(“Imagine
there’s no countries” - John Lennon)
Nossa visão de mundo é a de uma colcha de retalhos. Tendo como referência o Atlas Geográfico, foi-nos ensinado na escola que cada pedacinho colorido é um país diferente. São os governos dessas nações que estabelecem as regras que o habitante do território a elas pertencente, é obrigado a cumprir.
Mas não foi sempre assim. Pelo que me lembro das aulas de História, o ‘Estado-Nação’ surgiu após a Idade Média. Deixo a incumbência de explicar suas origens aos historiadores de plantão. Sou um mero cronista inconformado com a situação.
Para dizer a verdade, não tenho nenhuma simpatia por essa concepção. Ao contrário
do senso comum, não me entusiasmo em celebrar ideais como ‘patriotismo’ e ‘nacionalismo’.
Tampouco me ufano em glorificar os símbolos pátrios. Acho que essas
manifestações arcaicas só se prestam a separar as pessoas umas das outras. No
máximo, torço pela seleção brasileira na Copa. Mas, passado o evento, volto a
me considerar, acima de tudo, um cidadão da aldeia global chamada Terra. Esse formoso
planeta azul que, a despeito das agressões praticadas pelos humanos, segue cumprindo
diligentemente sua jornada no espaço sideral e cuja beleza inspirou Caetano a
criar-lhe versos como “por mais distante, o errante navegante, quem jamais te
esqueceria”.
Sentimentos de enaltecer a pátria só se prestam a estimular valores nocivos
como competição, hegemonia e exclusão que levam a guerras e fazem os governos
gastar bilhões na aquisição de armamentos bélicos de extermínio, sugando verbas
que poderiam ser utilizadas em saúde, educação e para tornar as pessoas mais
felizes. Desviando recursos da vida para a morte. Considero muito mais nobres valores
como cooperação, solidariedade e humanidade.
Não entendo por que um ‘compatriota’ parido no território situado entre o
Oiapoque e o Chuí deva ser considerado mais meu irmão do que um aborígene australiano
do outro lado dos mares. São ambos indivíduos pertencentes à mesma espécie, diferenciados
apenas pelas peculiaridades que fazem da raça humana esse rico painel de
diversidade, onde criaturas semelhantes permitem-se ser tão maravilhosamente
diferentes. Amo a todos igualmente, com suas abençoadas dessemelhanças. Afinal,
somos filhos do mesmo Deus que, ao nos dar a bênção da vida, não estava
preocupado em checar nosso pedigree.
Vou além. Acho que mesmo outras categorias de vida, animais, plantas e
até formas inanimadas como pedras, montanhas, nuvens e rios devem ser objetos
de devoção e reverência pois fazem parte da nossa vida na Terra, o astro mãe que
generosamente nos acolheu, sem que a ninguém tivesse sido solicitado passaporte.
A natureza não impôs segregação às pessoas. Foram os humanos que a si
próprios criaram barreiras, demarcando territórios. Essa apartação foi reforçada
pela necessidade dos homens de se agruparem em bandos que rivalizam entre si: tribos,
gangues, torcidas organizadas, religiões, partidos políticos, nações.
Parece-me um salto ético que os povos subordinem-se à mesma administração “planetária” em que todos sejam tratados em condições igualitárias. A miséria que impera na África com
massacres, surgimento de novos vírus e crescimento populacional exacerbado,
acabará mais dia menos dia voltando seus efeitos maléficos para todo o planeta.
Afinal, queiramos ou não, somos todos passageiros dessa mesma nave e temos obrigação
de preservá-la.
Um mundo sem fronteiras, onde os interesses gerais se sobreponham aos nacionais
não vai surgir nessa década nem na próxima. Há muitos obstáculos para
viabilizar essa utopia. Mas como disse John Lennon (“you may say I’m a dreamer,
but I’m not the only one, I hope someday you’ll join us”), se juntarmos os
sonhos e lutarmos por eles, quem sabe nossos netos possam viver num planeta
onde a fraternidade universal esteja acima do orgulho nacional.
Um comentário:
Muito interessante sua posição; seria maravilhoso se algum dia pudéssemos, pelo menos parcialmente, adotar posturas mais "universais" ao invés de cada um olhar somente para o próprio rabo...
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