sábado, 15 de agosto de 2020

ROCK BRASIL – OS 100 MAIORES ROCKS DO SÉCULO XX (1ª PARTE)

 

O presente trabalho é resultado de exaustivo levantamento referente às preferências de apreciadores de música e no universo fonográfico. O objetivo foi selecionar as canções que se tornaram os símbolos do rock ‘brazuca’ e fizeram a cabeça de gerações de roqueiros dentro do gênero, segundo dois aspectos: 1) receptividade do público traduzida por vendas e execução nas rádios; 2) relevância dentro do cenário musical.

Dois critérios foram estabelecidos:

1)   Apenas canções do período de 1959 (lançamento do programa “Crush in Hi Fi” na TV Record, apresentado pelos irmãos Tony e Celly Campello) a 2000. Com isso, ficam sacrificadas canções mais recentes.

2)   Cada intérprete terá direito a apenas uma canção. Portanto, o mais preciso teria sido nomear a matéria como: OS MAIORES NOMES DO ROCK NACIONAL E SUAS PRINCIPAIS MÚSICAS.

 

1)   RAUL SEIXAS – SOCIEDADE ALTERNATIVA

 

Não há como contestar: o “maluco beleza”, mais do que o maior expoente, é a própria encarnação do rock. Nem por isso deixou de afirmar sua brasilidade, não apenas pelos temas do repertório (como em ALUGA-SE) como pelos ritmos como o baião infundido em suas músicas. Mas o rock sempre esteve presente, desde sua atuação nos primórdios da Jovem Guarda (de que, com o tempo, procurou se desvencilhar), consubstanciado com o álbum RAULZITO E OS PANTERAS, até projetos ousados e vanguardistas como A SOCIEDADE DA GRÃ-ORDEM KAVERNISTA. Tem tantos hits significantes que é praticamente impossível pinçar um só representante: OURO DE TOLO, GITA, METAMORFOSE AMBULANTE, ROCK DAS ARANHAS, AL CAPONE, MOSCA NA SOPA, O DIA EM QUE A TERRA PAROU, COWBOY FORA DA LEI. O álbum GITA (1974) foi o de maior sucesso comercial e um dos preferidos dos críticos. Nele, SOCIEDADE ALTERNATIVA (parceria com Paulo Coelho) que, além do eletrizante, transformou-se numa loa para a utopia. A proposta era criar uma sociedade thelêmica  que saísse dos parâmetros vigentes, em sintonia com o pensamento hippie e a Era de Aquário: “faz o que tu queres pois é tudo da lei”. O fato é que os militares no poder julgaram a proposta subversiva e Raul e Paulo tiveram que se exilar no exterior.

 

2)   OS MUTANTES – BALADA DO LOUCO


Os Mutantes surgiram na época do tropicalismo com intensa participação nos famosos festivais. Sua postura iconoclasta, o vanguardismo, a criatividade e sua significância cultural qualificam o grupo paulista como o mais importante do rock brazuca de todos os tempos. A formação clássica com Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias perdurou pelos 5 primeiros álbuns e revelou algumas canções que se tornaram antológicas:  PANIS ET CIRCENSES, 2001, DOM QUIXOTE, CAMINHANTE NOTURNO, NÃO VÁ SE PERDER POR AÍ, ANDO MEIO DESLIGADO e BALADA DO LOUCO (do álbum NO PAÍS DOS BAURETS  de 1972), que voltaria a se tornar sucesso na interpretação de Ney Matogrosso 14 anos depois.

 

 3)   RITA LEE – OVELHA NEGRA

 

Rita Lee tem importância dupla para o rock nacional. Como vocalista d’Os Mutantes, a maior e mais inovadora banda brasileira de rock, e por sua profícua carreira solo, que a habilita a figurar entre os grandes stars da nossa música. A autobiográfica OVELHA NEGRA é sua mais genuína representante, revelando sua exclusão do seio familiar em vista do comportamento rebelde. Segundo alguns, foi também um desabafo ante sua “expulsão” d’Os Mutantes que, a partir de sua saída, adotaram outra linha musical. O álbum FRUTO PROIBIDO (1975) que a contém, embora não tenha sido o mais vendido da carreira de Rita (fica abaixo de LANÇA PERFUME, SAÚDE, MANIA DE VOCÊ e BOMBOM), indubitavelmente foi o mais importante e elogiado, entronizando Rita a rainha do rock brasileiro.

 

 4)   LEGIÃO URBANA – QUE PAÍS É ESTE?


Essa canção, utilizada em comícios promovidos por partidários das mais diversas correntes políticas, tornou-se um hino. Foi também a música nacional mais tocada em 1987, ano em que foi lançado no álbum homônimo, o terceiro do grupo, o qual também traz a quilométrica FAROESTE CABOCLO, uma saga de 9 minutos (nos moldes de HURRICANE de Bob Dylan) que subverteu os padrões radiofônicos de músicas. QUE PAíS... foi composta por Renato Russo antes da formação do Legião mas tristemente continua atual com seus versos “ninguém respeita a Constituição mas todos acreditam no futuro da Nação”. A canção sobressai-se em meio a dezenas de hits do conjunto, o segundo que mais vendeu discos no país (atrás apenas dos pagodeiros do Raça Negra).

 

 5)   SEPULTURA – RATAMAHATTA


O Sepultura, cantando em inglês, com um repertório calcado no thrash metal, seguindo a trilha de grandes bandas internacionais, poderia ser considerado um representante do rock “brasileiro”? O fato é que o grupo criado em BH pelos irmãos Max e Igor Cavalera, ainda que detenha um respeitável séquito de fãs ‘intramuros’, tem o grosso de seu público no exterior, tornou-se “multinacional”. No entanto, o álbum ROOTS (1996), o mais importante do grupo, sucesso absoluto de vendas (e o último a contar com a presença de Max), deixa claro, a partir do título, os vínculos com suas origens. A faixa ITSÁRI teve até a presença de índios xavantes. Desse álbum, RATAMAHATTA, composta em parceria com Carlinhos Brown, com instrumentos de percussão como o berimbau, sons tribais e um sensacional videoclipe.

 

 6)   SECOS & MOLHADOS – SANGUE LATINO

 

O grupo de Ney Matogrosso, João Ricardo e Gérson Conrad teve um sucesso meteórico com seu álbum de estreia (1973), um dos mais vendidos até hoje que marcou uma verdadeira revolução estética e musical. O grupo pode ser considerado o maior representante tupiniquim do glam rock com suas maquiagens e deslumbrantes apresentações ao vivo de Ney. SANGUE LATINO, a faixa de abertura, de apenas 2 minutos, foi sucesso instantâneo. O álbum traz também FALA, O VIRA, ASSIM ASSADO, PATRÃO NOSSO DE CADA DIA e ROSA DE HIROSHIMA (sobre um poema de Vinícius de Morais). Com a mesma formação básica, o grupo lançou um segundo (e último) trabalho que, embora excelente, não teve a mesma repercussão com apenas um hit: FLORES ASTRAIS.

 

7)   ROBERTO CARLOS – É PROIBIDO FUMAR

 

O repertório de hoje do “Rei” está bem distante do rock. Mas em sua fase inicial (em que era também o rei da Jovem Guarda), Roberto tem músicas antológicas que marcaram a fase embrionária do rock nacional. Aos poucos, o ‘Brasa’ passou a substituir seus insolentes e rebeldes temas juvenis por romantismo e religião. Da época de ouro, QUERO QUE VÁ TUDO PARA O INFERNO, AS CURVAS DA ESTRADA DE SANTOS, SPLISH SPLASH, PAREI NA CONTRAMÃO etc. O álbum É PROIBIDO FUMAR (1964) contém duas dessas pérolas: O CALHAMBEQUE (versão de Road Hog) e a faixa-título, composta em parceria com Erasmo Carlos.

 

8)   TITÃS – SONÍFERA ILHA


Quem escuta hoje essa cândida canção, single que marcou o debute fonográfico do grupo paulista, jamais imaginaria o petardo que viria com o álbum CABEÇA DINOSSAURO que trazia temas arrasadores como POLÍCIA, IGREJA, ESTADO VIOLÊNCIA, PORRADA, BICHOS ESCROTOS e HOMEM PRIMATA. Incluída como faixa de abertura do álbum de esteia do grupo (1984), SONÍFERA ILHA é cantada por Paulo Miklos e com André Jung atuando na bateria, posto que seria em seguida ocupado por Charles Gavin que ainda não havia ingressado na banda.

 

9)   CHICO SCIENCE & NAÇÃO ZUMBI - A CIDADE


A morte prematura de Chico Science interrompeu a carreira daquele que prometia ser um dos mais versáteis artistas do país. Com apenas dois álbuns gravados, ambos bastante celebrados, Science conseguiu influenciar toda uma geração de artistas sobretudo do Nordeste. O álbum DA LAMA AO CAOS (1994), reputado o gérmen do manguebeat, mescla rock, funk e hip hop com ritmos tradicionais do Nordeste. A CIDADE que trata das mazelas urbanas é o maior sucesso desse álbum. Em AFROCIBERDELIA, o segundo disco, a releitura do clássico MARACATU ATÔMICO de Jorge Mautner.

 

10) PARALAMAS DO SUCESSO – UMA BRASILEIRA

 

O grupo carioca formado por Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, embora seja primordialmente uma banda de rock (sobretudo no começo), passou a agregar ska, reggae e ritmos latinos (o que lhe valeu grande penetração no mercado latino-americano) e a incluir instrumentos de sopro. Tornou-se bastante também cultuado pela tribo da MPB. Duas canções merecem destaque: ALAGADOS do álbum SELVAGEM? (1986), que trata da precária situação dos favelados e UMA BRASILEIRA, contida no álbum ao vivo VÂMO BATÊ LATA de 1995 (que bateu a marca de 1 milhão de cópias), composta por Vianna e Carlinhos Brown com Djavan no vocal.

 

11)CAZUZA- EXAGERADO

 

Ao lado de Frejat, Cazuza era o cerne do Barão Vermelho. Porém a necessidade de dar vazão a seus impulsos criativos individuais fez com que ele partisse para a carreira solo. Em ambas as fases, o cantor e compositor brilhou. Seu álbum inicial, EXAGERADO (1985) que contém a faixa homônima (parceria com Leoni e Ezequiel Neves) e outro grande hit, CODINOME BEIJA-FLOR, teve vendas modestas que começaram a reagir enquanto a carreira do artista deslanchava com o estouro dos trabalhos seguintes (IDEOLOGIA e O TEMPO NÃO PARA).

 

12) IRA! - ENVELHEÇO NA CIDADE

 

A banda paulistana do guitarrista Edgard Scandurra e do vocalista Nasi surgiu com uma proposta bem radical através do álbum MUDANÇA DE COMPORTAMENTO, um dos marcos do rock dos 80´s, que continha a faixa NÚCLEO BASE. O álbum seguinte, VIVENDO E NÃO APRENDENDO (1986) marca um amadurecimento do som do grupo conquistando a aprovação da crítica e do público, tornando-se o mais vendido do conjunto. Três faixas destacam-se, POBRE PAULISTA, FLORES EM VOCÊ (tema de novela da Globo) e ENVELHEÇO NA CIDADE, o grande hit do grupo, todas composições de Scandurra, reiteradamente mencionado como o melhor guitarrista do país pelos sites especializados.

 

13) LOBÃO – ME CHAMA


Uma das mais conhecidas canções da música brasileira (gravada entre outros por Marina Lima, João Gilberto e até Nélson Gonçalves), foi lançada no segundo álbum de Lobão, RONALDO FOI PRA GUERRA (1984) quando o artista ainda contava com a banda de apoio Os Ronaldos, e nem era figura de destaque no cenário musical. Lobão, apesar de não ser grande vendedor de discos (apenas VIDA BANDIDA alcançou vendas expressivas), nunca saiu dos holofotes, seja por adotar uma posição pouco ortodoxa dentro do movimento roqueiro, flertando com a MPB e com o samba, por sua peleja com as gravadoras, por seus arroubos literários, por suas polêmicas declarações e pelos embates políticos.

 

14) RPM – RÁDIO PIRATA


O álbum REVOLUÇÕES POR MINUTO (1985) do RPM foi um dos mais elogiados, mais importantes e mais vendidos do rock oitentista nacional. Repleto de clássicos que marcaram o período como OLHAR 43, LOURAS GELADAS e ENTRE A CRUZ E A ESPADA. Destaque para a pulsante RÁDIO PIRATA com um ritmo arrebatador apoiado nos teclados de Schiavon e com uma letra contestatória do vocalista Paulo Ricardo (“invadir, pilhar, tomar o que é nosso, dinamitar o paiol de bobagens, no submundo repousa o repúdio, façam a revolução”).

 

15) CAPITAL INICIAL – INDEPENDÊNCIA


O Capital Inicial, após uma boa estreia com dois álbuns de relativo sucesso (o de 1986 e INDEPENDÊNCIA), apesar de suas evidentes qualidades, vinha perdendo fôlego, culminando com a saída do vocalista Dinho Ouro Preto que dava identidade à banda. O retorno de Dinho e o lançamento do ACÚSTICO MTV em 2000 marcaram a volta por cima. O álbum foi um arraso (um dos mais bem sucedidos do projeto MTV), revivendo hits do grupo, como INDEPENDÊNCIA do disco homônimo. O cover de PRIMEIROS ERROS de Kiko Zambianchi com a presença do mesmo resgatou o brilho da antiga canção.

 

16)BARÃO VERMELHO – BETE BALANÇO

 

Após estourar com o seu segundo álbum, puxado pela faixa PRO DIA NASCER FELIZ, o grupo carioca lançou MAIOR ABANDONADO (1999), quando, além de Frejat, ainda dispunha de Cazuza. Desse álbum, o destaque é BETE BALANÇO, por ambos composta para integrar a trilha do homônimo filme estrelado por Débora Bloch. A traumática saída de Cazuza foi superada pelo talento do resto da banda que a reconduziu à crista.

 

17)CÁSSIA ELLER – SEGUNDO SOL


A versátil e talentosa artista que se situa no limite entre o pop e o rock teve uma trajetória fulminante. Gravou Hendrix, Nirvana, Beatles, Stones, Joni Mitchell, Otis Redding, Billie Holiday, Ella Fitzgerald e Edith Piaf, afora um repertório nacional escolhido a dedo com as mais diversas correntes da MPB. Além de um álbum só com Cazuza, incluindo MALANDRAGEM, e outro só com Nando Reis de quem são outros dois grandes temas, RELICÁRIO e SEGUNDO SOL, esta presente no álbum COM VOCÊ... MEU MUNDO FICARIA COMPLETO (1999). Os três hits são reunidos no álbum ACÚSTICO MTV que teve um desempenho fenomenal vendendo mais de 1 milhão de cópias. Os louros não foram usufruídos pela cantora que faleceu poucos meses depois, no auge de sua carreira.

 

18) PLEBE RUDE – ATÉ QUANDO ESPERAR


Uma das mais aguerridas e autênticas bandas de rock nacional. Seu primeiro e mais conhecido álbum, O CONCRETO JÁ RACHOU (um mini-LP com 7 faixas) revelou aquela que seria sua marca registrada, a canção ATÉ QUANDO ESPERAR, com um arrepiante cello de abertura de Jaques Morelenbaum e uma letra verdadeiramente revolucionária. O álbum contou ainda com a participação de Fernanda Abreu, Herbert Vianna e George Israel.

 

19) ULTRAJE A RIGOR – INÚTIL


Após um começo arrasador com os álbuns NÓS VAMOS INVADIR A SUA PRAIA e SEXO!, a banda liderada pelo vocalista, guitarrista e compositor Roger, caracterizada por um rock descompromissado com letras irreverentes e inventivas entrou em fase declinante, não conseguindo reviver os tempos de ouro. O clássico álbum de estreia (1985) está recheado de hits como EU ME AMO, CIÚME, MIM QUER TOCAR, REBELDE SEM CAUSA, MARYLOU e INÚTIL que se tornou um hino político ironizando a falta de preparo do brasileiro para exercer a cidadania.

 

20)O TERÇO – HEY AMIGO

 

Passaram pela banda nomes de relevo como Flávio Venturini, Sérgio Magrão (futuros integrantes do 14 Bis), Vinícius Cantuária, Cézar de Mercês e Sérgio Hinds (único original que permaneceu). As mudanças de formação foram acompanhadas de mudanças de estilo. A banda flertou com o folk, a MPB e o rock rural mas o que mais marcou foi o rock progressivo, patente no principal álbum, CRIATURAS DA NOITE que teve arranjos de Rogério Duprat. HEY AMIGO, a faixa de abertura (de Mercês), canção despojada de fácil memorização, é o destaque.

 


 

 

CONFIRA 2a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/08/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do_22.html


CONFIRA 3a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/08/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do_30.html 

 

CONFIRA 4a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/09/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do.html  

 


CONFIRA 5a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/09/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do_13.html


 















5 comentários:

Calcenoni disse...

muito bom!

Unknown disse...

Gostei!

Unknown disse...

Top

Marcelo Castro Penteado disse...

Um dos critérios não é selecionar apenas músicas de 1965 prá cá? "Rua Augusta" de Ronnie Cord é de 1964.

Unknown disse...

Colocar Chico Science entre as 20 primeiras é o Ó do Forrobodó!!!
Um ponto totalmente fora da linha.
De resto, músicas e músicos realmente importantes e marcantes no rock nacional.