Segue a terceira parte da lista das 100 maiores músicas brasileiras do século XX:
O Brasil nunca ganhou Oscar de filme estrangeiro? Sim e não. O filme Orfeu Negro (Black Orpheus) que se passa no país, com atores brasileiros falado em português, faturou não apenas o Oscar como a Palma de Ouro em Cannes de 1959. Só que representando... a França (dirigida que foi pelo cineasta Marcel Camus). A trilha sonora foi recheada de temas da bossa nova compostos pela dupla Tom & Vinícius. Mas a faixa que se sobressaiu foi MANHÃ DE CARNAVAL do violonista Luiz Bonfá com letra de Antônio Maria, uma das canções brasileiras mais conhecidas do mundo. Dentre tantas, há gravações de Chet Atkins, Gerry Mulligan, Ray Brown, Dexter Gordon, John McLaughlin, Stan Getz, Ahmad Jamal, Dinah Shore, Frank Sinatra, Placido Domingo, Pavarotti, André Rieu, Julio Iglesias, Luis Miguel, Joan Baez, Carly Simon e Cher, além de incontáveis artistas nacionais. Na trilha aparece três vezes, com participações de Agostinho dos Santos e de Elizeth Cardoso, sempre com Bonfá ao violão. A versão integralmente vocal de Agostinho com acompanhamento de Bonfá e do Quarteto de Oscar Castro Neves é do álbum que registrou ao vivo o histórico concerto BOSSA NOVA AT CARNEGIE HALL (1962).
42) ALMIR SATER – TOCANDO EM FRENTE
Longe da vertente “universitária”, o sertanejo raiz tem em
Almir Sater e Renato Teixeira dois dignos representantes. Almir, discípulo do virtuoso
mestre em viola caipira Tião Carreiro, tornou-se um dos maiores instrumentistas
do país. Renato, lançado por Elis através de ROMARIA, dedicou-se a promover a
autêntica música caipira com temas bucólicos que ressaltam o puro espírito do homem
do campo. TOCANDO EM FRENTE foi composta em 1990, durante um jantar na casa de
Renato em que Almir improvisou com seu instrumento uma melodia à qual o
anfitrião encaixou uma letra. E que letra! Em meio a ‘manhas e manhãs’,
‘massas e maçãs’, revela a sabedoria de quem diz “ando devagar porque já tive
pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais” porque “penso que cumprir a
vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente”. Bethânia
apropriou-se da canção, gravando-a em seu álbum 25 ANOS (1990) e Almir
registrou-a num clipe ao lado de sua irmã Gisele e em seu álbum AO VIVO (1992).
A música é uma das mais regravadas por sertanejos de todos os matizes mas não
só por eles.
43) CLARA NUNES – CANTO DAS TRÊS
RAÇAS
Clara Nunes abraçou o samba quando beirava
os 30 anos de idade. Até então gravara três álbuns de reduzida expressão com um
repertório de boleros e sambas-canção de temática romântica, sempre pela Odeon,
gravadora que a acompanhou durante toda a carreira. Sua virada para o samba foi
coroada de grande sucesso comercial, tendo sido a primeira mulher a alcançar 600
mil cópias num álbum. Ao mesmo tempo, aproximou-se das religiões afro, vestindo
roupas brancas, sua marca registrada. CANTO DAS TRÊS RAÇAS, composição de seu
marido, Paulo César Pinheiro (parceria com Mauro Duarte) faz parte do seu álbum
homônimo (1976) e, apesar da cadência de samba, é acompanhada de percussão de
atabaques e tambores, próprios do candomblé. Essa canção tornou-se símbolo da
resistência dos grupos de índios e negros subjugados historicamente pelos
brancos (as três raças referidas no título). Regravada por Renato Braz, Alcione,
Elza Soares, Mariene Castro, Eliana Printes e Fabiana Cozza.
44) JOÃO GILBERTO – WAVE
Também conhecida como VOU TE CONTAR,
essa é, dentre as conhecidas composições de Tom Jobim, uma das mais recentes.
Feita em 1967, integrou com um arranjo totalmente instrumental o álbum homônimo
do artista carioca (com uma girafa correndo na capa), acompanhado por músicos
de jazz, quase todos americanos. Mas a versão mais conhecida entre nós é a de
João Gilberto, já devidamente ‘letrada’, tornando-se a principal faixa do álbum
AMOROSO (1977). Para colocar letra, segundo consta, Tom tinha em vista Chico
Buarque, mas esse empacou na tarefa. Tom então resolveu ele mesmo concluir a
obra. O LP de João (que tem o lado B inteiramente dedicado a Jobim), foi
gravado nos EUA com arranjo do lendário produtor Claus Ogerman que trabalhou em
vários discos de Jobim. WAVE foi regravada, dentre outros, por Ella Fitzgerald,
Paul Desmond, Oscar Peterson, Mel Tormé, Sérgio Mendes, Tim Maia, Gal, Elis,
Nara, Leny Andrade, Ithamara Koorax e Vanessa da Mata.
45) HYLDON – NA SOMBRA DE UMA ÁRVORE
Cantor, compositor, guitarrista e
baixista, Hyldon, como tantos do seu gênero, começou acompanhando astros da
Jovem Guarda em temas banais, evoluindo para tornar-se, ao lado de Tim Maia e
Cassiano, um dos pilares que compõe o triunvirato do soul brasileiro. Seu nome firmou-se
com uma lenda, passando a ser cultuado por novas gerações de artistas, sendo
regravado por Kid Abelha e Jota Quest.
Seu álbum NA RUA NA CHUVA NA FAZENDA (1975), gravado com acompanhamento
dos músicos do grupo Azymuth, é um dos cânones do gênero. Contém ao menos três
clássicos: a que dá título ao disco (conhecida pelo subtítulo CASA DE SAPÊ), AS
DORES DO MUNDO e NA SOMBRA DE UMA ÁRVORE, reunidas num compacto duplo lançado
concomitantemente ao álbum. Impossível ficar indiferente à envolvente
interpretação para UMA SOMBRA... com uma letra que remete à tranquilidade do
campo, afastado das luzes da cidade “ouvindo os pássaros cantar”. Regravada por
Wando, Cláudio Zoli e pelos Detonautas.
46) FAGNER – MUCURIPE
O semanário O Pasquim lançou em 1972 a
série Disco de Bolso, um compacto encartado no jornal, apresentando do lado A
um artista consagrado da MPB e do lado B, um iniciante promissor. No primeiro,
trouxe Tom Jobim e o novato João Bosco. No segundo, Caetano e o desconhecido
Raimundo Fagner. A iniciativa foi interrompida em virtude da interferência da
censura que inviabilizou o projeto. Tanto Bosco quanto Fagner cumpriram os
desígnios construindo belas carreiras. No caso do artista cearense, a canção
escolhida foi MUCURIPE, parceria com o conterrâneo Belchior o qual já tinha a música
rascunhada executando-a em rodas de amigos. Apresentou-a a Fagner que deu a
forma final com que se tornou conhecida, sendo lançada em seu primeiro álbum,
MANERA FRU FRU MANERA (1973). Além de vender pouco, o disco sofreu um processo
judicial por parte da família de Cecília Meirelles, devido a inclusão de versos
da poetisa na faixa CANTEIROS sem autorização, sendo recolhido nas lojas. Apesar
de tantos percalços, MUCURIPE acabou se impondo pela beleza da melodia e dos
versos, recebendo regravações do próprio Belchior, Elis, Roberto Carlos, Nelson
Gonçalves, Oswaldo Montenegro e Zé Ramalho.
47) DORI CAYMMI – O PORTO
Quem acompanhou a memorável primeira
versão da novela Gabriela (com Sônia Braga) na Globo, não vai deixar de lembrar
de dois marcantes canções que fizeram parte da trilha: ALEGRE MENINA
interpretada por Djavan, sobre um poema de Jorge Amado, e a belíssima peça
instrumental O PORTO interpretada pelo MPB-4. Ambos têm assinatura de Dori
Caymmi e integraram o segundo álbum do músico carioca (1980), que traz também
SAVEIROS (composta em parceria com Nelson Motta) que, sob a interpretação de
sua mana Nana, sagrou-se campeã do primeiro FIC da Globo (1966). A parceria com
Motta rendeu outra grande canção, CANTADOR, finalista do III Festival da Record
(interpretação de Elis), faixa do primeiro álbum de Dori (1972) que, à época,
assinava Dory com y. Além disso, tem ele um respeitável currículo como
arranjador e produtor com passagem pelos EUA onde residiu por 20 anos. Produziu
álbuns de Jobim, João Gilberto, Chico, Edu Lobo etc. e a admirável trilha do
seriado infantil Sítio do Picapau Amarelo. O PORTO recebeu uma bela versão de
Renato Braz com Mônica Salmaso.
48) JOÃO DO VALE – CARCARÁ
O famoso show-manifesto OPINIÃO de Augusto Boal estreado em
1964, além de sua importância política como resistência ao golpe recém
instituído, revelou duas das canções fundamentais da nossa música: OPINIÃO de
Zé Keti (“podem me prender, podem me bater”) e CARCARÁ de João do Vale (“pega,
mata e come”), parceria com José Cândido. Os dois compositores protagonizaram o
espetáculo com Nara Leão e, no segundo ano, com Bethânia. E foi justamente a
cantora baiana que, numa versão veemente (enfatizada com retumbantes
estatísticas acerca do êxodo de nordestinos) emplacou seu primeiro trabalho
fonográfico (em compacto e depois LP) , transformando-se num hino de protesto
(embora originalmente nem tivesse esse propósito) associando a figura da ave de
rapina ao regime opressor. João do Vale registrou-a em seu único disco solo, O
POETA DO POVO (1965). A arte do músico maranhense ficou mais conhecida na voz
de grandes nomes da MPB, como em O CANTO DA EMA (Gil), NA ASA DO
VENTO (Caetano) e CORONÉ ANTÔNIO BENTO (Tim Maia), algumas de suas mais
conhecidas composições.
49) LÔ BORGES – UM GIRASSOL DA COR DO
SEU CABELO
CLUBE DA ESQUINA (1972), unanimemente
considerado um dos maiores álbuns da história da MPB, costuma ser atribuído
unicamente a Milton Nascimento. Mas, a bem da verdade, seus créditos devem
partilhados com Lô Borges, cujo nome figura na contracapa (com menor destaque,
é verdade) abaixo do de Milton. Este interpreta 15 das 21 faixas (três das
quais junto com Beto Guedes e uma com Alaíde Costa). Lô interpreta cinco e os
dois dividem uma. O resto da turma do Clube da Esquina (patota que inclui Beto,
Wagner Tiso, Flávio Venturini, Toninho Horta, Tavito etc.) teve também
participação ativa nesse projeto, quase uma produção coletiva. Quase todas as
faixas cantadas por Lô tornaram-se conhecidas: PAISAGEM NA JANELA, O TREM AZUL,
TREM DE DOIDO, CRAVO E CANELA e sobretudo UM GIRASSOL... (parceria com Márcio
Borges), talvez a mais famosa canção do músico mineiro. Foi regravada por
Toninho Horta, Ira! (com Samuel Rosa), Nenhum de Nós, Diana Pequeno, Vânia
Bastos, Vanessa da Mata, Anavitória e pela atriz Cláudia Ohana (trilha novela
Estrela Guia).
50) BELCHIOR – SUJEITO DE SORTE
Belchior foi revelado ao mundo por
Elis Regina que em seu álbum campeão de vendas FALSO BRILHANTE (1976), de uma
tacada só, deu destaque a duas músicas suas que estrategicamente abriram o disco:
COMO NOSSOS PAIS e VELHA ROUPA COLORIDA. As duas canções entraram no disco
ALUCINAÇÃO lançado no mesmo ano pelo artista cearense que, de quebra, tinha o
mega-hit APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO, fazendo do disco um retumbante
sucesso. Com o tempo, Belchior (que sumiu de cena por quase uma década até vir
a falecer em 2017), transformou-se em cult pelas novas gerações. A canção
SUJEITO DE SORTE do referido álbum, que, à ocasião, fez sucesso mediano, foi ressuscitada
pelos jovens com seu inspirador grito de guerra: “tenho sangrado demais, tenho chorado
pra cachorro, ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”. Emicida fez em
cima dela o clipe AmarElo de enorme sucesso com a participação de Pabllo Vittar
e Majur.
51) ZÉ KETI – ACENDER AS VELAS
A VOZ DO MORRO (“eu sou o samba, a
voz do morro sou eu mesmo, sim senhor”), OPINIÃO (“podem me prender, podem me
bater, podem até deixar-me sem comer que eu não mudo de opinião”), DIZ QUE FUI
POR AÍ (“se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí com o violão debaixo
do braço”), MÁSCARA NEGRA (“tanto riso, oh quanta alegria, mais de mil palhaços
no salão”) e ACENDER AS VELAS (“acender as velas, já é profissão, quando não
tem samba, tem desilusão”). Essas são algumas das composições de Zé Keti que
entraram para a história. ACENDER AS VELAS foi composta na mesma época da em
que o sambista carioca participou no show Opinião, ao lado de Nara Leão e João
do Vale e mantém a linha de protesto que caracterizou o tom do espetáculo, ao
descrever as tristes condições sociais nos morros do RJ. Foi gravada por Nara
Leão e Elis Regina com Jair Rodrigues (DOIS NA BOSSA) em pot-pourri. Zé Kéti
viria gravá-la apenas em 1971.
52) MARISA MONTE – DANÇA DA SOLIDÃO
No auge de sua carreira, Marisa Monte
reuniu um plantel de primeira e um selecionado repertório (que transita de
Jamelão a Lou Reed) para gravar um dos mais bem sucedidos álbuns de MPB de
todos os tempos: VERDE ANIL AMARELO COR
DE ROSA E CARVÃO (1994). A lista de convidados (nacionais e internacionais)
impressiona: Arto Lindsay, Laurie Anderson, Philip Glass, Bernie Worell
(Funkadelic), Naná Vasconcelos, Carlinhos Brown, Gilberto Gil, Paulinho da
Viola, Nando Reis e muito mais. Uma produção esmerada, recordista de vendas.
DANÇA DA SOLIDÃO, conhecido samba de Paulinho da Viola de seu álbum homônimo (de
1972), ganhou na voz de Marisa com uma bela introdução vocal de Gilberto Gil (que
também está ao violão) uma leitura a altura de seus reconhecidos méritos,
transformando-se numa das faixas mais executadas. A música já fora regravada
por Beth Carvalho.
53) LULU SANTOS – COMO UMA ONDA
Essa composição de Lulu premia sua
vitoriosa parceria com Nelson Motta e figura no álbum O RITMO DO MOMENTO (1983),
o segundo do cantor carioca. O disco abre com ADIVINHA O QUÊ, parceria com
Ronaldo Bastos que teve sua execução pública vetada pela censura. A gravadora
relutou em substituí-la como música de trabalho por COMO UMA ONDA, que tinha um
ritmo de bolero e pouca possibilidade de emplacar. Por insistência do músico, voltaram
atrás e a canção tornou-se não apenas a mais famosa de Lulu, como um dos temas
mais populares do cancioneiro nacional. O subtítulo da canção, ZEN-SURFISMO dá uma
dica da temática, a impermanência das coisas, apregoada pelo budismo,
utilizando-se da imagem do mar (“a vida vem em ondas como um mar”). Regravada
por Nélson Gonçalves, Ângela Maria, Tim Maia, Caetano, Zizi Possi, Roupa Nova,
Jorge Drexler e até pelo tecladista Richard Clayderman.
54) GERALDO AZEVEDO – TÁXI LUNAR
Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Alceu
Valença, ainda jovens, em início de carreira, uniram suas forças e sua
inspiração para compor essa bela canção, registrada em disco por cada um individualmente.
Especula-se que o enigmático tema da canção se refira a uma transcendental
relação alienígena, ou talvez uma fictícia ‘viagem’ sideral sob efeito de erva
na cabeça. Percebe-se o dedo de Alceu na poesia e no tempero nordestino, o de
Ramalho na temática extraterrestre e o de Geraldo no lirismo psicodélico (já
presente no seu álbum QUADRAFÔNICO com Alceu Valença). Geraldinho tem outras
brilhantes canções na bagagem: CARAVANA, DIA BRANCO, DONA DA MINHA CABEÇA e
BICHO DE SETE CABEÇAS. Esta última está presente no álbum do mesmo nome (1975),
o segundo do artista pernambucano que também contém TÁXI LUNAR.
55) RAUL SEIXAS – METAMORFOSE
AMBULANTE
Essa canção (ou talvez manifesto) do
maior expoente do “rock brazuca”, com singelos versos, solapa as verdades
estabelecidas dos iluminados que ditam regras e impõem suas certezas num mundo
que muda a cada instante e nos faz repensar dogmas carcomidos, “aquela velha
opinião formada sobre tudo”. Com o álbum KRIG-HA BANDOLO! (1973), inspirado no
grito de guerra do Tarzan, Raulzito, fã de rock’n’roll dos anos 50 e mentor da
jovem guarda, rompe com o passado ingênuo e firma-se como um dos grandes
artistas da música brasileira. O álbum traz também os hits MOSCA NA SOPA, OURO
DE TOLO e AL CAPONE (essa parceria com Paulo Coelho), todas com críticas à
sociedade e ao conformismo burguês. A música foi regravada por Ney Matogrosso,
Zélia Duncan, Zé Ramalho, Dinho Ouro Preto e foi incluída na trilha do filme
Cidade de Deus.
56) LENINE – PACIÊNCIA
Ao lado de Fred Zero Quatro, Zeca
Baleiro e Chico César, Lenine faz parte da safra de compositores nordestinos
que no final do século resgatou a esperança de uma MPB menos banal. PACIÊNCIA
(parceria com Dudu Falcão) tornou-se um brado de resgate à vida ante uma
civilização que nos conduz à morte. Um chamado à quietude em atendimento ao
clamor do corpo que indica que é hora de diminuir o ritmo. Contra a
desumanidade que nos coisifica, Lenine retruca “eu me recuso, levo a vida, vou
de valsa”. Inverte a lógica, nos fazendo olhar para dentro quando todos os
impulsos da sociedade (com seus algoritmos e celulares) nos levam ao oposto.
Isso é feito poeticamente por palavras que se confrontam - nor(mal), lou(cura) -
ou se fundem - (c)alma - e as contradições entre o “tempo que lhe falta
para perceber” e o “tempo que temos a
perder” , entre a vida que “não para” e a vida que é “tão rara”. Presente no
álbum NA PRESSÃO de 1999 (que sintomaticamente traz na capa um carro que explode
por não aguentar a pressão)
57) SÁ E GUARABYRA – SOBRADINHO
O álbum PIRÃO DE PEIXE COM PIMENTA
(1977) marca o apogeu da dupla Sá & Guarabyra, fruto da saída de Zé Rodrix
que compunha o trio Sá, Rodrix & Guarabyra, de grande sucesso nos anos 70.
Um disco deslumbrante de ponta a ponta. Revelou o hit ESPANHOLA, campeão nas
rodas de violão, consagrado por Flávio Venturini (co-autor em parceria com
Guarabyra). Oito das nove faixas restantes são de autoria da dupla. A que se
sobressaiu foi SOBRADINHO que traduz o drama dos ribeirinhos retirados de suas terras
devido à construção da barragem no interior da Bahia. A música foi até tema de
uma questão do ENEM: “O homem chega, já desfaz a Natureza, tira gente, põe
represa, diz que tudo vai mudar... e passo a passo vai cumprindo a profecia do
beato que dizia que o sertão ia alagar. O sertão vai virar mar, dá no coração o
medo de que algum dia o mar também vire sertão”. Foi regravada pelo Trio
Nordestino, pelo sanfoneiro Targino
Gondim e (numa bela versão ao vivo) pelo Biquini Cavadão.
58) MÁRCIA, EDUARDO GUDIN & PAULO
CÉSAR PINHEIRO – VENENO
Em 1975, o país vivia ainda sob o
signo do AI-5, as manifestações artísticas eram reprimidas, a sensação era de
desalento. Nesse clima, o brado da classe artística era de que, ante esses
tempos de trevas, O IMPORTANTE É QUE NOSSA EMOÇÃO SOBREVIVA. Foi esse o título dado
ao memorável show realizado no teatro Oficina em SP reunindo dois legítimos
sambistas, um carioca (Pinheiro) e um paulista (Gudin) mais a cantora Márcia.
Pinheiro, um dos mais profícuos letristas e poetas brasileiros, tem trabalhos
com Chico, Elis, Vinícius e Clara Nunes com quem foi casado. Gudin, que
transitou do samba de raiz de Beth Carvalho à vanguarda paulistana de Arrigo
Barnabé. Márcia, intérprete titular de duas pérolas da MPB, RONDA de Paulo
Vanzolini e EU E A BRISA de Johnny Alf. O show, registrado em disco, contém a
famosa MORDAÇA regravada pelo MPB-4. VENENO, a faixa que abre o álbum, narra a
traição amorosa com versos inspirados como “dei o manto para quem vai me
desnudar e em meu canto abriguei quem vai me expulsar. Eu te dei de beber. No
mesmo copo você vai me envenenar”.
59) DEMÔNIOS DA GAROA – TREM DAS ONZE
Esse foi o maior sucesso do grupo
especializado em Adoniran Barbosa (SAUDOSA MALOCA, SAMBA DO ARNESTO, AS
MARIPOSA, ÓI NOIS AQUI TRAVEIS, TIRO AO ÁLVARO, MALVINA, PAFUNÇA etc.), eleita
a música-símbolo da metrópole paulistana e tornando o humilde bairro de Jaçanã
conhecido Brasil afora. O curioso é que Adoniran sequer residia ali,
escolhendo-o por sua sonoridade. Retrata o drama do amante e filho único que deixará
a mãe preocupada se perder o trem. Os Demônios é o conjunto musical brasileiro
há mais tempo em atividade (façanha atestada pelo Guiness), desde 1943. O
compacto com TREM DAS ONZE lançado em 1964 alcançou os primeiros postos do hit
parade (foi a música mais executada no rádio no ano de 1965), precedendo o LP homônimo que reúne vários dos aclamados sucessos,
alguns disponíveis até então apenas em 78 rotações. A canção recebeu a versão
do autor apenas em 1974, sendo também regravada por Zeca Pagodinho, Beth
Carvalho, Originais do Samba, Ivete Sangalo e Gal Costa.
60) LOBÃO – ME CHAMA
Quando criou o maior sucesso de sua
carreira, Lobão ainda era pouco conhecido, recém desligado da banda Blitz. A
canção foi escrita quando estava numa fase down, sem grana e afastado da
namorada, a holandesa Alice Pink Pank (ex-integrante do Gang 90) que estava no
exterior (“me dá vontade de saber onde você está, me chama, me chama”). Por
isso, o próprio autor não tinha muito apreço pela música. Ainda assim,
entregou-a a Marina que a inseriu em seu álbum FULLGÁS (1984), conferindo-lhe
uma interpretação ‘cool’ com o próprio Lobão na bateria. Este regravou-a no
disco RONALDO FOI PRA GUERRA (mesmo ano), o único com o grupo Ronaldos (que
tinha Alice nos teclados), só que com uma interpretação mais visceral e
roqueira, conforme a concepção original. Ambas as versões caíram no gosto
popular e a canção tornou-se um dos maiores hits nacionais dos anos 80,
recebendo regravações, de Biquini Cavadão, Nelson Gonçalves e João Gilberto.
Lobão implicou com essa última pelo fato de João ter suprimido da letra (por
não entender o significado) o trecho “nem sempre se vê mágica no absurdo”.
Confira a 1ª parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/03/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do.html
Confira a 2ª parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/03/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_27.html
Confira a 4ª parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_17.html
Confira a 5ª parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_25.html
2 comentários:
Maravilha .Estou encantada em receber as músicas que fizeram e fazem parte da minha vida.
jamais teremos outra época tão boa.
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