sábado, 13 de julho de 2019

VÁ PROCURAR SUA TURMA



Por ocasião dos debates do foro do G20, o ministro-general Augusto Heleno, revivendo o garboso trato dos tempos da caserna, lançou uma proverbial recomendação aos respeitáveis estadistas europeus que pediam esclarecimentos sobre a política ambiental brasileira: “vão procurar a sua turma”.
E qual seria a turma do general Heleno? Difícil determinar já que há diversas “turmas” entranhadas no governo. Há a ‘olavete crew’ ou ‘turma terraplanista’ que inclui, além de alguns ministros bizarros, a desvairada prole Bolsonaro. A “turma do agrotóxico” ou “turma do veneno”, capitaneada pela ministra da agricultura. A turma evangélica designada “turma da goiabeira” ou “turma azul e rosa” encabeçada pela ministra Damares. A “turma Ipiranga” ou “turma previdenciária” que cuida da Economia. No Legislativo, temos “turma do laranjal”, reforçada por alianças ocasionais com outras turmas: a turma da bala, a turma da bíblia, a turma do boi. E nos bastidores, a “turma do barulho” incumbida de espalhar freneticamente milhares de whatsapps e fake news jogando lama nas turmas desafetas.
O general Heleno certamente não pertence a nenhuma dessas turmas. A turma dele é mais sóbria e discreta, e a que mais cargos ocupa no governo. É a “turma verde-oliva”. Mas a dúvida permanece pois essa categoria é na verdade um conglomerado de turmas.  Em qual delas militaria o assessor presidencial? Certamente não na do general Santos Cruz que andou se estranhando com a poderosa olavete crew,  e acabou escorraçada dos altos escalões. Tampouco na turma do general Mourão, também chamada de “turma do deixa disso”, preocupada em desanuviar o mal estar causado pelas declarações estapafúrdias do presidente. Sendo de reserva, o general Heleno também é incompatível com a turma da ativa do recém empossado general Ramos.
Seria então o ministro Heleno um ‘lobo solitário’ ou formaria a turma do ‘eu sozinho’? Ou, quem sabe, pertenceria à turma dos inclassificáveis?
Essa turma de turmas que gravita em torno do presidente, não obstante sua heterogeneidade, tem um denominador comum: o orgulho de ter tirado do poder a temível turma rival (tachada de ‘quadrilha’) que por 13 anos esteve no comando, distribuindo cargos e vantagens exclusivamente para quem era da turma. Essa turma desarticulou-se quando seu comandante-chefe foi tirado de circulação pela turma da Lava Jato sediada em Curitiba
Quando no poder, caracterizou-se ela por ter dividido a nação em duas grandes turmas antagônicas: a turma do ‘nós’ e a turma do ‘eles’. Àqueles que não pertencessem à turma do ‘nós’, ficando alijados das benesses do poder, restavam dois caminhos: 1) Vender seu apoio, vindo a integrar a turma do ‘mensalão’; ou 2) Manter sua (o)posição, passando a constituir a turma dos ‘inimigos do povo’.
E assim ficou estabelecido que o país ficaria irremediavelmente reduzido a duas turmas: a “turma dos mortadelas” e a “turma dos coxinhas”. Todos, até mesmo os veganos, teriam de optar. Não havia “turma” do meio.
O segundo turno das eleições reforçou a divisão. O voto útil já havia desidratado as turmas menores, do Alckmin, da Marina, do Ciro. O espólio foi arrematado pelas duas turmas que sobraram da primeira fase do pleito.
Face ao ingrato dilema Bolsonaro X PT, muitas pessoas, incapacitadas de escolher, tiveram de resignar-se pela turma “menos pior”.
A discussão, sobretudo nas redes sociais, ao invés de centrar-se em programas e propostas, passou a focar nos podres da turma contrária. As duas turmas, tão opostas no espectro político, revelaram-se surpreendentemente parecidas nos métodos agressivos de convencimento, na sordidez dos argumentos e na falta de ética.
Levado a esse lamaçal, o país tornou-se opaco de ideias. Tendo de escolher entre o branco e o preto, tornou-se cinzento.
Aquele que se recusou a alinhar-se a uma das duas vertentes passou a ficar ‘desenturmado’. Passou a se sentir um peixe fora da água, ou melhor, fora do cardume. Muita gente ficou nessa condição. Poderiam até criar uma enorme turma dos ‘sem-turma’.
Na impossibilidade de escolher uma turma, houve quem tentou comparar os candidatos. De um lado, um civilizado professor universitário, advogado, afeito ao diálogo. De outro, um capitão bronco, belicoso, defensor da tortura. A escolha parecia fácil. O problema era ter certeza de que o voto iria eleger efetivamente o moderado professor ou a turma dele...
Houve alguns insurgentes que rejeitaram sujeitar-se a uma das turmas disponíveis, decidindo com hombridade pelo voto nulo. Aqueles que conscientemente escolheram a ‘terceira via’, não optando por nenhuma das duas turmas, arrumaram encrenca com as duas. Ficaram segregados como se fossem ET’s. Tiveram que se explicar pra turma que não faziam parte da turma inimiga.
O fato é que esse negócio de turmas já deu. Bons tempos quando as únicas turmas que importavam era a Turma da Mônica, a Turma do Didi, a Turma do Balão Mágico. Tempos em que a turma podia se reunir, contar piadas, falar sobre religião, futebol e política sem ofensas, cobranças ou doutrinação.
Exagero? Não concorda? Ok, então vá procurar sua turma.