domingo, 13 de setembro de 2020

ROCK BRASIL OS 100 MAIORES ROCKS DO SÉCULO XX (5ª PARTE)

 Conclusão do levantamento dos 100 principais exemplares do rock ‘brazuca’, que obedeceu a dois aspectos: 1) receptividade do público traduzida por vendas e execução nas rádios; 2) relevância dentro do cenário musical.

Vamos à parte final da lista, por ordem crescente:

 

81) AVE SANGRIA – SOB O SOL DE SATÃ

A mistura ritmos regionais com rock caracteriza essa banda pernambucana comandada por Marco Polo (que compôs quase todas as faixas) e contava com o guitarrista Ivinho, um dos maiores do país, falecido em 2015. O prestígio de Ivinho tornou-se internacionalmente reconhecido depois de sua brilhante apresentação no Festival de Montreux (registrada em disco). Sua performance pode ser apreciada em SOB O SOL..., faixa do único álbum do AVE SANGRIA (1974). O LP enfrentou problemas com a censura do regime militar que recolheu todas as cópias em virtude da faixa SEU WALDIR (por alusão ao homossexualismo). Com o tempo, o grupo tornou-se lendário por ter sido considerado um dos expoentes da ‘psicodelia nordestina’. Surfando nessa onda, 3 dos integrantes originais da banda reuniram-se em 2019 para gravar o álbum VENDAVAIS (disponibilizado exclusivamente pela internet).

 

82) ROBERTINHO DE RECIFE – METAL MANIA

Um dos mais exímios guitarristas do Brasil transitou sem preconceitos pelos mais discrepantes gêneros. Da ingenuidade da Jovem Guarda até a excelência da música instrumental de Hermeto Paschoal, Dominguinhos e Sivuca. Fundou o grupo infanto-juvenil Yahoo, acompanhou Xuxa e Os Trapalhões enquanto tocou ao lado de mestres internacionais do blues, jazz e rock como John Lee Hooker, Taj Mahal, Stanley Clarke, Deep Purple e Chicago. Ao mesmo tempo em que acompanhou cantores ditos ‘bregas’ como Rosana, Elymar Santos e Agnaldo Timóteo, conduziu grupos vanguardistas de rock psicodélico como Flaviola e Marconi Notaro. Tem 2 álbuns instrumentais dedicados ao rock: RAPSÓDIA DO ROCK (em que toca temas clássicos ao ritmo de rock) e METAL MANIA dedicado ao rock pesado, onde se destaca a canção-título.

 

83) GAL COSTA – VAPOR BARATO

Embora seu nome hoje esteja mais especificamente ligado à MPB, foram as interpretações viscerais de Gal na época do tropicalismo que a qualificaram uma das melhores cantoras do país. Isso é especialmente válido para o período inicial da cantora que abrange seus 2 álbuns de 1969, o de 1970, LEGAL, e FA-TAL, A TODO VAPOR, álbum duplo ao vivo, de 1971. Todos estes 4 trabalhos indiscutivelmente remetem ao rock, em boa parte devido à marca da presença do guitarrista Lanny Gordin. Do álbum ao vivo, a histórica performance de Gal (em que é frequentemente comparada a Janis Joplin) de VAPOR BARATO, composição de Wally Salomão e Jards Macalé com mais de 8 minutos de duração.  16 anos após, no show ACÚSTICO MTV de Gal, a música voltaria à tona com o acompanhamento de Zeca Baleiro.

 

84) BIQUINI CAVADÃO – ZÉ NINGUÉM

A banda carioca é uma das mais expressivas representantes da segunda geração de grupos surgidos nos anos 80. Emplacou de cara o hit TÉDIO, gravado em single com a participação na guitarra de Herbert Vianna (de quem veio a sugestão do nome da banda). A música ingressou no primeiro álbum do grupo, CIDADES EM TORRENTE de 1986 que teve presença também de Renato Russo, Celso Blues Boy e Armando Marçal na percussão. O álbum DESCIVILIZAÇÃO (1992) marcou a consagração definitiva do grupo, com 2 sucessos: ZÉ NINGUÉM e VENTO VENTANIA, esta a música mais executada do ano. ZÉ NINGUÉM com sua letra politizada (“Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém, aqui embaixo as leis são diferentes”) foi utilizada até em manifestações de rua.

 

85)PEPEU GOMES – MALACAXETA

Embora o artista soteropolitano seja conhecido como intérprete de músicas banais que tocaram ao rádio, algumas junto à ex-esposa Baby Consuelo (também ex-companheira dos Novos Baianos, ao lado de quem participou do histórico “Acabou Chorare”), seu forte é na guitarra. Foi destacado pela revista Guitar World como um dos melhores do mundo no instrumento tendo sido convidado a acompanhar os grupos Megadeth e Living Colour. Formado sob influência dos mestres do choro (Waldir Azevedo, Pixinguinha, Jacob do Bandolim), a cujo ritmo iria agregar rock e jazz, seus primeiros álbuns priorizavam a parte instrumental. Do seu primeiro álbum de 1978, GERAÇÃO SOM o destaque é MALACAXETA, (que, vocalizada, transformou-se em MALACAXETA II no álbum seguinte, NA TERRA A MAIS DE MIL).

 

86) CARLOS WALKER – POTE DE MEL

Carlos Walker - que mais tarde passaria a ser Wauke - gravou um obscuro disco chamado A FRAUTA DO PÃ (1975) que viria a se tornar disputadíssimo no mercado internacional por ser referenciado como um dos grandes espécimes da psicodelia nacional. As canções, embaladas pela voz doce de Walker, parecem trilhas de contos de fada. O álbum que teve participação de João Bosco e Hélio Delmiro e contou com arranjos dos maestros Laércio de Freitas e Radamés Gnatalli, inclui temas de Bosco & Blanc, Caetano e Geraldo Carneiro (parceiro de Gismonti), além de composições próprias A faixa ALFAZEMA, utilizada na trilha da novela O Espigão de Dias Gomes, foi a única que adquiriu alguma projeção. POTE DE MEL é uma das mais belas do disco. Como Wauke, marcando mudança de nome e estilo, o músico (que hoje se dedica precipuamente à astrologia), gravaria em 1990 um álbum dedicado à obra de Jobim.

 

87) MERCENÁRIAS – PROVÉRBIOS DO INFERNO

Ainda que não tenham obtido grande sucesso comercial, as Mercenárias tiveram uma presença marcante no cenário rock tupiniquim, não apenas pelo diferencial de o grupo ser constituído apenas por mulheres (apesar de quê na fase inicial contou com a presença de Edgard Scandurra na bateria), mas pela sua vigorosa afirmação e atitude na defesa furiosa de valores e ideais em que acreditavam. Após um álbum independente (CADÊ AS ARMAS?), chamaram a atenção da multinacional EMI que contratou as meninas para lançamento de um novo disco, TRASHLAND (1987). Esse trabalho (o último da curta discografia do grupo) denota um distanciamento do som cru que marcou a fase inicial, em busca de uma sonoridade mais elaborada, próxima ao pós-punk e ao gótico. Destaque à faixa PROVÉRBIOS DO INFERNO, baseado em fragmentos extraídos da obra do poeta inglês William Blake.

 

88) JOTA QUEST – FÁCIL

A banda mineira (que começou como J QUEST e teve que mudar de nome para não conflitar com o personagem Johnny Quest de Hanna-Barbera), fazendo um som honesto de apelo popular, conquistou a condição de uma das mais bem sucedidas do final dos anos 90. Na virada do século, com poucos anos de existência, já era um dos grupos mais conhecidos do país. Comandada pelo vocalista Rogério Flausino e sem mexer na formação, o segundo álbum DE VOLTA AO PLANETA de 1998, lançado pela multinacional Sony, bateu nas 800 mil cópias (graças ao mega-sucesso FÁCIL). O álbum anterior já chegara às 120 mil, mas a sonoridade que inspirou a fase inicial, voltada para o funk/soul, derivou para o pop-rock.

 

89) MESTRE AMBRÓSIO – FUÁ NA CASA DE CABRAL

Liderado pelo vocalista e compositor Siba, o grupo, cujo nome é inspirado numa figura do folclore pernambucano segue a mesma cartilha do Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A, porém as referências às raízes nordestinas são mais acentuadas. O primeiro trabalho saiu por uma gravadora pequena e foi produzido pela dupla Lenine e Suzano. Ainda que sendo uma produção independente, teve boa repercussão e abriu caminho para a contratação pela Sony onde gravaram o festejado FUÁ NA CASA DE CABRAL de 1998 (que tem a canção homônima) em que agregaram música eletrônica a ritmos tradicionais. Apesar da sonoridade tipicamente brasileira, o álbum foi muito bem recepcionado nos EUA, recebendo elogiosas menções do NY Times.

 

90) A BOLHA – UM PASSO À FRENTE

Apesar de pouco conhecido do grande público, o grupo tornou-se cult. Começou a se evidenciar quando convidado a ser a banda de apoio a Gal Costa em uma turnê pela Europa. Passou pelo famoso Festival da Ilha de Wight em 1970, onde subiu em um dos palcos paralelos do evento, dedicado ao tropicalismo. Influenciado por essa atmosfera hippie, viria a gravar seu álbum mais significativo, UM PASSO Á FRENTE de 1973 (que contou com a participação do mítico bossanovista Luiz Eça ao piano), onde se destaca a faixa-título de mais de 9 minutos de duração, um rock de primeira. Devido à modesta vendagem, o grupo adotou um som mais palatável com É PROIBIDO FUMAR (1977), retomando temas da Jovem Guarda.

 

91) ALMÔNDEGAS – CANÇÃO DA MEIA NOITE

Os irmãos Kleiton e Kledir introduziram o ‘gauchês’ na MPB com versos como “deu pra ti baixo astral, vou pra Porto Alegre tchau”, “bah trilegal”, “as gurias tão tri-a fim”. O que nem todos sabem é que os dois já tinham referência anterior como integrantes do Almôndegas, banda que mesclava música regional gaúcha com pop-rock. Aclamado no Sul, o grupo tem 4 álbuns gravados mas a música que emplacou nacionalmente foi CANÇÃO DA MEIA NOITE (presente no álbum AQUI de 1975), graças à sua inserção na trilha da novela Saramandaia de Dias Gomes. A canção nunca deixa de ser incluída no repertório dos shows da dupla K&K, tendo merecido uma versão no álbum Acústico ao Vivo do Nenhum de Nós.

 

92) OTTO – BOB

Percussionista do Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A, os 2 mais importantes grupos representantes do mangue-beat, Otto partiu para a carreira individual em 1998 com o lançamento de SAMBA PRA BURRO, seu único trabalho antes da virada do século, em que mescla ritmos regionais (como o maracatu, o forró e o frevo) com samba, rock, rap, drum´n’bass e música eletrônica. O álbum foi escolhido como o melhor do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte. A faixa de abertura, BOB, a mais divulgada do álbum, conta com a participação de Bebel Gilberto nos backing vocals.

 

93) HANÓI-HANÓI – TOTALMENTE DEMAIS

A banda carioca tornou-se famosa através de outros artistas. O líder Arnaldo Brandão foi integrante de 3 outras históricas bandas: A Bolha (conjunto sessentista que acompanhou Gal Costa), Brylho (grupo de soul funk que se tornou famoso com a canção NOITE DE PRAZER) e A Outra Banda da Terra (banda de apoio de Caetano Veloso que tinha também Vinícius Cantuária). Foi também co-autor de 2 rocks de bastante sucesso: O TEMPO NÃO PARA (com Cazuza) e RÁDIO BLÁ (com Lobão). E, last but not least, foi compositor da canção TOTALMENTE DEMAIS, sucesso com Caetano, tendo até nomeado o álbum que a contém. Essa canção é do primeiro álbum do grupo (1986). Tantas credenciais não ajudaram a impulsionar o grupo que, apesar de suas qualidades, fez sucesso mediano.

 

94) ALCEU VALENÇA & GERALDO AZEVEDO – TALISMÃ

Dois dos maiores nomes da MPB, quando ainda desconhecidos, gravaram juntos em 1972 o disco QUADRAFÔNICO. O álbum lançado pela pequena gravadora Copacabana foi retirado de catálogo, ficou perdido no esquecimento e tornou-se um item pouco prestigiado, dotado de mera referência histórica frente à opulenta discografia que os 2 músicos pernambucanos viriam a ostentar. O fato é que o disco com o tempo ganhou força ao ser reiteradamente mencionado como um dos precursores da chamada ‘psicodelia nordestina’, fundindo ritmos regionais com rock. Com instrumentação enxuta e canções singelas mas extasiantes como TALISMÃ, o disco (com arranjos de Rogério Duprat e co-produção de Daniel Taubkin)  revela-se uma obra-prima atemporal.

 

95) PEDRO LUÍS E A PAREDE – PENA DA VIDA

Apadrinhado por Ney Matogrosso (com quem, aliás, gravou o elogiado CD VAGABUNDO de 2004), esse grupo mistura rock com funk, samba e rap, ingredientes que compõem a miscigenada cultura carioca. Dá destaque para a percussão, tanto que deu origem o conhecido bloco carnavalesco Monobloco. Em companhia de Ney, fez uma exitosa turnê no Japão, tornando o grupo lá conhecido e aclamado. A canção PENA DE VIDA (pertencente ao primeiro álbum, ASTRONAUTA TUPY, 1987), faz uma esclarecedora reflexão sobre a pena capital: “sou a favor da pena de vida, se o sujeito cagou, pisou na bola, tem que resolver aqui, não pode cair fora”.

 

96) OS REPLICANTES – SURFISTA CALHORDA

Uma das mais radicais bandas de punk rock, Os Replicantes emergiram na cena gaúcha através do compacto com a música NICOTINA, bancado e distribuído de forma independente. SURFISTA CALHORDA (canção que satiriza o surfista ‘filhinho de papai’ cheio de pose, mas que ao entrar no mar, “não surfa nada”) surgiu no mesmo esquema e tornou o grupo nacionalmente conhecido, o que valeu um contrato com a RCA/BMG sob cujo selo saiu o álbum O FUTURO É VORTEX. Sua estética excessivamente agressiva gerou problemas com a censura e com a própria gravadora. O vocalista Wander Wildner, partiu para uma bem sucedida carreira solo de ‘punk brega’ em 1996, desligando-se da banda após alguns anos.

 

97) COKE LUXE – ROCK O AZARADO

Uma das poucas bandas nacionais dedicadas ao rockabilly, ou seja rock’n’roll típico dos 50, próprio de astros como Carl Perkins e Jerry Lee Lewis. O grupo lançou um único LP independente ROCKABILLY BOP (1984), editado também em CD com diversas faixas bônus, sempre fiel ao estilo que o consagrou, ritmos dançantes (que empolgavam a plateia nas apresentações ao vivo) e com letras carregadas de bom humor sobre assuntos cotidianos. O grande destaque é a canção ROCK O AZARADO (vulgarmente conhecido como “Conta da Light”) que narra o drama de um sujeito que vai tomar banho e de repente a energia é cortada por falta de pagamento da conta da “Light”, à época concessionária responsável pelo fornecimento.

 

98) NAU – CORPO VADIO

Embora bancado por uma grande gravadora (na onda do surgimento do punk e da new wave) e apesar da entusiástica acolhida da crítica e de uma turma reduzida de antenados, o único álbum dessa banda (1987) não obteve a merecida notoriedade. CORPO VADIO foi a única canção que teve certa repercussão. O grupo tornou-se conhecido por outra razão: revelou Vange Leonel, sua vocalista e guitarrista. O posterior sucesso de Vange (com seu hit NOITE PRETA, tema de abertura da novela Vamp) criou curiosidade sobre a existência de um segundo trabalho do grupo, gravado em 1988 (que havia ficado engavetado pela gravadora), O ÁLBUM PERDIDO DA NAU, lançado 30 anos depois.

 

99) TERRENO BALDIO – ESTE É O LUGAR

Banda pioneira do rock progressivo brazuca, fortemente influenciada pelos ingleses do Gentle Giant, não conseguiu a merecida visibilidade. Produziu um álbum independente (1975) com apurados e alucinantes arranjos instrumentais com destaque para a faixa ESTE É O LUGAR. Contratada pela gravadora Continental, lançou ALÉM DAS LENDAS BRASILEIRAS (1978), onde agregou ao repertório temas folclóricos brasileiros. A música SACI PERERÊ foi cogitada para tema principal do seriado Sítio do Picapau Amarelo, mas acabou sendo substituída pela consagrada composição de Gil. O álbum traz também uma releitura de PASSAREDO (de Chico e Francis Hime).

 

100) MARCONI NOTARO – ANTROPOLÓGICA

Bem antes do manguebeat, Recife já era um dos mais significativos polos de criatividade musical do país. Nos anos 70, ao lado de figuras maiúsculas da música pop da região como Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Lula Cortes, Robertinho do Recife e Zé Ramalho (este paraibano), brotou uma plêiade de artistas com menor projeção que constituíram o ‘udigrudi’ tupiniquim. Um exemplo é Marconi Notaro. Poeta, gravou um único álbum, NO SUB-REINO DOS METAZOÁRIOS (pelo selo pernambucano Rozenblit) que teve a participação de Ramalho e Robertinho e Lula Cortes (que desenhou a alucinógena capa). Apesar do som notoriamente regional, paira no ar uma aura psicodélica, como na faixa ANTROPOLÓGICA. O LP é raríssimo, tendo sido lançado em CD apenas no exterior.

 

 

 

 


CONFIRA 3a PARTE: 





CONFIRA 4a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/09/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do.html  

 

 



2 comentários:

Morels disse...

Parabéns pelo trabalho!!! Faltou Odair José, tem muita musica de qualidade!!! ultimos trabalhos os albuns: 16, Gatos e Ratos, e Hibernar na Casa das Moças sao albuns sensacionais para o Rock Nacional, alem do album O Filho de Jose Maria de 1977 que é sensacional.

Anônimo disse...

Muito bom o Trabalho e a seleção.
Senti falta apenas de Odair José ,Leno e do Planet Hemp