terça-feira, 5 de abril de 2022

AS 100 MAIORES MÚSICAS BRASILEIRAS DO SÉCULO XX (3ª PARTE)

 

Segue a terceira parte da lista das 100 maiores músicas brasileiras do século XX:


 41) AGOSTINHO DOS SANTOS & LUIZ BONFÁ – MANHÃ DE CARNAVAL

O Brasil nunca ganhou Oscar de filme estrangeiro? Sim e não. O filme Orfeu Negro (Black Orpheus) que se passa no país, com atores brasileiros falado em português, faturou não apenas o Oscar como a Palma de Ouro em Cannes de 1959. Só que representando... a França (dirigida que foi pelo cineasta Marcel Camus). A trilha sonora foi recheada de temas da bossa nova compostos pela dupla Tom & Vinícius. Mas a faixa que se sobressaiu foi MANHÃ DE CARNAVAL do violonista Luiz Bonfá com letra de Antônio Maria, uma das canções brasileiras mais conhecidas do mundo. Dentre tantas, há gravações de Chet Atkins, Gerry Mulligan, Ray Brown, Dexter Gordon, John McLaughlin, Stan Getz, Ahmad Jamal, Dinah Shore, Frank Sinatra, Placido Domingo, Pavarotti, André Rieu, Julio Iglesias, Luis Miguel, Joan Baez, Carly Simon e Cher, além de incontáveis artistas nacionais. Na trilha aparece três vezes, com participações de Agostinho dos Santos e de Elizeth Cardoso, sempre com Bonfá ao violão. A versão integralmente vocal de Agostinho com acompanhamento de Bonfá e do Quarteto de Oscar Castro Neves é do álbum que registrou ao vivo o histórico concerto BOSSA NOVA AT CARNEGIE HALL (1962). 

 

42) ALMIR SATER – TOCANDO EM FRENTE

Longe da vertente “universitária”, o sertanejo raiz tem em Almir Sater e Renato Teixeira dois dignos representantes. Almir, discípulo do virtuoso mestre em viola caipira Tião Carreiro, tornou-se um dos maiores instrumentistas do país. Renato, lançado por Elis através de ROMARIA, dedicou-se a promover a autêntica música caipira com temas bucólicos que ressaltam o puro espírito do homem do campo. TOCANDO EM FRENTE foi composta em 1990, durante um jantar na casa de Renato em que Almir improvisou com seu instrumento uma melodia à qual o anfitrião encaixou uma letra. E que letra! Em meio a ‘manhas e manhãs’, ‘massas e maçãs’, revela a sabedoria de quem diz “ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais” porque “penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente”. Bethânia apropriou-se da canção, gravando-a em seu álbum 25 ANOS (1990) e Almir registrou-a num clipe ao lado de sua irmã Gisele e em seu álbum AO VIVO (1992). A música é uma das mais regravadas por sertanejos de todos os matizes mas não só por eles. 

 

43) CLARA NUNES – CANTO DAS TRÊS RAÇAS

Clara Nunes abraçou o samba quando beirava os 30 anos de idade. Até então gravara três álbuns de reduzida expressão com um repertório de boleros e sambas-canção de temática romântica, sempre pela Odeon, gravadora que a acompanhou durante toda a carreira. Sua virada para o samba foi coroada de grande sucesso comercial, tendo sido a primeira mulher a alcançar 600 mil cópias num álbum. Ao mesmo tempo, aproximou-se das religiões afro, vestindo roupas brancas, sua marca registrada. CANTO DAS TRÊS RAÇAS, composição de seu marido, Paulo César Pinheiro (parceria com Mauro Duarte) faz parte do seu álbum homônimo (1976) e, apesar da cadência de samba, é acompanhada de percussão de atabaques e tambores, próprios do candomblé. Essa canção tornou-se símbolo da resistência dos grupos de índios e negros subjugados historicamente pelos brancos (as três raças referidas no título). Regravada por Renato Braz, Alcione, Elza Soares, Mariene Castro, Eliana Printes e Fabiana Cozza.

 

44) JOÃO GILBERTO – WAVE

Também conhecida como VOU TE CONTAR, essa é, dentre as conhecidas composições de Tom Jobim, uma das mais recentes. Feita em 1967, integrou com um arranjo totalmente instrumental o álbum homônimo do artista carioca (com uma girafa correndo na capa), acompanhado por músicos de jazz, quase todos americanos. Mas a versão mais conhecida entre nós é a de João Gilberto, já devidamente ‘letrada’, tornando-se a principal faixa do álbum AMOROSO (1977). Para colocar letra, segundo consta, Tom tinha em vista Chico Buarque, mas esse empacou na tarefa. Tom então resolveu ele mesmo concluir a obra. O LP de João (que tem o lado B inteiramente dedicado a Jobim), foi gravado nos EUA com arranjo do lendário produtor Claus Ogerman que trabalhou em vários discos de Jobim. WAVE foi regravada, dentre outros, por Ella Fitzgerald, Paul Desmond, Oscar Peterson, Mel Tormé, Sérgio Mendes, Tim Maia, Gal, Elis, Nara, Leny Andrade, Ithamara Koorax e Vanessa da Mata.

 

45) HYLDON – NA SOMBRA DE UMA ÁRVORE

Cantor, compositor, guitarrista e baixista, Hyldon, como tantos do seu gênero, começou acompanhando astros da Jovem Guarda em temas banais, evoluindo para tornar-se, ao lado de Tim Maia e Cassiano, um dos pilares que compõe o triunvirato do soul brasileiro. Seu nome firmou-se com uma lenda, passando a ser cultuado por novas gerações de artistas, sendo regravado por Kid Abelha e Jota Quest.  Seu álbum NA RUA NA CHUVA NA FAZENDA (1975), gravado com acompanhamento dos músicos do grupo Azymuth, é um dos cânones do gênero. Contém ao menos três clássicos: a que dá título ao disco (conhecida pelo subtítulo CASA DE SAPÊ), AS DORES DO MUNDO e NA SOMBRA DE UMA ÁRVORE, reunidas num compacto duplo lançado concomitantemente ao álbum. Impossível ficar indiferente à envolvente interpretação para UMA SOMBRA... com uma letra que remete à tranquilidade do campo, afastado das luzes da cidade “ouvindo os pássaros cantar”. Regravada por Wando, Cláudio Zoli e pelos Detonautas.

 

46) FAGNER – MUCURIPE

O semanário O Pasquim lançou em 1972 a série Disco de Bolso, um compacto encartado no jornal, apresentando do lado A um artista consagrado da MPB e do lado B, um iniciante promissor. No primeiro, trouxe Tom Jobim e o novato João Bosco. No segundo, Caetano e o desconhecido Raimundo Fagner. A iniciativa foi interrompida em virtude da interferência da censura que inviabilizou o projeto. Tanto Bosco quanto Fagner cumpriram os desígnios construindo belas carreiras. No caso do artista cearense, a canção escolhida foi MUCURIPE, parceria com o conterrâneo Belchior o qual já tinha a música rascunhada executando-a em rodas de amigos. Apresentou-a a Fagner que deu a forma final com que se tornou conhecida, sendo lançada em seu primeiro álbum, MANERA FRU FRU MANERA (1973). Além de vender pouco, o disco sofreu um processo judicial por parte da família de Cecília Meirelles, devido a inclusão de versos da poetisa na faixa CANTEIROS sem autorização, sendo recolhido nas lojas. Apesar de tantos percalços, MUCURIPE acabou se impondo pela beleza da melodia e dos versos, recebendo regravações do próprio Belchior, Elis, Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Oswaldo Montenegro e Zé Ramalho. 

 

47) DORI CAYMMI – O PORTO

Quem acompanhou a memorável primeira versão da novela Gabriela (com Sônia Braga) na Globo, não vai deixar de lembrar de dois marcantes canções que fizeram parte da trilha: ALEGRE MENINA interpretada por Djavan, sobre um poema de Jorge Amado, e a belíssima peça instrumental O PORTO interpretada pelo MPB-4. Ambos têm assinatura de Dori Caymmi e integraram o segundo álbum do músico carioca (1980), que traz também SAVEIROS (composta em parceria com Nelson Motta) que, sob a interpretação de sua mana Nana, sagrou-se campeã do primeiro FIC da Globo (1966). A parceria com Motta rendeu outra grande canção, CANTADOR, finalista do III Festival da Record (interpretação de Elis), faixa do primeiro álbum de Dori (1972) que, à época, assinava Dory com y. Além disso, tem ele um respeitável currículo como arranjador e produtor com passagem pelos EUA onde residiu por 20 anos. Produziu álbuns de Jobim, João Gilberto, Chico, Edu Lobo etc. e a admirável trilha do seriado infantil Sítio do Picapau Amarelo. O PORTO recebeu uma bela versão de Renato Braz com Mônica Salmaso.

 

48) JOÃO DO VALE – CARCARÁ

O famoso show-manifesto OPINIÃO de Augusto Boal estreado em 1964, além de sua importância política como resistência ao golpe recém instituído, revelou duas das canções fundamentais da nossa música: OPINIÃO de Zé Keti (“podem me prender, podem me bater”) e CARCARÁ de João do Vale (“pega, mata e come”), parceria com José Cândido. Os dois compositores protagonizaram o espetáculo com Nara Leão e, no segundo ano, com Bethânia. E foi justamente a cantora baiana que, numa versão veemente (enfatizada com retumbantes estatísticas acerca do êxodo de nordestinos) emplacou seu primeiro trabalho fonográfico (em compacto e depois LP) , transformando-se num hino de protesto (embora originalmente nem tivesse esse propósito) associando a figura da ave de rapina ao regime opressor. João do Vale registrou-a em seu único disco solo, O POETA DO POVO (1965). A arte do músico maranhense ficou mais conhecida na voz de grandes nomes da MPB, como em O CANTO DA EMA (Gil), NA  ASA  DO VENTO (Caetano) e CORONÉ ANTÔNIO BENTO (Tim Maia), algumas de suas mais conhecidas composições.  

 

49) LÔ BORGES – UM GIRASSOL DA COR DO SEU CABELO

CLUBE DA ESQUINA (1972), unanimemente considerado um dos maiores álbuns da história da MPB, costuma ser atribuído unicamente a Milton Nascimento. Mas, a bem da verdade, seus créditos devem partilhados com Lô Borges, cujo nome figura na contracapa (com menor destaque, é verdade) abaixo do de Milton. Este interpreta 15 das 21 faixas (três das quais junto com Beto Guedes e uma com Alaíde Costa). Lô interpreta cinco e os dois dividem uma. O resto da turma do Clube da Esquina (patota que inclui Beto, Wagner Tiso, Flávio Venturini, Toninho Horta, Tavito etc.) teve também participação ativa nesse projeto, quase uma produção coletiva. Quase todas as faixas cantadas por Lô tornaram-se conhecidas: PAISAGEM NA JANELA, O TREM AZUL, TREM DE DOIDO, CRAVO E CANELA e sobretudo UM GIRASSOL... (parceria com Márcio Borges), talvez a mais famosa canção do músico mineiro. Foi regravada por Toninho Horta, Ira! (com Samuel Rosa), Nenhum de Nós, Diana Pequeno, Vânia Bastos, Vanessa da Mata, Anavitória e pela atriz Cláudia Ohana (trilha novela Estrela Guia).

 

50) BELCHIOR – SUJEITO DE SORTE

Belchior foi revelado ao mundo por Elis Regina que em seu álbum campeão de vendas FALSO BRILHANTE (1976), de uma tacada só, deu destaque a duas músicas suas que estrategicamente abriram o disco: COMO NOSSOS PAIS e VELHA ROUPA COLORIDA. As duas canções entraram no disco ALUCINAÇÃO lançado no mesmo ano pelo artista cearense que, de quebra, tinha o mega-hit APENAS UM RAPAZ LATINO AMERICANO, fazendo do disco um retumbante sucesso. Com o tempo, Belchior (que sumiu de cena por quase uma década até vir a falecer em 2017), transformou-se em cult pelas novas gerações. A canção SUJEITO DE SORTE do referido álbum, que, à ocasião, fez sucesso mediano, foi ressuscitada pelos jovens com seu inspirador grito de guerra: “tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”. Emicida fez em cima dela o clipe AmarElo de enorme sucesso com a participação de Pabllo Vittar e Majur.

 

51) ZÉ KETI – ACENDER AS VELAS

A VOZ DO MORRO (“eu sou o samba, a voz do morro sou eu mesmo, sim senhor”), OPINIÃO (“podem me prender, podem me bater, podem até deixar-me sem comer que eu não mudo de opinião”), DIZ QUE FUI POR AÍ (“se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí com o violão debaixo do braço”), MÁSCARA NEGRA (“tanto riso, oh quanta alegria, mais de mil palhaços no salão”) e ACENDER AS VELAS (“acender as velas, já é profissão, quando não tem samba, tem desilusão”). Essas são algumas das composições de Zé Keti que entraram para a história. ACENDER AS VELAS foi composta na mesma época da em que o sambista carioca participou no show Opinião, ao lado de Nara Leão e João do Vale e mantém a linha de protesto que caracterizou o tom do espetáculo, ao descrever as tristes condições sociais nos morros do RJ. Foi gravada por Nara Leão e Elis Regina com Jair Rodrigues (DOIS NA BOSSA) em pot-pourri. Zé Kéti viria gravá-la apenas em 1971. 

 

52) MARISA MONTE – DANÇA DA SOLIDÃO

No auge de sua carreira, Marisa Monte reuniu um plantel de primeira e um selecionado repertório (que transita de Jamelão a Lou Reed) para gravar um dos mais bem sucedidos álbuns de MPB de todos os tempos:  VERDE ANIL AMARELO COR DE ROSA E CARVÃO (1994). A lista de convidados (nacionais e internacionais) impressiona: Arto Lindsay, Laurie Anderson, Philip Glass, Bernie Worell (Funkadelic), Naná Vasconcelos, Carlinhos Brown, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Nando Reis e muito mais. Uma produção esmerada, recordista de vendas. DANÇA DA SOLIDÃO, conhecido samba de Paulinho da Viola de seu álbum homônimo (de 1972), ganhou na voz de Marisa com uma bela introdução vocal de Gilberto Gil (que também está ao violão) uma leitura a altura de seus reconhecidos méritos, transformando-se numa das faixas mais executadas. A música já fora regravada por Beth Carvalho.

 

53) LULU SANTOS – COMO UMA ONDA

Essa composição de Lulu premia sua vitoriosa parceria com Nelson Motta e figura no álbum O RITMO DO MOMENTO (1983), o segundo do cantor carioca. O disco abre com ADIVINHA O QUÊ, parceria com Ronaldo Bastos que teve sua execução pública vetada pela censura. A gravadora relutou em substituí-la como música de trabalho por COMO UMA ONDA, que tinha um ritmo de bolero e pouca possibilidade de emplacar. Por insistência do músico, voltaram atrás e a canção tornou-se não apenas a mais famosa de Lulu, como um dos temas mais populares do cancioneiro nacional. O subtítulo da canção, ZEN-SURFISMO dá uma dica da temática, a impermanência das coisas, apregoada pelo budismo, utilizando-se da imagem do mar (“a vida vem em ondas como um mar”). Regravada por Nélson Gonçalves, Ângela Maria, Tim Maia, Caetano, Zizi Possi, Roupa Nova, Jorge Drexler e até pelo tecladista Richard Clayderman.

 

54) GERALDO AZEVEDO – TÁXI LUNAR

Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Alceu Valença, ainda jovens, em início de carreira, uniram suas forças e sua inspiração para compor essa bela canção, registrada em disco por cada um individualmente. Especula-se que o enigmático tema da canção se refira a uma transcendental relação alienígena, ou talvez uma fictícia ‘viagem’ sideral sob efeito de erva na cabeça. Percebe-se o dedo de Alceu na poesia e no tempero nordestino, o de Ramalho na temática extraterrestre e o de Geraldo no lirismo psicodélico (já presente no seu álbum QUADRAFÔNICO com Alceu Valença). Geraldinho tem outras brilhantes canções na bagagem: CARAVANA, DIA BRANCO, DONA DA MINHA CABEÇA e BICHO DE SETE CABEÇAS. Esta última está presente no álbum do mesmo nome (1975), o segundo do artista pernambucano que também contém TÁXI LUNAR.

 

55) RAUL SEIXAS – METAMORFOSE AMBULANTE

Essa canção (ou talvez manifesto) do maior expoente do “rock brazuca”, com singelos versos, solapa as verdades estabelecidas dos iluminados que ditam regras e impõem suas certezas num mundo que muda a cada instante e nos faz repensar dogmas carcomidos, “aquela velha opinião formada sobre tudo”. Com o álbum KRIG-HA BANDOLO! (1973), inspirado no grito de guerra do Tarzan, Raulzito, fã de rock’n’roll dos anos 50 e mentor da jovem guarda, rompe com o passado ingênuo e firma-se como um dos grandes artistas da música brasileira. O álbum traz também os hits MOSCA NA SOPA, OURO DE TOLO e AL CAPONE (essa parceria com Paulo Coelho), todas com críticas à sociedade e ao conformismo burguês. A música foi regravada por Ney Matogrosso, Zélia Duncan, Zé Ramalho, Dinho Ouro Preto e foi incluída na trilha do filme Cidade de Deus.

 

56) LENINE – PACIÊNCIA

Ao lado de Fred Zero Quatro, Zeca Baleiro e Chico César, Lenine faz parte da safra de compositores nordestinos que no final do século resgatou a esperança de uma MPB menos banal. PACIÊNCIA (parceria com Dudu Falcão) tornou-se um brado de resgate à vida ante uma civilização que nos conduz à morte. Um chamado à quietude em atendimento ao clamor do corpo que indica que é hora de diminuir o ritmo. Contra a desumanidade que nos coisifica, Lenine retruca “eu me recuso, levo a vida, vou de valsa”. Inverte a lógica, nos fazendo olhar para dentro quando todos os impulsos da sociedade (com seus algoritmos e celulares) nos levam ao oposto. Isso é feito poeticamente por palavras que se confrontam - nor(mal), lou(cura) - ou se fundem - (c)alma - e as contradições entre o “tempo que lhe falta para  perceber” e o “tempo que temos a perder” , entre a vida que “não para” e a vida que é “tão rara”. Presente no álbum NA PRESSÃO de 1999 (que sintomaticamente traz na capa um carro que explode por não aguentar a pressão)

 

57) SÁ E GUARABYRA – SOBRADINHO

O álbum PIRÃO DE PEIXE COM PIMENTA (1977) marca o apogeu da dupla Sá & Guarabyra, fruto da saída de Zé Rodrix que compunha o trio Sá, Rodrix & Guarabyra, de grande sucesso nos anos 70. Um disco deslumbrante de ponta a ponta. Revelou o hit ESPANHOLA, campeão nas rodas de violão, consagrado por Flávio Venturini (co-autor em parceria com Guarabyra). Oito das nove faixas restantes são de autoria da dupla. A que se sobressaiu foi SOBRADINHO que traduz o drama dos ribeirinhos retirados de suas terras devido à construção da barragem no interior da Bahia. A música foi até tema de uma questão do ENEM: “O homem chega, já desfaz a Natureza, tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar... e passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o sertão ia alagar. O sertão vai virar mar, dá no coração o medo de que algum dia o mar também vire sertão”. Foi regravada pelo Trio Nordestino,  pelo sanfoneiro Targino Gondim e (numa bela versão ao vivo) pelo Biquini Cavadão.

 

58) MÁRCIA, EDUARDO GUDIN & PAULO CÉSAR PINHEIRO – VENENO

Em 1975, o país vivia ainda sob o signo do AI-5, as manifestações artísticas eram reprimidas, a sensação era de desalento. Nesse clima, o brado da classe artística era de que, ante esses tempos de trevas, O IMPORTANTE É QUE NOSSA EMOÇÃO SOBREVIVA. Foi esse o título dado ao memorável show realizado no teatro Oficina em SP reunindo dois legítimos sambistas, um carioca (Pinheiro) e um paulista (Gudin) mais a cantora Márcia. Pinheiro, um dos mais profícuos letristas e poetas brasileiros, tem trabalhos com Chico, Elis, Vinícius e Clara Nunes com quem foi casado. Gudin, que transitou do samba de raiz de Beth Carvalho à vanguarda paulistana de Arrigo Barnabé. Márcia, intérprete titular de duas pérolas da MPB, RONDA de Paulo Vanzolini e EU E A BRISA de Johnny Alf. O show, registrado em disco, contém a famosa MORDAÇA regravada pelo MPB-4. VENENO, a faixa que abre o álbum, narra a traição amorosa com versos inspirados como “dei o manto para quem vai me desnudar e em meu canto abriguei quem vai me expulsar. Eu te dei de beber. No mesmo copo você vai me envenenar”.

 

59) DEMÔNIOS DA GAROA – TREM DAS ONZE

Esse foi o maior sucesso do grupo especializado em Adoniran Barbosa (SAUDOSA MALOCA, SAMBA DO ARNESTO, AS MARIPOSA, ÓI NOIS AQUI TRAVEIS, TIRO AO ÁLVARO, MALVINA, PAFUNÇA etc.), eleita a música-símbolo da metrópole paulistana e tornando o humilde bairro de Jaçanã conhecido Brasil afora. O curioso é que Adoniran sequer residia ali, escolhendo-o por sua sonoridade. Retrata o drama do amante e filho único que deixará a mãe preocupada se perder o trem. Os Demônios é o conjunto musical brasileiro há mais tempo em atividade (façanha atestada pelo Guiness), desde 1943. O compacto com TREM DAS ONZE lançado em 1964 alcançou os primeiros postos do hit parade (foi a música mais executada no rádio no ano de 1965), precedendo o LP homônimo que reúne vários dos aclamados sucessos, alguns disponíveis até então apenas em 78 rotações. A canção recebeu a versão do autor apenas em 1974, sendo também regravada por Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Originais do Samba, Ivete Sangalo e Gal Costa.

 

60) LOBÃO – ME CHAMA

Quando criou o maior sucesso de sua carreira, Lobão ainda era pouco conhecido, recém desligado da banda Blitz. A canção foi escrita quando estava numa fase down, sem grana e afastado da namorada, a holandesa Alice Pink Pank (ex-integrante do Gang 90) que estava no exterior (“me dá vontade de saber onde você está, me chama, me chama”). Por isso, o próprio autor não tinha muito apreço pela música. Ainda assim, entregou-a a Marina que a inseriu em seu álbum FULLGÁS (1984), conferindo-lhe uma interpretação ‘cool’ com o próprio Lobão na bateria. Este regravou-a no disco RONALDO FOI PRA GUERRA (mesmo ano), o único com o grupo Ronaldos (que tinha Alice nos teclados), só que com uma interpretação mais visceral e roqueira, conforme a concepção original. Ambas as versões caíram no gosto popular e a canção tornou-se um dos maiores hits nacionais dos anos 80, recebendo regravações, de Biquini Cavadão, Nelson Gonçalves e João Gilberto. Lobão implicou com essa última pelo fato de João ter suprimido da letra (por não entender o significado) o trecho “nem sempre se vê mágica no absurdo”.

 


 

 

Confira a 1ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/03/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do.html

 

 Confira a 2ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/03/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_27.html


Confira a 4ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_17.html


Confira a 5ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_25.html

 

 



 

 

2 comentários:

Maria Zei Biagioni disse...

Maravilha .Estou encantada em receber as músicas que fizeram e fazem parte da minha vida.

Calcenoni disse...

jamais teremos outra época tão boa.