sábado, 19 de março de 2022

AS 100 MAIORES MÚSICAS BRASILEIRAS DO SÉCULO XX (1ª PARTE)

 

Seria muita pretensão assumir aqui a tarefa de determinar as maiores canções de música brasileira.

Entre as abundantes listas encontráveis na internet, a mais considerada é a da revista Rolling Stone que, em 2009, indicou as 100 músicas brasileiras de todos os tempos, a partir da votação de diversos críticos. O pesquisador Almir Chediak tem também uma gabaritada relação das 101 melhores do século XX em seu songbook lançado em livro, assim como Nélson Motta com seu 101 Canções que Tocaram o Brasil.

A presente relação tem uma pretensão bem mais modesta. Não visa escolher canções a partir de opiniões pessoais mas apresentar o resultado de um levantamento daquelas mais relevantes com base em livros, artigos, sites especializados além de desempenho comercial (venda de discos).

Dois critérios foram estabelecidos: 1) uma música para cada intérprete (ou conjunto de intérpretes) com a finalidade de evitar o monopólio de figurões da MPB; 2) apenas gravações de 1960 em diante, quando o formato de vinil (seja através de LP ou compacto) ficou consagrado.

Assim, ficam de antemão eliminadas CARINHOSO (Pixinguinha), ASA BRANCA / XOTE DAS MENINAS (Luiz Gonzaga), SAMBA DA MINHA TERRA / SUÍTE DOS PESCADORES / O MAR / MARACANGALHA / MARINA (Dorival Caymmi), AQUARELA DO BRASIL (Francisco Alves), AGORA É CINZA / JURA (Mário Reis), JARDINEIRA / ROSA / SERTANEJA (Orlando Silva), NO RANCHO FUNDO / CHÃO DE ESTRELAS (Sílvio Caldas), A VOLTA DO BOÊMIO (Nelson Gonçalves), SE ACASO VOCÊ CHEGASSE / FALSA BAIANA (Cyro Monteiro), AI QUE SAUDADES DA AMÉLIA (Ataulfo Alves), AS PASTORINHAS / CONVERSA DE BOTEQUIM / FILOSOFIA (Noel Rosa), ESSES MOÇOS / FELICIDADE (Lupicínio Rodrigues), O TEU CABELO NÃO NEGA (Lamartine Babo), NA BAIXA DO SAPATEIRO (Anjos do Inferno), LATA D’ÁGUA (Marlene), O QUE É QUE A BAIANA TEM / E O MUNDO NÃO SE ACABOU / CAMISA LISTRADA / TAÍ (Carmen Miranda), CHIQUITA BACANA (Emilinha Borba), MENSAGEM / DE CONVERSA EM CONVERSA (Isaura Garcia), BANDEIRA BRANCA (Dalva de Oliveira), CAMISA AMARELA / ÚLTIMO DESEJO (Aracy de Almeida), CONCEIÇÃO (Cauby Peixoto), TERESA DA PRAIA (Lúcio Alves & Dick Farney), DINDI (Sylvia Telles), A NOITE DO MEU BEM (Dolores Duran), MEU MUNDO CAIU (Maysa), CHEGA DE SAUDADE (Elizeth Cardoso), ÍNDIA (Cascatinha & Inhana), LAMPIÃO DE GÁS (Inezita Barroso), CHICLETE COM BANANA (Jackson do Pandeiro), MULHER RENDEIRA (Volta Seca), Ô ABRE ALAS (Chiquinha Gonzaga), TICO-TICO NO FUBÁ (Ademilde Fonseca), BRASILEIRINHO (Waldir Azevedo), NOITES CARIOCAS (Jacob do Bandolim), SONS DE CARRILHÕES (João Pernambuco), ODEON (Ernesto Nazareth), VASSOURINHAS (Severino Araújo), ABISMO DE ROSAS (Dilermando Reis) e outros clássicos ‘hors concours’.

Segue a primeira parte da lista:

 

1)    CHICO BUARQUE – CONSTRUÇÃO

Unanimemente reconhecido como o maior letrista da MPB, Chico é um preciosista. CONSTRUÇÃO continua impressionando pela perfeição de sua “construção” poética, brincando habilmente com as palavras. Escrita logo após o fim de exílio de Chico, no auge de seu engajamento com questões sociais, a canção relata a morte de um trabalhador de obras que despenca de um edifício e se estatela no chão “atrapalhando o trânsito”, ante a indiferença de uma sociedade competitiva e alienada aos dramas dos despossuídos. A narrativa avança circularmente num crescendo com a utilização de proparoxítonas que se intercambiam em cada final de frase, reforçado pelo épico arranjo orquestral conduzido pelo maestro Rogério Duprat e Magro do MPB-4 com o aporte vocal deste grupo vocal, fiel escudeiro de Chico. Apesar dos seus 6:30 de duração, a canção tornou-se um sucesso, puxando as vendas do álbum homônimo de 1971 que contém outros hits, como SAMBA DE ORLY, COTIDIANO, VALSINHA e a versão MINHA HISTÓRIA (de Lucio Dalla). Tanto álbum quanto canção são referenciados no topo dos melhores da história da MPB. Foi regravada dentre outros por Elis, Ney Matogrosso, Fernanda Porto, Mônica Salmaso, Cida Moreira, Eduardo Araújo, Oswaldo Montenegro, Luiz Tatit com Zé Miguel Wisnik, Eugénia Melo e Castro, Ornella Vanoni e pelo maestro Erlon Chaves.

 

2)    CAETANO VELOSO – TERRA

TERRA não é certamente a música mais popular de Caetano. Seriam lembradas ALEGRIA ALEGRIA, SOZINHO, LEÃOZINHO, SAMPA ou TIGRESA. Tem a seu desfavor o tempo de duração de quase 7 minutos o que a afastou da execução nas rádios, além da letra quilométrica de difícil memorização. Mas é impossível não se emocionar com a declaração de paixão pelo planeta, desvendada após um ambíguo preâmbulo em que se refere à foto de quem que não estava nua, porém “coberta de nuvens”. Estende o conceito à “terra-natal”, a Bahia. Faixa do álbum MUITO (1978), autenticado pelo subtítulo DENTRO DA ESTRELA AZULADA, cuja capa sugestivamente apresenta Caetano acolhido no colo de sua mãe de carne e osso. TERRA adquire atualidade nesses tempos em que o cativante astro azul que nos abriga passa por momentos tão críticos a ponto de contestarem até sua curvatura. O disco teve fraco desempenho (apesar de conter também SAMPA) e a beleza de TERRA (canção e planeta) foi ignorada pelos pobres mortais. Hoje, escutar tal preciosidade nos traz a mesma sensação de “quem jamais te esqueceria”. Regravada por Paulinho Moska e Orlando Morais.

 

3)    ASTRUD GILBERTO, JOÃO GILBERTO & STAN GETZ – GAROTA DE IPANEMA

Foi essa famosíssima gravação que tornou a canção de Tom e Vinícius a segunda mais executada do século (atrás apenas de YESTERDAY dos Beatles). O álbum que a contém GETZ/GILBERTO (1964) pelo qualificado selo Verve também coleciona recordes. Mesmo classificado no seletivo quesito ‘jazz’, manteve-se por meses na vice-liderança entre os mais vendidos do principal mercado fonográfico mundial (atrás de novo dos Beatles e seu A HARD DAY´S NIGHT), tendo aberto o caminho para a invasão bossanovista que se seguiu. O sucesso deveu-se em boa parte à improvisada escolha da então desconhecida Astrud, esposa de João, para entoar em inglês a segunda parte de THE GIRL FROM IPANEMA. Sua voz doce cativou o público americano a ponto de na versão para single ter monopolizado o trecho vocalizado, sobrando para João apenas o violão ao fundo. Tom Jobim participa ao piano e nos arranjos. Frank Sinatra, Andy Williams, Ella Fitzgerald, Eartha Kitt, Nat King Cole, Louis Armstrong, Errol Garner, Archie Chepp, Count Basie, Al Hirt, Charlie Byrd, Oscar Peterson, Sammy Davis, Shirley Horn, Diana Krall, Amy Winehouse, Eliane Elias, Pizzicato 5, Oleta Adams, Esther Phillips, Dennis Brown, Al Jarreau, Pat Metheny, Lee Ritenour, Percy Faith, Billy Vaughn, Herb Alpert, Paul Mauriat, Ray Conniff, Michael Bolton, Kenny G, são alguns dos inúmeros astros internacionais que registraram a canção. 

 

4)    MILTON NASCIMENTO – TRAVESSIA

Ainda que não tivesse arrebatado o primeiro lugar do II Festival Internacional da Canção de 1967 (vencido por MARGARIDA de Guarabyra), Milton que apresentou TRAVESSIA saiu como grande vencedor da disputa. Laureado como melhor intérprete no evento, o ‘Bituca’ iniciou ali uma carreira que o tornaria respeitado mundialmente. TRAVESSIA que não se enquadrava como bossa nova ou samba-canção, ritmos prevalecentes à época, tampouco a emergente tropicália, lançava as bases do movimento musical conhecido como “Clube da Esquina”, ocorrido em Minas, consagrado com o lançamento do histórico álbum de mesmo nome de 1972. Fazendo parte de seu primeiro disco (homônimo) de 1967, TRAVESSIA até hoje é a música que melhor representa esse carioca com coração mineiro. Regravaram a canção Elis, Elizeth Cardoso, Eliana Pittman, Alaíde Costa, Zélia Duncan, Ivan Lins, Flávio Venturini, Toninho Horta, Diogo Nogueira, Agostinho dos Santos, Pery Ribeiro, Jair Rodrigues, Os Cariocas, Golden Boys, Os Três Morais, Vanusa, Agnaldo Timóteo, Elymar Santos, Fernando Mendes, Chitãozinho e Xororó, Zimbo Trio, Raul de Souza, Luís Eça, Dani Black, Sarah Vaughn, Flora Purim e Astrud Gilberto.

 

5)    CARTOLA – PRECISO ME ENCONTRAR

Cartola gravou seu primeiro álbum aos 66 anos, o segundo aos 68. Duas obras primas que contêm diversos temas que entraram para os anais do samba como DISFARÇA E CHORA, ACONTECE, O SOL NASCERÁ, AS ROSAS NÃO FALAM, O MUNDO É UM MOINHO, ENSABOA e PRECISO ME ENCONTRAR. Essa última é uma das poucas do repertório do gênio mangueirense não composta por ele mas por Candeia (já debilitado e sofrendo de paralisia) com uma letra sofrida sobre alguém em desespero em busca da felicidade. A interpretação de Cartola é arrepiante com uma belíssima introdução instrumental que ocupa 1/3 da faixa proporcionada por um time de primeira: Dino 7 Cordas, José Menezes, Altamiro Carrilho, Abel Ferreira, Elton Medeiros e o jovem violinista Guinga em início de carreira. Também gravada por Marisa Monte, Mart´nália, Teresa Cristina, Eliana Pittman e Ney Matogrosso, popularizou-se ainda mais ao tocar no filme Cidade de Deus.

 

6)    GAL COSTA – BABY

Essa canção, uma das mais representativas do tropicalismo, composta por Caetano Veloso com uma letra que retrata criticamente o consumismo e a cultura pop, marcou para sempre a carreira de Gal. Viria a nomear também seu disco, BABY GAL. A regravação da brilhante canção para esse álbum de 1983 com um arranjo brega (sob acompanhamento do grupo Roupa Nova) não faz jus à desbundante gravação original apresentada no icônico álbum TROPICÁLIA ou PANIS ET CIRCENSIS (1967), estando presente também no primeiro álbum solo de Gal (1969), em plena era tropicalista, com arranjos de Rogério Duprat, Gilberto Gil e Lanny Gordin. Foi também registrada pelos Mutantes, Bethânia, Bebel Gilberto, Paulo Ricardo, Daniela Mercury e pela Banda Tropicalista de Rogério Duprat.

 

7)    TIM MAIA – GOSTAVA TANTO DE VOCÊ

O trecho inicial da carreira do soulman traz as canções que se tornariam sua marca registrada. São 4 álbuns lançados de 1970 a 1973, um por ano, todos chamados apenas TIM MAIA, que revelaram CORONÉ ANTONIO BENTO, PADRE CÍCERO, AZUL DA COR DO MAR, PRIMAVERA, NÃO QUERO DINHEIRO, CANÁRIO DO REINO, RÉU CONFESSO e GOSTAVA TANTO DE VOCÊ. Esta última, do disco que fecha a série, foi composta por Édson Trindade amigo pessoal de Tim e antigo parceiro do The Sputniks, grupo de rock que atuou no final dos anos 50 (o qual tinha como membro, além dos dois, um tal de Roberto Carlos). Muito se especulou sobre o significado dos dúbios versos de Trindade que teria homenageado postumamente sua filha (falecida num acidente de carro) ou meramente expressado mágoa por um romance encerrado. A única certeza é que a música caiu como poucas no gosto popular. Gravaram também Leila Pinheiro, Patrícia Marx, Quarteto em Cy, Cláudio Zoli, Nando Reis, Vanessa Jackson, Titãs, Paralamas, Raça Negra, Beto Barbosa e Bebeto.

 

8)    ELIS REGINA – ATRÁS DA PORTA

Por trás de uma aparência despojada, a começar pelo frugal ELIS do título, o álbum de 1972, em cuja capa a titular se esbalda indolente numa cadeira de jardim trajando um vestido branco angelical, oculta a suprema obra da maior cantora da MPB, no apogeu de sua carreira. O álbum está repleto de joias como MUCURIPE, ÁGUAS DE MARÇO, CASA NO CAMPO, CAIS e, claro, ATRÁS DA PORTA. Nesta composição, Chico Buarque dá vazão em versos dilacerantes, à sua porção feminina, denotando o doloroso momento de separação de uma mulher inconformada pelo abandono do companheiro. A ‘Pimentinha’ encantou-se ao ler um esboço inacabado da letra (ainda faltando a segunda parte) e implorou aos pés de Chico (para usar a imagem da letra) para que ele concluísse a obra a tempo de poder incluí-la no álbum. A canção marca a primeira parceria de Chico com Francis Hime, o qual a incluiu em seu álbum de 1973. Chico também a gravou além de Tito Madi, Ângela Maria, Bethânia, Gal, Nana Caymmi, Rosa Passos, Zélia Duncan, Marina Elali, Daniela Mercury e Ricky Vallen. 

 

9)    GERALDO VANDRÉ – PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

Sob vaias, foi anunciado que essa icônica composição de Vandré por ele interpretada apenas com o violão, perdera o primeiro lugar do III Festival Internacional da Canção de 1968 da Rede Globo para SABIÁ (de Chico e Tom). Os violentos protestos contra a decisão do júri, fruto de um ambiente politicamente polarizado, indignaram o próprio Vandré que defendeu o resultado com a frase “a vida não se resume em festivais”. O artista paraibano já era familiar a ambientes de festivais, tendo faturado dois anos antes um primeiro lugar com DISPARADA interpretada por Jair Rodrigues (empatado com A BANDA de Chico Buarque). O fato é que CAMINHANDO (como também era conhecida a canção) tornou-se um hino contra a ditadura, foi censurada pelo regime militar e Vandré exilou-se no exterior. Além da versão em estúdio, foi feita uma gravação ao vivo captando o ambiente efervescente do festival. Não saiu em nenhum álbum de carreira de Vandré, apenas em coletâneas e compacto simples. A música foi regravada por Simone em seu show ao vivo no Canecão, além de Luiz Gonzaga, Zé Ramalho, Eliana Pittman, Fafá de Belém, Quinteto Violado, Banda Reflexu's, Golden Boys, Charlie Brown Jr e Duduca & Dalvan.

 

10)                       OS MUTANTES – PANIS ET CIRCENSES

Essa revolucionária composição de Gil e Caetano batizou também o famoso disco-manifesto do tropicalismo (nomeado alternativamente TROPICÁLIA) de 1967. Lançada em plena época do regime militar a canção é associada a uma crítica velada ao conformismo burguês (“essas pessoas na sala de jantar são ocupadas em viver e morrer”) ante a opressão do regime, a começar pelo título, derivado da expressão romana utilizada para definir a política de governos populistas de oferecer “pão e circo” para comprar a alienação da população. Foram fundamentais para o êxito da canção o arranjo psicodélico do maestro Rogério Duprat e a interpretação inovadora d’Os Mutantes (Rita Lee, Arnaldo Baptista, Sérgio Dias) que a incluíram em seu primeiro álbum de 1968. A música foi regravada pelo Boca Livre, Marisa Monte e Paulinho Moska.

 

11)                       LUIZ MELODIA – PÉROLA NEGRA

Canção “descoberta” por Wally Salomão e Torquato Neto, dois expoentes do tropicalismo que também viram potencial no compositor, aquele novato e franzino carioca que nascido no berço do samba, abraçou também o blues. Resolveram mostrá-la para Gal Costa que a incluiu no seu LP duplo ao vivo GAL A TODO VAPOR (ou FA-TAL) de 1971. A boa repercussão levou Melodia a lançá-la no ano seguinte em seu álbum batizado com o mesmo nome, junto com outras composições suas (destaque para PRA AQUIETAR, MAGRELINHA e ESTÁCIO HOLLY ESTÁCIO, esta também anteriormente gravada por Maria Bethânia). O disco não teve de início grande êxito mas sua fama veio crescendo a ponto de conquistar status de um dos grandes da MPB de todos os tempos. “Baby, te amo, nem sei se te amo” diz a claudicante letra que transmite um sentimento conflituoso, longe das certezas das relações amorosas estabelecidas, num cenário das transformações paradigmáticas pós movimento hippie. Melodia incorporou enfim a figura de “maldito” da MPB, com suas canções inclassificáveis e suas letras indecifráveis que arrebanharam um público não numeroso porém fiel. Regravaram o tema Gal Costa, Ângela Maria, Emílio Santiago, Pedro Luís, Natiruts e Sampa Crew.

 

12)                       VINÍCIUS DE MORAIS, MARÍLIA MEDALHA & TOQUINHO – TARDE EM ITAPUÃ

Muitos turistas se perguntam o que teria de tão mágico nessa praia de Salvador para ser decantada por monstros sagrados da MPB. O fato é que a letra em louvor a Itapuã (ou Itapoã ou Itapoan) concebida por Vinícius fora feita de encomenda para ser musicada pelo baiano Dorival Caymmi que já tinha uma conhecida composição sua sobre a tal praia. Toquinho teria surrupiado o esboço manuscrito da letra e musicou-o às escondidas, mostrando o resultado pronto e acabado para o poeta que, apesar da traquinagem, resolveu dar uma chance para o recém acolhido parceiro. Sábia decisão: a canção tornou-se a mais famosa composta pela dupla. É faixa de abertura de COMO DIZIA O POETA (1971) que reúne ambos mais a cantora Marília Medalha, álbum que se originou de um espetáculo que os três apresentaram no teatro Castro Alves na Bahia. Maria Bethânia a regravou, assim como Jane Duboc, Mart’nália, Maria Creuza, Os Cariocas, Quarteto em Cy e Milton Banana.

 

13)                       JORGE BEN – OS ALQUIMISTAS ESTÃO CHEGANDO

Quando lançou essa música, Jorge Ben Jor já era mundialmente conhecido por canções como MAS QUE NADA e CHOVE CHUVA, mega-hits mundiais dos anos 60. O prestígio internacional do artista carioca foi recentemente confirmado ao ser o único brasileiro a figurar na lista das Maiores Músicas de Todos os Tempos da Revista Rolling Stone, editada em 2021 (com PONTA DE LANÇA AFRICANO ou UMBABARAUMA). OS ALQUIMISTAS... é a principal faixa do álbum A TÁBUA DE ESMERALDA de 1974, tido como o melhor da carreira de Ben (quando ainda não havia agregado  o Jor), sendo considerado pela mesma Rolling Stone, edição Brasil, o 6º melhor disco de música brasileira. Sintetiza com perfeição a linguagem e os ritmos brasileiros com temas esotéricos, que caracteriza a bem sucedida ‘alquimia’ de Ben, levando o misticismo hermético para as pistas de dança. Gal Costa fez sua versão no álbum ESTRATOSFÉRICA AO VIVO (2017).

 

14)                       NÉLSON CAVAQUINHO – A FLOR E O ESPINHO

A canção dos famosos versos “Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor” criados por Guilherme de Brito sobre uma melodia de Nélson Cavaquinho foi composta em 1957, mas a versão de sucesso aconteceu em 1965 com Elizeth Cardoso (álbum ELIZETE SOBE O MORRO). Consta um terceiro parceiro, Alcides Caminha, mais conhecido por Carlos Zéfiro, famoso desenhista de quadrinhos eróticos que faziam a alegria dos púberes nos anos 50/60 (o pseudônimo seria motivado para evitar encrencas com sua função de servidor público). O registro pela voz anasalada de Nélson foi disponibilizado em 1972 pela série Documento da RCA Victor. Em 1973, regravou-a em meio a um pout purri, ao lado de outros clássicos como FOLHAS SECAS e JUÍZO FINAL, até então inéditos na voz do compositor. Beth Carvalho, Alcione, Roberta Sá, Jane Duboc, Maria Creuza, Ângela Ro Ro, Eliete Negreiros, Nora Ney, Leny Andrade, Cláudia Telles, Paulinho Moska, Emílio Santiago, Nélson Sargento, Guilherme de Brito, Benito de Paula e Alexandre Pires também gravaram a canção. 

 

15)                       WILSON SIMONAL – SÁ MARINA

A dupla formada pelos músicos e compositores Antonio Adolfo e Tibério Gaspar produziu três canções com afortunada carreira: a noveleira TELETEMA (sucesso na voz de Regininha com diversas regravações posteriores), a festivalesca BR-3 (maior êxito da carreira de Tony Tornado) e SÁ MARINA, um dos temas mais populares de Wilson Simonal, cujo single liderou as paradas nacionais por meses seguidos. Faz parte também do álbum ALEGRIA ALEGRIA VOL. 2 (1968). A música que recebeu inúmeras interpretações (inclusive uma do lendário Stevie Wonder sobre uma versão para o inglês de Sérgio Mendes), ao contrário do que se imagina, não homenageia uma garota charmosa mas faz referência a um amor platônico de Tibério quando menino por sua professora primária. Ivete Sangalo regravou a música trocando o verso final “fez o povo inteiro chorar” por “fez o povo inteiro cantar” o que irritou Tibério por ter deturpado o sentido original. Também a regravaram Pery Ribeiro, Agnaldo Rayol, Alexandre Pires, Agostinho dos Santos, Luiz Eça e Sérgio Mendes. 

 

16)                       EDU LOBO & MARÍLIA MEDALHA – PONTEIO

Edu foi outro campeão de festivais. Em 1965, com ARRASTÃO (parceria com Vinícius) faturou o primeiro festival de MPB, da TV Excelsior e de quebra lançou para o estrelato a então pouco conhecida Elis Regina. No 3º Festival da TV Record de 1967, o que revelou maior número de canções e intérpretes, derrotou, com PONTEIO (parceria com Capinam), os figurões Chico (RODA VIVA), Caetano (ALEGRIA ALEGRIA) e Gil (DOMINGO NO PARQUE) com total aprovação da plateia, extasiada. Interpretada pelo próprio Edu juntamente com Marília Medalha, recebeu acompanhamento de dois grupos de feras, o Momento Quatro (Zé Rodrix, Ricardo Villas, David Tygel e Maurício Maestro, esses dois futuros membros do Boca Livre) e o Quarteto Novo (Hermeto, Airto Moreira, Heraldo do Monte e Theo de Barros). A canção foi lançada em compacto simples. Edu que, ao contrário dos demais nomes revelados pelos festivais, era avesso ao estrelismo, deixou a fama de lado, abandonou tudo e foi para os EUA aperfeiçoar-se musicalmente. Em sua volta ao Brasil, destacou-se com sua parceria com Chico Buarque com um dos mais belos álbuns da MPB, O GRANDE CIRCO MÍSTICO. A música recebeu muitas versões instrumentais: Quarteto Novo, Pascoal Meirelles, Ulisses Rocha, Adauto Santos, Gilson Peranzzettta, Hamilton de Holanda, Hélio Delmiro, Radamés Gnatalli, Zimbo Trio, Sivuca, Papete, Dom Um Romão, Walter Wanderley, Sérgio Mendes e Paul Mauriat.

 

17)                       ADONIRAN BARBOSA – SAUDOSA MALOCA

Ao lado de TREM DAS ONZE, esse é o grande sucesso do sambista que tem a cara de SP e possui diversos outros temas populares, SAMBA DO ARNESTO, IRACEMA, TIRO AO ÁLVARO, BOM DIA TRISTEZA (parceria com Vinícius de Morais), PAFUNÇA, NO MORRO DA CASA VERDE, TORRESMO A MILANESA e AS MARIPOSAS. Embora a música tenha sido composta em 1951 e gravada pelos Demônios da Garoa em 1957 (álbum homônimo), recebeu do próprio Adoniran em 1974, já sexagenário, um registro em LP, o primeiro de sua carreira. Nessa lancinante melodia, o poeta do Bixiga relata a aflição de pessoas humildes como Joca e Matogrosso que perderam suas referências ante o crescimento desordenado da cidade, despejados da maloca “dim-dim donde nós passemo os dias feliz de nossa vida”, derrubada para execução de um empreendimento imobiliário. Com sua iletrada linguagem coloquial, Adoniran retrata como poucos o drama de gente anônima que perambula pelas quebradas da metrópole paulistana. Regravada também por Marlene, Elis, Beth Carvalho, Mart’nália, Joyce Cândido, João Gilberto, João Bosco, Jair Rodrigues e Originais do Samba.    

 

18)                       PAULINHO DA VIOLA – SINAL FECHADO

Exemplos de sambas consagrados por Paulinho da Viola não faltam: FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA, DANÇA DA SOLIDÃO, GUARDEI MINHA VIOLA, CORAÇÃO LEVIANO, ARGUMENTO, TIMONEIRO, NERVOS DE AÇO (Lupicínio Rodrigues). Mas a genialidade do compositor extravasou o universo do samba em lances ousados como sua improvável parceria com o compositor vanguardista Arrigo Barnabé em TUBARÕES VOADORES. Ou em sua surpreendente composição SINAL FECHADO, ácida crítica à incomunicabilidade na vida moderna, com um arrojado arranjo instrumental e elementos sonoros que beiram o erudito. A música venceu o 5º Festival MPB da TV Record de 1969, ano em que esses eventos já estavam em baixa, e teve repercussão menor do que merecia. Saiu apenas em compacto simples, não incluída em nenhum álbum do sambista carioca. Chico Buarque prestou-lhe uma homenagem com ela batizando seu álbum de 1974 em que abre espaço para composições de outros autores, no qual faz uma bela releitura da canção. Regravaram também Fagner, Bethânia, Elis, Oswaldo Montenegro, MPB-4, Alaíde Costa com Cida Moreyra, Badi Assad, Zizi Possi, Vanusa e Toquinho com Ornella Vanoni. 

 

19)                       GILBERTO GIL – REFAZENDA

Gilberto Gil já declarou não ser um Pelé nem nada, quando muito um Tostão. Injustas palavras daquele que é um dos mais brilhantes titulares da MPB. Começou fazendo canções engajadas como RODA e LOUVAÇÃO, tornou-se um dos próceres do tropicalismo, para reciclar e refazer tudo em REFAZENDA inaugurando a trilogia “RE” de REFAVELA e REALCE (mais REFESTANÇA com Rita Lee). Um disco celebrado por crítica e público como um dos melhores do artista baiano. Nele cede espaço para duas belas canções de Dominguinhos (TENHO SEDE e LAMENTO SERTANEJO), ao mesmo tempo desafia os tabus morais (PAI E MÃE) e assume seu lado esotérico com RETIROS ESPIRITUAIS e MEDITAÇÃO, reforçado pela capa onde um Gil zen de roupão ingere comida macrobiótica com hashi. A faixa que nomeia e direciona o álbum é uma ode ao sonho hippie de valorizar a simplicidade da natureza e ser guiado pela sabedoria do abacateiro. A canção foi regravada por Djavan, Quarteto em Cy, Tetê Espíndola, André Abujamra, Nação Zumbi, Trio Nordestino Marcelinho da Lua e Mauro Senise.

 

20)                       MARIA BETHÂNIA – BRINCAR DE VIVER

Ironicamente, uma das cantoras mais respeitadas da MPB, intérprete privilegiada dos grandes clássicos do nosso cancioneiro, tem como uma de suas canções mais veneradas um tema composto para um programa infantil da TV Globo, onde fazia o papel de fada. BRINCAR DE VIVER fez parte da trilha do especial Plunct Plact Zuum exibido em 1983. O programa é da safra em que o Vênus Platinada caprichava nas novelas e nos programas infantis sobretudo na parte musical, convocando grandes nomes da nossa música para exibir seu talento. Sob a direção de Guto Graça Mello, a trilha, além da música-tema, composta e interpretada por Raul Seixas, exibia Sérgio Sá, Fafá de Belém, Gang 90, Eduardo Dusek, Zé Rodrix e os humoristas Jô Soares e Zé Vasconcelos. Maria Bethânia foi brindada com a pérola de Guilherme Arantes inspirado numa melodia de Jon Lucien. A canção fez tanto sucesso que até hoje desfila na programação das FMs. Foi incluída em coletâneas de Bethânia inclusive numa que leva o nome da canção (de 1999). Outros que gravaram: Flávio Venturini, Cida Moreira, Evinha e LS Jack.

 

 

 

Confira a 2ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/03/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_27.html

 

 Confira a 3ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do.html


Confira a 4ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_17.html


Confira a 5ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_25.html

 

 



 

 

 

 

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