domingo, 30 de agosto de 2020

ROCK BRASIL OS 100 MAIORES ROCKS DO SÉCULO XX (3ª PARTE)

 

Segue a continuação do levantamento dos principais exemplares do rock ‘brazuca’, segundo dois aspectos: 1) receptividade do público traduzida por vendas e execução nas rádios; 2) relevância dentro do cenário musical.

Vamos à 3ª parte da lista, por ordem crescente:

 

41) ANGRA – CAROLINA IV


Formada em SP pelo vocalista André Matos (ex-Viper) e, em seguida, pelo guitarrista Kiko Lourenço, essa banda de power metal, cantando em inglês, faz mais sucesso no exterior (em especial no Japão). O primeiro disco, ANGELS CRY, gravado na Alemanha, revelou CARRY ON, o grande sucesso do grupo, além de uma insólita releitura de WUTHERING HEIGHTS, clássico da cantora Kate Bush. HOLY LAND (1996), álbum conceitual sobre as viagens ultramarinas que deram origem à descoberta do nosso continente, veio na sequência. Nele, o grupo abre espaço para sua brasilidade. CAROLINA IV, épico de 10 minutos, começa com uma saudação a Iemanjá e alterando o ritmo, insere até um trecho instrumental de Hermeto Pascoal.

 

42) CASA DAS MÁQUINAS – VOU MORAR NO AR

Os 3 álbuns (que abrigam estilos diversificados) fizeram lenda essa banda paulista. No álbum de 1974, o primeiro, predominam temas mais singelos, ecos da jovem guarda (herdados d’Os Incríveis, de onde proveio o baterista e líder Netinho). Evolui para o rock progressivo e psicodélico que prevalece no 2º álbum, LAR DAS MARAVILHAS (1975) em que a banda atinge a excelência. Fechando o ciclo, CASA DO ROCK (1976), onde o grupo ganha peso e assume o hard rock. VOU MORAR ... é a faixa de abertura do 2º álbum, com influências da cultura hippie nas letras, o que permeou aliás todas as fases do trabalho da banda.

 

43) 14 BIS – LINDA JUVENTUDE

Participante do chamado Clube da Esquina (movimento musical que, ao lado do tropicalismo, agitou a cena musical nos anos 60, após o fim da Bossa Nova), Flávio Venturini é um dos expoentes da MPB. Antes de firmar-se em sua carreira solo, capitaneou o Terço (a mais famosa banda nacional de rock progressivo) e posteriormente o 14 Bis com sonoridade similar porém mais pop. Essa banda mineira, apadrinhada por Milton Nascimento, cativou ao longo dos anos 80 um público fiel e cravou sucessos como NATURAL, PLANETA SONHO além de composições de Milton. LINDA JUVENTUDE de Venturini e Márcio Borges pertence ao álbum ALÉM PARAÍSO (1982) que traz também UMA VELHA CANÇÃO ROCK’N’ROLL.

 

44) BACAMARTE – PÁSSARO DE LUZ

DEPOIS DO FIM (1983) é um álbum conceitual da banda carioca Bacamarte que tem como tema o apocalipse. A obra é referenciada por sites internacionais que a equiparam à de gigantes do rock progressivo como os britânicos do Renaissance. Notabilizou-se também por trazer como vocalista ninguém menos do que Jane Duboc, quando menos conhecida. A cantora, à época já havia gravado dois álbuns de MPB (inclusive o aclamado LANGUIDEZ, seu melhor e mais refinado trabalho). O álbum intercala faixas instrumentais com faixas vocalizadas, como PÁSSARO DE LUZ, em que é possível se deleitar com a estupenda interpretação de Jane.

 

45) KARNAK – ALMA NÃO TEM COR

Essa banda non-sense foi um dos vários projetos musicais protagonizados por André Abujamra que incluem os grupos Os Mulheres Negras e Vexame, além da carreira individual (parte sob o pseudônimo de  Fat Marley), sem contar diversas trilhas e produção musical de programas na TV. O celebrado primeiro álbum do Karnak de 1995 (que teve participação, dentre outros, de Rolando Boldrin, Tom Zé, Chico César, Lulu Santos, Paulo Miklos, Paulinho Moska e Marisa Orth), mesmo boicotado pela mídia (à exceção de circuitos universitários), teve vendas em torno de 100 mil unidades. A canção anti-racista ALMA NÃO TEM COR é o destaque, tendo sido regravada por Zeca Baleiro, Chico César e pela banda portenha Perotá Chingó.

 

46) CÓLERA – MEDO

A banda de punk rock paulistana (idealizada pelo saudoso vocalista e instrumentista Redson), ainda que rejeitando os corrompidos esquemas midiáticos e das grandes gravadoras, obteve grande penetração entre os jovens, pregando mensagens de pacifismo, ecologia e direitos humanos. O LP PELA PAZ EM TODO O MUNDO  de 1986 (selo alternativo Ataque Frontal), o segundo da banda, conseguiu, com uma distribuição boca-a-boca e sem divulgação no rádio, bater nas 80 mil cópias, sendo eleito pela Rolling Stone, o segundo melhor do gênero. Desse álbum, destaque às faixas MEDO e VIVO NA CIDADE.

 

47) BLITZ – VOCÊ NÃO SOUBE ME AMAR

O grupo carioca que tinha em seus quadros Evandro Mesquita e Fernanda Abreu e, na bateria, Lobão, teve dois álbuns de bastante sucesso, AS AVENTURAS DA BLITZ (1982) e RADIOATIVIDADE (1983). A faixa VOCÊ NÃO ... do primeiro álbum, que alavancou as vendas do disco, rompeu os padrões convencionais com a utilização do ‘canto falado’ e de um linguajar coloquial e informal, típico da juventude carioca, onde os dilemas existenciais e relacionamentos sociais expressam-se por sexo, paqueras, chope e batata frita.

 

48) SOM NOSSO DE CADA DIA – MASSAVILHA

O celebrado SNEGS (1974), a principal obra do grupo paulista criado por Manito (que fora saxofonista e tecladista d’Os Incríveis com rápida passagem pelos Mutantes), foi um dos mais relevantes registros do rock progressivo brazuca.  Apesar da limitações do suporte disponibilizado pela Continental, gravadora nacional que bancou o projeto, o talento dos instrumentistas superou as deficiências técnicas. Na faixa MASSAVILHA, quase totalmente instrumental, a performance dos teclados de Manito faz lembrar o Emerson, Lake and Palmer. O grupo dissolveu-se após um segundo disco, voltando a se reunir em 1993 para gravar a faixa-bônus GUARANI para o relançamento em CD.

 

49) PATO FU – PERDENDO DENTES

A criativa banda mineira liderada pela vocalista Fernanda Takai desenvolve um rock soft com ingredientes de MPB e música eletrônica e letras inteligentes e debochadas como em PERDENDO DENTES, faixa do álbum ISOPOR (1999), o mais vendido do grupo. Por suas características, a banda é frequentemente comparada aos Mutantes. Nos anos 2000 lançou o curioso álbum MÚSICA DE BRINQUEDO com covers de canções conhecidas tocadas por instrumentos improvisados com sonoridade infantil. A revista Time mencionou o grupo como um dos melhores fora dos EUA.

 

50) ROUPA NOVA – WHISKY A GO GO

Menosprezado por seus açucarados temas românticos, o Roupa Nova tem no entanto pedigree: foi apadrinhado por Milton Nascimento (tendo sido inclusive batizado com uma canção sua). E uma estirpe roqueira, tanto que o primeiro single (quando ainda eram The Famks) foi HOJE AINDA É DIA DE ROCK de Zé Rodrix. Preferida por 10 em cada 10 festinhas de confraternização, WHISKY A GO GO está no álbum de 1984. A composição da dupla Sullivan  & Massadas homenageia o mega-hit Do You Wanna Dance? de Johnny Rivers (que se eternizou nas paradas nos 60’s). Foi tema da novela Um Sonho a Mais que teve seu título adequado para coincidir com a letra da canção.

 

51) INOCENTES – PÂNICO EM SP

Originária da periferia de SP, a banda é uma das pioneiras do punk rock nacional. No álbum PÂNICO EM SP de 1986 (um mini-LP de 6 faixas), o primeiro do gênero bancado por uma multinacional, a WEA, a canção-título é dedicada às neuroses que afligem a megalópole. Clemente, líder do grupo e autor desta e da maioria das faixas, é conhecido ativista cultural, tendo sido apresentador de programa na rádio Kiss sobre bandas brasileiras de rock e co-autor do livro “Meninos em Fúria” (ao lado de Marcelo Rubens Paiva). Passou depois a integrar o grupo Plebe Rude.

 

52) A COR DO SOM – FRUTIFICAR

O grupo é desdobramento dos Novos Baianos, com destaque para as performances instrumentais executadas por virtuoses como Armandinho, guitarra, Dadi, baixo e Mu, teclados. Chegou a se apresentar em Montreux, performance registrada em disco. Originalmente, mesclava rock com ritmos nordestinos e chorinho. Por exigência da gravadora, passou a inserir vocalizações, o que, embora tenha representado uma depreciação musical, possibilitou maior visibilidade junto à mídia. Foram justamente as faixas cantadas como ZANZIBAR, ABRI A PORTA e BELEZA PURA as que o tornaram mais conhecido. Dentre as faixas instrumentais, FRUTIFICAR do álbum homônimo (1979) é um arraso.

 

53) SÁ, RODRIX & GUARABYRA – HOJE AINDA É DIA DE ROCK

Os dois trabalhos do grupo que lançaram os alicerces do chamado “rock rural” (mescla de rock com música regional) são PASSADO, PRESENTE & FUTURO (1972) e TERRA (1973), recheados de clássicos do novo gênero como: AMA TEU VIZINHO COMO A TI MESMO, BLUE RIVIERA, MESTRE JONAS, ANOS 60 e HOJE AINDA É..., composta por Rodrix para o álbum de estreia. O conjunto teve vida curta: após o segundo disco, Zé Rodrix abandonou o trio que passou a ser a dupla Sá & Guarabyra, muito profícua, aliás. O trio viria a se reunir para um disco ao vivo em 2001 e para o último álbum de estúdio (2010), lançado logo após a morte de Rodrix.

 

54) VIOLETA DE OUTONO – OUTONO

Cultuada banda paulistana, começou fazendo um rock básico inspirado em renomadas bandas internacionais como Beatles, Stones e Pink Floyd. Todavia, influenciada pelo anárquico grupo franco-britânico Gong de Daevid Allen, um dos mitos do rock vanguardista, passou a adicionar novos ingredientes ao seu som. OUTONO, uma das canções preferidas dos fãs, é da primeira fase, do álbum de estreia de 1987. O guitarrista Fábio Golfetti, líder da banda e único integrante a permanecer desde a formação original, foi mais tarde convidado a integrar o GONG que tanto idolatrava.

 

55) RITCHIE – MENINA VENENO

Desde que aportou no Brasil onde se radicou, o britânico Ritchie vinha agitando o meio musical. Passou por dois importantes grupos de rock progressivo: A Barca do Sol e Vimana. Mas foi a partir de sua carreira solo que se tornou conhecido. Seu projeto era o de criar um som com base no synth pop de bandas como o SOFT CELL. O resultado superou as expectativas. MENINA VENENO colecionou recordes. O single foi o mais vendido de 1983, sendo a canção mais executada daquele ano. Puxado pelo hit, o álbum VOO DO CORAÇÃO (desse mesmo ano), teve vendas em torno de 1 milhão de cópias. Contém também os sucessos PELO INTERFONE, A VIDA TEM DESSAS COISAS e CASANOVA. O disco contou com a participação de Lulu Santos, Lobão (seus companheiros no Vinama), Liminha e do guitarrista Steve Hackett do Genesis.

 

56) METRÔ – BEAT ACELERADO

Iniciando como Gota Suspense, mais voltado para o rock progressivo, o Metrô identificado pelo inconfundível vocal de Virginie Boutaud, mudou de nome e rumos, assumindo uma pegada new wave, tornando-se aliás um dos expoentes nacionais do gênero. BEAT ACELERADO, o grande sucesso do grupo saiu em single, recebendo uma versão curta no álbum OLHAR (1985). Na década de 2000, através do celebrado álbum DEJA VU, o grupo mudou de estilo, incorporando ao seu som ingredientes como lounge, música eletrônica, bossa nova, samba e MPB.

 

57) SAGRADO CORAÇÃO DA TERRA – PANTANAL

Banda mineira de rock progressivo fundada pelo violinista, tecladista e compositor Marcus Viana que se notabilizou por sua temática ecológica e mística. Marcus que tem formação erudita segue em paralelo carreira individual (com maior ênfase à new age) que se confunde com a trajetória da banda, assinando também a trilha de filmes e novelas como Olga, Filhos do Vento e Xica da Silva. O belo tema de abertura de PANTANAL veiculada pela antiga TV Manchete integra o álbum FAROL DA LIBERDADE (1991), obra que conta com uma requintada musicalidade sinfônica.

 

58) RONNIE CORD – RUA AUGUSTA

O maestro e pianista Hervê Cordovil foi um dos mitos da música brasileira, tendo composições em parceria com mestres como Noel Rosa, Lamartine Babo, Luiz Gonzaga e Adoniran Barbosa. Sua vasta produção se estende a dois emblemáticos êxitos da Jovem Guarda, sob encomenda de seu filho Ronald Cordovil (conhecido como Ronnie Cord):  a versão de BIQUINI DE BOLINHA AMARELINHA e RUA AUGUSTA, enorme sucesso em compacto simples (1964), e relançada no álbum homônimo. A canção, uma das primeiras a ter versos vetados pela censura, retrata o fascínio da juventude da época pela velocidade e carangos envenenados. Foi surpreendentemente eleita pela Rolling Stone uma das músicas brasileiras de todos os tempos.

 

59) JOELHO DE PORCO – MARDITO FIAPO DE MANGA

Nos seus mais 20 anos de atividade e 4 álbuns que mesclam estilos que vão do rock ao tropicalismo, a escrachada banda paulistana passou por diversas formações (uma das quais incluiu Zé Rodrix), sendo considerada por sua atitude iconoclasta e irreverente precursora do punk. A mais conhecida canção é MARDITO... do primeiro álbum SÃO PAULO 1554/HOJE (1976). O LP 18 ANOS SEM SUCESSO de 1988 (o título traduz o descompromisso com as demandas do mercado) foi o derradeiro registro fonográfico da banda.

 

60)  JÚPITER APPLE – MISS LEXOTAN 6MG GAROTA

Depois de passar pelas bandas juvenis gaúchas TNT e Cascavelletes que fizeram sucesso mediano, Júpiter Apple (que, dependendo da fase, preferia ser Júpiter Maçã), numa linha diametralmente oposta, desenvolveu carreira individual, com destaque para o experimentalismo, a psicodelia, a música eletrônica e a bossa nova. A SÉTIMA EFERVESCÊNCIA (1997) foi saudado pela crítica como um dos mais instigantes álbuns nacionais. MISS LEXOTAN é desse disco, declaradamente inspirado no pirante The Piper at the Gates of Dawn, o primeiro álbum do Pink Floyd (sob a liderança de Syd Barrett). Jupiter lançaria mais 4 álbuns antes de falecer em 2015.

 

 

CONFIRA 1a PARTE

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/08/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do.html 





 

 

 

 

sábado, 22 de agosto de 2020

ROCK BRASIL - OS 100 MAIORES ROCKS DO SÉCULO XX (2ª PARTE)

 

 

Segue a continuação do levantamento dos principais exemplares do rock ‘brazuca’, segundo dois aspectos: 1) receptividade do público traduzida por vendas e execução nas rádios; 2) relevância dentro do cenário musical.

Vamos à 2ª parte da lista, por ordem crescente:

 

21)ENGENHEIROS DO HAWAII – PRA SER SINCERO

A banda gaúcha conduzida pelo vocalista, baixista e autor da grande maioria das canções Humberto Gessinger (único a manter-se na banda desde o início), embora seja uma das lídimas representantes do chamado BRock, sempre esbarrou na má vontade da crítica que a tachava de esnobe. Indiferente a essa avaliação, amealhou uma respeitável legião de admiradores que a elegeram, em enquete promovida pela revista Bizz, a maior banda brasileira de rock do ano de 1990. Tal avaliação veio na esteira do sucesso de O PAPA É POP (1990), seu álbum de maior êxito, o qual revelou ERA UM GAROTO QUE COMO EU... (cover da famosa canção antibelicista italiana vertida pel’Os Incríveis) e PRA SER SINCERO.

 

22)CAMISA DE VÊNUS – SIMCA CHAMBORD

A banda de Salvador liderada pelo vocalista e compositor Marcelo Nova era caracterizada por suas letras obscenas (8 das 10 faixas do disco VIVA foram vetadas pela censura). Por isso, grande parte de suas músicas não chegava às rádios. Ainda assim, emplacou os hits BETE MORREU, EU NÃO MATEI JOANA D’ARC, SÍLVIA, GOTHAM CITY (famosa composição de MACALÉ e CAPINAM) e SIMCA CHAMBORD, excelente sátira sobre as mudanças ocorridas no país à luz do modelo de veículo, símbolo do status buscado pela classe média por ocasião do golpe de 1964. Pertence ao álbum CORRENDO O RISCO (1986).

 

23)MUNDO LIVRE S/A – SAMBA ESQUEMA NOISE

Esse grupo promove a universalização dos ritmos regionais pernambucanos, integrando-os com novos gêneros. Ao lado de Chico Science, é legítimo representante do manguebeat, cujos pressupostos constam no manifesto “Caranguejos com Cérebro” elaborado pelo líder da banda,  Fred Zero Quatro. A canção é do álbum homônimo de 1994, o primeiro do grupo (quando o percussionista Otto ainda integrava a banda) que conta com esmerada produção e ilustres participações (Naná Vasconcellos, Nasi do Ira, Nando Reis, Charles Gavin e Paulo Miklos dos Titãs).

 

24)ARNALDO BAPTISTA – SERÁ QUE EU VOU VIRAR BOLOR?

Lançado 2 anos após a dissolução da formação clássica d’Os Mutantes que contava com Rita Lee (de quem Arnaldo também se separou), o álbum LÓKI? (1974), não obstante vendas modestas, foi saudado pelos críticos como um dos mais importantes do rock e da música brasileira, em geral. Com produção de Roberto Menescal e arranjos de Rogério Duprat, o disco, apesar das doses de humor herdadas de seu antigo grupo, não esconde a fase melancólica do artista prenunciando os traumas psicológicos por que seria acometido. SERÁ QUE..., a faixa de abertura, é o mais genuíno rock de um álbum que curiosamente abriu mão do uso da guitarra.

 

25)GANG 90 – PERDIDOS NA SELVA

Embora o grupo liderado pelo jornalista Júlio Barroso não tenha alcançado significativa penetração popular, foi aclamado como um dos mais importantes do cenário pop por ser precursor da new wave tupiniquim. O visual com roupas coloridas e proeminente participação vocal feminina remetia aos grupos B-52’s e Kid Creole & Coconuts. Gravou apenas um álbum com a presença de Barroso, ESSA TAL DE GANG 90 & AS ABSURDETTES (1983), que emplacou três êxitos, NOSSO LOUCO AMOR, tema da novela “Louco Amor” da TV Globo, TELEFONE e PERDIDOS NA SELVA (composta em parceria com Guilherme Arantes) que participou do Festival MPB SHELL. Depois da morte do líder, o grupo ainda gravou mais dois álbuns, ROSAS E TIGRES (com alguns temas inéditos de Barroso) e PEDRA 90, que tiveram menor repercussão.

 

26)OS INCRÍVEIS – O MILIONÁRIO

Um dos mais competentes e talentosos (Clevers, não à toa, era o nome original) grupos de rock, vinha numa trajetória ascendente até cometer o erro fatal de gravar EU TE AMO, MEU BRASIL de Dom e Ravel, canção ufanista usada pela ditadura militar, que fez ruir a glória duramente conquistada e acabou por ocasionar a dissolução da banda. Ainda assim, deixou um respeitável legado com canções memoráveis como ERA UM GAROTO QUE COMO EU... (regravado pelos Engenheiros do Hawaii), MOLAMBO, VAGABUNDO e VENDEDOR DE BANANAS de Jorge Benjor. A versão deles para o tema instrumental O MILIONÁRIO superou em qualidade e popularidade a versão original do grupo inglês Dakotas.

 

27)O RAPPA - MINHA ALMA

O Rappa mescla rock, reggae e rap e sua característica principal é o forte teor crítico das letras, revelando sem retoques a realidade das favelas cariocas. O grupo sofreu um revés e tanto com a perda de Marcelo Yuka, um dos fundadores da banda e seu principal compositor, além de ativista social e cultural, que, após ser baleado (triste ironia) por um assaltante, tornou-se paraplégico. O último trabalho com a presença de Yuka foi o elogiado LADO B LADO A (1999) que teve a colaboração do renomado baixista americano Bill Laswell. Desse disco, a faixa que alcançou maior projeção foi MINHA ALMA (com o subtítulo “A Paz que eu não Quero”) que fala da falsa ‘paz’ que impede as transformações sociais.

 

28)ERASMO CARLOS – MINHA FAMA DE MAU

Até o final dos anos 60, Erasmo e o inseparável parceiro, Roberto, foram os próceres da Jovem Guarda. A partir dos 70’s, o “Tremendão” deu uma guinada, passando a flertar com o samba-rock em COQUEIRO VERDE (regravada por Zeca Pagodinho, Seu Jorge e Trio Mocotó) e com a MPB em MESMO QUE SEJA EU (com versões de Marina e Ney Matogrosso) e SENTADO À BEIRA DO CAMINHO (sucesso na Itália com Ornella Vanoni). MINHA FAMA DE MAU foi seu primeiro compacto, figurando também no álbum PESCARIA (1965), que também contém FESTA DE ARROMBA. A canção nomeou o livro autobiográfico de Erasmo e o filme nele baseado.

 

29)CHARLIE BROWN JR. – PROIBIDA PRA MIM (GRAZON)

A banda de skate-rock é de Santos, litoral paulista (exceto Chorão que é da capital) e suas canções refletem com fidelidade os anseios da juventude atual. Tornou-se uma das preferidas da molecada, inclusive no exterior, onde, após o Sepultura, é a banda com maior número de acessos nas plataformas digitais de música. Essa carreira de sucesso foi tragicamente interrompida em 2013, golpeada por dupla tragédia: a morte do vocalista e líder Chorão por overdose, seguida pelo suicídio, alguns meses após, do sucessor, o baixista Champagna.  PROIBIDA PRA MIM, escrita por Chorão para sua namorada Grazon, é do álbum de estreia TRANSPIRAÇÃO CONTÍNUA PROLONGADA (1997). Ganhou novo fôlego ao receber uma insólita releitura acústica de Zeca Baleiro.

 

30)ARNALDO ANTUNES – O PULSO

Arnaldo, além de sua profícua carreira solo, integrou ao lado de Marisa Monte e Carlinhos Brown o supergrupo Tribalistas, fenômeno em vendagem de discos com mais de 3,5 milhões de unidades com apenas dois álbuns.

No entanto, é da fase “titânica” uma de suas mais emblemáticas canções: O PULSO (de que compôs os versos) que arrola uma série de doenças, concluindo “e o pulso ainda pulsa”. É faixa do álbum Õ BLÉSQ BLOM, de quando ele ainda integrava a banda. Ainda que, por justiça, deva ser creditada aos Titãs, está tão associada à figura de Arnaldo que a ele pode ser abonada. A canção esteve envolvida em recente polêmica ao ser utilizada em manifestações pró-Bolsonaro, o que desagradou o artista que ingressou com uma ação na Justiça.

 

31)RAIMUNDOS – MULHER DE FASES

Embora com inserção de temas e ritmos regionais, especialmente no primeiro álbum, a inspiração do ‘forrocore’ dos Raimundos veio dos Ramones (até na corruptela do nome do grupo). Essa influência fica patente em MULHER DE FASES que retrata as atribulações de estar apaixonado por uma garota com TPM. A canção está presente no disco SÓ NOS FORÉVIS (1999), o de maior êxito da banda e o último antes de o vocalista e principal compositor Rodolfo abandonar o grupo (ao tornar-se evangélico), pondo fim à sua melhor fase. O disco marca o retorno às letras maliciosas e satíricas da fase inicial, traduzidas pelo título (inspirado no linguajar de Mussum), e pela capa que ironiza os fúteis grupos de pagode romântico que dominavam o mercado fonográfico.

 

32)RATOS DE PORÃO – CRUCIFICADOS PELO SISTEMA

Faixa-título do disco de estreia (de 1984) da banda comandada pelo ex-apresentador da MTV João Gordo, pioneira do punk no país. Eleito pela Rolling Stone o maior disco de punk do país, o álbum foi relançado várias vezes (sempre com a mesma capa mas cada vez com uma cor diferente), inclusive na Europa e nos EUA onde a banda tem prestígio. A canção de 1:20 (tempo médio das faixas) tem poucas palavras, ressaltando mais o ritmo acelerado dentro da estética agressiva do hardcore. Foi regravada pelo Sepultura na compilação dupla THE ROOTS OF.

 

33)365 – SÃO PAULO

SÃO PAULO é o grande hit desse grupo (obviamente) paulista, um dos dignos representantes do rock oitentista nacional (BRock). O primeiro álbum do grupo, graças à canção, foi grande sucesso de vendas assim como o EP que o precedeu. Ao lado de POBRE PAULISTA do Ira! e PÂNICO EM SP dos Inocentes, tem como temática a metrópole que mesmo deixando de ser o “túmulo do samba”, continua sendo a capital do rock. O álbum inclui ainda uma versão roqueira de GRÂNDOLA, VILA MORENA, famosa canção lusitana, símbolo da Revolução dos Cravos que marcou o fim da era salazarista.

 

34)WALTER FRANCO – FEITO GENTE

A música vanguardista de Walter Franco, um dos “malditos” da MPB, não pode ser classificada como rock (ou qualquer outra coisa). Porém, ao menos duas de suas conhecidas canções, indubitavelmente são rocks e de primeira linha: a visceral CANALHA do álbum VELA ABERTA (1980) e FEITO GENTE de REVOLVER (1975), a obra máxima do artista, ao equilibrar suas ideias arrojadas com uma sonoridade “palatável”. Ainda que incompreendido pelo público, Walter sempre teve apoio dos críticos como no júri que elegeu a composição CABEÇA, contra a vontade da plateia e da Globo, como a campeã do FIC/72, resultado não acatado pela emissora. Para se redimir, a Globo escalou FEITO GENTE para a trilha da série “Os Dias Eram Assim”.

 

35)MAMONAS ASSASSINAS – VIRA-VIRA

Mais do que um fenômeno musical, os saudosos Mamonas foram um evento sociológico. Um grupo de garotos de Guarulhos, Grande SP, sem nenhuma estrutura ou credencial, conseguiu agitar o mercado fonográfico, comercializando em pouquíssimo tempo, 3 milhões de cópias do seu único álbum, de 1995 (um dos mais vendidos da história). Com letras cômicas e descompromissadas, recheadas de palavrões e ritmos que iam do brega ao rock, conquistaram os adolescentes de menor idade. Apesar da reprovação dos puristas, não há como contestar a competência e o carisma dos meninos. Como não relevar as restrições e conter o riso, ouvindo os lamentos de um lusitano numa suruba em VIRA-VIRA?

 

36)NANDO REIS – ALL STAR

Nando Reis deixou os Titãs, dedicando-se a seus projetos próprios, a partir de 2002, quando sua carreira deslanchou sobretudo como compositor, assinando canções de êxito de diversos intérpretes, o que o gabaritou como um dos que mais faturaram com direitos autorais. Antes da virada do século, lançou dois álbuns solo: 12 DE JANEIRO (1995) e PARA QUANDO O ARCO-ÍRIS ENCONTRAR O POTE DE OURO (2000). Neste, o destaque é ALL STAR que fala da amizade com Cássia Elller, que se tornou mais conhecida na voz da cantora no álbum DEZ DE DEZEMBRO.

 

37)SOM IMAGINÁRIO – ARMINA

Não se pode dizer que seja de rock o grupo criado para acompanhar Milton Nascimento em seus shows, um subproduto do Clube da Esquina. Tampouco têm no rock seu ritmo preponderante os integrantes originais Wagner Tiso, Luiz Alves, Tavito, Robertinho Silva, Fredera e Zé Rodrix (esse talvez uma exceção) e outros cobras que transitaram pelo grupo como Naná Vasconcelos, Toninho Horta, Jamil Joanes, Nivaldo Ornellas e Victor Biglione. Isso não significa que ARMINA e a faixa-título do álbum MATANÇA DE PORCO (1973) não se constituam em dois dos mais poderosos rocks brazucas. Os arranjos do álbum, totalmente instrumental (com participação de Milton), elaborados por Tiso (sob cuja ascendência foi concebido o projeto) foram fortemente influenciados pelo rock progressivo de que o músico era fã.

 

38)LOS HERMANOS – ANNA JÚLIA

Embora tenha sido de longe sua música mais executada, ANNA JÚLIA não sintetiza a obra do cultuado conjunto comandado por Marcelo Camelo, um dos ‘grupos-cabeça’ do rock nacional. A nata da criação dos Hermanos ocorreu a partir do álbum BLOCO DO EU SOZINHO (2001), ou seja, no século XXI, fora dos limites da presente seleção. Ainda assim, a canção de 1999, presente no álbum de estreia do grupo (o que mais vendeu) tem virtudes, a ponto de ter recebido registro fonográfico do lendário Jim Capaldi do Traffic com a participação de Paul Weller (Jam) no baixo, Ian Paice (Deep Purple) na bateria e ninguém menos do que o ex-beatle George Harrison na guitarra. Ainda assim, a canção é praticamente ignorada pela própria banda carioca que prefere deixá-la de fora de seus shows.

 

39)GUILHERME ARANTES – CORAÇÃO PAULISTA

Guilherme Arantes é um dos mais versáteis artistas nacionais. Além de respeitável pianista, é um dos compositores mais bem sucedidos do país, chegando, durante a fase áurea, a superar Chico e Caetano em faturamento por direitos autorais. Tem canções de enorme sucesso interpretadas entre outros por Bethânia e Elis. Além disso, transita em gêneros tão díspares quanto MPB, rock, new wave, rap (é amigo de Mano Brown dos Racionais) e rock progressivo (foi um dos fundadores do lendário Moto Perpétuo). CORAÇÃO PAULISTA do álbum homônimo (1980), um dos mais surpreendentes do músico paulista, não é seu maior sucesso mas certamente a mais roqueira.

 

40)BARCA DO SOL – LADY JANE

Grupo formado por músicos de gabarito como: Muri Costa e Marcelo Costa (que atuaram ao lado de diversos nomes da elite da MPB), o Nando Carneiro, conhecido por trabalhar com Egberto Gismonti em vários álbuns. Pela banda passaram ainda o celebrado violoncelista e arranjador Jaques Morelembaum (que trabalhou 10 anos com Jobim) e, tocando flauta, Ritchie, antes de se tornar conhecido do grande público por MENINA VENENO. Ainda que não tenha tido reconhecimento popular, seus três álbuns tornaram-se itens obrigatórios dos apreciadores de música instrumental e rock progressivo. Do primeiro disco de 1974, a faixa LADY JANE que viria a ser o carro-chefe de CORRENDO O RISCO de Olívia Byington, álbum que contou com a participação do grupo.

 

 

CONFIRA 1a PARTE

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/08/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do.html 

 

CONFIRA 2a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/08/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do_22.html


CONFIRA 3a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/08/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do_30.html 

 

CONFIRA 4a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/09/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do.html  

 



CONFIRA 5a PARTE:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/09/rock-brasil-os-100-maiores-rocks-do_13.html