Segue a quarta parte da lista das 100 maiores músicas brasileiras do século XX:
61) SECOS & MOLHADOS – ROSA DE
HIROSHIMA
ROSA DE HIROSHIMA foi, ao lado de
SANGUE LATINO, o grande hit do primeiro álbum do grupo paulista com Ney
Matogrosso como vocalista, uma das obras primas certificadas da discografia
nacional. O álbum, que traz mais temas conhecidos (O VIRA, ASSIM ASSADO, O
PATRÃO NOSSO DE CADA DIA, FALA), além do reconhecimento da crítica, alcançou um
êxito comercial sem precedentes, com mais de um milhão de cópias vendidas. A melodia
de autoria do violonista Gerson Conrad sobre um poema de Vinícius de Morais foi
a única faixa não creditada ao líder do grupo, João Ricardo. Trata-se de um clamor
pacifista contra a barbárie das bombas atômicas lançadas sobre as cidades de
Hiroshima e Nagasaki no Japão que teve como saldo de 250 mil pessoas mortas
além das inumeráveis consequências advindas da radioatividade (“pensem nas
crianças mudas telepáticas, pensem nas meninas cegas inexatas, pensem nas
mulheres rotas alteradas, pensem nas feridas como rosas cálidas”). A rosa é
também uma metáfora para a imagem em forma de flor da explosão nuclear, a antítese
entre a beleza da flor e a repulsa do genocídio. Além de ser regravada por Ney
em disco solo, foi também registrada por Arnaldo Antunes, Rita Ribeiro &
Jussara Freire, pelos grupos Akundum, Salário Mínimo e Raices de America e pelo
músico argentino Pedro Aznar.
62) TOQUINHO – AQUARELA
Toquinho, exímio violonista,
tornou-se famoso especialmente por suas prestigiosas parcerias. Além de
Vinícius de Morais, com quem manteve uma duradoura dupla de sucesso (não apenas
no Brasil mas na Itália e na Argentina), tem colaborações com Chico, Benjor,
Paulinho da Viola, Belchior, Jane Duboc, Paulinho Nogueira, Guarnieri, Paulo
Vanzolini, MPB-4, Paulo Ricardo (RPM) e com o saxofonista japonês Sadao
Watanabe. Sobressaiu-se também por projetos voltados a crianças como diversas
composições de ARCA DE NOÉ, um dos mais conhecidos discos voltados para o
público infantil, e no álbum colaborativo CASA DE BRINQUEDOS (que revelou a
canção O CADERNO, interpretada por Chico Buarque). Mas com AQUARELA, o artista
paulistano atingiu o pico. Quando estava na Itália, Toquinho apresentou um
esboço da música (parceria com Vinícius) a dois compositores italianos Maurizio
Fabrizio (Mushi) e Guido Morra, que, em conjunto, criaram a canção ACQUARELLO.
Lançada no mercado italiano, fez um espantoso sucesso (ganhando disco de ouro).
Só então foi lançada no Brasil, onde o sucesso foi ainda maior, tornando-se um
dos mais famosos temas infantis. Faz parte do álbum homônimo de Toquinho
(1983).
63) CHICO SCIENCE & NAÇÃO ZUMBI –
A CIDADE
Quando lançaram o álbum DA LAMA AO
CAOS em 1994, Chico Science e o grupo Nação Zumbi não avaliaram a dimensão da revolução
estética e cultural que estavam desencadeando.
O disco tido como primeira manifestação do movimento “manguebeat”
influenciou toda uma geração de artistas sobretudo do Nordeste e se firmou como
uma das mais importantes obras das últimas décadas. Science sacudiu o panorama musical com sua
fusão de ritmos regionais como o maracatu e o frevo com sons universais como o
rock hardcore e o hip hop, privilegiando percussão e batidas. Nesse sentido, a
proposta foi mais radical que no álbum seguinte, AFROCIBERDELIA (mais pop e que
contém MARACATU ATÔMICO de Jorge Mautner). A faixa A CIDADE se sobressaiu,
contextualizando a metrópole como palco para os embates e disputa pelo poder às
custas de degradação e do caos urbano: “a cidade não para, a cidade só cresce,
o de cima sobe e o de baixo desce”. O modelo de dinâmica degenerativa foi
Recife, onde o artista nasceu e cresceu: “num dia de sol Recife acordou com a
mesma fedentina do dia anterior”. A canção foi regravada por Marina Lima,
Rebeca Matta e Mundo Livre S.A.
64) NANA CAYMMI – RESPOSTA AO TEMPO
Nana Caymmi sempre foi uma cantora
respeitável, com um repertório distinto e uma interpretação sóbria, sem
concessões. RESPOSTA AO TEMPO, sem abrir mão de seu seleto padrão, alcançou um resultado
excepcional, o maior sucesso da cantora carioca, assim como o álbum que a
contém (1998). É verdade que seu desempenho foi turbinado ao servir de tema de
abertura para a minissérie Hilda Furacão, mas isso é insuficiente para explicar
o imenso êxito que coroou o talento do maestro e pianista Cristóvão Bastos que
já tinha composto uma década antes outra joia, TODO O SENTIMENTO, parceria com
Chico Buarque. Agora o parceiro foi outro letrista de mão cheia, Aldir Blanc
que confirmou seu dom especial para boleros (assim como DOIS PRA LÁ DOIS PRA
CÁ). RESPOSTA AO TEMPO é construída como um diálogo com o tempo que transcorre implacavelmente,
um tema (com perdão do trocadilho) atemporal.
O próprio Aldir registrou a canção em seu único álbum como intérprete,
VIDA NOTURNA (2005). A canção foi também regravada por Milton Nascimento,
Simone, Miúcha e Claudette Soares.
65) JARDS MACALÉ – MOVIMENTO DOS
BARCOS
Composição de dois músicos ligados à
primeira fase do tropicalismo, Jards Macalé e Capinan. Consta do primeiro disco
de Macalé de 1972 conhecido pela faixa de abertura, FARINHA DO DESPREZO (outra
parceria com Capinan), com participação dos cultuados Lanny Gordin na guitarra
e Tutty Moreno na batera (esposo da cantora Joyce). A melodia melancólica
(sentimento que prevalece ao longo do álbum), foi composta por Macalé após se
afastar do movimento tropicalista. A bela letra de Capinan (conhecido do grande
público pelas parcerias com Edu Lobo em PONTEIO e com Gil em SOY LOCO POR TI
AMERICA) ressalta que “é impossível levar um barco sem temporais”. A mesma
dupla iria compor a impactante GOTHAM CITY, apresentada por Macalé no FIC de
1968 da Globo. MOVIMENTO DOS BARCOS, apresentada também por Macalé no show
Phono 73, foi mal recebida pela plateia
que não se sensibilizou ante as sutilezas tecidas pelo violão do músico carioca.
Mas foi reabilitada na voz de Bethânia que a gravou em três álbuns: ROSA DOS
VENTOS (1971), DRAMA 3º ATO (1973) e DENTRO DO MAR TEM RIO (2007), sempre ao
vivo. Foi regravada também por Toni Platão, Maria da Paz e grupo Ava.
66) CAZUZA – CODINOME BEIJA-FLOR
Líder do consagrado Barão Vermelho,
banda de ponta do chamado BRock (rock dos anos 80), Cazuza ambicionava novos
caminhos, tendo se aventurado com o álbum EXAGERADO (1985) em uma incerta
carreira solo. Já de cara, rompeu paradigmas com essa reflexiva canção
romântica que viria a se tornar um de seus maiores hits, onde, ao invés da
guitarra, sobressaem-se os teclados conduzidos por Nico Rezende. Escrita no
quarto de um hospital, de onde avistava um renitente beija-flor à janela que
diariamente o visitava, recebeu um arranjo intimista proposto pelo crítico
Ezequiel Neves (coautor ao lado de Reinaldo Arias e do próprio Cazuza). A singela
letra provocou discussões por incluir uma indecifrável (mas instigante)
expressão “só eu que podia, dentro de sua orelha fria, dizer segredos de
liquidificador” (?). A canção passou dois anos figurando entre as mais
executadas no rádio e recebeu mais de 70 regravações das quais se destacam a de
Luiz Melodia, Barão Vermelho, Fábio Jr, Wando, Ângela & Cauby, Emílio
Santiago, Simone, Joanna, Leila Pinheiro, Ana Cañas, Diogo Nogueira, Pedro
Mariano, Gian & Giovani, Simony e Richard Clayderman.
67) IVAN LINS – ABRE ALAS
Essa canção inaugura uma longa coleção
de parcerias entre Ivan e Vítor Martins que inclui: BANDEIRA DO DIVINO, DINORAH
DINORAH, CARTOMANTE, DESESPERAR JAMAIS, SOMOS TODOS IGUAIS NESTA NOITE, COMEÇAR
DE NOVO, VITORIOSA, ITUVERAVA etc. Foi também a primeira de uma série de
canções contestatórias de Ivan, ressaltando a falta de liberdade (“encoste essa
porta que a nossa conversa não pode vazar; a vida não era assim, não era assim”)
e a esperança por melhores tempos (“abre alas pra minha folia, já está chegando
a hora”). Rompe assim a falsa imagem de ufanismo criada com O AMOR É O MEU
PAÍS, 2º lugar no FIC de 1970, em plena vigência do regime militar. Nesse mesmo
ano, Elis gravaria MADALENA, uma de suas mais famosas composições, abrindo
espaço para a exitosa carreira do artista carioca. ABRE ALAS, com uma abertura
de piano que remete aos clássicos do Clube da Esquina, integra o álbum MODO
LIVRE (1974). Regravada por Quarteto em Cy, Pery Ribeiro, Tânia Maria, Carol
Saboya, MPB-4, Claudette Soares, Leny Andrade, Lani Hall e Sarah Vaughn.
68) ELOMAR – O VIOLEIRO
Ainda que Elomar seja um dos maiores
artistas da nossa música, o valor da obra do cantador é por poucos reconhecido,
devido a suas características pouco convencionais. Integrando o erudito com o
regional, utiliza-se de uma linguagem dialetal com termos herdados da tradição
árabe e ibérica incorporados à cultura nordestina pela colonização portuguesa
(“cantadô di trovas i martelo di gabinete, lijêra i moirão”). Como resultado de
sua vivência no sertão baiano, afastado da civilização, aborda tópicos como a
religiosidade, o folclore, a natureza, a problemática social e temas universais
como o amor. A maneira singular como dedilha o violão subverte os padrões a que
nossos ouvidos estão acostumados, embora uma única audição baste para cativar o
ouvinte pela sua beleza e originalidade. Seu primeiro álbum, ...DAS BARRANCAS
DO RIO GAVIÃO (1972) o único lançado por uma grande gravadora, a Polygram reúne
12 composições próprias tendo merecido na contracapa uma especial apresentação
de um ilustre fã: Vinícius de Moraes. O VIOLEIRO, faixa que abre o disco tem
versos que traduzem a sina do trovador: “apois pro cantador e o violeiro só hai
três coisa nesse mundo vão: amor, forria, viola, nunca dinheiro; viola, forria,
amor, dinheiro não.” A música foi também gravada por Fagner, Elba, Raices de
America, Tiago Pinheiro (com Marlui Miranda), Titane e Xangai.
69) SIDNEY MILLER – POIS É PRA QUÊ?
Ele costuma ser comparado a Chico
Buarque de quem foi contemporâneo. Exagero? Nara Leão (que tinha o dom de
revelar novos talentos) em seu álbum de 1967, VENTO DE MAIO gravou quatro
faixas do jovem Chico e cinco do jovem Sidney, incluindo O CIRCO, a de maior
sucesso. Destacava-se sobretudo (coisa rara) como letrista. No mais concorrido
de todos os festivais, o de 1967 da Record, sua composição A ESTRADA E O
VIOLEIRO faturou o prêmio de melhor letra, derrotando nesse quesito Chico,
Vinícius, Caetano, Gil, Edu Lobo, Vandré, Vítor Martins, Renato Teixeira, Tom
Zé e outros figurões da MPB. Sua promissora carreira terminou prematuramente
com sua morte por infarto aos 35 anos e apenas 3 álbuns gravados. O segundo, DO
GUARANI AO GUARANÁ (1968), teve participações ilustres (Nara, Paulinho da
Viola, Gal, MPB-4, Macalé) mas a faixa que se sobressaiu foi por ele mesmo
interpretada: a toada POIS É PRA QUÊ? A música que denota o desalento ante a
situação política no país tornou-se conhecida na voz do MPB-4 (álbum DE PALAVRA
EM PALAVRA de 1971).
70) MAYSA – BARQUINHO
Essa canção de Roberto Menescal e
Ronaldo Bôscoli marca uma mudança de temática da bossa nova antes focada em dramas
românticos, herança dos boleros e sambas-canção, passando a relevar aspectos despojados
da paisagem costeira de cidades como a do Rio de Janeiro com seu mar e suas
belezas naturais. Segundo consta, BARQUINHO foi inspirada num episódio em que
os autores ficaram à deriva em alto mar, sendo resgatados de volta ao cais. A
música de 1961 era para ser interpretada por Nara Leão, então com 19 anos,
namorada de Bôscoli. Todavia Maysa antecipou-se e roubou-lhe a música e o
namorado. Registrou-a no álbum homônimo (1961). A canção foi regravada por João
Gilberto, Pery Ribeiro, Paulinho Nogueira, Elis, Baden, Altamiro Carrilho, Jair
Rodrigues, Fernanda Takai, Rosana e Sandy. No exterior, por Andy Summers (com
Roberto Menescal), Peggy Lee, Kerry Allyson, Stacey Kent etc. E até pela indulgente Nara em 1986.
71) RUY MAURITY TRIO – SERAFIM E SEUS
FILHOS
Irmão do pianista Antonio Adolfo, Ruy
Maurity seguiu caminho bem diverso, dedicando-se à música regional. Há quem
diga que foi um dos precursores do chamado rock rural. Com DIA 5 venceu o
Festival Universitário de 1970 derrotando nomes como Ivan Lins, Gonzaguinha e Aldir
Blanc. Teve diversas canções escaladas para novelas da Globo (especialmente Fogo Sobre Terra). Mas ficou
conhecido mesmo pela belíssima SERAFIM E SEUS FILHOS de sua autoria (parceria
com José Jorge) do álbum EM BUSCA DO OURO (1972). Em 1976, Ruy registrou-a com novo arranjo no álbum
NEM OURO NEM PRATA e em 1980 criou uma continuação, ARTIMANHAS DE LOURENÇO
FILHO DE SERAFIM, mantendo a mesma melodia com nova letra. Mas a gravação
original é a que se eternizou. A música explora o mundo mágico e as lendas reprodutoras
do imaginário do homem do interior. Com base no folclore, narra a saga de Serafim e
seus 4 filhos bandoleiros, o menor dos quais afastou-se do grupo e foi por isso
assassinado pelo pai, voltando sob a forma de lobisomem para aterrorizar a
família. Essa canção tornou-se um clássico no gênero sendo encampada por várias
versões incluindo sertanejos: Eduardo Costa, Zezé di Camargo & Luciano,
Sérgio Reis, Amado Batista, Trio Esperança e Grupo Tarancón.
72) RITA LEE –DOCE VAMPIRO
Rita Lee reinou como rainha do rock desde
que se separou d’Os Mutantes. Com o álbum lançado em 1979, identificado pela
primeira faixa MANIA DE VOCÊ, entra numa nova frase (embora o rock ainda se faça
presente como em PAPAI ME EMPRESTA O CARRO), explorando novos ritmos e criando
temas com intensidade romântica e sensual, efeito de sua fervorosa relação
amorosa com seu marido e colaborador, o guitarrista Roberto de Carvalho. Mas a
veia transgressora, desbocada e criativa da ‘ovelha negra’ permanece lá. Isso
transparece em CHEGA MAIS, MANIA DE VOCÊ e DOCE VAMPIRO. As três tornaram-se
megahits, mas DOCE VAMPIRO foi a que melhor se preservou dos efeitos do tempo, fazendo
jus à ideia de que o maléfico ser não envelhece, ou mais provavelmente por
tratar da imemorial associação entre vampirismo e erotismo (“brindando a morte
e fazendo amor”). Rita compôs essa canção (a única do álbum de sua exclusiva
autoria), segundo consta, quando solitária no quarto em sua casa em SP imaginou
a chegada de Roberto que vivia no RJ, entrando pela janela como se fosse um
vampiro. Foi regravada por Ney Matogrosso e Ná Ozzetti.
73) MPB-4 –AMIGO É PRA ESSAS COISAS
Canção que marcou para sempre a
genialidade do então novato Aldir Blanc (em parceria com Sílvio da Silva Jr)
com uma irrepreensível interpretação do MPB-4 que narra um diálogo entre dois
amigos na mesa de bar em que um deles confidencia suas desventuras e
desesperança enquanto o outro procura animá-lo. A canção ficou em 2º lugar no
Festival Universitário da TV Tupi de 1970 e saiu no álbum DEIXA ESTAR (mesmo
ano) do conjunto carioca. Foi também registrada pelas duplas Ruy Faria (ex-MPB-4)/Chico
Buarque, Ruy Faria/Carlinhos Vergueiro e
Emílio Santiago/João Nogueira. A mesma dupla de compositores criou uma
continuação bem humorada também interpretada pelo MPB-4, onde os mesmos amigos
voltam a se encontrar em novas circunstâncias já num clima descontraído de abertura
política: AMIGO DA ONÇA no álbum BONS TEMPOS HEIN?! (1979).
74) PENA BRANCA E XAVANTINHO – O CIO
DA TERRA
A dupla Chico/Milton que em 1976 já
produzira O QUE SERÁ?, foi responsável por outra deslumbrante canção, O CIO DA
TERRA. A melodia de Milton inspirou-se em grupos folclóricos chilenos e no
canto das camponesas envolvidas na colheita do algodão no Vale do Rio Doce , à
que Chico apôs uma letra para comemorar o movimento sindical que se organizava
no país com a abertura política no ano de 1977. A música foi lançada
originalmente como lado B de um compacto, onde o lado A continha PRIMEIRO DE
MAIO, outra composição da dupla, menos conhecida. Ambas são interpretadas em
dueto pelos autores. O CIO DA TERRA, em poucos versos, sublinha a sagrada relação
entre o agricultor e a terra a qual retribui com provimentos o labor nela despendido
pelo trabalhador rural, respeitando seus ciclos: “afagar a terra, conhecer os
desejos da terra, cio da terra, a propícia estação e fecundar o chão”. A canção
ganhou ainda mais autenticidade ao ser interpretada pela dupla Pena Branca e
Xavantinho, especializada em divulgar a genuína música sertaneja. Ingressou em
seu álbum CIO DA TERRA produzido por Tavinho Moura com participação de Milton e
Marcus Viana. A canção foi também gravada por Bethânia com Omara Portuondo,
Mercedes Sosa, Raices de America, Uakti, MPB-4, Quarteto em Cy, Banda de Pau e
Corda, Tetê Espíndola, Sérgio Reis, Christian & Ralf e Chico Rey &
Paraná.
75) ROUPA NOVA – SAPATO VELHO
Quem avalia a carreira do Roupa Nova
por suas canções românticas de apelo popular, talvez não imagine que o grupo
também se sobressai no quesito qualidade (com músicos habilidosos e um
competente trabalho vocal). E tem pedigree: nasceu apadrinhado por ninguém
menos do que Milton Nascimento, admirador de primeira hora, que aliás ajudou a
batizar o grupo com o título de uma de suas canções. Seu primeiro álbum de 1981
permanece como a mais honesta referência do grupo. O disco traz os dois
primeiros hits: CANÇÃO DE VERÃO (Luiz Guedes e Thomas Roth) e SAPATO VELHO (Mú,
Paulinho Tapajós e Claudio Nucci), certamente um dos mais belos exemplares da
MPB. Frente aos mirabolantes números que o grupo ostenta em seu currículo, o
humilde álbum de 1981 com suas modestas vendas de 15 mil cópias traduz com
perfeição o que dizem as palavras de SAPATO VELHO: “Você lembra, lembra daquele
tempo, eu tinha estrelas nos olhos, um jeito de herói, era mais forte e veloz
que qualquer mocinho de cowboy (...) Talvez eu seja simplesmente como um sapato
velho mas ainda sirvo se você quiser, basta você me calçar que eu aqueço o frio
dos seus pés”. Foi também gravada por Cláudio Nucci, Paulinho Tapajós, A Cor do
Som, Markinhos Moura e Quarteto em Cy.
76) WANDO – FOGO E PAIXÃO
Nesses tempos de demolição de dogmas,
o que há pouco era tido como cafona, vem sendo ressignificado pelos novos
padrões de aceitação. Com a eclosão de músicas de baixíssimo padrão, chegou-se
à conclusão que o antigo brega afinal de contas não era assim tão ruim. Wando,
representante máximo dessa vertente, por exemplo, sempre foi marginalizado pela
MPB devido a seus temas românticos de apelo popular que mais tarde passaram a
resvalar para o erotismo e a obscenidade com a distribuição de calcinhas em
seus shows. FOGO E PAIXÃO, com seus grudentos (e geniais) versos de abertura:
“você é luz, é raio, estrela e luar, manhã de sol, meu iaiá, meu ioiô”, sua
música mais adorada, foi lançada no álbum VULGAR E COMUM É NÃO MORRER DE AMOR (título
que denota uma resposta a seus críticos) de 1985. A música foi de sua autoria
juntamente com sua mulher Rose, mas o cantor cavalheirescamente quis destinar
os créditos apenas a ela. Foi regravada pelos Demônios da Garoa, Originais do
Samba, Raça Negra, Edith Veiga, Reginaldo Rossi, Fábio Jr, Zeca Baleiro e Nando
Reis.
77) GONZAGUINHA – O QUE É O QUE É
Uma ode à esperança e à alegria. Essa
canção, presente no álbum CAMINHOS DO CORAÇÃO (1982) marca uma mudança radical
de postura de Gonzaguinha: “É a vida e é bonita, é bonita (...) viver e não ter
a vergonha de ser feliz” diz o refrão. Nem parece o mesmo compositor que nove
anos antes proferia com rancor: “tudo vai bem, tudo legal, cerveja, samba e
amanhã seu Zé se acabarem com seu Carnaval?” em COMPORTAMENTO GERAL, canção que
o deixou visado pelo DOPS, órgão de repressão aos opositores do governo
militar, mas também moldou ao jovem filho de Luiz Gonzaga (reconhecido como
Luiz Gonzaga Jr) a imagem de um sujeito amargo e pessimista. Com a abertura
política, já reconhecido como “Gonzaguinha”, o artista carioca passou a focar
mais temas românticos, gravados por cantoras como Bethânia, Elis, Gal, Simone e
Joanna. Ficou de bem com a vida, a mesma que lhe foi trágica e ironicamente
tirada num acidente automobilístico aos 45 anos. O QUE É... foi gravada por seu
filho Daniel Gonzaga e também por Zizi Possi, Beth Carvalho, Bethânia, Diogo
Nogueira, Emílio Santiago, MPB-4, Margareth Menezes, Zé Ramalho, e Padre Fábio
Mello.
78) LENO & LÍLIAN – EU NÃO SABIA
QUE VOCÊ EXISTIA
Adriana Calcanhotto foi responsável
por resgatar um dos maiores êxitos da Jovem Guarda, DEVOLVA-ME. O compacto com
a canção interpretada por Leno & Lílian que tinha do outro lado, POBRE
MENINA, outro grande sucesso, manteve-se por semanas no pico das paradas de
sucesso. DEVOLVA-ME é da autoria de Lílian (Knapp) com Renato Barros, líder do
grupo Renato & Seus Blue Caps. O músico e compositor que, aliás, era
namorado da cantora, foi autor de outro inesquecível sucesso da dupla lançado
em seguida, EU NÃO SABIA QUE VOCÊ
EXISTIA, com Pedrinho da Luz dos Fevers arrepiando na guitarra. As três canções
entraram no primeiro álbum de L&L de 1966. No ano seguinte, antes do lançamento do 2º LP,
a dupla se desfez. Mais tarde, sob o comando de Raul Seixas (na época,
Raulzito), voltaram a se reunir mas sem o mesmo brilho. Seguindo carreira solo,
Lilian Knapp teve dois discos de sucesso enquanto Leno passou a ser Gileno buscou
novos rumos musicais. EU NÃO SABIA... foi regravada por Renato & seus Blue
Caps, Os Vips, The Fevers, Jane & Herondy, José Augusto, Angélica, Zé
Renato e Arrigo Barnabé.
79) MILTON BANANA TRIO – CIDADE VAZIA
O baterista Milton Banana marcou
presença em momentos chave da história bossa nova como a gravação original de
CHEGA DE SAUDADE com João Gilberto (1959), no show BOSSA NOVA AT CARNEGIE HALL
(1962) e no álbum GETZ/GILBERTO, o disco que expandiu o ritmo para o mundo (1964).
Comandou uma banda, algo insólito para um baterista, o Milton Banana Trio.
Entre os mais de 20 álbuns gravados pelo grupo, destaca-se BALANÇANDO COM
MILTON BANANA TRIO (1966), conjunto composto à época por Cido Bianchi ao piano
e Mário Augusto no contrabaixo (formação que depois se alteraria), que traz
essa pérola do samba-jazz, CIDADE VAZIA, composição de Baden Powell com letra
de Lula (Luís Fernando) Freire. A música foi gravada inicialmente por Elizeth
Cardoso no álbum MUITO ELIZETH (1966), porém foi a eletrizante versão
instrumental de Milton Banana que a consagrou. Foi também registrada pelo
próprio Baden no álbum BADEN POWELL QUARTET VOL. 2 (1970), pelo Zimbo Trio,
pelo SOM 3 de César Camargo Mariano, por Amilton Godoy e Leo Gandelman. Djalma
Dias com Sambossa 5 e Marianna Leporace fizeram a versão cantada.
80) CAPITAL INICIAL – PRIMEIROS ERROS
Kiko Zambianchi ficou surpreso quando
foi convidado para participar de um álbum ao vivo do grupo Capital Inicial
patrocinado pela MTV com seu maior sucesso, PRIMEIROS ERROS, também conhecida
como CHOVE. Faz aí uma analogia entre erros que cometemos e a ausência de sol,
mas a mudança é difícil pois “só chove, chove, chove, chove”. A música fora
gravada com sucesso pelo autor no seu álbum de estreia, CHOQUE (1985), e a
cantora Simony acabara de lançar um cover. CHOVE Parecia já ter rendido o que
podia. O Capital também não estava nos melhores tempos. Vinha em trajetória
descendente e o vocalista Dinho Ouro Preto que abandonara o grupo para tentar
carreira solo, retornara para participar do referido álbum e reerguer o grupo.
Contrariando todas as expectativas, o ACÚSTICO do Capital foi um arraso, um dos
mais bem sucedidos do projeto MTV. E PRIMEIROS ERROS acabou se tornando surpreendentemente
o grande sucesso do álbum a ponto de muitos julgarem tratar-se de uma
composição do grupo brasiliense. Lobão regravou-a em 2018 em seu álbum
ANTOLOGIA POLITICAMENTE INCORRETA...
Confira a 1ª parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/03/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do.html
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/03/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_27.html
Confira a 3ª parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do.html
Confira a 5ª parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2022/04/as-100-maiores-musicas-brasileiras-do_25.html
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