sábado, 23 de novembro de 2019

AS MELHORES TRILHAS DO CINEMA


Um grande filme deve necessariamente vir acompanhado de uma trilha sonora que se preze. A música tem a capacidade de potencializar as sensações a nós repassadas pelas cenas assistidas. Em alguns casos, fica tão umbilicalmente cravada às imagens que delas se torna indissociável.
Certamente, muitos filmes devem grande parte de seu sucesso à trilha sonora. Há casos que chega a superar o próprio filme a ele atrelado.
Meu destino foi marcado pelos filmes que assisti. A música que os enlevou faz a trilha sonora da minha vida.

1)    BLADE RUNNER (Ridley Scott), 1982
Uma das mais maravilhosas obras do cinema tem uma das mais maravilhosas trilhas do cinema. Vangelis Papathanassiou que começou sua carreira no grupo grego de rock progressivo Aphrodite’s Child (com baladas interpretadas pelo vocalista Demis Roussos), acabou enveredando pelo caminho da música orquestral eletrônica batizada inapropriadamente como “new age”. Teve ainda uma bem sucedida parceria com o vocalista do Yes, Jon Anderson que rendeu 4 álbuns. Mas o auge veio com as trilhas sonoras. Duas delas são definitivamente magistrais. CARRUAGENS DE FOGO (CHARIOTS OF FIRE), vencedora de Oscar e, sobretudo BLADE RUNNER, O CAÇADOR DE ANDROIDES, personagem vivido por Harrison Ford. Vangelis acertou a mão no acompanhamento da ambientação futurista criada pelo diretor. E ainda esnobou fazendo com uma das canções românticas mais calientes  da história, “Love Theme”, mesclando sax com sintetizador.

2)    LARANJA MECÂNICA (Stanley Kubrick), 1971
Stanley Kubrick foi sem dúvida um dos maiores diretores de todas as épocas, senão o maior. Era um aficionado por música clássica. Quem não se lembra de “Also Sprach Zaratrusta” e da valsa “Danúbio Azul” de Strauss em 2001, UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO? E também Schubert (BARRY LINDON), Chopin (LOLITA), Bartok (O ILUMINADO). Em sua última produção, DE OLHOS BEM FECHADOS, flerta com arrojadas composições do húngaro György Ligeti e o trip hop de Jocelyn Pook com fragmentos de uma liturgia ortodoxa cantadas em romeno. Mas a trilha mais cativante permanece sendo a de LARANJA MECÂNICA (CLOCKWORK ORANGE) em que funde peças tradicionais de Beethoven com música eletrônica. A cena de abertura em que o personagem central vivido por Malcolm McDowell se delicia com sua gangue de arruaceiros na leiteria Korova ao som da peça composta por Wendy Carlos é de arrepiar.

3)    AMARCORD (Federico Fellini), 1973
O compositor italiano Nino Rota fez trilhas antológicas para o cinema como as d’O PODEROSO CHEFÃO de Coppola, ROMEU E JULIETA e A MEGERA DOMADA de Zefirelli, MORTE SOBRE O NILO de Guillermin e O LEOPARDO de Visconti. Mas seu colaborador mais fiel foi Federico Fellini com o qual trabalhou em praticamente toda sua vasta filmografia: I VITELONI, OITO E MEIO, SATYRICON, AS NOITES DE CABÍRIA, BOCACCIO 70, CASANOVA, JULIETA DOS ESPÍRIOS, LA DOLCE VITA etc. A nostálgica e comovente trilha de AMARCORD certamente é seu mais belo trabalho. O filme autobiográfico de Fellini que retrata a infância do diretor num pequeno vilarejo italiano é considerado uma das maiores obras do cinema. A quem assistiu o filme, impossível não associar de imediato a belíssima música tema.

4)    OS INTOCÁVEIS (Brian de Palma), 1987
Ao lado de John Williams, Ennio Morricone é o mais importante ‘trilheiro’ do cinema contemporâneo. Dentre as memoráveis, CINEMA PARADISO (Tornatore), ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (Sergio Leone) e A MISSÃO (Joffé), obras dos Irmãos Taviani, Pasolini, Almodóvar além, é, claro dos famosos temas para os ‘western spaghetti’ como POR UM PUNHADO DE DÓLARES, O BOM, O MAU E O FEIO e QUANDO EXPLODE A VINGANÇA. E até filmes com conteúdo político como SACCO E VANZETTI, INVESTIGAÇÃO SOBRE UM CIDADÃO..., 1900, BATALHA DE ARGEL e QUEIMADA. Trabalhou até com Tarantino na trilha de OS OITO ODIADOS (que lhe rendeu o único Oscar, reparador, já que é uma trilha “menor”). Minha preferida ainda é a comovente trilha de THE UNTOUCHABLES (não confundir com o francês INTOCÁVEIS, que fez muito sucesso por aqui) que conduz o enfrentamento do quarteto liderado por Kevin Costner e Sean Connery contra o todo poderoso Al Capone (Robert de Niro).

5)    AMÉLIE POULAIN (Jean-Pierre Jeunet), 2001
Os trabalhos do multi-instrumentista francês Yann Tiersen receberam influência do compositor clássico Erik Satie e dos minimalistas sobretudo Michael Nyman (que também se tornou conhecido pelas trilhas que compôs). Tiersen ganhou repentina projeção mundial justamente pela belíssima trilha de AMÉLIE POULAIN. A composição para piano, violino e harmônica consegue transportar para a música com perfeição o pequeno porém fascinante mundo vivido pela personagem representada por Audrey Tautou e suas peraltices pelas coloridas ruas de Montmartre. Tiersen não é um grande habitué de trilhas. Além dessa, destaca-se apenas a trilha de outro grande filme, ADEUS, LÊNIN que guarda semelhanças com a de AMÉLIE.

6)    NOVIÇA REBELDE (Robert Wise), 1965
Clássico dos clássicos, esse musical continua fascinando gerações com melodias compostas pela dupla Rodgers/Hammerstein que já emplacara vários sucessos na Broadway. A música está estampada até no título original, THE SOUND OF MUSIC. A saga da família Von Trapp comandada militarmente por Christopher Plummer e a irrequieta freirinha a ela agregada (Julie Andrews) é contada através de melodias que parecem não envelhecer como a que acompanha grandiosa abertura (num verdíssimo gramado tendo os Alpes austríacos ao fundo) ou a singela “Do Re Mi”. Wise dirigiu outro famosíssimo musical, WEST SIDE STORY com temas compostos pelo maestro Leonard Bernstein. Mais recentemente, aventurou-se pela ficção científica dirigindo STAR TREK com uma grandiosa trilha orquestral conduzida por Jerry Goldsmith.

7)    WOODSTOCK (Michael Wadleigh), 1970
Aqui a trilha é o próprio filme. Oscar de documentário, a película registra o mais importante festival de música de todos os tempos, ocorrido em 1970 na fazenda de Woodstock, California. Na pauta, o surgimento do movimento hippie, amor livre, consumo de drogas e protestos contra a guerra do Vietnam. No cardápio, canções memoráveis, sobretudo rock, que fizeram a cabeça da geração ‘flower power’, executadas por nomes como Jimi Hendrix, Santana, The Who, Ten Years After, Jefferson Airplane e Joe Cocker. Mas havia também o funk de Sly and Family Stone, o blues de Canned Heat e o folk de Crosby, Stills Nash &  Young, Joan Baez e Jon Sebastian. As canções foram reunidas num álbum triplo. Posteriormente, saiu um volume 2, duplo com canções relegadas no primeiro registro.

8)    KOYAANISQATSI (Godfrey Reggio), 1982
Esse é um dos exemplos em que a trilha, assinada pelo compositor erudito Philip Glass, tornou-se tão celebrada e impactante que praticamente empanou o brilho do filme. Trata-se de um documentário, se é que podemos assim o definir, “narrado” através de um painel de imagens que mostra o alvoroço da vida “moderna” (refere-se ao ano de 1982, quando a produção foi rodada). A música desempenha presença crucial na retratação da paranoia. Aliás, no filme não há diálogos nem narração, apenas uma sequência frenética de cenas desconcertantes. As peças minimalistas executadas por um mestre do gênero casaram-se perfeitamente com as imagens. O filme foi o primeiro da trilogia “qatsi” que inclui POWAQQATSI e NABOYQATSI do mesmo diretor, também “trilhadas” por Glass. Após a bem sucedida empreitada, Glass tornou-se bastante requisitado, assinando trilhas de filmes importantes, como AS HORAS, MISHIMA, KUNDUN e TRUMAN, O SHOW DA VIDA.

9)    CABARET (Bob Fosse), 1972
Musical de Bob Fosse (que também é coreógrafo e dançarino) estrelado por Liza Minelli que retrata com maestria e fidelidade o ambiente vaudeville de um cabaré de Paris durante o período de ascensão do nazismo. Só não ganhou o Oscar porque o concorrente era nada menos do que O PODEROSO CHEFÃO de Coppola. As canções de John Kander e Fred Ebb (que também compuseram para NEW YORK, NEW YORK, FUNNY LADY e CHICAGO), boa parte executada no palco da casa de espetáculos, ao lado do mestre de cerimônia representado pelo impagável Joel Grey, são inesquecíveis. Bob ainda dirigiria outro grande musical, ALL THAT JAZZ (Palma de Ouro em Cannes) com outra bela trilha sonora (assim como CABARET, supervisionada por Ralph Burns) com destaque para “On Broadway” com George Benson.

10)                      TUBARÃO (Steven Spielberg), 1975
O maestro John Williams é o compositor mais requisitado de Hollywood.  O único concorrente que lhe fez frente em número de indicações ao Oscar é Alfred Newman (45 indicações contra 47 de Williams). Entre suas famosas trilhas orquestrais épicas, as sagas de HARRY POTTER e STAR WARS. Spielberg é seu amigo particular e mais assíduo colaborador. Grande parte de seus filmes inclusive ET, JURASSIC PARK, A LISTA DE SCHINDLER, CONTATOS IMEDIATOS... e a série completa INDIANA JONES é dele. TUBARÃO (JAWS) foi uma das primeiras colaborações entre os dois (e possivelmente a mais bem sucedida). A sequência mais marcante é aquela que precede as investidas mortais do sinistro esqualo, criando uma tensão no espectador que, ao escutá-la, prepara seus nervos para o impiedoso ataque.

11)                      EM ALGUM LUGAR DO PASSADO (Jeannot Szwarc), 1980
John Barry é outro nome imprescindível quando se trata de música para o cinema. Dentre suas trilhas, DANÇA COM LOBOS, ENTRE DOIS AMORES (Out of Africa), CHAPLIN e KING KONG (versão de 1976). Mas duas são absolutamente magistrais: PERDIDOS NA NOITE (MIDNIGHT COWBOY), incluindo o melancólico tema executado com gaita (a trilha que traz também a famosíssima “Everybody’s Talking” interpretada por Harry Nilsson); e SOMEWHERE IN TIME, cuja música tema é indissociável ao drama do sonho desfeito vivido pelo personagem vivido  por Christopher Reeve.  Além disso, Barry assinou temas para os primeiros filmes de 007, tendo inclusive elaborado os arranjos do famosíssimo tema original de James Bond.

12)                      VERÃO DE 42 (Robert Mulligan), 1971
Michel Legrand, recentemente falecido, foi um dos mais respeitados músicos do século XX, responsável pelas trilhas de O MORRO DOS VENTOS UIVANTES e YENTL, além de trabalhar com diretores cultuadíssimos como Orson Welles, Malle, Godard e Wajda. Mas tornou-se mais conhecido pela belíssima trilha de SUMMER OF 42, vencedora do Oscar, película que retrata a paixão proibida de um adolescente por uma mulher mais velha, cujo marido estava afastado.

13)                      PANTERA COR-DE-ROSA (Blake Edwards), 1963
Henry Mancini é um nome que não poderia deixar de figurar em destaque. Os temas cômicos para duas trilhas tornaram-se famosíssimos. A PANTERA COR-DE-ROSA e HATARI (com a famosa “Dança do Elefantinho”). Compôs ainda as trilhas dos clássicos CHARADA (Stanley Donen) com Cary Grant e Audrey Hepburn, VICTOR OU VICTÓRIA com Julie Andrews e BONEQUINHA DE LUXO com Hepburn (ambos de Blake Edwards), incluindo “Moon River”, uma das mais belas melodias de todos os tempos. Não bastasse tudo isso, é dele também o famosíssimo tema de abertura da série televisiva Peter Gunn.

14)                      BUTCH CASSIDY AND SUNDANCE KID (George Roy Hill), 1969
Burt Bacharach é um celebrado compositor, com pérolas do cancioneiro norte-americano, reconhecido sobretudo nas vozes de Dionne Warwick, Aretha Franklin e Carpenters. Quem ousa dizer que não gosta de “I’ll Never Fall in Love Again”, “The Look of Love”, “I Say a Little Prayer”, “Close to You”? E naturalmente “Raindrops Keep Falling on my Head" que integra a trilha desse filme estrelado por Paul Newman e Robert Redford (a mesma dupla protagoniza outro sucesso do diretor, GOLPE DE MESTRE, que também possui uma trilha genial com base no ragtime de Scott Joplin). Bacharach compôs mais duas trilhas memoráveis, HORIZONTE PERDIDO e CASSINO ROYALE (não confundir com o filme de 007 de 2006).

15)                      MÁGICO DE OZ (Victor Fleming), 1939
“Over the Rainbow” tornou-se uma das canções mais adoradas de todos os tempos com centenas de gravações por artistas dos mais variados gêneros, de Frank Sinatra a Eric Clapton, de Ella Fitzgerald a Mariah Carey, de Nara Leão a Paula Fernandes. A gravação original foi composta nos anos 30 pela dupla Harlen/Harburg integrando a trilha do filme THE WIZARD OF OZ especialmente para a interpretação de Judy Garland então com 16 anos. Naturalmente faturou o Oscar (a trilha e a canção original). No mesmo ano, Fleming viria a dirigir outro clássico, E O VENTO LEVOU com trilha de Max Steiner (com o famosíssimo “Tara’s Theme”). Max é outro campeão de trilhas com 24 indicações de Oscar (é dele também a trilha de CASABLANCA).
16)                      PARIS TEXAS (Wim Wenders), 1984
Além do icônico ASAS DO DESEJO, o diretor alemão Wim Wenders realizou obras primas como BUENA VISTA SOCIAL CLUB, documentário que resgatou uma geração esquecida de artistas cubanos. O produtor musical foi o guitarrista californiano Ry Cooder com quem Wenders já havia trabalhado em PARIS TEXAS, palma de ouro em Cannes. Aqui, os cortantes solos de guitarra de Cooder fornecem o clima melancólico e agreste dos rincões desérticos do Texas onde se desenrola a trama.

17)                      FURYO (Nagisa Oshima), 1983
A produção nipônica de guerra estrelada por David Bowie ganhou uma trilha bastante pertinente assinada por Ryuichi Sakamoto, combinando composição sinfônica ocidental com sons tradicionais do extremo oriente e um toque de música eletrônica. O conhecido tema instrumental ganhou uma maravilhosa versão vocal de David Sylvian do grupo Japan (que de japonês só tem o nome). Sakamoto viria também a compor para três filmes de Bernardo Bertolucci, O CÉU QUE NOS PROTEGE, O PEQUENO BUDA e O ÚLTIMO IMPERADOR (ganhando o Oscar por esse último).  Compôs também para OLHOS DE SERPENTE (Brian de Palma) e DE SALTO ALTO (Almodóvar).

18)                      VELUDO AZUL (David Lynch), 1986
Angelo Badalamenti foi o compositor preferido de David Lynch, compondo 3 trilhas de destaque: TWIN PEAKS, MULHOLLAND DRIVE e BLUE VELVET. Nessa última, a canção tema, mega-sucesso do cantor Bobby Vinton (interpretada no filme pela atriz Isabella Rosselini) inspirou o título. Roy Orbinson também comparece com “In Dreams”, reforçando o clima pop vintage, justaposto por uma partitura orquestral conduzida por Badalamenti, tendo como referência o compositor clássico Shostakovich. A combinação desses elementos tão díspares criou um clima perfeito para o perturbador enredo com características neo-noir. Destaque para a faixa “Mysteries Of Love” interpretada por Julee Cruise. A cantora teve diversas colaborações com a dupla Lynch/Badalamenti, inclusive no maior sucesso de sua carreira, “Falling” que integrou a trilha de TWIN PEAKS.

19)                      PSICOSE (Alfred Hitchcock), 1960
A obra máxima de suspense (e horror) de Hitchcock, à época causou furor e pânico nas salas de projeção, especialmente a tétrica cena do assassinato a facadas no chuveiro, um dos takes de maior tensão da história do cinema. O grau máximo de apreensão ocorre em função do famosíssimo acompanhamento de violinos estridentes criado por Bernard Herrmann. O maestro nova-iorquino tem um precioso currículo tendo composto a trilha de obras primas do cinema como CIDADÃO KANE de Orson Welles, FAHRENHEIT 451 de François Truffaut TAXI DRIVER de Martin Scorsese e TRÁGICA OBSESSÃO de Brian de Palma. Mas o maior destaque refere-se à filmografia de Hitchcock que inclui dentre outros filmes VERTIGO E O HOMEM QUE SABIA DEMAIS.

20)                      LAWRENCE DA ARÁBIA (David Lean), 1962
Maurice Jarre é outro colecionador de indicações ao Oscar. Venceu em DOUTOR JIVAGO, PASSAGEM PARA A ÍNDIA e LAWRENCE DA ARÁBIA, três clássicos do diretor David Lean. Esse último é considerado uma das mais ambiciosas obras da história do cinema e ganhou de Jarre uma trilha com a grandiosidade compatível com o esplendor das imagens. Jarre inovou agregando instrumentos étnicos e eletrônicos em seus arranjos, tornando-se um dos precursores da world music da qual seu filho Jean Michel tornou-se celebridade.

21)                      A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM (Mike Nichols), 1967
A dupla norte-americana Simon & Garfunkel não tem tradição de compor para o cinema. Nem precisa. Venderam dezenas de milhões de discos. Porém abriram uma exceção para THE GRADUATE, filme onde o jovem Dustin Hoffman mantém uma relação complicada com a sedutora senhora Robinson, Anne Bancroft. As desventuras do personagem são acompanhadas por canções que se tornaram verdadeiros hinos pop nos anos 60, como “Sounds of Silence”, “Mrs. Robinson” e “Scarborough Fair”.

22)                      PINÓQUIO (Walt Disney), 1940
O compositor Alan Menken é o preferido dos estúdios Disney para trabalhar trilhas de êxito como A PEQUENA SEREIA e a BELA E A FERA. A ele minhas desculpas mas a melhor trilha Disney continua sendo a do clássico PINOCCHIO de 1940 de criação coletiva, que traz a maravilhosa canção “When you wish upon a star” (Jiminy Cricket), ganhadora do Oscar. Segunda superprodução dos Estúdio Disney (a primeira foi BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES que também possui uma trilha excepcional que inclui “Heigh Oh”: “Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou”), o longa de animação marca o auge da perfeição técnica do desenho animado.

23)                      DO FUNDO DO CORAÇÃO (Francis Ford Coppola), 1982
O maior fracasso comercial da filmografia do diretor da trilogia O PODEROSO CHEFÃO talvez seja o que tenha paradoxalmente a trilha mais cativante, a cargo de Tom Waits. Não obstante Waits seja um músico cult, seu vínculo com o cinema fica mais por conta de suas atuações como ator coadjuvante, sobretudo em filmes de Jim Jarmush (DOWN BY LAW, COFFEE AND CIGARETTES) e do próprio Coppola (SELVAGEM DE MOTOCICLETA, VIDAS SEM RUMO, DRÁCULA DE BRAM STROKER). Em ONE FROM THE HEART, no entanto, brilha tanto como compositor (sendo o autor das 12 faixas que integram o álbum) como intérprete, fazendo dupla com Crystal Gayle (convertida do country para o jazz romântico).

24)                      AGUIRRE, A CÓLERA DOS DEUSES (Werner Herzog), 1972
Werner Herzog sempre foi um diretor obscuro cultuado por um grupo restrito de cinéfilos. Logicamente, as trilhas de seus filmes refletiam essa condição. Assim como ocorreu com o ator Klaus Klinki, o conjunto alemão Popol Vuh (capitaneado pelo tecladista Florian Fricke) foi colaborador recorrente do cineasta alemão. Assinou diversas trilhas, como as de FITZCARRALDO e NOSFERATU, conferindo às trilhas um clima onírico, combinando as viagens eletrônicas de grupos como o Kraftwerk e o Tangerine Dream com influências místicas e orientais e, no caso do filme em questão, andinas.

25)                      FALE COM ELA (Pedro Almodovar), 2002
Preferido de Almodóvar, Alberto Iglesias compôs diversas trilhas para o cineasta espanhol como VOLVER, MÁ EDUCAÇÃO e TUDO SOBRE MINHA MÃE, dentre outros. A mais bela e pungente talvez tenha sido HABLE CON ELLA que também abre espaço para a MPB com Elis Regina interpretando “Por Toda a Minha Vida” (Tom & Vinícius) e Caetano Veloso com “Cucurrucucú Paloma” que aparece em pessoa cantando a pérola do folclore mexicano. Iglesias musicou outros filmes como LÚCIA E O SEXO, CHE, O CAÇADOR DE PIPAS e O JARDINEIRO FIEL, este dirigido por Fernando Meirelles.

26)                      PULP FICTION (Quentin Tarantino), 1994
Tarantino costuma dividir os críticos. Menos quando se trata das trilhas sonoras, quando a opinião unânime é que o diretor não dá bola fora. PULP FICTION é não apenas seu mais badalado filme, como o que possui a trilha mais arrojada. Além da sacada de ressuscitar empoeirados clássicos da surf music, ainda realizou a proeza de transformar em sucesso o obscuro grupo Urge Overkill.

27)                      ROUND MIDNIGHT (Bertrand Tavernier), 1986
O saxofonista Dexter Gordon surpreendeu por sua atuação nessa película, concorrendo ao Oscar como ator. A trilha sonora (vencedora da estatueta) homenageia os anos dourados do jazz reunindo cobras como Herbie Hancock, Ron Carter (que também atuaram no filme), Bobby McFerrin, John McLaughlin, Chet Baker, Freddie Hubbard e Wayne Shorter, dentre outros. Uma celebração ao nobre gênero musical.

28)                      OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE (John Badham),1977
Na década de 60, The Bee Gees era tido como um grupinho brega que alcançava sucesso com cançõezinhas açucaradas como “Massachusetts” e “I Started the Joke”. Pegando carona na onda ‘disco’, os irmãos Gibb emplacaram uma das mais bem sucedidas trilhas, SATURDAY NIGHT FEVER com canções como “Stayin’ Alive”, “How Deep is Your Love” e “Night Fever” com John Travolta arrepiando na pista. De quebra, outros grupos representativos dos anos 70: Kool & the Gang, KC & Sunshine Band e Tavares.

29)                      LUZES DA CIDADE (Charles Chaplin), 1931
Nesse clássico que combina comédia e drama, Carlitos desempenha um vagabundo que sustenta uma florista cega (Virginia Cherill) que, ao voltar a enxergar, não consegue esconder a frustração ao reconhecer seu maltrapilho benfeitor. Chaplin manifesta aqui toda sua genialidade: não bastasse ser o diretor, o produtor, o roteirista e o ator principal, ainda compôs a bela trilha sonora. Em se tratando de um filme mudo, a música desempenha papel primordial traduzindo as emoções dos personagens. É utilizada também a música “Violetera” do compositor espanhol José Padilha como tema da florista.

30)                      TRAINSPOTTING (Danny Boyle), 1996
O diretor de YESTERDAY e do premiadíssimo QUEM QUER SER UM MÍLIONÁRIO? já chamava a atenção dos cinéfilos desde os desconcertantes COVA RASA e TRAINSPOTTING, ambos com Ewan McGregor. Esse último retrata sem retoques o mundo das drogas. A trilha tornou-se ainda mais cultuada que o filme, reunindo a nata da canção pop inglesa e americana da época: Lou Reed, Brian Eno, Iggy Pop, Blur, Underworld, Primal Scream, New Order etc.

31)                      BETTY BLUE (Jean Jacque Beineix), 1985
A carreira do celebrado compositor e pianista libanês Gabriel Yared (que chegou a morar no Brasil no início dos anos 70), deslanchou quando ele se dedicou à execução de trilhas para o cinema francês como CAMILLE CLAUDEL e SALVE-SE QUEM PUDER (Jean Luc Godard) . Foi laureado com o Oscar pela trilha sonora do filme O PACIENTE INGLÊS de Anthony Minghella. Desse mesmo cineasta britânico, assinou os filmes COLD MOUNTAIN e O TALENTOSO RIPLEY, além de CIDADE DOS ANJOS. A película francesa 37º2 LE MATIN (que no Brasil recebeu o título de BETTY BLUE) teve uma trilha sonora que acabou se tornando mais badalada que o próprio filme.

32)                      FLASHDANCE (Adrian Lyne), 1983
Lyne é um bem sucedido cineasta com produções de grande bilheteria como 9 ½ SEMANAS DE AMOR, PROPOSTA INDECENTE e ATRAÇÃO FATAL. Apesar das críticas mal humoradas, FLASHDANCE, maior sucesso da carreira de Jennifer Beals, foi comercialmente um arraso, assim como sua trilha. Apesar de torcer o nariz, poucos não se emocionam ao escutar “What a Feeling” com Irene Cara ou “Maniac” com Michael Sambello. As canções foram compilados pelo DJ Giorgio Moroder, produtor de Donna Summer e com vasta atuação durante a era disco. No cinema, assinou também as trilhas de EXPRESSO DA MEIA NOITE (ganhadora de Oscar), TOP GUN, GIGOLÔ AMERICANO, SCARFACE e A MARCA DA PANTERA.

33)                      SUPLÍCIO DE UMA SAUDADE (Henry King), 1955
Alfred Newman foi um verdadeiro colecionador de Oscars, tendo composto para mais de 200 filmes. Dentre suas trilhas mais marcantes, A MALVADA, O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, COMO ERA VERDE O MEU VALE, CANÇÃO DE BERNARDETTE, AEROPORTO e a arrebatadora LOVE IS A MANY SPLENDORED THING, cujo tema (de autoria da dupla Fain/Webster) foi gravado por uma pá de artistas (Andy Williams, Matt Monro, Bing Crosby, Nat King Cole, Shirley Bassey, Frank Sinatra etc.) e até empanou o sucesso do filme.

34)                      MY FAIR LADY (George Cukor), 1964
A partir do mega-sucesso do musical da Broadway, a comédia de 1964 estrelada por Audrey Hepburn e Rex Harrison arrebatou 8 Oscars incluindo o de trilha sonora com a impagável “I Could Have Danced All Night” interpretada pela própria atriz. A trilha foi composta pelo maestro e pianista André Previn, recentemente falecido, outro colecionador de indicações às estatuetas, tendo faturado mais 3: GIGI, PORGY AND BESS e IRMA LA DOUCE, sempre fundindo pop com jazz e música clássica.

35)                      O PIANO (Jane Campion), 1993
O drama neozelandês protagonizado por Holly Hunter e Harvey Keitel gira em torno da paixão de uma mulher muda desde a infância por seu piano,
do qual se viu privada ao iniciar vida em companhia do novo marido numa terra estranha. A belíssima trilha ajudou a popularizar seu autor, o prestigiado pianista e compositor minimalista Michael Nyman. É dele também a trilha do instigante O COZINHEIRO, O LADRÃO, SUA MULHER E A AMANTE do diretor Peter Greenaway.

36)                      ORFEU NEGRO (Marcel Camus), 1959
Apesar de o enredo (baseado na mitologia grega) ter transcorrido no Rio de Janeiro durante a época do Carnaval, com elenco composto por atores brasileiros, a produção representou a França nos grandes festivais em que concorreu, ganhando por aquele país o Oscar de melhor filme estrangeiro além de faturar a Palma de Ouro em Cannes. A trilha sonora, composta por Tom Jobim (com a participação de Vinícius de Morais) e pelo violonista Luiz Bonfá, que compôs os temas “Manhã de Carnaval” (interpretada por Agostinho dos Santos), e “Samba de Orfeu”, (ambas em parceria com Antonio Maria) marca o início da explosão da bossa nova.

37)                      SE MEU APARTAMENTO FALASSE (Billy Wilder), 1960
THE APARTMENT com Jack Lemmon e Shirley MacLaine é apenas uma das inúmeras obras-primas de Wilder, um dos maiores diretores do cinema, mas provavelmente a que tem a trilha mais conhecida, composta por Adolf Deutsch. Deutsch musicou também outra comédia de Wilder, QUANTO MAIS QUENTE MELHOR além de RELÍQUIA MACABRA e o musical SETE NOIVAS PARA SETE IRMÃOS.

38)                      HARRY & SALLY (Rob Reiner), 1989
Comédia romântica não precisa necessariamente ser piegas, como prova essa divertida e esmerada produção protagonizada por Meg Ryan e Billy Cristal, que passam o filme inteiro se estranhando até acabarem juntos. A graciosa trilha sonora que fez tanto ou até mais sucesso do que o filme foi executada pelo estreante e promissor cantor e pianista Harry Connick, Jr, tido então como o futuro Sinatra e é composta por clássicos do jazz (irmãos Gershwin, Rodgers & Hart, Duke Ellington, Bennie Goodman). Ao fim, Connick Jr não se tornou um novo Sinatra nem emplacou novas trilhas, vindo a fazer alguns papéis como ator coadjuvante. WHEN HARRY MET SALLY foi o grande sucesso de sua carreira.

39)                      FAÇA A COISA CERTA (Spike Lee), 1989
Spike Lee é conhecido por explorar em seus filmes engajados as desigualdades raciais. DO THE RIGHT THING foi um de seus maiores êxitos. O filme trata da escalada de violência gerada pela mera instalação por um italiano branco e seus filhos de uma pizzaria num bairro de Nova York predominantemente negro. A trilha que serve como fundo a esse quadro de conflitos traz diversos ritmos da música black: hip hop (Public Enemy), jazz (Al Jarreau), swing (Teddy Riley), reggae (Steel Pulse), gospel (Take 6) e até salsa (Ruben Blades).

40)                      I AM SAM, UMA LIÇÃO DE AMOR (Jessie Nelson), 2001
O filme estrelado por Sean Penn aborda um tema espinhoso: a relação entre um pai intelectualmente deficiente e sua esperta filha de 7 anos (Dakota Fanning). O personagem vivido por Penn era fã ardoroso dos Beatles o que originou uma trilha sonora curiosa: canções do quarteto de Liverpool tocadas por uma nova geração de intérpretes (Aimee Mann, Eddie Vedder, Stereophonics, Sheryl Crow, Black Crowes etc).

41)                      DIÁRIOS DE MOTOCICLETA (Walter Salles), 2004
A saga de Che Guevara pela América Latina, sob a direção do brasileiro Walter Salles, recebeu uma bela trilha composta pelo argentino Gustavo Santaolalla com uma canção tema “Al Otro Lado Del Rio” de Jorge Drexler. Santaolalla recebeu dois Oscars mas por outras trilhas, igualmente belas, BABEL e O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN. São dele também as trilhas dos mexicanos AMORES PEJOS e BIUTIFUL, do argentino RELATOS SELVAGENS e do americano 21 GRAMAS.

42)                      LISBELA E O PRISIONEIRO (Guel Arraes), 2003
A elogiada produção nacional protagonizada por Selton Mello e Débora Falabella recebeu uma excelente trilha assumidamente kitsch e pouco convencional compilada por André Matos. O músico trabalhou com o grupo Sepultura que participou de duas faixas, uma das quais ao lado de Zé Ramalho, numa união curiosa e e interessante, interpretando “A Dança das Borboletas”, sucesso da Alceu Valença. Outra pérola é “Você não me Ensinou a te Esquecer”, canção brega de Fernando Mendes, lapidada por Caetano Veloso. Participam ainda Elza Soares, Los Hermanos e Yamandú Costa, dentre outros.

43)                      MANHATTAN (Woody Allen), 1979
Woody Allen sempre foi apaixonado pelo som dos anos de ouro de New Orleans e pelos clássicos dos anos 20/30. As trilhas sonoras de seus filmes refletem suas preferências musicais. Em MANHATTAN, filmado em preto e branco, em que atua ao lado de Diane Keaton e Meryl Streep, podemos encontrar os principais chavões que caracterizam suas comédias cerebrais. A ideia do filme surgiu a partir de uma canção de Gershwin (assim como Allen, um apaixonado por NY). Todas as canções da trilha sonora são do compositor norte-americano e executadas pela Filarmônica de Nova York sob a regência de Zubin Mehta, com destaque para as conhecidíssimas “Rhapsody in Blue” e “Embraceable You”.

44)                      ALTA SOCIEDADE (Charles Walters), 1956
Dispensável falar da importância de Cole Porter na cultura norte-americana. Celebrados pelos principais nomes da música, seus standards tornaram-se presença obrigatória em qualquer compilação representativa da era de ouro do jazz. Sem falar dos inúmeros espetáculos da Broadway, muitos transpostos para a tela. Trazem a marca de Porter, filmes como CAN CAN, KISS ME KATE e O PIRATA. HIGH SOCIETY traz Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly (seu último papel antes de se tornar princesa), e a presença marcante de Louis Armstrong e banda executando “High Society Calypso”. Além de “True Love” com Crosby e Grace, último grande sucesso do compositor.

45)                      BIRD (Clint Eastwood), 1988
Clint Eastwood é um aficionado por jazz, como demonstra a música que acompanha boa parte dos filmes que atuou como diretor. Esmerou-se nessa produção que trata da vida atribulada e curta (faleceu aos 34 anos) de Charlie Parker (ou Bird, como era conhecido), representado na tela por Forrest Whitaker. A trilha apresenta 11 canções do saxofonista, remixadas, sendo adicionados aos solos originais de Parker acompanhamentos de músicos contemporâneas.

46)                      CANTANDO NA CHUVA (Stanley Donen), 1952
A cena dura 4 minutos: começa com Gene Kelly deixando Debbie Reinolds em casa e termina com ele entregando o guarda chuva a um necessitado, sob o olhar repreensivo de um guarda. Bastou para credenciar SINGIN’ IN THE RAIN como um dos musicais mais famosos do cinema. O curioso é que quase nenhuma das músicas da dupla Freed/Brown que tocam no musical foi feita para o filme, tendo sido compostas para outros espetáculos da MGM, inclusive a música que dá título à película, composta em 1929.

47)                      EASY RIDER, SEM DESTINO (Dennis Hopper), 1969
Celebrado ‘road movie’ protagonizado por Peter Fonda (que também o produziu) e Dennis Hopper (que também o dirigiu) que marcou o surgimento da geração beat com uma trilha sonora bastante pertinente que traz The Jimi Hendrix Experience e The Byrds (com seu líder Roger McGuinn em duas faixas solo). Mas a canção que marcou foi realmente o hino libertário “Born to Be Wild” (que passou a ser também o hino dos motociclistas) interpretada pelo grupo Steppenwolf.

48)                      SINGLES, VIDA DE SOLTEIRO (Cameron Crowe), 1992
O filme é uma simpática e descompromissada comédia romântica do mesmo diretor de JERRY McGUIRE, QUASE FAMOSOS e VANILLA SKY que retrata a complicada relação de jovens à procura do par perfeito. A trama transcorre em Seattle, cidade em que emergia um efervescente movimento musical que se estendeu pelo planeta e revitalizou o rock. A trilha que se tornou cult reflete a atmosfera ‘grunge’, com bandas como: Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden, Screaming Trees etc.

49)                      ZORBA O GREGO (Michael Cacoyannis), 1964
A trilha do filme greco-americano (estreado por Anthony Quinn, Alan Bates e Irene Papas) composta por Mikis Theodorakis fez bastante sucesso sobretudo a envolvente canção tema. Mikis conhecido por seu engajamento em causas sociais, compôs também a trilha de SERPICO e de duas obras primas do cinema político de Costa Gavras, Z e ESTADO DE SÍTIO.

50)                      JUNO (Jason Reitman), 2007
Um despretensioso filme independente com baixo orçamento sobre dramas de uma adolescente (Ellen Page) que engravida aos 16 anos conseguiu a surpreendente façanha de concorrer ao Oscar. As referências musicais do filme são absolutamente geniais, conciliando ídolos consagrados do rock como Buddy Holy, The Kinks, Mott the Hoople e Velvet Underground com nomes do pop alternativo como Belle and Sebastian, Sonic Youth e Cat Power.