“A bruma leve das
paixões que vêm de dentro, tu vens chegando pra brincar no meu quintal” (ANUNCIAÇÃO,
Alceu Valença)
O rádio insistia em reverberar notícias
sobre estradas bloqueadas, resquícios de um passado que resiste em resignar-se
ao presente.
O clima de alívio refletia-se no
semblante sereno das pessoas que se assenhoreavam das ruas. Nem pareciam as
mesmas que já portaram carrancas iradas e temerosas.
O onipresente verde-amarelo começou a
desbotar-se ante a perspectiva de um amanhã onde todas as tonalidades poderão dar
sua contribuição para um futuro multicolorido em que o arco-íris da diversidade
possa reluzir.
As palavras de ordem e as ameaçadoras
cantilenas religiosas parecem agora apenas longínquos ecos de tempos intolerantes
onde o vizinho era o inimigo em potencial. Onde, de tanto fazer ressoar palavras de guerra
e ódio, abafamos nossa vocação para a paz e o amor. Que voltemos a falar de alegria,
esperança e união e retomemos nossas amizades, apartadas pelo clima de
divisionismo que se instalou.
Cansei de, em cada canto, ficar à espreita
de perigosos bandidos, esquerdistas, viciados e depravados sexuais. Cansei de
ver manifestações promovidas por respeitáveis senhoras brancas e alinhados rapazes
armados, conclamando contra instituições. Hoje vi gente pobre, preta, esquálida,
desmilinguida sorrir de esperança com seus dentes podres. Era o povo abandonado
e marginalizado que voltava a protagonizar o enredo do drama de um país tão
desigual e injusto para que a trama ganhe um final feliz.
Um comentário:
Nossa! Senti o mesmo alívio. Um profundo UFA! Por pouco escapamos de um furacão que ia nos destruir. Verdade que nuvens carregadas ainda rondam, mas, pelo menos, agora tem SOL!
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