Segue a continuação do levantamento dos principais rocks do século XX,
segundo dois aspectos: 1) receptividade do público traduzida por vendas e
execução nas rádios; 2) relevância dentro do cenário musical.
Vamos à 2ª parte da lista, por ordem crescente:
21. METALLICA – ONE
A mais bem sucedida banda de thrash
metal ampliou seu público quando começou a flertar com o pop, conseguindo visibilidade
na mídia. Seus 2 maiores hits, ONE e ENTER SANDMAN, respectivamente dos álbuns
de 1988 (...AND JUSTICE FOR ALL) e de 1991 (apelidado BLACK ALBUM) são
demonstrações disso. ONE da dupla Hetfield/Ulrich foi inclusive objeto de um vídeo-clipe
que mescla cenas do eloquente filme antibelicista “Johnny Vai à Guerra” que
inspirou a música. Começa lenta, vai ganhando peso e o som das guitarras passa
a se confundir com o das armas de fogo. Em apresentações ao vivo, a performance
contou com a participação do ilustre pianista chinês Lang Lang.
22. VAN HALEN – JUMP
1984, além de designar o sinistro
livro de George Orwell, nomeou o mais famoso álbum do Van Halen (identificável
pela sua expressão em algarismos romanos MCMLXXXIV), contendo dois dos temas
mais conhecidos do conjunto americano: PANAMA e JUMP. Essa última conseguiu a proeza
de levar um grupo de hard rock ao topo das paradas do mundo inteiro, inclusive
no Brasil, onde foi uma das mais executadas do cabalístico ano. Rompeu outro
paradigma por ser uma das poucas canções do gênero identificáveis não pela
guitarra mas pelo som de um sintetizador conduzido pelo próprio Eddie Van Halen.
Traz ainda os inconfundíveis vocais de David Lee Roth que, a partir do ano
seguinte, abandonaria a banda para iniciar carreira solo.
23. NIRVANA – SMELLS LIKE TEEN SPIRIT
Essa canção dos anos 90, além de ser
a mais representativa do movimento grunge, ajudou a impulsionar um revigoramento
no rock que, desde o fim dos 70´s, vinha em trajetória descendente. Segundo
Kurt Cobain, o autor, resultou de uma tentativa de criar um som parecido com os
Pixies, sua banda predileta. O sucesso estrondoso da canção bem como do álbum que a hospeda, NEVERMIND (1991),
levou a banda de Seattle que atuava no circuito alternativo (o álbum anterior saíra
pela gravadora independente Sub Pop) a tornar-se em pouco tempo um dos mais
importantes baluartes do rock. O trágico suicídio de Kurt interrompeu
abruptamente a carreira do grupo (que, desprovido de seu líder, deu origem ao
Foo Fighters)
24. GENESIS – SUPPER’S READY
De 1967 a 1975, sob a liderança de
Peter Gabriel, o Genesis foi um dos expoentes do rock progressivo, com discos
apurados como SELLING ENGLAND BY THE POUND, NURSERY CRYME, TRESPASS e THE LAMB
LIES DOWN ON BROADWAY. A faixa SUPPER´S READY do álbum FOXTROT (1972), uma
suíte de 23 minutos, composta por diversas fases (“uma jornada pessoal que
percorre cenas do Apocalipse na Bíblia” na definição de Gabriel), é apontada
pelos fãs como a mais arrojada do grupo britânico. Em 1977, o guitarrista Steve
Hackett também deixaria o grupo, que aos poucos derivou para um som mais pop com
canções como INVISIBLE TOUCH, FOLLOW YOU FOLLOW ME, I CAN´T DANCE. Para os críticos
mais severos, tornou-se uma inexpressiva banda de apoio a Phil Collins que já
ensaiava sua carreira solo.
25.
JANIS JOPLIN – ME AND BOBBY McGEE
Janis rompeu as barreiras do ‘Clube
do Bolinha’, firmando-se como a grande expoente feminina do rock. Apesar de quê,
boa parte de seu repertório sofreu influência do soul, do jazz e sobretudo do
blues. Seus quatro álbuns de estúdio (dois com o Big Brother & Holding Company),
revelaram canções antológicas como PIECE OF MY HEART, SUMMERTIME, MAYBE, KOZMIC
BLUES, MERCEDES BENZ e ME AND BOBBY McGEE, as duas últimas contidas no álbum
póstumo PEARL (1971), o mais vendido da sua carreira. O músico country e ator
Kris Kristofferson, autor de ME AND BOBBY McGEE, foi agradavelmente
surpreendido pela brilhante gravação da sua composição (sobre a saga de um
casal de caroneiros), dela tomando conhecimento após a morte de Janis (que fora
sua namorada).
26. LYNYRD SKYNYRD – SWEET HOME
ALABAMA
Grupo que, ao lado da Allman Brothers
Band, representou o chamado “Southern Rock”. O estouro comercial ocorreu após
um trágico acidente de avião que dizimou metade da banda. Dois grandes sucessos
sobressaem-se: FREE BIRD, faixa de 9 minutos e um longo duelo de guitarras no
álbum de estreia; e SWEET HOME ALABAMA do álbum seguinte, SECOND HELPING (1974). Essa música é frequentemente acusada de
reacionária em função de ter sido uma réplica a Neil Young, (citado
explicitamente na letra) que denunciava os Estados sulistas de racismo (em
músicas como SOUTHERN MAN e ALABAMA). Essa interpretação foi motivo de
desmentidos e discussões entre os próprios membros da banda. Toda essa polêmica
serviu para divulgar ainda mais a canção que, ideologias à parte, é um deleite.
27.
KISS – ROCK AND ROLL ALL NITE
Conhecido por suas performances
espalhafatosas, pirotecnia e caretas bizarras, o Kiss ficou marcado no início
também pelo uso intensivo de maquiagem e aparência andrógina (expediente já
usado por artistas como Sweet, T. Rex, Alice Cooper, David Bowie, New York
Dolls e até os Secos e Molhados), características do glam rock. Sua consagrada
formação clássica (Simmons, Stanley, Criss, Frehley), perdurou até 1980, mas o
grupo permaneceu em atividade, tornando-se uma lenda viva. ROCK AND ROLL ALL NITE figura no
álbum DRESSED TO KILL (1975), o terceiro da banda. A faixa não teve, de imediato, grande aceitação. Porém, sua reiterada execução
ao vivo, como no álbum ALIVE! (1975), tornou-a a mais popular do grupo nova-iorquino.
28. EMERSON, LAKE & PALMER – LUCKY
MAN
Esboçada na infância por Greg Lake
quando arranhava seus pequenos acordes de violão, essa canção, foi encaixada no
álbum de estreia (apelidado “disco da pomba” de 1970) do conjunto que inclui o
tecladista Keith Emerson e o baterista Carl Palmer. Acabou surpreendendo como o
maior êxito do super-grupo britânico. O guitarrista quase teve repetido o
trauma de ter seu trabalho rejeitado por sua própria banda já que sua
composição FROM THE BEGINNING (que viria a ser outro êxito do grupo) fora rejeitado
por Robert Fripp para o 1º álbum do King Crimson quando Lake era um dos membros.
LUCKY MAN, justiça seja feita, deve seu sucesso em parte ao solo de moog de Emerson,
algo incomum no contexto do rock onde a guitarra reina. Até o diretor Spike Lee,
que não prima propriamente por apreciar artistas ‘branquelos’ do rock
progressivo, surpreendentemente incluiu a canção na trilha do filme “Infiltrado
na Klan”.
29. POLICE – EVERY BREATH YOU TAKE
The Police não conhece o significado
da palavra fracasso. Sua carreira pontuada por 5 excelentes álbuns (todos com
boa repercussão de público e crítica) veio num crescendo, culminando com
SYNCHRONICITY (1983) que na semana de estreia, já figurava em 1º lugar na
Inglaterra, posição repetida logo após nos EUA. O álbum traz a balada EVERY
BREATH YOU TAKE que, em meio aos inúmeros êxitos do grupo, foi um sucesso sem
precedentes (estatísticas indicam que foi a música mais tocada da história do
rádio!). No Brasil foi a 7ª do ano. Estima-se que sozinha foi responsável por
1/3 dos royalties arrecadados pelo conjunto. Tanto auê por uma canção que,
segundo seu autor, Sting, foi escrita em meia hora durante um insight noturno no
Caribe com a frase: “cada respiro que você dá”. Haja fôlego!
30. R.E.M. – LOSING MY RELIGION
Provindo da cena underground, essa
banda norte-americana, alcançou a fama em razão estritamente do reconhecimento
de suas qualidades. Pela EMI, gravaram 5 magistrais álbuns durante os anos 80.
Mas foi pela Warner, já nos 90´s, que lançaram seus discos mais famosos: OUT OF
TIME e AUTOMATIC FOR THE PEOPLE (esse talvez seu mais primoroso trabalho). Os dois
discos revelaram seus maiores êxitos, EVERYBODY HURTS e LOSING MY RELIGION.
Esta, ao contrário do que possa fazer crer, não trata de falta de espiritualidade.
“Perder a religião” é uma expressão regional que significa mais ou menos
“perder a estribeira”. É apenas uma canção romântica, o que não lhe tira a
divindade.
31. OZZY OSBOURNE – CRAZY TRAIN
Ozzy é lembrado sobretudo por sua
marcante presença no Black Sabbath durante os primeiros 10 anos da banda (após
os quais, foi substituído por James Dio). Porém, o metaleiro construiu uma consistente
carreira solo com mais de 10 álbuns de sucesso. Paralelamente, deu uma
amenizada em sua sinistra imagem de “Príncipe das Trevas”. O Ozzy de outrora
considerado o maluco que mordia morcegos no palco, passou a estrelar um reality
show apresentado pela MTV, Os Osbournes, que apresentava sua bem comportada
vida doméstica. Mas o culto a seus antigos êxitos como CRAZY TRAIN do seu 1º
álbum BLIZZARD OF OZZ (1980), facilmente reconhecível pelo seu incendiário riff
de abertura, não foi abalado.
32.
SEX PISTOLS – GOD SAVE THE QUEEN
Muito pode ser dito contra o SEX
PISTOLS, exceto que a eles possa-se ficar indiferente. Afora algumas gravações
contidas no filme THE GREAT ROCK’N’ROLL SWINDLE (como a versão do clássico MY
WAY de Frank Sinatra em que Sid Vicious enxerta uma porção de palavrões), lançaram
um único álbum, NEVER MIND THE BOLLOCKS. Nele está estampada a vocação corrosiva
do punk (que tão bem personalizam) com letras demolidoras, faixas curtas e um
som de guitarras toscamente executado. O maior sucesso foi GOD SAVE THE QUEEN
em que o bordão ganha outro sentido: “Deus salve a rainha (...) não há futuro
para você”. Toda essa bravata de pouco adiantou: os Sex Pistols duraram 2 anos,
o punk murchou, mas o mito da rainha da Inglaterra permanece mais vivo do que nunca (e a última a ocupar o posto durou 96 anos).
33. PEARL JAM – EVEN FLOW
Goste-se ou não delas, as bandas
grunge com seu som sujo e distorcido, suas letras depressivas e seu visual
esculachado emergiram para dar alento ao rock. Dois discos representativos do
movimento imediatamente vêm à memória: NEVERMIND do Nirvana e TEN do Pearl Jam.
Essa banda de Seattle construiu uma carreira sólida e acumulou uma legião de
fãs mas ainda é lembrada por esse seu primeiro álbum, o mais icônico de sua
carreira. Quase todas as faixas acabaram “estourando” e o disco tornou-se um
‘must’ na discografia básica do gênero. EVEN FLOW, composta pelo guitarrista
Stone Grossard com letras de Eddie Vedder, sobre os sonhos inalcançáveis de um excluído
social, é o destaque com sua pegada zeppeliniana e uma interpretação visceral
de Vedder.
34.
CROSBY, STILLS, NASH & YOUNG – CARRY ON
O lendário super-grupo CSN&Y
tornou-se famoso por sua apresentação em Woodstock, em cuja trilha cravou 3
faixas. Os membros provieram de bandas conhecidas: David Crosby dos Byrds,
Stephen Stills e Neil Young do Buffalo Springfield e Graham Nash dos Hollies. A
afinidade musical de tais grupos explica a perfeita alquimia que se formou. A sonoridade,
construída sobre belos arranjos vocais com letras bem elaboradas, está mais
para folk com um toque de psicodelia. Um exemplo é CARRY ON (do álbum DÉJÀ VU
de 1970, o mais representativo). A composição de Stills nasceu desacreditada,
figurando como lado B de um single, mas tornou-se a mais famosa do quarteto...
que passou a ser trio. Young logo depois deixou o grupo, partindo para uma
exitosa carreira solo e o grupo passou a ser CS&N.
35. SANTANA – SMOOTH
Nessa seleção dominada por artistas
provindos da Inglaterra e dos EUA, Santana aparece como peixe fora da água.
Ainda que formado em San Francisco, a característica é o delicioso toque latino
imprimido pelo guitarrista mexicano Carlos Santana. A formação da banda,
inclusive o vocalista de plantão, foi-se alternando ao longo da extensa
carreira do grupo, com quase 30 álbuns de estúdio. Foi um dos que mais brilhou em
Woodstock e seus primeiros trabalhos especialmente ABRAXAS tornaram-se
clássicos. Quando sua carreira parecia minguar, ressurgiu com o soberbo
SUPERNATURAL (1999), álbum com ilustres convidados. A canção SMOOTH cantada por
Rob Thomas é o grande destaque.
36.
BEACH BOYS - WOULDN’T IT BE NICE
A maior parte da produção dos Beach
Boys está ligada ao rock’n’roll cinquentista e à surf music, gêneros precursores
do ‘rock’ propriamente dito. Mas foi após a explosão dos Beatles e dos Stones
que o grupo californiano lançou sua obra prima, PET SOUNDS (1966), reconhecido
não só pelo rompimento de seu estilo característico, mas pela qualidade e
inovação imprimida à música pop. Foi selecionado pelas revistas MOJO e New
Musical Express como o melhor álbum da história e pela Rolling Stone como
vice-campeão. Desse disco seminal, sobressai-se WOULDN’T IT BE NICE. O álbum
curiosamente saiu-se melhor na Inglaterra, onde teve entusiástica recepção e
grande visibilidade na mídia.
37. NEIL YOUNG – HARVEST MOON
Talvez os fãs roqueiros de Young fiquem
desapontados de não serem representados com a ‘guitar song’ CORTEZ THE KILLER
ou com o manifesto HEY HEY MY MY (“o rock jamais morrerá”). Mas não há como
fugir à evidência de que as músicas que melhor identificam NEIL YOUNG são as baladas
HEART OF GOLD e HARVEST MOON. Esta última, quase um ponto fora da curva na sua
carreira. Presente no álbum homônimo de 1992 no qual, após uma década instável
em busca da sonoridade perfeita, o cantor/compositor canadense pareceu ter-se
encontrado, adotando um repertório mais soft. A tocante canção (que contou com
os backing vocals de Linda Ronstadt), foi composta em homenagem à cantora Pegi,
sua companheira à época. Hoje sua mulher é a atriz Daryl Hannah, a loiríssima
vilã de Kill Bill.
38. STEPPENWOLF – BORN TO BE WILD
“Easy Rider” (“Sem
Destino”), badalado road movie e ícone da cultura underground, deve parte de
seu êxito a BORN TO BE WILD, a trilha sonora que acompanha Peter Fonda e Denis
Hopper nas viagens sem rumo pelo sul dos EUA, que passou a ser o hino dos
motoqueiros e a representar a atitude de rebeldia e liberdade de uma geração.
Não bastasse toda essa simbologia, o termo ‘heavy metal’, usado na terceira
estrofe da letra teria batizado o famoso estilo musical de que foi precursora.
Composta durante o período de efervescência político-social, a canção de 1968 integra
o álbum de estreia do Steppenwolf (nome extraído do clássico da literatura
“Lobo da Estepe” de Herman Hesse) que se notabilizou por suas letras corrosivas
contra o governo Nixon. Foi de longe a mais famosa da banda californiana.
39. SUPERTRAMP – THE LOGICAL SONG
Embora tecnicamente o Supertramp seja
um conjunto de rock progressivo - com mirabolantes canções como FOOL’S OVERTURE
- notabilizou-se com melodias mais despojadas como DREAMER, IT´S RAINING
AGAIN, GIVE A LITTLE BIT, GOODBYE
STRANGER e a campeã THE LOGICAL SONG, contida no álbum BREAKTAST IN AMERICA (1979),
inegavelmente o grande êxito do grupo. A letra trata das mudanças decorrentes
da passagem para o mundo adulto, onde predomina a responsabilidade e a “lógica”
com a perda da alegria juvenil. Composição da dupla Hodgson/Davies que, apesar
da perfeita consonância criativa, nunca se bicou bem (a ponto de Hodgson ter deixado
o grupo). Os principais momentos ficaram registrados em memoráveis versões ao
vivo no antológico álbum duplo, PARIS (1980).
40.
JOY DIVISION – LOVE WILL TEAR US APART
A banda inglesa pós-punk fez furor
com apenas dois álbuns de estúdio, UNKNOWN PLEASURES e o póstumo CLOSER,
lançado em 1980 após o suicídio do seu genial vocalista e líder, Ian Curtis que,
além de problemas de saúde, teve uma vida pessoal atribulada. Os membros remanescentes
formariam o New Order com uma vibe mais dançante e descolada. O novo grupo,
apesar de ter alcançado maior sucesso comercial do que o antecessor, jamais atingiu
sua genialidade. Ao contrário do que sugere o nome “Divisão da Alegria”, o
grupo era a personificação da depressão, com letras melancólicas e uma
sonoridade carregada. O álbum traz na capa uma lápide de cemitério, tornando-se
referência aos góticos. Em LOVE WILL TEAR..., a voz soturna e a letra de Ian
(“o amor vai nos dilacerar”) é amenizado pela batida e os sintetizadores que se
tornariam a marca registrada do New Order. Eleita em 2002 pela NME a canção
mais importante dos últimos 60 anos.
Um comentário:
por completo só conheço o da Janis Joplin. Algumas músicas dos mais antigos.
Do Emerson, Lake & Palmer conheço o Pictures at an exhibition.
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