sábado, 22 de agosto de 2020

ROCK BRASIL - OS 100 MAIORES ROCKS DO SÉCULO XX (2ª PARTE)

 

 

Segue a continuação do levantamento dos principais exemplares do rock ‘brazuca’, segundo dois aspectos: 1) receptividade do público traduzida por vendas e execução nas rádios; 2) relevância dentro do cenário musical.

Vamos à 2ª parte da lista, por ordem crescente:

 

21)ENGENHEIROS DO HAWAII – PRA SER SINCERO

A banda gaúcha conduzida pelo vocalista, baixista e autor da grande maioria das canções Humberto Gessinger (único a manter-se na banda desde o início), embora seja uma das lídimas representantes do chamado BRock, sempre esbarrou na má vontade da crítica que a tachava de esnobe. Indiferente a essa avaliação, amealhou uma respeitável legião de admiradores que a elegeram, em enquete promovida pela revista Bizz, a maior banda brasileira de rock do ano de 1990. Tal avaliação veio na esteira do sucesso de O PAPA É POP (1990), seu álbum de maior êxito, o qual revelou ERA UM GAROTO QUE COMO EU... (cover da famosa canção antibelicista italiana vertida pel’Os Incríveis) e PRA SER SINCERO.

 

22)CAMISA DE VÊNUS – SIMCA CHAMBORD

A banda de Salvador liderada pelo vocalista e compositor Marcelo Nova era caracterizada por suas letras obscenas (8 das 10 faixas do disco VIVA foram vetadas pela censura). Por isso, grande parte de suas músicas não chegava às rádios. Ainda assim, emplacou os hits BETE MORREU, EU NÃO MATEI JOANA D’ARC, SÍLVIA, GOTHAM CITY (famosa composição de MACALÉ e CAPINAM) e SIMCA CHAMBORD, excelente sátira sobre as mudanças ocorridas no país à luz do modelo de veículo, símbolo do status buscado pela classe média por ocasião do golpe de 1964. Pertence ao álbum CORRENDO O RISCO (1986).

 

23)MUNDO LIVRE S/A – SAMBA ESQUEMA NOISE

Esse grupo promove a universalização dos ritmos regionais pernambucanos, integrando-os com novos gêneros. Ao lado de Chico Science, é legítimo representante do manguebeat, cujos pressupostos constam no manifesto “Caranguejos com Cérebro” elaborado pelo líder da banda,  Fred Zero Quatro. A canção é do álbum homônimo de 1994, o primeiro do grupo (quando o percussionista Otto ainda integrava a banda) que conta com esmerada produção e ilustres participações (Naná Vasconcellos, Nasi do Ira, Nando Reis, Charles Gavin e Paulo Miklos dos Titãs).

 

24)ARNALDO BAPTISTA – SERÁ QUE EU VOU VIRAR BOLOR?

Lançado 2 anos após a dissolução da formação clássica d’Os Mutantes que contava com Rita Lee (de quem Arnaldo também se separou), o álbum LÓKI? (1974), não obstante vendas modestas, foi saudado pelos críticos como um dos mais importantes do rock e da música brasileira, em geral. Com produção de Roberto Menescal e arranjos de Rogério Duprat, o disco, apesar das doses de humor herdadas de seu antigo grupo, não esconde a fase melancólica do artista prenunciando os traumas psicológicos por que seria acometido. SERÁ QUE..., a faixa de abertura, é o mais genuíno rock de um álbum que curiosamente abriu mão do uso da guitarra.

 

25)GANG 90 – PERDIDOS NA SELVA

Embora o grupo liderado pelo jornalista Júlio Barroso não tenha alcançado significativa penetração popular, foi aclamado como um dos mais importantes do cenário pop por ser precursor da new wave tupiniquim. O visual com roupas coloridas e proeminente participação vocal feminina remetia aos grupos B-52’s e Kid Creole & Coconuts. Gravou apenas um álbum com a presença de Barroso, ESSA TAL DE GANG 90 & AS ABSURDETTES (1983), que emplacou três êxitos, NOSSO LOUCO AMOR, tema da novela “Louco Amor” da TV Globo, TELEFONE e PERDIDOS NA SELVA (composta em parceria com Guilherme Arantes) que participou do Festival MPB SHELL. Depois da morte do líder, o grupo ainda gravou mais dois álbuns, ROSAS E TIGRES (com alguns temas inéditos de Barroso) e PEDRA 90, que tiveram menor repercussão.

 

26)OS INCRÍVEIS – O MILIONÁRIO

Um dos mais competentes e talentosos (Clevers, não à toa, era o nome original) grupos de rock, vinha numa trajetória ascendente até cometer o erro fatal de gravar EU TE AMO, MEU BRASIL de Dom e Ravel, canção ufanista usada pela ditadura militar, que fez ruir a glória duramente conquistada e acabou por ocasionar a dissolução da banda. Ainda assim, deixou um respeitável legado com canções memoráveis como ERA UM GAROTO QUE COMO EU... (regravado pelos Engenheiros do Hawaii), MOLAMBO, VAGABUNDO e VENDEDOR DE BANANAS de Jorge Benjor. A versão deles para o tema instrumental O MILIONÁRIO superou em qualidade e popularidade a versão original do grupo inglês Dakotas.

 

27)O RAPPA - MINHA ALMA

O Rappa mescla rock, reggae e rap e sua característica principal é o forte teor crítico das letras, revelando sem retoques a realidade das favelas cariocas. O grupo sofreu um revés e tanto com a perda de Marcelo Yuka, um dos fundadores da banda e seu principal compositor, além de ativista social e cultural, que, após ser baleado (triste ironia) por um assaltante, tornou-se paraplégico. O último trabalho com a presença de Yuka foi o elogiado LADO B LADO A (1999) que teve a colaboração do renomado baixista americano Bill Laswell. Desse disco, a faixa que alcançou maior projeção foi MINHA ALMA (com o subtítulo “A Paz que eu não Quero”) que fala da falsa ‘paz’ que impede as transformações sociais.

 

28)ERASMO CARLOS – MINHA FAMA DE MAU

Até o final dos anos 60, Erasmo e o inseparável parceiro, Roberto, foram os próceres da Jovem Guarda. A partir dos 70’s, o “Tremendão” deu uma guinada, passando a flertar com o samba-rock em COQUEIRO VERDE (regravada por Zeca Pagodinho, Seu Jorge e Trio Mocotó) e com a MPB em MESMO QUE SEJA EU (com versões de Marina e Ney Matogrosso) e SENTADO À BEIRA DO CAMINHO (sucesso na Itália com Ornella Vanoni). MINHA FAMA DE MAU foi seu primeiro compacto, figurando também no álbum PESCARIA (1965), que também contém FESTA DE ARROMBA. A canção nomeou o livro autobiográfico de Erasmo e o filme nele baseado.

 

29)CHARLIE BROWN JR. – PROIBIDA PRA MIM (GRAZON)

A banda de skate-rock é de Santos, litoral paulista (exceto Chorão que é da capital) e suas canções refletem com fidelidade os anseios da juventude atual. Tornou-se uma das preferidas da molecada, inclusive no exterior, onde, após o Sepultura, é a banda com maior número de acessos nas plataformas digitais de música. Essa carreira de sucesso foi tragicamente interrompida em 2013, golpeada por dupla tragédia: a morte do vocalista e líder Chorão por overdose, seguida pelo suicídio, alguns meses após, do sucessor, o baixista Champagna.  PROIBIDA PRA MIM, escrita por Chorão para sua namorada Grazon, é do álbum de estreia TRANSPIRAÇÃO CONTÍNUA PROLONGADA (1997). Ganhou novo fôlego ao receber uma insólita releitura acústica de Zeca Baleiro.

 

30)ARNALDO ANTUNES – O PULSO

Arnaldo, além de sua profícua carreira solo, integrou ao lado de Marisa Monte e Carlinhos Brown o supergrupo Tribalistas, fenômeno em vendagem de discos com mais de 3,5 milhões de unidades com apenas dois álbuns.

No entanto, é da fase “titânica” uma de suas mais emblemáticas canções: O PULSO (de que compôs os versos) que arrola uma série de doenças, concluindo “e o pulso ainda pulsa”. É faixa do álbum Õ BLÉSQ BLOM, de quando ele ainda integrava a banda. Ainda que, por justiça, deva ser creditada aos Titãs, está tão associada à figura de Arnaldo que a ele pode ser abonada. A canção esteve envolvida em recente polêmica ao ser utilizada em manifestações pró-Bolsonaro, o que desagradou o artista que ingressou com uma ação na Justiça.

 

31)RAIMUNDOS – MULHER DE FASES

Embora com inserção de temas e ritmos regionais, especialmente no primeiro álbum, a inspiração do ‘forrocore’ dos Raimundos veio dos Ramones (até na corruptela do nome do grupo). Essa influência fica patente em MULHER DE FASES que retrata as atribulações de estar apaixonado por uma garota com TPM. A canção está presente no disco SÓ NOS FORÉVIS (1999), o de maior êxito da banda e o último antes de o vocalista e principal compositor Rodolfo abandonar o grupo (ao tornar-se evangélico), pondo fim à sua melhor fase. O disco marca o retorno às letras maliciosas e satíricas da fase inicial, traduzidas pelo título (inspirado no linguajar de Mussum), e pela capa que ironiza os fúteis grupos de pagode romântico que dominavam o mercado fonográfico.

 

32)RATOS DE PORÃO – CRUCIFICADOS PELO SISTEMA

Faixa-título do disco de estreia (de 1984) da banda comandada pelo ex-apresentador da MTV João Gordo, pioneira do punk no país. Eleito pela Rolling Stone o maior disco de punk do país, o álbum foi relançado várias vezes (sempre com a mesma capa mas cada vez com uma cor diferente), inclusive na Europa e nos EUA onde a banda tem prestígio. A canção de 1:20 (tempo médio das faixas) tem poucas palavras, ressaltando mais o ritmo acelerado dentro da estética agressiva do hardcore. Foi regravada pelo Sepultura na compilação dupla THE ROOTS OF.

 

33)365 – SÃO PAULO

SÃO PAULO é o grande hit desse grupo (obviamente) paulista, um dos dignos representantes do rock oitentista nacional (BRock). O primeiro álbum do grupo, graças à canção, foi grande sucesso de vendas assim como o EP que o precedeu. Ao lado de POBRE PAULISTA do Ira! e PÂNICO EM SP dos Inocentes, tem como temática a metrópole que mesmo deixando de ser o “túmulo do samba”, continua sendo a capital do rock. O álbum inclui ainda uma versão roqueira de GRÂNDOLA, VILA MORENA, famosa canção lusitana, símbolo da Revolução dos Cravos que marcou o fim da era salazarista.

 

34)WALTER FRANCO – FEITO GENTE

A música vanguardista de Walter Franco, um dos “malditos” da MPB, não pode ser classificada como rock (ou qualquer outra coisa). Porém, ao menos duas de suas conhecidas canções, indubitavelmente são rocks e de primeira linha: a visceral CANALHA do álbum VELA ABERTA (1980) e FEITO GENTE de REVOLVER (1975), a obra máxima do artista, ao equilibrar suas ideias arrojadas com uma sonoridade “palatável”. Ainda que incompreendido pelo público, Walter sempre teve apoio dos críticos como no júri que elegeu a composição CABEÇA, contra a vontade da plateia e da Globo, como a campeã do FIC/72, resultado não acatado pela emissora. Para se redimir, a Globo escalou FEITO GENTE para a trilha da série “Os Dias Eram Assim”.

 

35)MAMONAS ASSASSINAS – VIRA-VIRA

Mais do que um fenômeno musical, os saudosos Mamonas foram um evento sociológico. Um grupo de garotos de Guarulhos, Grande SP, sem nenhuma estrutura ou credencial, conseguiu agitar o mercado fonográfico, comercializando em pouquíssimo tempo, 3 milhões de cópias do seu único álbum, de 1995 (um dos mais vendidos da história). Com letras cômicas e descompromissadas, recheadas de palavrões e ritmos que iam do brega ao rock, conquistaram os adolescentes de menor idade. Apesar da reprovação dos puristas, não há como contestar a competência e o carisma dos meninos. Como não relevar as restrições e conter o riso, ouvindo os lamentos de um lusitano numa suruba em VIRA-VIRA?

 

36)NANDO REIS – ALL STAR

Nando Reis deixou os Titãs, dedicando-se a seus projetos próprios, a partir de 2002, quando sua carreira deslanchou sobretudo como compositor, assinando canções de êxito de diversos intérpretes, o que o gabaritou como um dos que mais faturaram com direitos autorais. Antes da virada do século, lançou dois álbuns solo: 12 DE JANEIRO (1995) e PARA QUANDO O ARCO-ÍRIS ENCONTRAR O POTE DE OURO (2000). Neste, o destaque é ALL STAR que fala da amizade com Cássia Elller, que se tornou mais conhecida na voz da cantora no álbum DEZ DE DEZEMBRO.

 

37)SOM IMAGINÁRIO – ARMINA

Não se pode dizer que seja de rock o grupo criado para acompanhar Milton Nascimento em seus shows, um subproduto do Clube da Esquina. Tampouco têm no rock seu ritmo preponderante os integrantes originais Wagner Tiso, Luiz Alves, Tavito, Robertinho Silva, Fredera e Zé Rodrix (esse talvez uma exceção) e outros cobras que transitaram pelo grupo como Naná Vasconcelos, Toninho Horta, Jamil Joanes, Nivaldo Ornellas e Victor Biglione. Isso não significa que ARMINA e a faixa-título do álbum MATANÇA DE PORCO (1973) não se constituam em dois dos mais poderosos rocks brazucas. Os arranjos do álbum, totalmente instrumental (com participação de Milton), elaborados por Tiso (sob cuja ascendência foi concebido o projeto) foram fortemente influenciados pelo rock progressivo de que o músico era fã.

 

38)LOS HERMANOS – ANNA JÚLIA

Embora tenha sido de longe sua música mais executada, ANNA JÚLIA não sintetiza a obra do cultuado conjunto comandado por Marcelo Camelo, um dos ‘grupos-cabeça’ do rock nacional. A nata da criação dos Hermanos ocorreu a partir do álbum BLOCO DO EU SOZINHO (2001), ou seja, no século XXI, fora dos limites da presente seleção. Ainda assim, a canção de 1999, presente no álbum de estreia do grupo (o que mais vendeu) tem virtudes, a ponto de ter recebido registro fonográfico do lendário Jim Capaldi do Traffic com a participação de Paul Weller (Jam) no baixo, Ian Paice (Deep Purple) na bateria e ninguém menos do que o ex-beatle George Harrison na guitarra. Ainda assim, a canção é praticamente ignorada pela própria banda carioca que prefere deixá-la de fora de seus shows.

 

39)GUILHERME ARANTES – CORAÇÃO PAULISTA

Guilherme Arantes é um dos mais versáteis artistas nacionais. Além de respeitável pianista, é um dos compositores mais bem sucedidos do país, chegando, durante a fase áurea, a superar Chico e Caetano em faturamento por direitos autorais. Tem canções de enorme sucesso interpretadas entre outros por Bethânia e Elis. Além disso, transita em gêneros tão díspares quanto MPB, rock, new wave, rap (é amigo de Mano Brown dos Racionais) e rock progressivo (foi um dos fundadores do lendário Moto Perpétuo). CORAÇÃO PAULISTA do álbum homônimo (1980), um dos mais surpreendentes do músico paulista, não é seu maior sucesso mas certamente a mais roqueira.

 

40)BARCA DO SOL – LADY JANE

Grupo formado por músicos de gabarito como: Muri Costa e Marcelo Costa (que atuaram ao lado de diversos nomes da elite da MPB), o Nando Carneiro, conhecido por trabalhar com Egberto Gismonti em vários álbuns. Pela banda passaram ainda o celebrado violoncelista e arranjador Jaques Morelembaum (que trabalhou 10 anos com Jobim) e, tocando flauta, Ritchie, antes de se tornar conhecido do grande público por MENINA VENENO. Ainda que não tenha tido reconhecimento popular, seus três álbuns tornaram-se itens obrigatórios dos apreciadores de música instrumental e rock progressivo. Do primeiro disco de 1974, a faixa LADY JANE que viria a ser o carro-chefe de CORRENDO O RISCO de Olívia Byington, álbum que contou com a participação do grupo.

 

 

CONFIRA 1a PARTE

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/08/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do.html 

 

CONFIRA 2a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/08/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do_22.html


CONFIRA 3a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/08/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do_30.html 

 

CONFIRA 4a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/09/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do.html  

 



CONFIRA 5a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/09/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do_13.html


 




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