domingo, 26 de julho de 2020

OS 100 MAIORES ROCKS DO SÉCULO XX (4a PARTE)


Segue a continuação do levantamento dos principais rocks do século XX, segundo dois aspectos: 1) receptividade do público traduzida por vendas e execução nas rádios; 2) relevância dentro do cenário musical.

Vamos à 4ª parte da lista, por ordem crescente:


61) CREAM – SUNSHINE OF YOUR LOVE
O  Cream foi um power trio britânico formado pelos notáveis Eric Clapton, guitarra, Jack Bruce, baixo e Ginger Baker, bateria, com repertório centrado no blues, no rock e na psicodelia. Ainda que durando apenas quatro anos, teve capital importância, não apenas pela excelência instrumental de seus componentes mas pelo seu estilo que influenciou conjuntos de ponta como o Led Zeppelin e o Deep Purple. A banda já nasceu prestigiada, já que Clapton, provindo dos Yardbirds, era reputado um dos monstros sagrados da guitarra. Lançaram 4 lendários álbuns no período 1966/1969. Do segundo, DISRAELI GEARS (1967), essa pérola, SUNSHINE..., uma das suas faixas mais célebres, gravada até pela diva Ella Fitzgerald. Com a dissolução do Cream, Clapton e Baker reagruparam-se em outra histórica banda, o Blind Faith.

62) GRAND FUNK – I´M YOUR CAPTAIN
Essa banda, originalmente intitulada Grand Funk Railroad, com ativa presença nos anos 70, foi vítima de improcedentes críticas do establishment midiático. Embora produzindo um hard rock comparável aos grupos ingleses de primeira como Deep Purple e Black Sabbath, pegou a fama de banda comercial, possivelmente em virtude das táticas promocionais para vendê-la como banda essencialmente americana (revertidas em sua famosa canção WE’RE AN AMERICAN BAND). Alheio à celeuma, o grupo continuou criando rock de qualidade. Todos seus discos no período 1969/76 (o último produzido por ninguém menos do que Frank Zappa) tornaram-se clássicos. I’M YOUR CAPTAIN do álbum CLOSER TO HOME (1970), não obstante seus 10 minutos de duração (a mais comprida do grupo), é uma das mais populares faixas.

63) OASIS – WONDERWALL
O britpop, movimento musical surgido na década de 90 no Reino Unido (como contraponto ao grunge que vinha da América) inspirado em gloriosas bandas britânicas como Beatles, Stones e The Who, revelou grupos como Blur, Verve, Placebo, Suede e sobretudo Oasis. A banda comandada pelos irmãos Noel e Liam Gallagher obteve grande evidência, com seu segundo álbum (WHAT’S THE STORY) MORNING GLORY?, de 1995, sucesso absoluto (na Inglaterra foi o álbum mais vendido da década) e que revelou hits como ROLL WITH IT, CHAMPAGNE SUPERNOVA  e principalmente WONDERWALL. A composição de Noel, de temática romântica, foi enorme sucesso radiofônico. Teria, ao que se especula, como referência o álbum instrumental WONDERWALL MUSIC de George Harrison.

64) FRANK ZAPPA – DON´T EAT THE YELLOW SNOW
A alcance da obra de Zappa transcende o rock, abrangendo o jazz e a música erudita. Escolher em meio à sua vasta discografia de mais de 60 álbuns (alguns duplos e triplos) uma canção que o represente beira a heresia. DON´T EAT... desponta pelo fato de ser a faixa mais conhecida do álbum APOSTROPHE (1974), o único a conseguir a façanha de figurar entre os 10 mais vendidos da Billboard, algo inconcebível considerando-se as excentricidades do músico (os badalados JOE´S GARAGE e SHEIK YERBOUTI resvalaram a relação dos 20 primeiros). A canção, na verdade, é uma suíte de 4 partes, totalizando 10 minutos de duração, com uma letra absurda, compatível com a anarquia do artista. O álbum traz uma penca de instrumentistas de primeira linha como Jack Bruce, Jean Luc Ponty, Don Sugarcane Harris, George Duke e até a cantora Tina Turner.

65) SMITHS – THERE IS  A LIGHT THAT NEVER GOES OUT
Influente banda dos anos 80 centrada nas figuras de Morrissey (vocalista e letrista) e Johnny Marr (guitarrista, baixista, tecladista e compositor das melodias), os Smiths provieram do circuito alternativo e pertenciam ao catálogo da Rough Trade (a mais importante gravadora independente do Reino Unido). Apesar da curta existência, com apenas 4 álbuns, todos bem sucedidos, amealharam uma legião de fãs, inclusive no Brasil. O espólio da banda foi arrematado por Morrissey cuja carreira solo perdura até hoje. O artista que se notabilizara por sua pregressa postura ecológica e progressista, envolveu-se recentemente em embaraçosas posições xenófobas. A canção THERE IS A LIGHT..., do 3º álbum, THE QUEEN IS DEAD (1986), representa o ponto alto do grupo onde há um casamento perfeito entre os dois líderes.

66) RADIOHEAD – EVERYTHING IN ITS RIGHT PLACE
O Radiohead é uma das melhores, senão a melhor banda surgida nos últimos 30 anos. Embora já fosse anteriormente cultuada pelo público, conquistou aplausos da crítica com o aclamado OK COMPUTER (1997), um álbum divisor de águas, com canções como NO SURPRISES e KARMA POLICE. O grupo manteve-se no topo com KID A (2000) em que reforçou a agregação de elementos do jazz e da música eletrônica, reduzindo a presença das guitarras. A faixa EVERYTHING... (que foi até objeto de uma peça do compositor minimalista Steve Reich) é um exemplo dessa postura iconoclasta. Ambientalista e pacifista, o líder Thom Yorke (instrumentista, vocalista e compositor da banda) é avesso à badalação e parece incomodado com o sucesso, conduzindo a banda para caminhos cada vez mais imprevisíveis.

67) IGGY POP – THE PASSENGER
A carreira de Iggy Pop divide-se em duas fases: como membro e principal integrante da lendária banda The Stooges e em sua carreira individual. Com os Stooges, lançou 3 álbuns de 1969 a 1973 que, mesmo sem grandes vendas, tornaram-se reverenciados por inúmeros grupos como Ramones, Sex Pistols, Damned, Sonic Youth e Nirvana. Em sua carreira solo contou, de início, com a inestimável colaboração do amigo David Bowie nos álbuns THE IDIOT e LUST FOR LIFE, ambos de 1977. Esse último contém suas mais populares músicas, LUST FOR LIFE e THE PASSENGER. Bowie além de ter composto a faixa-título, participa como tecladista e nos backing vocals. A música THE PASSENGER sobre suas turnês, foi inspirada num poema de Jim Morrison dos Doors. Iggy alcançou a condição de mito mas seus trabalhos mais recentes não obtiveram tanta repercussão.

68) KING CRIMSON – 21st CENTURY SCHIZOID MAN
Trata-se de uma das bandas mais cultuadas pelos antenados em música de qualidade. Ainda que sua importância não reverta em vendas, adquiriu o status máximo de respeitabilidade sobretudo entre os aficionados em rock progressivo e jazz-rock. Sua música caracteriza-se por elaboradas estruturas que aproximam seu som do jazz e da música erudita contemporânea e até do rock pesado. Pela banda, passaram músicos lendários como Greg Lake, Adrian Belew e Bill Brufford, porém Robert Fripp foi o único membro permanente (embora tenha uma carreira paralela, além de parcerias com Brian Eno, David Sylvian e Andy Summers). Pinçar uma canção representativa desse grupo é tarefa penosa. O álbum inicial, IN THE COURT OF THE CRIMSON KING (1969) é identificado pela inconfundível arte da capa que retrata justamente o personagem a que se refere a faixa 21st CENTURY..., em que a veia roqueira da guitarra de Fripp aflora.

69) DEPECHE MODE – NEVER LET ME DOWN AGAIN
Essa é uma das bandas mais bem sucedidas dos anos 80/90. Pertence ao seleto clube dos que atingiram a marca de 100 milhões de discos vendidos, além de críticas favoráveis e importância histórica. Surfaram na new wave e firmaram-se com uma bem sucedida mistura de rock e música eletrônica, uma das preferidas nas pistas de dança. Até o nome (retirado de uma revista francesa) é chique. A formação é excepcionalmente estável. Os 3 integrantes atuais (Martin L Gore, David Grahan e Andrew Fletcher) estão praticamente desde o início. Um 4º integrante, Alan Wilder, deixou a banda em 1995 não sendo reposto. Dentre os diversos álbuns que se projetaram, MUSIC OF THE MASSES (título que obviamente é uma ironia) destacou-se. O álbum é considerado um marco da música eletrônica, tendo revelado dois temas conhecidos: STRANGELOVE e NEVER LET..., ambas de autoria de Gore.

70) CREEDENCE CLEARWATER – I HEARD IT THROUGH THE GRAPEVINE
A simpática banda dos irmãos John e Tom Fogerty é bastante popular no Brasil onde seus singles alcançaram ótimas posições nas paradas: PROUD MARY, WHO´LL STOP THE RAIN, BAD MOON RISING, GREEN RIVER, HEY TONIGHT, BORN ON THE BAYOU, SUZI Q, LODI, TRAVELIN’ BAND, HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN, etc., espalhados nos 6 álbuns do grupo. Foram reunidos na coletânea CHRONICLE. Só que nessa compilação I HEARD... saiu truncada com 3:52 minutos (exceto na versão importada do CD). A canção, uma das poucas cuja autoria não é do grupo, foi composta por Norman Whitfield para a interpretação de Gladys Knight & The Pips, tornando-se popular na voz de Marvin Gaye. A versão integral de 11 minutos para o clássico soul com um belo arranjo roqueiro faz parte do álbum COSMO´S FACTORY (1970)

71) ROXY MUSIC – IN EVERY DREAM HOME A HEARTACHE
O vocalista Bryan Ferry e o tecladista Brian Eno (produtor de álbuns do U2 e do Coldplay) que individualmente construíram sólidas e bem sucedidas carreiras artísticas, deram seus passos iniciais nessa banda inglesa de que eram integrantes. Apesar de não ter alcançado expressivas vendas de discos, tornou-se referência. Com a precoce saída de Eno, o grupo deu uma guinada para um som menos experimental, semelhante ao estilo que Ferry iria imprimir em sua performance como crooner. A épica formação original (que incluía o brilhante guitarrista Phil Manzanera que mais tarde trabalharia com David Gilmour do Pink Floyd) durou apenas dois álbuns. IN EVERY... (uma mórbida ode de Ferry a uma boneca inflável) é a principal faixa do álbum FOR YOUR PLEASURE (1973), tido como a obra mais arrojada do grupo, a última a contar com a presença de Eno.

72) BOSTON – MORE THAN A FEELING
Nascida na segunda metade dos anos 70, o Boston, com um repertório de rock básico, alcançou formidável sucesso, sobretudo nos EUA. Seu primeiro trabalho de 1976 é considerado um dos álbuns de estréia comercialmente mais bem sucedidos da história, com 25 milhões de cópias vendidas, 2/3 das quais apenas nos EUA. A maior parte desse sucesso se deve à faixa de abertura, o mega-hit MORE THAN A FEELING, composto pelo guitarrista/baixista Tom Scholz em homenagem a um antigo amor. A canção ficou de tal modo encravada no imaginário americano que se tornou largamente requisitada para trilhas sonoras de filmes e séries. O vocalista Brad Delp, a cuja irrepreensível interpretação deve-se boa parte desse êxito, suicidou-se em 2007, mas a banda permaneceu na ativa.

73) MEGADETH – HOLY WARS… THE PUNISHMENT DUE
Provindo do Metallica, o vocalista/guitarrista Dave Mustaine fundou o Megadeth, do qual é o único membro permanente (o resto da formação do grupo é bastante inconstante), preservando a linha thrash do qual se firmou como um dos principais expoentes, ao lado do Slayer e do próprio Metallica. Em sua fase mais recente, abandonou os típicos temas satânicos em virtude de o líder ter-se convertido ao cristianismo. A exemplo do Iron Maiden, as capas dos álbuns do grupo trazem um bizarro mascote batizado de Vic Rattlehead. O 4º álbum, RUST IN PEACE (1990), em que o grupo contava com a presença do exímio guitarrista Marty Friedman, traz HOLY WARS..., possivelmente a mais conhecida do grupo americano, canção que aborda o conflito Israel X Palestina.

74) KRAFTWERK – AUTOBAHN
Escutando hoje, as trips sonoras do Kraftwerk podem soar um tanto extemporâneas. Para a época em que foram produzidas, todavia, representaram um ousado lance de modernidade e pioneirismo. O grupo alemão de música eletrônica formado em 1970 por Ralf Hütter e Florian Schneider teve decisiva influência em diversos estilos musicais posteriores como o rock experimental, a dance music, a new wave, a ambient music e o minimalismo. AUTOBAHN foi o quarto álbum do grupo e o primeiro a alcançar projeção mundial. Entrou na lista de best sellers, uma surpresa para esse estilo de música, incomum para a época.  A faixa-título de 22 minutos é uma viagem (em todos os aspectos) por uma “autobahn” (auto-estrada). Apesar da predominância de sintetizadores, o grupo utiliza-se de violino, guitarra, piano e sopros.

75) PAUL McCARTNEY & WINGS – BAND ON THE RUN
A banda formada pelo ex-Beatle, ainda que não seja páreo para o quarteto de Liverpool, construiu uma carreira invejável em seus 8 anos de atuação. Nesse ínterim, sofreu diversas mudanças, mantendo-se no grupo, além de Paul e sua mulher Linda, apenas o guitarrista Denny Laine (ex-Moody Blues).  Cinco dos álbuns lançados pelo grupo chegaram à liderança nos EUA e/ou Reino Unido. BAND ON THE RUN (1973) marcou o apogeu do grupo inglês (o último pelo selo Apple, do qual Paul se desligou), tendo sido em diversos países o álbum mais vendido de 1974. O sucesso foi puxado por dois hits: JET e a que dá nome ao álbum, uma canção que começa compassada até que as guitarras dão o sinal para uma triunfal guinada rocking.

76) ANIMALS – THE HOUSE OF THE RISING SUN
Essa canção folclórica americana recebeu dezenas de gravações, inclusive de figuras lendárias como Woody Guthrie, Leadbelly, Joan Baez, Bob Dylan e Nina Simone. Mas a versão definitiva é dos Animals, sucesso estrondoso em todo o mundo. Inexplicavelmente, a música saiu truncada (2:58 minutos) no primeiro álbum do grupo de 1964, calcado em clássicos do blues e R&B. Sua versão integral (4:29) viria a ser recuperada apenas na coletânea BEST OF ANIMALS (1966). A banda liderada pelo vocalista Eric Burdon emplacou outro êxito, DON´T LET ME BE MISUNDERSTOOD (consagrada pela versão disco do Santa Esmeralda). Mais tarde, com a saída do tecladista Alan Price, a banda foi rebatizada como Eric Burdon and The Animals com repertório mais contemporâneo, emplacando mais um hit, SAN FRANCISCAN NIGHTS.

77) CULT – SHE SELLS SANCTUARY
A banda inglesa, liderada pelo vocalista Ian Astbury nasceu Southern Death Cult, passou a ser Death Cult e terminou como The Cult apenas. O estilo também evoluiu do pós-punk para o hard rock. Sem dúvida, o grande êxito do grupo é a canção SHE SELLS SANCTUARY, do álbum LOVE (1985), o segundo da sua carreira. Ainda que tenha sido uma produção independente, lançado pela histórica gravadora alternativa Beggars Banquet, o álbum galgou as primeiras posições em diversos países, com bom desempenho inclusive no Brasil. O single também foi muito bem com diversas versões e remixes. No álbum seguinte, ELECTRIC (1987), The Cult converteu-se de vez do gótico para o rock pesado, gravando inclusive o clássico BORN TO BE WILD, o lendário hino do Steppenwolf.

78) DEAD KENNEDYS – CALIFORNIA ÜBER ALIS
Essa é uma das mais autênticas bandas de punk rock com uma postura deliberadamente impactante e letras mordazes. Em seu período áureo foi liderada por Jello Biafra (codinome de Eric Reed Boucher), que combinava sua atuação como vocalista e compositor com ativismo político (chegou a ser candidato a prefeito de San Francisco). Fundaram a gravadora Alternative Tentacles para divulgar o trabalho de outras bandas punks, muitas das quais se tornaram famosas como Black Flag e Brujeria. Foi por essa gravadora que saiu o single CALIFORNIA ÜBER ALIS (com pesadas críticas ao governador Jerry Brown da Califórnia), o maior sucesso do grupo, que passou a integrar o álbum FRESH FRUIT FOR ROTTING VEGETABLES (1980). Com a saída de Jello, o grupo perdeu o vigor de outrora.

79) PROCOL HARUM – A SALTY DOG
Quando se fala em Procol Harum, imediatamente vem à mente a balada A WHITER SHADE OF PALE, um mega-sucesso em compacto simples que atingiu o primeiro lugar em muitos países (inclusive no Brasil). Mais duas canções suas alcançaram as paradas, HOMBURG e CONQUISTADOR. Entretanto, a obra do conjunto inglês comandado pelo vocalista/tecladista Gary Brooker vai muito além. É tido como um dos mais prestigiados grupos de rock progressivo dos anos 60/70. Para os fãs, o álbum A SALTY DOG (1969), puxado pela canção homônima é uma boa referência. O grupo revelou o guitarrista Robin Trower que fez uma bem sucedida carreira com uma banda que leva o seu nome.

80) SLADE – CUM ON FEEL THE NOIZE
Essa música teve duas versões famosas. Lançada pelo grupo Slade em um single de 1973, foi direto ao topo da parada britânica (proeza só conseguida pelos Beatles com GET BECK, 4 anos antes), permanecendo na liderança por várias semanas. Uma década depois, foi regravada também em single pelo grupo heavy metal Quiet Riot, igualmente alcançando as primeiras posições, só que nos EUA, catapultando as vendas do álbum em que foi incluída, METAL HEALTH. No mercado americano, onde o Slade jamais conseguiu ter grande penetração (ainda que tenha se mudado para a América justamente mirando esse objetivo), muitos desconheciam a versão original. O fato é que o Slade não teve com seus álbuns o mesmo sucesso alcançado por seus singles. CUM FEEL..., por exemplo, pode ser encontrado apenas na coletânea SLADEST (1973). Não obstante, SLADE ALIVE! (1972) é considerado um dos melhores álbuns ao vivo de rock.