Segue a última parte do levantamento dos principais rocks do século XX, segundo dois aspectos: 1) receptividade do público traduzida por vendas e execução nas rádios; 2) relevância dentro do cenário musical.
Vamos à conclusão da lista, por ordem
crescente:
81)
TEN YEARS AFTER – I´D LOVE TO CHANGE THE WORLD
Essa banda britânica foi uma das que
brilharam no Festival de Woodstock, onde a guitarra de Alvin Lee incendiou a
plateia na apresentação de I´M GOING HOME. Além dessa, há ao menos mais duas
épicas canções que distinguiram o grupo: HEAR ME CALLING e I´D LOVE TO
CHANGE... Essa última está no sexto álbum, A SPACE IN TIME (1971) e marca a inserção
de temas acústicos ao som pesado da banda. A canção reflete a mudança com uma
pegada folk, uma bela introdução de violão e uma letra de protesto hippie sobre
a impossibilidade de mudar um mundo movido por insanidade, desigualdade e cobiça.
82)
URIAH HEEP – THE MAGICIAN´S BIRTHDAY
Por suas virtudes musicais, esse conjunto
merecia maior visibilidade. Seus admiradores colocam-no em pé de igualdade com bandas
britânicas de elite como o Black Sabbath. Obteve discreto sucesso apenas na
Europa e na Ásia. Embora seja comumente classificado como heavy metal ou hard
rock, diferencia-se das bandas enquadradas nessas categorias por seu som melódico
e elaborado. Os primeiros álbuns, mais apurados, têm elementos de rock
progressivo e até jazz. THE MAGICIAN´S BIRTHDAY, presente no álbum homônimo
(1972), é um exemplo. Uma rica odisseia musical de 10 minutos repleta de
nuances e uma longa sessão instrumental.
83)
JEFF BECK– BECK´S BOLERO
Um orgasmo instrumental de menos de 3
minutos composto por Jimmy Page, companheiro de Jeff Beck dos tempos em que
integravam o lendário Yardbirds (ao lado de Eric Clapton). As sessões de
gravação contaram com Page e John Paul Jones (cuja união estabeleceria as bases
para o Led Zeppelin), o baterista Keith Moon (do The Who) e Nicky Hopkins (o pianista
mais requisitado do rock). A música ficou registrada em TRUTH (1968), álbum de
estreia do Jeff Beck Group, que incluía Ronnie Wood (futuro membro dos Stones)
e o iniciante vocalista Rod Stewart. O ‘Bolero’ do título deve-se à linha
melódica estruturalmente semelhante à peça de Ravel, com um tema repetido
ganhando força e inebriando o ouvinte.
84) FREE – ALL RIGHT NOW
Banda britânica de curta existência
(1968/73), precursora do hard rock. Alcançou projeção no festival de Wight.
Revelou dois músicos de destaque: o guitarrista Paul Kossoff (listado como um
dos melhores pelas revistas especializadas), e o vocalista Paul Rodgers (que formaria
o Bad Company), conhecido por unir-se em 2005 aos remanescentes do Queen com os
quais gravou dois álbuns cobrindo a ausência de Freddie Mercury. O mega-hit ALL
RIGHT NOW do álbum FIRE AND WATER (1970) alcançou sucesso mundial em single. Até
nas turnês com o Queen, era incluída no repertório. O êxito da canção, um rock
básico de estrutura trivial, surpreendeu até mesmo a banda.
85) GENTLE GIANT – KNOTS
Essa requintada banda criada pelos irmãos
Shulman levou ao píncaro a essência que permeou o rock progressivo com álbuns
conceituais e peças elaboradas. Os componentes, multiinstrumentistas com formação
musical, alheios ao sucesso, tinham como proposta expandir as fronteiras do rock,
bebendo em outras fontes: música medieval, contemporânea e jazz. As letras eram
profundas e abstratas remetendo a autores como Rabelais e Camus. Gravaram 10
álbuns de estúdio, dos quais os 6 ou 7 primeiros são essenciais. OCTOPUS (1972)
com capa do famoso Roger Dean é um dos mais badalados. A faixa KNOTS (baseada
na obra do psiquiatra R D Laing) conta com um elaborado trabalho
vocal/instrumental.
86) TRAFFIC - DEAR MR. FANTASY
Clássico absoluto da psicodelia, a
canção pertence ao álbum MR. FANTASY (1967) do Traffic que tem em sua formação o
multiinstrumentista Steve Winwood (provindo do lendário Spencer Davis Group), o
baterista Jim Capaldi, o guitarrista Dave Mason e Chris Wood na flauta e sax (inusuais
no rock). O grupo notabilizou-se por incorporar instrumentos pouco ortodoxos como
a cítara e o mellotron (que seria largamente usado por grupos de rock
progressivo) e desenvolver improvisações jazzísticas em trabalhos posteriores.
MR. FANTASY foi saudado como um dos grandes álbuns dos anos 60. Há uma
hipnotizante versão estendida da faixa (com 11 minutos) no álbum ao vivo WELCOME
TO THE CANTEEN.
87)
GEORGE HARRISON – MY SWEET LORD
O ex-beatle teve uma posição secundária
ante a prevalência da dupla Lennon/McCartney, ainda que criando obras primas como
HERE COMES THE SUN, WHILE MY GUITAR GENTLY WEEPS, SOMETHING (a segunda mais
executada do quarteto). Sua carreira solo começou antes do fim dos Beatles com dois
álbuns instrumentais. O pulo do gato veio com ALL THINGS MUST PASS (1970), que mesmo
sendo triplo, chegou ao topo das paradas. Teve como retaguarda um time para não
deixar saudades dos antigos companheiros: Clapton, Frampton, Phil Collins,
Billy Preston, Ginger Baker e Dylan (cuja composição IT’S NOT FOR YOU integra o
disco). Outros hits foram WHAT IS LIFE e MY SWEET LORD, cujo single alcançou o
primeiro lugar no mundo todo (inclusive no Brasil). “Lord” em questão refere-se
a Krishna, deidade do hinduísmo, a que George se convertera.
88)
IRON BUTTERFLY – IN-A-GADDA-DA-VIDA
Essa canção nomeou o álbum de 1968, que,
com mais de 30 milhões de cópias, tornou-se o mais vendido dos EUA em 1969, graças
basicamente à faixa-título. O estrondoso sucesso desafiou a lógica já que se
trata de canção de 17 minutos, cuja execução nas rádios foi um fenômeno que
rompeu o padrão de duração das de músicas veiculadas, inferior a 5 minutos. Foi
editada em single, mas a versão integral era a exigida. Muito se especulou
sobre o enigmático nome da faixa, talvez uma corruptela de “nos jardins do
Éden”. Tornou-se um hino psicodélico, devido a suas características de realçar longas
digressões instrumentais (puxadas por um riff marcante).
89) SLAYER – ANGEL OF DEATH
Pertencente à ala mais radical do
thrash metal, a banda californiana manteve praticamente a formação original até
a morte em 2013 do guitarrista e membro fundador Jeff Hanneman. As letras, tão
agressivas quanto as músicas, abrangem temas associados à morte, à violência e
ao satanismo. O álbum HELL AWAITS que apresenta a gravação invertida de uma voz
demoníaca repetindo “join us” fez furor. No álbum seguinte, REIGN IN BLOOD (1986),
um dos discos mais pesados da história, o grupo abriu mão dos arranjos
elaborados, trazendo faixas rápidas e diretas com apelo punk. Esse disco contém
as duas canções preferidas pelos fãs, a faixa-título e ANGEL OF DEATH que
aborda os experimentos humanos perpetrados pelo médico nazista Josef Mengele.
90)
ELECTRIC LIGHT ORCHESTRA – LIVIN’ THING
Liderada pelo vocalista e
instrumentista Jeff Lynne, o ELO foi uma talentosa banda britânica dos anos
70/80. O grupo foi também bem sucedido nos EUA, onde emplacou 20 singles no
Billboard, um recorde. Musicou o filme Xanadu com Olivia N John, sendo a trilha
melhor sucedida do que a própria película. Dentre os sucessos, ROCK’N’ROLL IS KING, STRANGE MAGIC, EVIL WOMAN e MR.
BLUE SKY que parece dos Beatles (de quem Lynne era fã,
especialmente George com quem trabalhou). LIVIN´ THING, pertencente ao álbum A
NEW WORLD RECORD (1976), tem estrutura insólita, começando com um belo solo de
violino com influências espanholas, evoluindo para o rock.
91)
T. REX – GET IT ON
Originalmente Tyrannosaurus Rex, a abreviação
de nome foi acompanhada de mudança de estilo. A banda inglesa com som acústico
próximo ao folk e à psicodelia, passou a incorporar a eletricidade e utilizar
maquiagens e vestimentas chamativas, uma das pioneiras do glam rock. Essa
mudança gerou bons frutos: o álbum ELECTRIC WARRIOR de 1971 foi o mais vendido do
ano no Reino Unido, puxado por GET IT ON (Bang a Gong). As excentricidades foram
promovidas pelo genial Marc Bolan (vocalista e guitarrista), influenciado por David
Bowie, seu amigo. A carreira do T. Rex foi abortada pela precoce morte de Bolan
aos 30 anos em acidente automobilístico.
92)
MOODY BLUES – NIGHTS IN WHITE SATIN
Esse grupo surgiu desacreditado em
1964 com repertório de covers de R&B. A entrada do baixista/guitarrista John Lodge e
do guitarrista Justin Hayward imprimiu uma virada decisiva, tornando-o
um dos pioneiros do rock progressivo. O álbum DAYS OF FUTURE PASSED (1967)
obteve enorme sucesso (2 anos na lista da Billboard!), puxado pela canção
NIGHTS IN... (composta na juventude por Hayward quando sua namorada deu-lhe um
lençol de cetim). Mais que isso, o álbum é considerado precursor do que viria a
se constituir o “rock progressivo”, agregando ao gênero elementos orquestrais
da música erudita. Sob o comando da dupla Lodge/Hayward, o MB permaneceu em
evidência ao longo das décadas seguintes
93)
STEELY DAN – RIKKI DON´T LOSE THAT NUMBER
Essa sofisticada banda
norte-americana que agrega elementos de jazz, funk e R&B está centrada nas
figuras de Walter Becker, guitarrista/baixista e Donald Fagen, tecladista/vocalista
(que desenvolveu também uma respeitável carreira solo). O álbum inicial já
revelaria o hit DO IT AGAIN que, lançado em single (sem o solo instrumental) teve
ótima receptividade. PRETZEL LOGIC (1974) traz outro êxito, RIKKI DON´T.... O
sucesso comercial dessas canções mais simples oculta o potencial do grupo. A
obra mais arrojada, AJA (1977), uma esmerada produção que contou com músicos de
primeira (Wayne Shorter, Larry Carlton, Joe Sample. Lee Ritenour...), é
frequentemente citada como um dos grandes álbuns de todos os tempos.
94)
WHITESNAKE – HERE I GO AGAIN
Egresso do Deep Purple, David Coverdale
fundou em 1978 o Whitesnake, de início com uma sonoridade semelhante ao antigo
grupo, depois derivando para uma linha mais soft. Não obstante amealhar uma
legião de fãs, o grupo teve trajetória irregular, com frequentes alterações na
formação. Passaram por lá o guitarrista Steve Vai, os bateristas Cozy Powell, Aynsley
Dunbar e Tommy Aldridge e os ex- Deep Purple Jon Lord (teclado) e Ian Paice
(batera). O disco de maior êxito, de 1987 (identificado pelo ano ou como
“Serpens Albus”), reúne os dois grandes hits: a balada romântica IS THIS LOVE
(que invadiu as FM´s) e HERE I GO AGAIN, originalmente do álbum SAINTS &
SINNERS, reciclada com novo arranjo e mudança letra.
95)
CANNED HEAT – ON THE ROAD AGAIN
A banda americana com repertório
centrado em blues (gravaram com John Lee Hooker o álbum HOOKER’N HEAT) ganhou
projeção mundial com sua aparição nos mega-festivais Monterey e Woodstock,
tornando-se uma das preferidas dos hippies. Duas de suas músicas (identificadas
pela gaita de Alan Wilson e sua voz anasalada) tornaram-se emblemáticas: GOING
UP THE COUNTRY (presente na trilha de Woodstock) e ON THE ROAD AGAIN, remake de
um tema do bluesman Floyd Jones, integrando o álbum BOOGIE WITH CANNED HEAT (1968).
96)
ZZ TOP – SHARP DRESSED MAN
Além de roupas e óculos pretos, o ZZ
Top é indissociável das extensas barbas (portam o ‘acessório’ o
guitarrista/vocalista Billy Gibbons e o baixista/vocalista Dusty Hill; o
baterista Frank Beard tem barba só no nome). Recusaram uma oferta milionária da
Gillette para cortá-las para uma peça publicitária. O fato é que o ZZ Top não
estava nem aí. Avesso a modismos, o negócio do trio texano era fazer blues-rock de
raiz com competência, sem precisar botar as barbas de molho. Com esse
repertório, letras irônicas condizentes com sua feição e a mesma formação desde
1969, venderam mais de 50 milhões de discos, a metade nos EUA. A canção SHARP...
do álbum ELIMINATOR (1983), é uma das preferidas.
97) MAMAS & PAPAS – CALIFORNIA
DREAMIN’
Não obstante as intrigas amorosas e os
desentendimentos internos, o grupo folk liderado pelo guitarrista John Phillips
destacou-se como um dos ícones da contracultura. John foi idealizador do inolvidável
Monterey Pop Festival e autor do super-hit SAN FRANCISCO (imortalizado pelo
ex-parceiro musical, Scott McKenzie). Além, é claro, de ter composto os maiores
hits dos M&P, MONDAY MONDAY, I SAW HER AGAIN e CALIFORNIA DREAMIN’, esta em
parceria com sua bela mulher, Michelle, pivô das referidas desavenças. A canção
integra o primeiro e mais conhecido álbum do grupo, IF YOU CAN BELIEVE YOUR
EYES AND EARS (1966) que traz na capa os 4 vocalistas numa banheira. A outra
mulher é ‘Mama’ Cass que popularizou o clássico DREAM A LITTLE DREAM OF ME.
98)
SIOUXSIE & BANSHEES – CITIES IN DUST
A cantora Siouxsie Sioux (Susan J
Ballion), a versão feminina de Robert Smith do Cure, foi vocalista e figura
central dos Banshees, banda precursora do pós punk, vindo a se tornar uma das
preferidas dos góticos. Siouxsie simultaneamente criou ao lado de Budgie (baterista
dos Banshees e seu futuro marido) um projeto paralelo, o duo The Creatures com
uma sonoridade mais ousada e experimental. CITIES IN DUST, presente no álbum
TINDERBOX (1986), cuja temática é a destruição da cidade de Pompeia, foi o
maior êxito dos Banshees. Representou uma guinada com o grupo adquirindo uma
sonoridade mais pop, eletrônica e dançante. Siouxsie ainda lançaria um disco
solo, o último de sua carreira.
99) BLIND
FAITH – CAN´T FIND MY WAY HOME
Esse supergrupo britânico teve trajetória
meteórica, durando apenas um ano, porém causando furor, pois três dos quatro
integrantes eram figuras de proa: Eric Clapton e Ginger Baker, provindos do
Cream, e Steve Winwood, do Traffic. Não chegaram a consolidar uma carreira,
tanto que as canções mais requisitadas nas apresentações eram dos grupos de
origem. Seu único álbum (de 1969) produziu estardalhaço menos pelo repertório
do que pela polêmica capa que traz uma garotinha de seios nus segurando um avião
(símbolo fálico?). Nos EUA, foi substituída por uma foto dos membros (não
fálicos). Ao menos, geraram CAN’T FIND..., uma bela canção de Winwood.
100) STRAY CATS – ROCK THIS TOWN
O guitarrista, cantor e compositor Brian
Setzer chegou ao estrelato revivendo estilos musicais que deixaram saudades. Nos
80’s, como líder dos Stray Cats, sua referência era o rockabilly, subgênero do
rock’n’roll dos anos 50, praticado por Eddie Cochran e Buddy Holly. Nos anos 90,
com a Brian Setzer Orchestra, reviveu a magia das big bands e o swing, variante
do jazz, popular nos anos 50. Puxado pelo hit ROCK THIS TOWN, os Stray Cats atingiram
o máximo de sua popularidade com BUILT FOR SPEED de 1982, seu terceiro álbum, praticamente
uma coletânea dos trabalhos anteriores (que obtiveram repercussão só na
Inglaterra, apesar de o grupo ser americano).
Confira a 1ª parte:
Confira 2a parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/07/os-100-maiores-rocks-do-seculo-xx-2.html
Confira a 3ª parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/07/os-100-maiores-rocks-do-seculo-xx-3.html
Confira a 4ª parte:
http://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/07/os-100-maiores-rocks-do-seculo-xx-4a.html
2 comentários:
Gostava de quase todos. Alguns não conhecia.
Parabéns pelo texto e pelas informações nele contidas. Vou passar uns 3 dias ouvindo a seleção musical
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