domingo, 27 de março de 2022

AS 100 MAIORES MÚSICAS BRASILEIRAS DO SÉCULO XX (2ª PARTE)

 

Segue a segunda parte da lista das 100 maiores músicas brasileiras do século XX:

 21) STAN GETZ & JOÃO GILBERTO – DESAFINADO

CHEGA DE SAUDADE de João Gilberto (1959), considerado o mais importante álbum de bossa nova em seus primórdios, ficou de fora dessa seleção por ser anterior a 1960. Pelo menos duas canções nele contidas tornaram-se memoráveis: a que nomeia o álbum e DESAFINADO, parceria de Tom Jobim com Newton Mendonça, que marcou uma verdadeira revolução estética inclusive pela letra que, de maneira elegante, desqualificava os que consideravam bossa-nova coisa de ‘desafinados’: “se você insiste em classificar meu comportamento de antimusical, eu mesmo mentindo devo argumentar que isto é bossa nova, isto é muito natural”. O registro pela dupla Getz/Gilberto (1964) com Jobim ao piano foi aquele que levou a emblemática canção para o mundo. A gravação em single da canção feita pelo próprio Stan Getz com Charlie Byrd alcançou a impressionante marca de um milhão de cópias vendidas (assim como a do LP JAZZ SAMBA que a contém). Muitos astros internacionais (Sinatra, George Michael, Damien Rice, Ella Fitzgerald, Rosemary Clooney, Quincy Jones, George Shearing, Herbie Mann, Dizzy Gilespie, Paquito d’Rivera, Eydie Gorme, Doris Day, Hi-Los, Joe Henderson, Chick Corea...) além de infindáveis intérpretes nacionais gravaram DESAFINADO. Destaque para a versão de Gal Costa para o álbum ÍNDIA (1973).

 

22) BADEN POWELL & VINÍCIUS DE MORAIS – CANTO DE OSSANHA

A parceria Vinícius/Baden que já havia rendido pérolas como BERIMBAU (lançada em 1963), consagrou-se com OS AFRO-SAMBAS (1966), produzido pelo maestro Guerra Peixe, com a participação do Quarteto em Cy, um dos mais importantes álbuns de todos os tempos. Foi a primeira vez que a MPB promoveu o sincretismo com a temática dos orixás e de ritmos provindos do candomblé, incorporando a percussão dos terreiros. CANTO DE OSSANHA que abre o álbum (com participação da então desconhecida atriz Betty Faria) foi a faixa que mais se projetou. Seu sucesso deveu-se em grande parte à sua divulgação por Elis em seu famoso programa ‘2 na Bossa’ da TV Record, ao lado de Jair Rodrigues (que resultou no primeiro álbum brasileiro a alcançar a marca de um milhão de cópias vendidas). A ressaltar o brilhante jogo de palavras em que Vinícius assinala a oposição entre expressar e agir (“o homem que diz ‘dou’ não dá porque quem dá mesmo não diz”). A música foi regravada por Astrud Gilberto, Quarteto em Cy, Tamba Trio, Maysa, Virgínia Rodrigues, Mônica Salmaso, Fabiana Cozza, Mart´nália, Emílio Santiago, Casuarina e, em versão instrumental, pelo próprio Baden, pelo Som 3 (de César Camargo Mariano) e pelo grupo americano de rap Jurassic 5.

 

23) ELIZETH CARDOSO, JACOB DO BANDOLIM & ZIMBO TRIO – BARRACÃO

Mais conhecida como BARRACÃO DE ZINCO, a canção recebeu sua consagradora gravação com Elizeth Cardoso ao lado do Zimbo Trio e de Jacob do Bandolim (e seu conjunto Época de Ouro), em histórica gravação ao vivo no Teatro João Caetano no RJ, em recital produzido por Hermínio Bello de Carvalho para o Museu de Imagem e do Som. Com emoção, a canção foi entoada em coro pelas 1500 pessoas presentes, com versos que retratam a triste condição de habitação dos moradores do morro. O show é considerado um divisor de águas, promovendo pioneiramente o encontro do choro de Jacob com a bossa jazzística do Zimbo Trio. Gravado em LP duplo no mesmo ano do espetáculo, 1968, foi convertido em CD pelo selo Biscoito Fino em 2013. A composição de Oldemar Magalhães e Luís Antonio data de 1953, tendo sido originalmente gravada em 78 rotações por Heleninha Costa. A própria Elizeth já havia registrado a canção em outros álbuns.

 

24) JOHNNY ALF – EU E A BRISA

Essa canção nasceu desacreditada. Composta por Alf para o casamento de um amigo, foi recusada e ficou engavetada por anos até que, por solicitação de Márcia, foi-lhe oferecida para que a defendesse no III Festival da MPB da TV Record de 1967. Apesar da brilhante interpretação da cantora, sequer passou das eliminatórias do certame. Frente a temas candentes como PONTEIO (Edu Lobo), ALEGRIA ALEGRIA (Caetano), RODA VIVA (Chico), DOMINGO NO PARQUE (Gil), essa delicada e inspirada canção passou batida por jurados e público. O tempo tratou de redimir a injustiça e em anos posteriores, mostrou ser a que menos envelheceu, o que pode ser comprovado pela quantidade de regravações: Agostinho dos Santos, Paulo Moura, Dóris Monteiro, Nora Ney, Cauby Peixoto, Maysa, Sivuca, Maria Creuza, Tito Madi, Emílio Santiago, Caetano, João Gilberto, Baby Consuelo, Tim Maia etc. Johnny Alf também foi resgatado, como precursor da bossa nova com sua inédita fusão de samba com jazz.

 

25) VINÍCIUS DE MORAIS, MARIA CREUZA & TOQUINHO – EU SEI QUE VOU TE AMAR

Essa gravação foi extraída do álbum, resultado de uma histórica temporada de apresentações realizadas por Vinícius na boate La Fusa em Buenos Aires (1970), acompanhado de Toquinho e Maria Creuza. A gravação, na verdade, foi rodada em estúdio visto que a casa não apresentava boas condições acústicas. A pedido de Vinícius, criaram-se ali condições similares às da casa de show, convidando-se um grupo restrito de pessoas (bebidas incluídas) para simular a apresentação ao vivo, com palmas e tudo o mais. O disco alcançou um êxito sem precedentes na Argentina, a ponto de um ano depois programar-se uma nova rodada, só que ao lado de Bethânia, igualmente registrada em disco. EU SEI... do primeiro show foi cantada por Creuza com Vinícius recitando seu poema Soneto da Fidelidade. No Brasil, a gravação pode ser encontrada na coletânea O GRANDE ENCONTRO... que, apesar do nome, é uma miscelânea que traz apenas algumas faixas do show. A canção, composta em 1958 por Tom e Vinícius teve registros anteriores (Agostinho dos Santos, Sylvia Telles, Maysa e outros) mas após sua apresentação nesse show ganhou maior visibilidade, recebendo inúmeras regravações como as de Roberto Carlos, Caetano, Milton, Tim Maia, Adriana Calcanhotto, Simone e Ana Carolina

 

26) ELIS REGINA & TOM JOBIM – ÁGUAS DE MARÇO

Uma canção despretensiosamente lançada num compacto encartado no semanário O Pasquim em 1972 (chamado Disco de Bolso que trazia no lado B, o então desconhecido João Bosco com AGNUS DEI), acabou tornando-se uma preciosidade da música brasileira. Tom Jobim viria a incluir a canção em seu álbum MATITA PERÊ (1973), porém ela só se tornaria realmente famosa ao entrar no álbum ELIS & TOM de 1974, disco dedicado totalmente ao repertório do compositor carioca, que se tornou enorme sucesso de público e crítica. Elis já havia gravado a canção em seu álbum de 1972. Na composição, Tom, elenca fragmentos isolados e figuras de linguagem para descrever o caudal das águas no fim da estação que representa “promessa de vida”. A descrição de elementos da natureza exprime a crescente preocupação do autor com temas ecológicos que se manifesta em composições como CORRENTEZA e PASSARIM. Vertida em inglês como WATERS OF MARCH, a canção recebeu inúmeras gravações inclusive de astros internacionais (Ella Fitzgerald, Al Jarreau, Dionne Warwick, Art Garfunkel). 

 

27) JAIR RODRIGUES – DISPARADA

O Festival de MPB de 1966 da TV Record caracterizou-se pela intensa polarização entre duas canções francamente favoritas: A BANDA (Chico) e DISPARADA (Vandré e Théo de Barros) e o público estava praticamente dividido. O júri teria preferido A BANDA mas, segundo consta, o próprio Chico considerou o resultado injusto por julgar a concorrente melhor qualificada. Para serenar os ânimos, tomou-se a decisão salomônica de dividir o primeiro lugar entre as duas, pacificando os ânimos e agradando a gregos e troianos. DISPARADA é uma moda de viola com letra de cunho social em que traça um paralelo entre a exploração do povo e a situação do gado domado e açoitado pelos boiadeiros (“mas com gente é diferente”). Jair Rodrigues com um repertório voltado para o samba, famoso por suas tiradas de humor, surpreendeu conferindo à canção uma sóbria e eloquente interpretação. Além de sair em compacto, DISPARADA foi inclusa no álbum o SORRISO DO JAIR (1966), sendo regravada por Simonal, pelo trio Elba/Zé Ramalho/Geraldo Azevedo (GRANDE ENCONTRO) e por cantores sertanejos.

 

28)  TAIGUARA – HOJE

Quem reconhece Taiguara pelo seu lirismo, mal pode supor que foi ele o artista com maior número de canções censuradas pelo regime militar, além de perseguições que o obrigaram a se exilar na Europa. O fato é que, à parte sua face poética, o músico uruguaio, radicado no Brasil, tinha um perfil politizado que o fez abraçar a ideologia marxista. Chegou a ter um disco feito em parceria com o prestigiado maestro Michel Legrand totalmente vetado no Brasil. Até mesmo a aparentemente inocente HOJE teve dificuldades para ser liberada com seus versos “trago em meu corpo as marcas do meu tempo” (tortura?) e alusões à tristeza que se abateu sobre as pessoas. Mas a veia romântica de Taiguara que nos deixou inesquecíveis canções como VIAGEM, UNIVERSO NO TEU CORPO, HELENA HELENA HELENA, MODINHA e HOJE (presente no auto-denominado disco de 1969), é a que permanecerá eternamente lembrada. A canção foi utilizada na abertura do filme Aquarius de Kleber Mendonça Filho.

 

29)  MÁRCIA – RONDA

Um afamado zoólogo da USP que nas horas vagas fazia canções como hobby, sem saber tocar nenhum instrumento nem ter conhecimento de teoria musical. Este era Paulo Vanzolini, o segundo mais conhecido sambista de São Paulo (atrás de Adoniran Barbosa) com importantes composições em seu currículo como VOLTA POR CIMA, PRAÇA CLÓVIS, BOCA DA NOITE, CUITELINHO e sobretudo RONDA, sua primeira música, quando ainda era estudante aos 21 anos. A canção narra do ponto de vista feminino flagrantes da boemia paulistana e a busca pelo amante que vagueia pelos bares do centro. Foi gravada pela primeira vez por Inezita Barroso num compacto como lado B de MARVADA PINGA, mas tornou-se conhecida a partir de uma coletânea lançada pelo selo Marcus Pereira, sendo gravada por Marlene, Nora Ney, Cauby Peixoto, Jair Rodrigues, Emílio Santiago, Ângela Maria, Carmen Costa, Bethânia, Jards Macalé e o grupo Premê. Nenhuma ganha da consagradora versão de Márcia para o álbum homônimo de 1977.

 

30) ROBERTO CARLOS – AS CURVAS DA ESTRADA DE SANTOS

Roberto Carlos há muito passou de celebridade musical para a condição de mito e unanimidade nacional, com dezenas de canções consagradas, a maioria da dupla Roberto/Erasmo. Da fase juvenil, CALHAMBEQUE, QUERO QUE VÁ TUDO PRO INFERNO, SPLISH SPLASH, É PROIBIDO FUMAR. Da fase adulta, DETALHES, ALÉM DO HORIZONTE, OLHA, ESSE CARA SOU EU e tantas outras. AS CURVAS DA ESTRADA DE SANTOS está na fronteira. Presente em seu álbum de 1969 (o mesmo que traz SUA ESTUPIDEZ e AS FLORES DO JARDIM DE NOSSA CASA), em que a maioria das faixas tem um ritmo cadenciado, afastado do iê-iê-iê que marcou os álbuns iniciais. Com o fechamento do regime pós-AI-5, a irreverência adolescente perdeu o charme, o país ficou mais soturno e Roberto, recém-casado, tinha novas preocupações e responsabilidades. NAS CURVAS... soa como um último suspiro da Jovem Guarda resgatando a velocidade e o automóvel como formas de rebeldia (PAREI NA CONTRAMÃO, POR ISSO CORRO DEMAIS)   e enfrentar as curvas da Anchieta como oportunidade de afirmação.

 

31)  NOVOS BAIANOS – BRASIL PANDEIRO

O disco ACABOU CHORARE dos Novos Baianos tornou-se uma lenda, sendo invariavelmente alçado ao topo da lista dos maiores discos de música brasileira de todos os tempos. Um álbum originalíssimo que sintetiza uma profusão de influência de Hendrix a João Gilberto. Nascidos sob o signo do tropicalismo, o grupo não apenas assumiu uma proposta musical libertária como a incorporou ao modo comunitário em que os integrantes (Luiz Galvão, Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, Pepeu, Baby Consuelo, Jorginho Gomes e Dadi) viviam. Pelo menos 5 canções do disco tornaram-se clássicos: PRETA PRETINHA (com uma versão encurtada e outra integral de 6:40, o grande sucesso do disco), BESTA É TU, ACABOU CHORARE, MISTÉRIO DO PLANETA e BRASIL PANDEIRO (a única não composta por membros do grupo). O samba-exaltação de 1940, criado por Assis Valente especialmente para Carmen Miranda (que, para mágoa do compositor, recusou-o) ganhou registro fonográfico na voz dos Anjos do Inferno. Mas foi a versão do grupo baiano que a popularizou e a modernizou, dotando-a de um impressionante suingue.

 

32)  MARCOS VALLE & MILTON NASCIMENTO – VIOLA ENLUARADA

Pouquíssima gente sabe, mas essa música foi composta durante um programa da TV Record comandado pelo apresentador Randal Juliano que sorteava um tema para os artistas concorrentes prepararem uma canção. A canção que já estava semi-pronta (com letra do irmão Paulo Sérgio Valle), teve que se adequar ao tema sorteado na hora, no caso, “Viola Enluarada”. Assim, improvisadamente composta, saiu uma das mais famosas do repertório do compositor carioca. Marcos é famoso por seu ecletismo. Atravessou diversas fases (bossa, funk, e até mesmo rock progressivo no álbum VENTO SUL), sempre com incontestável talento. VIOLA ENLUARADA de 1967, período do fechamento político, pertencia à fase ‘engajada’ com uma letra de enfrentamento. O arranjo de Dori Caymmi e a comovente participação de Milton Nascimento foram fundamentais para o êxito. Faz parte do álbum com o mesmo nome (1968).

 

33) BETH CARVALHO & GOLDEN BOYS – ANDANÇA

Embora, como madrinha do samba, Beth Carvalho seja identificada por hits como VOU FESTEJAR, COISINHA DO PAI, 1800 COLINAS, MAIOR É DEUS, ficará eternamente marcada pelo seu primeiro grande sucesso, ANDANÇA. Influenciada pela bossa nova e outros ritmos do nosso cancioneiro distantes do samba, a música é definida pelo pesquisador Zuza Homem de Mello como “toada moderna”. Típica canção de festival, representou 3 autores iniciantes, Danilo Caymmi, Paulinho Tapajós e Edmundo Souto no III FIC da Globo (1968). Beth, acompanhada pelos jovem-guardistas Golden Boys, teve um invejável desempenho, ficando com o terceiro lugar, logo atrás das imbatíveis SABIÁ (Tom e Chico) e CAMINHANDO (Vandré). ANDANÇA nomeou também o álbum da cantora carioca (1969) na qual foi incluída.

 

34) NÉLSON GONÇALVES – NEGUE

Melodramática, intensa brega. Seja qual for a qualificação para a estilo musical produto da colaboração do compositor Adelino Moreira com Nélson Gonçalves, foi responsável por alguns dos maiores êxitos da carreira do seresteiro, tornando-se clássicos da música brasileira, como A VOLTA DO BOÊMIO, FICA COMIGO ESSA NOITE e NEGUE. Essa última, parceria de Adelino com o locutor Enzo de Almeida Passos (conhecido apresentador do programa Telefone Pedindo Bis na Rádio Bandeirantes nos anos 50/60) foi gravada originalmente pelo cearense Carlos Augusto em 1960. Mas a consagração veio com a interpretação de Nélson, só rivalizada pela versão de Maria Bethânia em seu LP ÁLIBI (1978). O tema foi também registrado por Agostinho dos Santos, Altemar Dutra, Trio Irakitan, Pery Ribeiro, Ângela Maria, Joanna, Tânia Alves, Alcione, Ney Matogrosso, a cabo-verdiana Cesária Évora e até pelo Camisa de Vênus numa versão punk.

 

35) MILTON NASCIMENTO & FLÁVIO VENTURINI – NASCENTE

Flávio Venturini iniciou sua carreira como líder dos grupos O Terço, de rock progressivo (com quem produzira os antológicos álbuns CRIATURAS DA NOITE e CASA ENCANTADA) e 14 BIS com trabalhos em 1979 e ao longo dos anos 80. Iniciou sua carreira solo em paralelo criando diversas canções de sucesso como ESPANHOLA, NOITES COM SOL e AZUL DA COR DO MAR (essa com o 14 Bis). Mas NASCENTE (parceria com Murilo Antunes), do seu debut álbum solo homônimo de 1982, perdurou como uma das mais emblemáticas do cantor mineiro.  Beto Guedes já havia feito um belo registro em A PÁGINA DO RELÂMPAGO ELÉTRICO (1977), seu primeiro disco solo. Mas a versão definitiva é do álbum CLUBE DA ESQUINA II de 1978, ao lado de Milton Nascimento sob bela orquestração de Francis Hime (que também toca piano). NASCENTE Foi gravada também por Ed Motta, Legião Urbana, Dudu Lima, Paulinho Pedra Azul, MPB-4, Jane Duboc, Alaíde Costa, Simony, Roupa Nova, Roberto Sion & Nelson Ayres, Ivan Villela, Rildo Hora, André Mehmari e pelo saxofonista Michael Brecker.

 

36)  DOMINGUINHOS – LAMENTO SERTANEJO

A tocante composição de Dominguinhos com letra de Gil (que também a gravou no álbum REFAZENDA) trata do drama do retirante nordestino que perde identidade cultural ao vir para a cidade grande. A parte instrumental da toada foi apresentada pelo sanfoneiro a Gil num ritmo acelerado, típico de forró (FORRÓ DO DOMINGUINHOS). O baiano, percebendo a tristeza por trás das notas, alterou para um andamento brando, de lamento. Essa intervenção denota também a progressiva sofisticação do som do sanfoneiro e sua passagem para o mundo da MPB, onde cada vez mais era requisitado. Originalmente instrumental, a canção fez parte do LP TUDO AZUL de 1973 sendo regravada já com letra no álbum APÔS TÁ CERTO (1979). Foi também incluída na segunda versão da novela Gabriela de 2012 (interpretada por Elba Ramalho). Além disso, recebeu gravações de Maria Gadú (com Milton Nascimento), Djavan, Zé Ramalho, Marinês (com Ney Matogrosso), Quinteto Violado, Hamilton de Holanda e da cantora cabo-verdiana Mayra Andrade

 

37) GUILHERME ARANTES – MEU MUNDO E NADA MAIS

Guilherme Arantes tem uma carreira de enorme sucesso como autor e cantor, além de exímio pianista. Emplacou muitas composições entre as mais executadas, boa parte na voz de outros artistas (Elis, Bethânia, Caetano, Roberto Carlos etc.), o que o tornou um campeão de faturamento por direitos autorais. Destacam-se BRINCAR DE VIVER, CHEIA DE CHARME, LINDO BALÃO AZUL, ÊXTASE, CORAÇÃO PAULISTA, PLANETA ÁGUA, DEIXA CHOVER, AMANHÃ, PERDIDOS NA SELVA, APRENDENDO A JOGAR etc. Mas seu primeiro hit, MEU MUNDO E NADA MAIS, composto em 1969 quando tinha 15 anos, permanece imbatível. A música aparece no primeiro álbum solo do cantor paulistano (de 1976) pela Som Livre. Passou de início desapercebida até começar a ser executada na novela Anjo Mau, quando estourou nas rádios, tornando-se a segunda mais executada do ano. A música foi gravada também pelo Nenhum de Nós, Joanna, Edgard Scandurra, Zizi Possi e pelo sertanejo Daniel.

 

38)  NARA LEÃO & CHICO BUARQUE – JOÃO E MARIA

Como um conto de fada, essa tocante canção em que Chico narra um mundo ‘faz-de-conta’ como se fosse um devaneio de criança, nasceu quando ele era efetivamente uma, já que a melodia fora composta por Sivuca em 1947 quando Chico tinha 3 anos. Os dois autores participam da gravação ao lado de Nara (Chico em dueto e Sivuca no acordeon). Obviamente, há um triste final quando a quimera infantil (“no tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido”) desaba quando a triste realidade impõe-se (“agora eu era um louco a perguntar o que é que a vida vai fazer de mim”).  O desempenho comercial da canção foi bombado com sua inclusão na novela Dancin´ Days. Foi a faixa de destaque do álbum OS MEUS AMIGOS SÃO UM BARATO de Nara em que diversos autores (Caetano, Gil, Tom Jobim, Edu Lobo, Erasmo etc.) partilham com a cantora suas composições, delas também participando.

 

39)  JOÃO BOSCO – O BÊBADO E A EQUILIBRISTA

Há músicas que, independente de suas qualidades estéticas, ajudam a mudar o curso da história. De autoria de uma das mais profícuas duplas da MPB, João Bosco e Aldir Blanc, essa canção, batizada como ‘hino da anistia’, concebida durante o ocaso do regime militar, muito colaborou em trazer de volta os muitos brasileiros exilados no exterior. Cita personagens nessa condição, como o “irmão do Henfil” (o sociólogo Betinho, que, segundo seu depoimento, antecipou seu retorno em função da música). O curioso é que quando concebida por Bosco, a intenção era homenagear o recém falecido Charles Chaplin (mencionado, aliás no primeiro verso). Nas mãos de Aldir, ganhou um novo sentido, em função da situação política em curso. Gravada originalmente por Elis Regina no álbum ESSA MULHER (1979), fez estrondoso sucesso. João Bosco inseriu-a no álbum LINHA DE PASSE (mesmo ano), num ritmo de samba.

 

40 ) LUIZ GONZAGA – LUAR DO SERTÃO

Essa toada imemorial, uma das mais famosas do cancioneiro nacional, teve seu primeiro registro fonográfico datado de 1914. Foi por alguns considerada o segundo hino nacional por ser conhecida nos mais distantes rincões de todas as regiões, transmitida de pai para filho por indivíduos de todas as classes, firmando-se assim como fator de identidade nacional. Ao mesmo tempo, exalta valores tão caros ao povo como nostalgia e simplicidade. Era creditada a Catulo da Paixão Cearense mas com base em pesquisas recentes atribuiu-se a autoria da melodia ao violonista João Pernambuco. Foi gravada por Vicente Celestino, Jair Rodrigues, Bethânia, Elba, Eliete Negreiros, Baden, Quinteto Violado, Inezita Barroso, Paula Fernandes, Roberta Miranda e por diversas duplas sertanejas (Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho, Chitãozinho e Xororó, Zezé di Camargo e Luciano) e (acredite) por Ray Conniff e Marlene Dietrich. Mas o mais autêntico registro, como não poderia deixar de ser, é o do Lua no álbum A FESTA de 1981 com brilhante participação de Milton Nascimento.

 

 

 

Confira a 1ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/03/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do.html

 


Confira a 3ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do.html


 Confira a 4ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_17.html


Confira a 5ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_25.html