domingo, 7 de agosto de 2022

MULHER

 Minha porção mulher, que até então se resguardara, é a porção melhor que trago em mim agora, é a que me faz viver (Gilberto Gil, Super-Homem)

A humanidade vem sendo regida há milhões de anos pelo macho da espécie. Chegou a hora de reconhecer: não deu certo! Como genuíno representante do sexo masculino, declaro peremptoriamente que entrego os pontos. Desisto! Nós, homens, já fizemos cagadas suficientes. De minha parte, anuncio que passo o bastão às mulheres a quem humildemente me submeto, elegendo-as para cargos de comando e alçando-as a todas as atividades que envolvam exercício de poder (aqui em casa, a Cici que o diga). Pior do que está não vai ficar. Sei que não serei acompanhado por outros da minha estirpe pois conheço bem o tipinho que encarno: viril, orgulhoso, não dá o braço a torcer.

Tenho um argumento infalível pra convencer meus iguais. Já que você, ô marmanjo, não tem brio suficiente para admitir sua incompetência, pense nos seus filhos e netos. Se você os ama, dê-lhes ao menos a oportunidade de terem um futuro nesse mundo em frangalhos que sua gestão infeliz produziu.   

Não imagino, por exemplo, que alguma mulher faria a insanidade de lançar bombas em cidades, assassinar adversários em massa, promover chacinas e genocídios, cultuar armas e perpetrar outras bárbaras atrocidades a seus semelhantes. As exceções que me recordo são as mulheres-bomba, que agiram a mando de... homens.

Ou viramos a mesa ou o dito “homem” - por extensão, a raça humana, aí incluídas não apenas as mulheres mas as inúmeras categorias sexuais intermediárias emergentes - estará em poucas dezenas de anos extinto do planeta.

O mundo como hoje conhecemos, vulnerável a vírus letais, ameaça nuclear, tragédia social, apocalipse ambiental, foi uma construção masculina, tem a face grotesca e brutal do inepto bicho-homem. Ou colocamo-lo sob nova administração, ou dito cujo já era.

Trata-se de uma constatação lógica e me admira que a grande maioria dos indivíduos (especialmente aqueles que se orgulham mais do seu pênis do que do seu cérebro) não tenha ainda chegado a essa conclusão tão evidente.

Alguns machos deslumbrados hão de argumentar, ufanistas: “Como assim? E as imensas conquistas da nossa civilização, os avanços da ciência e da tecnologia, a qualidade de vida que hoje desfrutamos?” Do que você está falando, cara pálida? Você acha que compensa viver até os 100 anos, amedrontado, numa redoma plastificada cheia de artificialidades, em condomínios fortificados, com ar condicionado para enfrentar o aquecimento global e celular 5G para compensar sua incapacidade de sociabilização? Fala sério!

Não, não estou me rendendo às teses feministas. A pauta pela sociedade igualitária não me fascina. Homem e mulher são seres biológica e psicologicamente distintos. O homem prima pela força física, pela razão, pela lógica. Já o chamado “sexo frágil” (que piada!) distingue-se pela formosura, pela sensibilidade, pela intuição, pela resiliência. Por ter o atributo da força, o gostosão impõe-se à delicada mulher que se submete a seu algoz que usa da bestial violência para ditar suas regras. 200 mil anos de civilização não foram suficientes para revogar a lei do tacape.

O capitalismo adaptou-se perfeitamente ao patriarcado e definiu o papel de cada gênero no sistema. Ao homem, ‘chefe’ da prole, cabe negociar suas habilidades no mercado de trabalho e com a grana obtida, sustentar os gastos domésticos. A mulher fica em casa lavando louça, limpando a privada e cuidando das crianças, trabalhos ‘inferiores’ sem remuneração, não monetizados pelo mercado. Que sistema hipócrita! Gratifica apenas as atividades que interessam ao capital, exercidas pelo membro empoderado do casal. A fêmea desempenha a incumbência ‘acessória’ de amamentar o bebê e manter estruturado o lar, sendo dependente financeiramente do varão folgado que se embebeda e farreia nos botequins. Sejamos honestos: isso é uma deslavada exploração de mão-de-obra.

A natureza concedeu à mulher uma função muito mais nobre e, para que ela a exerça com louvor, não precisa ocupar o espaço do homem. Se pleitear isso, estará admitindo que os valores masculinos são superiores. O que é preciso é que seja reconhecida a importância do seu papel, muito mais imprescindível que o do provedor financeiro.

A mulher para brilhar não tem que ser cientista, filósofa, soldada, enxadrista, jogar futebol, lutar muay thay. Deixe os homens se sobressaírem nessas áreas. As damas têm habilidades muito mais indispensáveis na preservação do equilíbrio social do que as dos vagabundos, inclusive a principal de todas: gerar a vida.

Por isso, caro amigo e cara amiga, está na hora de corrigir o rumo e mudar as regras do jogo. A começar por redefinir quem deve dar as cartas.

 

 

 

11 comentários:

Lia Q. Amaral disse...

FINALMENTE !!!!!!!!

Mônica Silveira disse...

Bela crônica. Achei muito bacana dizer que o homem já ficou tempo de mais no comando e o resultado foi esse mundo violento, ganancioso, desigual. Muitas mulheres contribuíram para isso também. Mas a mulher de hoje está muito bem preparada para reger o mundo.

Anônimo disse...

Adorei!!

Anônimo disse...

😅

Anônimo disse...

Amar com reciprocidade sem achar que está fazendo "demais" um pelo outro. Deixar o egoísmo e a vaidade .

Anônimo disse...

Muito bom ! 👏👏👏

Anônimo disse...

Essa sua crônica é excelente!! Parabéns! E obrigada por esse olhar!

Andrea disse...

Parabéns Sérgio pelo excelente texto

Andrea disse...

Parabéns Sérgio pelo excelente texto

Britto disse...

É tudo isso que você disse, 99%, que a unanimidade, sabemos, é burra. Enfim, na próxima encarnação quero vir mulher, pra na hora que eu quiser dar, todo mundo querer me comer, e eu escolher. Hoje, na condição masculina, quero dar pra elas, mas é a maior dificuldade que queiram me comer. Ah, isso não tá certo! rsrs

Anônimo disse...

Mais uma vez, uma bela crônica. É bacana ver que tem homem que reconhece a necessidade da condução feminina nesse planeta, sem priorizar guerras, exploração, devastação e destruição em prol do lucro financeiro. Só acho que mesmo tendo a importância da maternidade e da organizacao do lar, a mulher pode ser o que quiser e tenha vocação para tal. Aliás muitas das conquistas científicas atribuídas aos homens, também foram realizadas por mulheres, muitas vezes com seus nomes omitidos. Mas com certeza parabenizo e agradeço nosso cronista Sérgio pela sua crônica, como sempre muito bem escrita.