quinta-feira, 21 de março de 2024

PRECISAMOS FALAR SOBRE ELON

 

“Se um macaco acumulasse mais bananas do que pudesse comer, enquanto os outros macacos morressem de fome, os cientistas estudariam aquele macaco para descobrir o que diabos estaria acontecendo com ele. Quando os humanos fazem isso, nós os colocamos na capa da Forbes” (Professor Emir Sader)

Li recentemente que se os 3000 sujeitos mais ricos do planeta, num ato coordenado de filantropia, resolvessem doar 5% de sua fortuna, a dinheirama gerada seria suficiente para extirpar a fome do planeta. Esse distinto grupo, uma turminha que poderia ser acomodada confortavelmente no interior de um desses navios de cruzeiro, teria capacidade de resolver num passe de mágica o trágico problema que há séculos assombra a humanidade. Estamos nos referindo a apenas 3 mil felizardos, uma gotinha de 0,0000375% em meio ao oceano humano de quase 8 bilhões de criaturas que com eles partilham o mesmo planeta.

Elon Musk está no topo desse seleto clube. O presidente-executivo da Tesla e dono do Twitter (atual X) tem um patrimônio de quase 300 bilhões de dólares ou seja 1,5 trilhão de reais. Convertido em papel moeda, resultaria em quase cinco vezes todo o dinheiro em circulação no Brasil! Equivalente a 15 bilhões de notas de 100 reais que, alinhadas, formariam uma fila de tamanho igual ao triplo da distância até a Lua, ida e volta! Essa grana toda que faria o tio Patinhas resignar-se à constatação de que não passa de um pato chucro, está nas mãos de um único indivíduo.

Pois é, se esse sujeito sozinho resolvesse, numa ação iluminada de generosidade, abrir mão de meros 2% de sua fortuna, algo que obviamente não lhe passa pela cabeça, poderia impedir a morte de 40 milhões de pessoas que se encontram em situação de penúria extrema. Mitigar a fome de africanos pretos pobres e desmilinguidos definitivamente não faz parte dos planos do nobre empresário trumpista, empenhado que está em destinar seus preciosos bilhõezinhos a iniciativas de maior relevância para a raça humana como projetar naves espaciais para levar outros endinheirados para passear em Marte já que a démodé Terra, lugar de plebeu, já era.

Mas, sejamos justos, nem todos os super-ricos são tão zelosos com a integralidade de seus estimados bilhões. Ao contrário do que se possa imaginar, alguns desses seres celestiais têm consciência de que a fortuna que amealharam ao longo da vida veio acompanhada da obrigação moral para com a sociedade que os possibilitou chegar a essa privilegiada condição financeira. Afinal, as estatísticas revelam que os principais expoentes dessa nata assistiram sua fortuna se multiplicar na última década, enquanto nós outros, pobres mortais, que já estávamos na pindaíba, afundamo-nos ainda mais em nossa indigência.

Uma pesquisa recente revela que 3 em cada 4 super-ricos não se oporia à criação de impostos incidindo sobre suas posses. Um grupo de 200 magnatas (entre eles um brasileiro) lançou há pouco um manifesto reivindicando (acredite) pagar mais impostos.

"Nosso pedido é simples. Nós, os muito ricos queremos ser taxados por vocês. Isso não vai alterar fundamentalmente o nosso padrão de vida, tampouco prejudicar nossas crianças ou afetar as economias de nossas nações. Transformará a riqueza extrema e improdutiva em investimento em nosso futuro democrático comum. (...) Quando vocês vão taxar a riqueza extrema? Se os representantes eleitos nas principais economias do mundo não adotarem medidas para lidar com o aumento dramático da desigualdade econômica, as consequências serão catastróficas para a sociedade" diz o documento direcionado à elite econômica e política reunida no Fórum de Davos.

É de se estranhar que nossa civilização tão diligente em alardear as conquistas no campo da ciência e tecnologia que pretensamente nos possibilitaram melhor qualidade de vida não seja capaz de equacionar esse simples probleminha matemático de distribuição de renda que traria maior paz e equilíbrio social, minorando o sofrimento de bilhões de seres humanos. É pródiga em criar novas tecnologias, mas inapta em permitir que todos tenham acesso a elas.

No Brasil, a situação é particularmente alarmante. Estima-se que o 1% mais rico concentre nada menos do que 2/3 da riqueza nacional, enquanto os 50% da base da pirâmide detêm apenas 2% da riqueza.  Esse fosso gigantesco é absolutamente ultrajante.

Ainda que tendo apoio da maioria da população (85% segundo pesquisas), a taxação de grandes fortunas, por incrível que pareça, encontra resistência na sociedade. Boa parte dos deputados de direita que tomaram conta do Parlamento votou contra projeto do atual governo de taxar bilionários (‘virou crime ser rico no Brasil’ disse o ex-presidente Bolsonaro, antevendo problemas com o fisco quando chegar a essa condição). Para tanto, contou com o apoio dos evangélicos, adeptos da ‘teologia da prosperidade’, segundo a qual, os abastados são merecedores da bênção material que lhes foi oferecida por seu Deus empresário. Recusam-se a colaborar com um tostão que seja para um necessitado (‘fracassado’), mas doam de bom grado um décimo de seu parco salário para o nababo pastor, que foge da caridade (e dos impostos) como o diabo foge da cruz.

Mas não são só esses que se opõem à ideia de taxar super-ricos. Diversos economistas neoliberais para quem ‘imposto’ é palavrão, também se posicionam contra.  Alegam que de nada adianta taxar os bilionários pois eles desviariam suas fortunas para outros países, em especial os paraísos fiscais, além de serem mestres em dar um chapéu na Receita, corrompendo fiscais e sonegando tributos. Ou seja, já que a sociedade não consegue enquadrar os larápios, deve-se curvar a eles. E fica tudo como está.

Assim como os advogados, os economistas são especialistas em criar dificuldades para implementar mudanças de caráter social. Submetendo-se à frieza dos números, cortam nossos sonhos de ter um mundo melhor. Ao invés de conceber uma sociedade composta por humanos empenhados em viver em harmonia entre si, enxergam um ambiente mercantilizado, onde agentes se digladiam, cada qual querendo otimizar sua posição, com base em seus interesses particulares, visando maximizar seus ganhos materiais. Nesse campo de batalha, chamado mercado, os super-ricos desempenham o papel fundamental de investidores, os motores do capitalismo. Em direção ao apocalipse socioambiental.

O que não enxergam é que esse é um tema que transcende a esfera econômica. Não é também uma questão ideológica, coisa de comunista. Exigir maior equidade e evitar essas aberrações na distribuição dos recursos é uma necessidade ética, de justiça social.

O que a humanidade produz é mais do que suficiente para suprir a necessidade de todos os indivíduos, mas apenas uma minoria cada vez mais afunilada colhe os frutos e ainda se dá ao luxo de esbanjar as sobras em futilidades, em detrimento de legiões de famintos que perambulam pelos continentes à procura de um lugar onde consigam sobreviver com as migalhas. Taxar os super-ricos é um imperativo para que possamos superar esse dilema e nos tornar uma civilização superior. Pelo menos, no mesmo nível da dos macacos.

 

 

 

terça-feira, 21 de novembro de 2023

GUERRA E BARBÁRIE


 A guerra israelo-palestino em curso vem despertando paixões. Observa-se que, de maneira geral, quem se encontra mais à direita no espectro ideológico assume a defesa de Israel e quem se afina com a esquerda tem simpatia pelo lado palestino.

Nesse contexto polarizado, sobrou pouco espaço para a análise isenta (se é que seja ela possível). Abro mão de me pronunciar sobre quem está com a razão. A única certeza sobre a qual cravo minha opinião é que é que é preciso encontrar urgente um caminho que leve à paz. Os dois lados têm em seu passivo a morte de civis inocentes, seja de reféns ou vítimas de bombardeios indiscriminados.

O que me leva a dar um pitaco nessa confusão é relativizar a visão simplista que muitos têm sobre conflito, sob uma perspectiva histórica.

Israel é tido como ponta de lança do sistema capitalista, uma sociedade adiantada e moderna, uma ‘democracia’ nos moldes ocidentais, encravado em meio aos ‘bárbaros’ muçulmanos que possuem governos autoritários e até teocracias adjetivadas de medievais.

Segundo esse estereótipo, cada cidadão nascido em Israel é um lídimo representante do mundo civilizado tal qual um europeu ou um norte-americano, dispondo de condições socioeconômicas dignas de Primeiro Mundo. Em contraste, os indivíduos que se amontoam na faixa de Gaza e na Cisjordânia sobrevivem em precárias condições sociais equiparadas às populações mais carentes do planeta, apinhadas na África, na Ásia e na América Latina, predestinadas a levar uma vida miserável, sem perspectivas.

 As imagens que assistimos nos telejornais confirmam esse clichê. Pelas avenidas limpas e bem iluminadas de Tel Aviv ou Haifa, são entrevistados cidadãos israelenses polidos e bem apessoados que manifestam temor de frequentar shopping centers, visitar parentes ou ir a festas rave sob risco de toparem com um foguete caseiro perdido ou um desesperado homem bomba, disposto a oferecer sua vida para levar junto a de um inimigo opressor.

Em contraste, as ruas (se é que podemos assim nomeá-las) sombrias de Gaza apresentam bem menos glamour. São pilhas de escombros cercadas de sangue e fumaça, com pessoas desesperadas correndo a esmo, hospitais onde se aglomeram seres aflitos. Um mundo dilacerado em frangalhos que nos remete à Guernica de Picasso.

A desigualdade entre esses dois cenários chancela uma matemática perversa, segundo a qual a vida de cada humano israelense vale tanto quanto a vida de 10 ou mais ‘sub-humanos’ palestinos. Segundo essa concepção bizarra em que alguns importam mais do que outros, para cada ‘bom moço’ israelense que teve sua vida ceifada, é preciso eliminar pelo menos 10 palestinos, representantes da ‘escória’ da humanidade que só faz encher o planeta com sua prole de famintos desmilinguidos.

Se a ação do Hamas matou 1200 ou 1400 ‘cidadãos de bem’ de Israel com boa formação, é preciso responder à altura extirpando ao menos dez vezes esse número de árabes ‘selvagens’ para fazer justiça e restaurar o equilíbrio. Esse cálculo certamente está presente na mente de boa parte daqueles que apoiam a brutal ação retaliatória do exército israelense empreendida por Netanyahu e seus amigos fundamentalistas que pretendem, com a ajuda dos EUA, “dar uma lição exemplar” nos palestinos, enviando o maior número possível deles para a companhia de Allah, não importa se, entre eles, haja crianças, idosos, todos com sua parcela de culpa no ato insano do Hamas.

Independente de qual dos lados tenha razão, a Guerra no Oriente Médio escancara o embate entre essas duas categorias de gente. Por um lado, o sofisticado aparato militar com bombas e mísseis de última geração colocados na defesa dos valores progressistas do Ocidente e, de outro, miseráveis seres incultos do Terceiro Mundo abandonados à própria sorte que insistem em continuar vivendo sem um lar e uma pátria.

Enquanto os israelenses são tidos como vítimas, sobreviventes do holocausto, que querem unicamente levar uma existência pacata, os palestinos são vistos como terroristas em potencial. Em nenhum momento, são encarados como ‘povo’ ou ‘nação’ detentores de direitos, mas como criaturas congenitamente violentas cujo único objetivo é apagar Israel do mapa.

Os mesmos que repudiam com veemência o antissemitismo fazem vistas grossas ao racismo, à xenofobia e à islamofobia.

O atual embate do Oriente Médio é claramente um desdobramento da luta colonial que o mundo dito desenvolvido (simbolizando a civilização judaico-cristã) trava contra os povos oprimidos (em que se insere a escravidão e a destruição das culturas que professavam credos diferentes). Muçulmanos, hindus, budistas, religiões de matriz africana, povos originários e até ateus são encarados como inferiores. Com o apoio entusiasmado e participação ativa dos evangélicos, todos esses rudes pagãos devem ser devidamente catequizados... ou eliminados.

O Islamismo foi vítima desse processo, tendo sucumbido ao poder bélico dos cruzadistas que tinham por objetivo extirpar militarmente os ‘infiéis’ para expandir a palavra da Bíblia, na esteira dos interesses do capital comercial.

Se hoje é associada a práticas arcaicas, a civilização islâmica viveu há alguns séculos momentos de glória e esplendor, em que floresciam as artes e as ciências, sendo transferidos para nossa cultura conhecimentos de matemática, astronomia, física, química, medicina, arquitetura, agricultura, filosofia etc. Espanha e Portugal beneficiaram-se largamente desse legado, tanto que despontaram da ocupação moura como os países mais adiantados do continente europeu.

Em oposição ao estigma que os acompanha, os muçulmanos à época eram pacíficos e bastante benevolentes com cristãos e judeus, não havendo registros significantes de violência contra os que, sob seu domínio, professavam credos diferentes.

Ao contrário, a expansão do cristianismo foi acompanhada de intolerância e violenta repressão. Aqui mesmo na América Latina, tivemos exemplos do furor belicista dos espanhóis que para pilhar seus metais preciosos, devastaram organizações sociais milenares como a de incas, maias e astecas deixando um rastro de sangue e escombros. O Brasil não teve melhor sorte: o domínio imposto pelos portugueses com ajuda dos ingleses quase dizimou os milhões de indígenas que há milênios viviam aqui em comunhão com a natureza.

Assim como ocorreu na Europa e nos EUA e agora em Israel, a construção de uma sociedade judaico-cristã, branca, capitalista, neoliberal que reverenciamos como “civilizada” esconde uma trajetória de horror, aniquilação e destruição de modos de vida alternativos que hipocritamente chamamos de “primitivos”.

 

 

sábado, 12 de agosto de 2023

O HOMEM-OVO DO PARTIDO NOVO

 

“O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô baiano, vou na estrada há muitos anos, sou um artista brasileiro” (Paratodos, Chico Buarque)

O governador de MG propôs a formação de uma frente do Sul/Sudeste em oposição ao ‘resto’ do país, reacendendo entre os brasileiros uma polêmica que parecia ter sido esquecida: o separatismo. Por trás da proposta dessa frente (que tem o inspirado nome de COSUD) está o sentimento mal digerido de que o descondenado ‘molusco barbudo de nove dedos’ foi eleito graças a uma parcela da população mais inculta especialmente do Nordeste, em oposição àquelas ‘civilizadas’ que preferiram o capitão-mito.

Além de discriminatória, essa visão não traduz a realidade dos fatos. Na capital financeira do país, São Paulo, por exemplo, Lula venceu. E não apenas nas áreas periféricas, mas em bairros de classe média alta que abrigam a elite intelectual como Pinheiros, Perdizes e Vila Mariana. Da mesma forma, ainda que perdendo no Rio de Janeiro, o ex-metalúrgico foi o mais votado na badalada e abastada Zona Sul carioca. No próprio território que preside, o vitorioso Zema não conseguiu transferir maioria para seu aliado Bolsonaro, que saiu derrotado em Minas.

Por outro lado, ao contrário do que se imagina, os triunfos mais retumbantes de Bolsonaro não ocorreram nas reservas de urbanidade europeia do Sul e do Centro Oeste (onde floresce o agronegócio), e sim nos distantes rincões inóspitos de Rondônia, Roraima e Acre, estados paupérrimos do Norte onde correm soltas atividades ilegais de garimpo, extração de madeira e pesca predatória, toleradas e até incentivadas pelo governo anterior.

Seja como for, os números atestam que, excluindo-se os votos do Nordeste, o resultado eleitoral teria sido outro, o que provocou inconformismo das elites neoliberais, gerando aversão contra as populações daquela região. Choveram manifestações preconceituosas contra os paraíbas ‘cabeças chatas’. Sentimento que respingou em outros segmentos marginalizados da sociedade como mulheres, LGBTQIAP+, negros, quilombolas, índios e favelados que majoritariamente sufragaram o nome do candidato petista.

Dessa maneira, tornou-se Zema (voluntária ou involuntariamente) o porta-voz de grupos separatistas de extrema direita que preconizam a divisão do país em duas partes: de um lado, o Sul Maravilha, rico, progressista, moderno, desenvolvimentista, trabalhador, e de outro o Norte/Nordeste onde impera o subdesenvolvimento, o atraso, a indolência e a miséria. Reivindicam alguns a construção de barreiras preservando o país que “dá certo” da invasão da ‘baianada’, reverberando a ideia xenófoba de Trump de erguer um muro para impedir o acesso dos chicanos ao paraíso capitalista.

Só que, com isso, o asséptico governador do Partido Novo complicou-se em suas pretensões de chegar à presidência, já que dificilmente poderá contar no futuro com o expressivo voto nordestino. Tancredo diria que foi pouco “mineiro” em suas colocações.

Aliás, apesar de ser empresário e de família chique, a inteligência e a cultura não parecem ser o forte do sr. Zema. O simplório governador mineiro é pródigo em cometer gafes que constrangem seus próprios conterrâneos como quando nomeou pejorativamente a Inconfidência Mineira, a mais importante rebelião da história nacional contra o jugo colonial, de ‘ato golpista’. Só faltou chamar Tiradentes de esquerdinha. Em outra ocasião, ao visitar Divinópolis e receber como oferenda de uma emissora local um livro de poesias, indagou quem seria essa tal de Adélia Prado, autora da obra: “ela trabalha aqui?”, deixando desconsertado o apresentador que teve de explicar tratar-se de uma das mais conceituadas poetisas brasileiras, natural daquele município mineiro. Ao ser entrevistado pela CNN, face à interferência sonora, a repórter interpelou: “O senhor me ouve, governador?” ao que o mesmo respondeu em alto e bom som: “Eu ovo sim”, o que lhe valeu a alcunha de Romeu Gema.

O espantoso é que o bom moço cursou administração na FGV, o que nos leva a perguntar como uma escola cara e prestigiosa, com tal nível de excelência, pode produzir um sujeito tão tosco culturalmente.

Esse é o homem público que pretende liderar a cruzada contra as “vaquinhas que produzem pouco” (como se referiu ao povo nordestino). Não deve ter sido informado que 249 das 853 cidades mineiras estão sob a atuação da SUDENE, ou seja, por suas características geográficas, foram classificadas como se integrassem o Nordeste. Com a divisão proposta pelo governador almofadinha, em qual dos dois Brasis ficaria essa área nebulosa que se assemelha mais ao semiárido baiano do que ao Triângulo Mineiro? Abririam mão os briosos herdeiros de JK e Magalhães Pinto de 30% de seus municípios para fazer valer as ideias segregacionistas de seu atual mandatário?

Afora isso, a ideia de que os nordestinos são menos instruídos não se sustenta. Ocorre exatamente o contrário. As escolas de ensino básico e médio do Nordeste têm sido nos últimos anos referência em qualidade. Os resultados dos exames do ENEM indicam que nos três últimos anos, das melhores notas de redação (que atesta maior capacidade de elaboração dos estudantes), a ampla maioria é de alunos nordestinos enquanto a “desenvolvida” região Sul amarga resultados medíocres.

Fosse aplicada a separação pretendida por Zema e sua legião de admiradores, ficaríamos privados de personalidades irrelevantes como Ruy Barbosa, Joaquim Nabuco, Paulo Freire, Tobias Barreto, Clóvis Beviláqua, Gilberto Freyre, Nélson Rodrigues, Dias Gomes, Celso Furtado, Milton Santos, Aurélio Buarque de Holanda, Assis Chateaubriand, Mário Schenberg, Glauber Rocha, Cacá Diegues, Kleber Mendonça Filho, Aguinaldo Silva, Chico Anysio, Wagner Moura, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Ariano Suassuna, Patativa de Assaré, Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, José de Alencar, Gonçalves Dias, Aloísio Azevedo, João Cabral de Melo Neto, José Lins do Rego, Ferreira Gullar, Augusto dos Anjos, Castro Alves, Manuel Bandeira, João Ubaldo Ribeiro, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dorival Caymmi, Raul Seixas, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Sivuca, Gal Costa, Maria Bethânia, João Gilberto, Fagner, Belchior, Djavan, Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Geraldo Vandré, Morais Moreira, Alcione, Simone, Hermeto Pascoal, Naná Vasconcelos, Catulo da Paixão Cearense, Tom Zé, Zeca Baleiro, Lenine, Chico César e muitos outros.

Em compensação, teríamos do nosso lado o Romeu Gema, o homem-ovo do COSUD. Capitanearia ele um país de mauricinhos onde não haveria gente preta, feia e suja. Com tais credenciais, gabarita-se a ser um legítimo herdeiro do brucutu que apoiou para presidente.