias enlutadas de ‘mimimi’. Que indivíduo faz uma
declaração repulsiva como essa?
Não é preciso grandes análises psicológicas para inferir que B não tem
sentimentos. Basta observar sua expressão impassível. B exibe um semblante
duro, gélido. Tem um olhar sem vida como o de um zumbi. Não demonstra amor e
compaixão pelo próximo.
B não chora. Minto. Vi uma vez os olhos frios de B marejaram quando ele
foi ovacionado por apoiadores (obviamente, sem máscara). A única coisa capaz de
emocionar B é quando o orgulho por ser venerado aflora. Quando é chamado de
Mito.
B se diz religioso, é filmado rezando e sendo abençoado por pastores. Mas
que religiosidade pode haver num indivíduo que não tem solidariedade, ignora o
sofrimento alheio, inclusive daqueles que, confiando em seu propósito de zelar
por suas vidas, o elegeram? B imagina que foi escolhido não para governar uma
nação formada por gente de carne e osso, mas para exibir índices econômicos
favoráveis.
B quer passar a imagem de ser um homem de família, divulga fotos em cenas
domésticas ao lado dos filhos. Sim, B tem apreço por seus filhos. Mais que
isso, tem obsessão por eles. B preocupa-se tanto com seus filhos que nunca ousa
confrontá-los. Jamais os critica e raras vezes os contraria. É capaz de demitir
ministros da Justiça e chefes de polícia que os investigam. Não vacila em trocar
médicos gabaritados, presidentes de bancos e comandantes militares de alta
patente. Mas jamais repreende um filho. B pode ser um psicopata genocida, nunca
um pai descuidado.
Aliás, os filhos de B parecem ter herdado os atributos paternos. O filho
03 regozijou-se nas redes sociais quando Lula perdeu seu neto. Que espécie de
gente comemora a morte de uma criança e tripudia sobre a dor indescritível de
um avô que perdeu o neto, ainda que seja seu adversário político? Portador do
mesmo gene do pai, sem dúvida.
B de fato não é humano. Pensando melhor... talvez seja. Ao vermos as
barbaridades executadas por seres humanos contra seus semelhantes, promovendo
guerras, massacres, crimes hediondos, destruindo florestas, poluindo rios,
emporcalhando oceanos e aniquilando todas as demais formas de vida, vemos que a
raça humana degenerou-se. Não deu certo. Tornou-se podre, um câncer que ameaça o
planeta.
Reformulando nossa resposta: sim, B é humano. É um legítimo exemplar da
raça humana.
Um comentário:
Esse homem é fronteiriço. Vive na corda bamba entre a sanidade e a insanidade. Jamais alguém , que não goze de boa saúde mental , poderia comandar uma nação.
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