sábado, 5 de setembro de 2020

ROCK BRASIL OS 100 MAIORES ROCKS DO SÉCULO XX (4ª PARTE)

 

Segue a continuação do levantamento dos principais exemplares do rock ‘brazuca’, segundo dois aspectos: 1) receptividade do público traduzida por vendas e execução nas rádios; 2) relevância dentro do cenário musical.

Vamos à 4ª parte da lista, por ordem crescente:

 

61) MADE IN BRAZIL – JACK O ESTRIPADOR

Uma das mais antigas bandas de rock nacional há mais de 50 anos na estrada. Atravessou períodos turbulentos, enfrentando problemas com a ditadura, sendo inclusive o álbum MASSACRE integralmente vetado pela censura em 1977 (foi lançado 28 anos depois). O crítico, jornalista e agitador cultural Ezequiel Neves, um dos mais aguerridos divulgadores do rock na imprensa, entusiasta pela banda, produziu JACK O ESTRIPADOR (1976), álbum cuja faixa-título é uma das preferidas pelos fãs. Em PAULICÉIA DESVAIRADA que veio a seguir, dedicado ao Movimento Modernista de 1922 e a Mário de Andrade, ampliou o repertório, introduzindo baladas, blues e sopros.

 

62) KID ABELHA – COMO EU QUERO

A banda de Paula Toller, George Israel e Leoni, originalmente ‘Kid Abelha e os Abóboras Selvagens’, é uma das mais bem sucedidas comercialmente do pop/rock nacional, encontrando-se entre as maiores vendedoras de discos do país. COMO EU QUERO conquistou a condição de clássico da música brasileira, com versos inspirados (e ambíguos) como “tira essa bermuda que eu quero você sério”. Presente no álbum de estreia do grupo, SEU ESPIÃO (1984), que traz também os hits PINTURA ÍNTIMA, POR QUE NÃO EU?, FIXAÇÃO e ALICE. Foi regravada posteriormente no álbum GREATEST HITS 80’S (1990) com arranjo mais refinado e a voz de Paula mais apurada. No especial ACÚSTICO MTV, foi re-regravada, com Edgard Scandurra ao violão, voltando a ganhar evidência.

 

63) RONNIE VON – VOCÊ DE AZUL

O ‘príncipe’ de olhos azuis da Jovem Guarda (rival do ‘rei’ Roberto Carlos), Ronnie Von é conhecido pelos hits A PRAÇA (composição de Carlos Imperial) e MEU BEM (versão de GIRL de Lennon/McCartney). E por seu programa de entrevistas na TV Gazeta que durou 15 anos. O que poucos sabem é do seu fascínio pelo tropicalismo, sendo fã dos Mutantes. No fim dos anos 60, influenciado pelos Beatles, gravou 3 obscuros LPs de rock psicodélico, que, apesar da reduzida vendagem, tornaram-se lenda, inclusive no exterior, onde são disputadíssimos. O mais importante é MÁQUINA VOADORA com destaque para a faixa VOCÊ DE AZUL.

 

64) EDUARDO DUSEK – ROCK DA CACHORRA

Eduardo Dusek (que virou Dussek devido à numerologia) tornou-se conhecido no Festival MPB Shell com NOSTRADAMUS em que descreve em tom de galhofa o cotidiano pós-apocalíptico. Aliás, o humor é característica de suas composições como em BARRADOS NO BAILE e CANTANDO NO BANHEIRO, canção-título do seu álbum de 1982. ROCK DA CACHORRA de Léo Jaime também integra esse álbum e satiriza os que dão mais atenção a pets do que a crianças abandonadas (“dê guarida pro cachorro mas também dê pro menino”). Dusek também tem um sensível lado romântico com canções como CABELOS NEGROS, EU VELEJAVA EM VOCÊ e AVENTURA.

 

65) GOLPE DE ESTADO – CASO SÉRIO

Ainda que detenha um público fiel, essa honesta banda paulista mereceria maior atenção. Após 2 discos independentes, ingressaram na gravadora Eldorado, por onde lançaram 3 álbuns. O último deles, ZUMBI, foi seu mais arrojado projeto, na tentativa de angariar fãs além do nicho hard rock. Nesse álbum, cobrem o clássico MY GENERATION do The Who e HINO DE DURÁN de Chico Buarque (original da Ópera do Malandro interpretada por ele e A Cor do Som), crítica à repressão policial do Estado. O disco que teve a presença de Rita Lee e Arnaldo Antunes teve divulgação insatisfatória, não obtendo a vendagem que deveria. A música mais conhecida do grupo, CASO SÉRIO, é do álbum anterior, QUARTO GOLPE (1991).

 

66) ZERO – AGORA EU SEI

Em sua formação inicial, o grupo teve o guitarrista Fábio Golfetti (que se tornaria um dos fundadores do Violeta de Outono e, mais tarde, membro da cultuada banda progressiva europeia Gong). A entrada, a seguir, do vocalista Guilherme Isnard (ex-Voluntários da Pátria) conferiu à banda um estilo próximo ao new romantic (inspirado em bandas inglesas como o Duran Duran e Spandau Ballet). O EP PASSOS NO ESCURO com 6 faixas (1985) garantiu vendas de 200 mil cópias graças à faixa AGORA EU SEI, dueto de Isnard com Paulo Ricardo do RPM. A boa aceitação do álbum CARNE HUMANA (1987) que se seguiu não impediu que o grupo se desfizesse.

 

67) MARCO ANTÔNIO ARAÚJO – BRINCADEIRA

A carreira do genial compositor, guitarrista e violonista teve vida curta.  Morreu aos 36 anos, sem ter conseguido expandir seu prestígio além de Minas, seu estado natal. Seus 5 álbuns, instrumentais (um deles coletânea) lançados por sua própria gravadora, Strawberry Fields (disponíveis em CD com faixas-bônus), são reverenciados pelos amantes de rock progressivo. Tendo formação erudita, foi tomado pelas influências da cena roqueira da Inglaterra onde residiu, o que pode ser constatado pelo título das canções FLOYDIANA e PARA JIMMY PAGE. A faixa BRINCADEIRA aparece na versão em CD do álbum LUCAS (homenagem a seu filho), o último da discografia e que contou com a participação de Jaques Morelenbaum e Nando Carneiro.

 

68) LULU SANTOS – TEMPOS MODERNOS

Lulu, Lobão e Ritchie tiveram um início de vida artística comum, como integrantes da banda de rock progressivo Vimana. Apesar do incentivo do tecladista Patrick Moraz do Yes, o projeto não vingou (para sorte dos envolvidos que partiram para carreiras individuais muito prósperas). No caso de Lulu, com a providencial mãozinha do jornalista Nélson Motta, foi contratado pela Warner onde de cara emplacou o álbum TEMPOS MODERNOS (1982), cuja canção homônima permanece como uma das suas mais conhecidas composições (regravada, dentre outros, por Jota Quest, Marisa Monte, Zizi Possi e  Zé Ramalho).

 

69) PATIFE BAND – TIJOLINHO

A banda paulista caracterizava-se por mesclar punk rock com música vanguardista atonal, estilo Arrigo Barnabé, irmão do líder da banda Paulo Barnabé. O grupo tem apenas dois discos que se tornaram raridades, o segundo, CORREDOR POLONÊS (1987), lançado pela Warner. O primeiro, de 1985, saiu pelo selo Lira Paulistana (ligado ao teatro homônimo no bairro de Vila Madalena) que agregava a chamada vanguarda paulistana (que incluiu artistas como Premê, Língua de Trapo, Itamar Assumpção e Grupo Rumo). Desse álbum, na verdade, um mini-LP, uma satírica versão de TIJOLINHO (“você é meu tijolinho, você é meu tijolão”) de Bob de Carlo, um dos mais burlescos temas da jovem guarda.

 

70) NENHUM DE NÓS – CAMILA CAMILA

Primeiro e maior hit de grupo gaúcho, fez sucesso em single, antes de ser inclusa no seu debut álbum de 1987, ano em que foi uma das músicas mais executadas nas FM´s. O álbum, inédito em CD, contou com a participação de Edgard Scandurra tocando violão em CAMILA..., Edu K nos vocais e Otávio Fialho no baixo. O grupo ainda lançou 3 obras pela BMG, uma delas com a participação do músico regional Renato Borghetti e sua gaita-ponto. Pela gravadora Velas, especializada em MPB, registraram o mais ambicioso trabalho, MONDO DIABLO que contou com participações de Flávio Venturini e do argentino Fito Páez além de parcerias com Scandurra e Herbert Vianna.

 

71) MAY EAST – MARAKA

May East foi pioneira em explorar no Brasil o filão da chamada world music, mesclando sons étnicos com música eletrônica. MARAKA é faixa do primeiro álbum, REMOTA BATUCADA (1985), repleto de nomes de relevo: Marcelo Salazar, Nico Resende, Kid Vinil, Renato Russo e Marcelo Bonfá (Legião Urbana), Fernando Deluqui e Luiz Schiavon (RPM), Fábio Golfetti (Violeta de Outono) Guilherme Isnard, Alberto Birger e Nélson Coelho (Zero) e Miguel Barella (Voluntários da Pátria). O disco conservou resquícios do pop, herdado da Gang 90 & As Absurdettes, banda em que era vocalista.  O segundo trabalho, TABAPORÃ (1987) radicalizou na sonoridade ‘ambient music’. A partir dos anos 2000, mudou-se para o exterior e colocou em segundo plano a carreira artística, passando a dedicar-se ao ativismo ambiental.

 

72) SKANK – GAROTA NACIONAL

Os primeiros passos da banda mineira privilegiaram ritmos dançantes jamaicanos, o que garantiu vendas expressivas aos álbuns CALANGO (1994) e SAMBA POCONÉ (1996), do qual o destaque é a faixa GAROTA NACIONAL. A partir dos anos 2000, fora portanto dos limites dessa relação, a banda mineira vem num processo de amadurecimento, conquistando um público mais exigente e o respeito dos críticos. O grupo atingiu a excelência em COSMOTRON (2003) com canções estupendas como AS NOITES e DOIS RIOS (parceria de Samuel Rosa com Lô Borges e Nando Reis).

 

73) VIPER – LIVING FOR THE NIGHT

Banda de heavy metal, fundada pelo saudoso André Matos, que depois liderou também o Angra. Os dois primeiros álbuns do Viper, com André, ainda adolescente, nos vocais, alcançaram grande projeção internacional, sobretudo no Japão, país onde o grupo desfruta de prestígio incomum e aonde viria a gravar um álbum ao vivo. THEATRE OF FATE (1989), o segundo álbum, tem a canção preferida pelos fãs, LIVING FOR THE NIGHT. O álbum tem também MOONLIGHT, uma adaptação para o metal de uma sonata de Beethoven, realizada por André que tinha sólida formação erudita e orquestral.

 

74) MILTON NASCIMENTO – PARA LENNON E MCCARTNEY

A música de Milton transcende os limites da MPB e seu nome tornou-se uma lenda internacional, sendo cortejado por grandes astros do pop, do jazz e da world music. O “Bituca”, em algumas ocasiões namorou o rock como na composição dos irmãos Lô  e Márcio Borges (fãs dos Beatles) e Fernando Brant, incluída em seu álbum de 1970. “Eu sou da América do Sul, eu sei, vocês não vão saber, mas agora sou cowboy, sou do ouro, eu sou vocês, sou do mundo, sou Minas Gerais” foi o recado enviado ao quarteto de Liverpool. O diferencial veio do pessoal do Som Imaginário, comandado por Wagner Tiso, que garantiu o suporte roqueiro.

 

75) GAROTOS PODRES – ROCK DO SUBÚRBIO

A banda da região do ABC, região industrial de efervescência social onde o punk vicejou, foi uma das que mais fielmente encarnou o vigor rebelde do movimento, com canções mordazes e letras politizadas como em PAPAI NOEL VELHO BATUTA (alterado do original FILHO DA PUTA, por causa da censura), FERNANDINHO VEADINHO (sobre o ex-presidente Collor) e ROCK DO SUBÚRBIO, as duas últimas no álbum CANÇÕES DE NINAR (1993). No século XXI, devido a ‘divergências ideológicas’ o grupo rachou em duas alas, cada qual tentando se apropriar do nome e do prestígio conquistado pelo grupo.

 

76) LULA CORTES E ZÉ RAMALHO – NAS PAREDES DA PEDRA ENCANTADA

Antes de se tornar conhecido, Zé Ramalho lançou um álbum duplo em parceria com o músico pernambucano Lula Cortes (já falecido), chamado PAÊBIRÚ (1975). O lendário LP, que teve participação de Alceu Valença e Geraldo Azevedo, é considerado um clássico do rock psicodélico e chegou a ser avaliado como um dos mais raros (e caros) do mercado até ser relançado em vinil pela Polysom em 2019. Predominantemente instrumental, o álbum funde rock com música oriental e ritmos nordestinos. Em NAS PAREDES, em meio a uma profusão de sons, a inconfundível voz de Zé pode ser identificada.

 

77) VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA – VERDADES E MENTIRAS

A banda paulistana gravou em 1984, pela gravadora Baratos Afins, seu único disco que teve baixas vendas e cujas músicas nunca aportaram no rádio. Ainda assim, o grupo tornou-se cultuado por duas razões: 1) foi precursor do pós-punk que influenciou uma pá de grupos de sucesso que surgiriam na sequência; 2) revelou nomes que iriam se sobressair: Nasi e Ricardo Gaspa (que formariam o Ira!) e Thomas Pappon (um dos mentores do grupo Fellini). A falta de sucesso foi o preço pago por seu precoce pioneirismo e pelo infortúnio de ter tido vetada pela censura a execução pública das canções que tinham maior apelo comercial: CADÊ O SOCIALISMO?, O HOMEM QUE EU AMO e VERDADES E MENTIRAS.

 

78) FELLINI – CHICO BUARQUE SONG

A banda dos jornalistas Cadão Volpato (vocal) e Thomas Pappon (guitarra), surgiu com uma intenção de fazer um som inspirado no Joy Division. O pessimismo de Ian Curtis transpareceu até no título derrotista do álbum de estreia: O ADEUS DE FELLINI. Embora prestigiada pelos antenados, foi sumariamente ignorada pelo público, devido em parte ao esquema amador de produção e distribuição. Seus 4 álbuns, embora muito elogiados, tiveram vendas pífias. A banda foi agregando ritmos como o samba e a bossa nova, especialmente no quarto trabalho, AMOR LOUCO (1998), que, mesmo bancado por uma pequena loja de discos, a Wop Bop de SP, teve uma produção mais esmerada. A música CHICO BUARQUE SONG ganhou visibilidade ao ser gravada pela cantora Céu.

 

79) PATRULHA DO ESPAÇO – COLÚMBIA

Essa banda de hard rock com pitadas de progressivo foi criada em 1977 por Arnaldo Baptista que a abandonou no ano seguinte. Restaram os registros com a participação do ex-Mutante nos álbuns: ELO PERDIDO (de estúdio) e FAREMOS UMA NOITADA EXCELENTE (ao vivo) lançados 10 anos após. A banda com o tempo conseguiu superar o baque da saída do mentor, ganhando prestígio em exibições ao vivo. COLÚMBIA, ode ao ônibus espacial americano (eleita pela revista Roadie Crew um dos Hinos de Heavy Metal e Classic Rock), é faixa do terceiro álbum de 1982, chamado “álbum branco” do Patrulha.

 

80) CELSO BLUES BOY – AUMENTA QUE ISSO AÍ É ROCK’N’ROLL

O lance de Celso Blues Boy (conforme transparece o nome artístico) foi o blues, com uma extensa discografia de 13 álbuns, sendo 2 póstumos (faleceu em 2012) dedicada ao gênero. O guitarrista, cantor e compositor nutria porém também uma paixão pelo rock, tanto que constam em seu currículo 2 antológicos exemplares do gênero: MARGINAL, gravado ao lado de Cazuza para o disco MARGINAL BLUES (1986) e o incendiário AUMENTA QUE... do álbum SOM NA GUITARRA (1984), a música mais conhecida de sua carreira.







CONFIRA 3a PARTE:





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