segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

VLADIMIR

 

“O russo que guardava o botão da bomba H, tomou um pilequinho e quis mandar tudo pro ar” (Raul Seixas)

 Você conhece o Vladimir? Seguem alguns detalhes da vida desse russo que ganhou as manchetes e ameaça explodir o mundo, se este não se curvar a seus caprichos.

Quando jovem, Vladimir ingressou na KGB, lá permanecendo por 15 anos. Para quem não sabe, a KGB foi o temido órgão de serviço secreto e polícia política da antiga União Soviética durante o período da guerra fria. Ficou famosa pelos métodos horripilantes de tortura que aplicava aos presos políticos. Foi nesse ambiente dignificante que Vladimir deu início à nobre trajetória que o levaria a ser um dos homens mais poderosos do planeta.

Mas sua participação nessa organização de espionagem do governo comunista não significa que Vladimir tivesse apreço pelos valores desse sistema de governo.  Vladimir não estava nem aí com os preceitos dos antigos bolcheviques que inspiraram Lênin e Trotsky a criar um estado proletário. Seus anseios de construir uma “Grande Rússia” estão muito mais para os ideais dos czares de erigir um portentoso império russo, centralizado nas mãos de um líder absolutista.

Vladimir criticou o esfacelamento da União Soviética não porque tivesse saudades do regime socialista, algo de que ele, tendo militado num partido de direita, queria distância. Sentia falta porém da época em que seu país capitaneava um conjunto de nações satélites, tornando-se uma potência hegemônica mundial.

Vladimir tem popularidade entre os russos, sobretudo os mais velhos, saudosos do poder que o país detinha após a 2ª Grande Guerra Mundial. Não se conformam com a bagunça que tomou conta do país com a derrocada do comunismo e a chegada atabalhoada do capitalismo ao país. É considerado “mito” pelos velhos cossacos deslumbrados, cavalgando sem camisa, com seu porte físico viril de praticante de artes marciais que ressalta a figura do machão num país onde as mulheres são vistas com inferioridade e os direitos dos homossexuais são quase inexistentes.

Essa veneração ao salvador da pátria escamoteia o fato de a Rússia ser hoje um país decadente. Apesar de ter o maior território do mundo e uma população de 150 milhões de habitantes, o produto nacional fica abaixo do de países como a Itália, a Coreia do Sul, a Índia e até mesmo de economias em baixa como a do Brasil.

Mas se a Rússia perdeu boa parte da glória do passado, o mesmo não se pode dizer de seus efetivos militares. O país só está abaixo dos EUA, sendo que, em termos de arsenal nuclear de destruição em massa, fica à frente dos americanos! Vladimir não descuidou de aparelhar seu exército com modernos equipamentos. Tem obsessão pelo poderio bélico, com a certeza de que, se a coisa ficar ruça, isso o ajudará a se manter no poder, voltando as baionetas dos inimigos externos para os opositores internos.

Essa é uma característica aliás dos líderes autocráticos: investir prioritariamente recursos em armamentos ao invés de promover a melhoria de condições de vida da população.

Mas Vladimir não é egoísta. Partilha esse colossal poderio militar com seus amigos estrangeiros, sejam eles de direita ou de esquerda, não importa, desde que lhe devotem fidelidade.

Vladimir fornece sem exigir qualquer protocolo de conduta armamento pesado para rebeldes separatistas de vários lugares, muitas vezes meras gangues armadas, como os que usaram mísseis balísticos russos para derrubar um pacífico avião de passageiros da Malaysia Airlines nos céus da Ucrânia em 2014, matando 300 civis inocentes, incluindo 80 crianças. Como era de se esperar, Vladimir lavou as mãos.

É dessa maneira também que Vladimir auxilia aliados impopulares e opressores, fornecendo-lhes suporte bélico. É o caso de seu amigo Nicolás na Venezuela que usou armamento russo para reprimir barbaramente protestos de rua em Caracas. Com ajuda de seu protetor russo, Nicolás prestigia com benesses os membros das forças armadas para garantir lealdade e se eternizar no poder.

É o caso também do déspota Bashar da Síria que esfacelou seu país numa guerra civil sangrenta que já matou 500 mil pessoas e provocou o êxodo de 1/3 da população. Mas o importante para Vladimir é garantir a sobrevivência, não importa por quais meios, de um estratégico aliado no Oriente Médio. Para esmagar os opositores, Bashar lançou armas químicas fornecidas pelo parceiro Vladimir inclusive sobre hospitais e escolas, fritando idosos e crianças.

Como se sabe, armas químicas têm uso proibido pelas convenções internacionais mas Vladimir está pouco se lixando para tratados internacionais, sobretudo aqueles não afinados com seus planos geopolíticos.

Outro tipo de ‘arma química’ usada pelo benemérito Vladimir é o ‘novichok’. São conhecidos diversos casos de desafetos e jornalistas envenenados por esse agente neurotóxico letal, utilizado pelo tirano russo para eliminar do mapa qualquer um que ouse colocar-se em seu caminho.

Fascinado por esse tipo de ‘arma’, Vladimir tentou também patrocinar o uso de substâncias proibidas para melhorar o desempenho dos atletas da Rússia nas olimpíadas, onde o país vinha perdendo espaço nas últimas edições. Acabou se dando mal, pois a mutreta foi desmascarada pelos exames antidoping pelo Comitê Olímpico Internacional e a Rússia foi banida dos jogos do Tóquio de 2021.

Deu para perceber que Vladimir não tem muito senso ético. A única coisa que lhe importa é beneficiar sua amada Rússia, ainda que tenha que atropelar todos os princípios morais e passar sobre milhares de cadáveres de inocentes.

“First, Russia” diria inspirado em seu amigo ianque Donald. Aliás, esses dois autocratas, apesar de atuarem em polos opostos compreendem-se perfeitamente e têm grandes afinidades em seus indecorosos projetos para se conservar no poder a qualquer custo.

Vladimir conviveu pacificamente com Donald, cada um em seu quintal, explorando seus vizinhos mais fracos, com o tácito consentimento um do outro. Por isso, Vladimir desencadeou uma guerra cibernética para interferir nas eleições americanas e eleger seu preferido Donald contra Hillary em 2016, candidata que lhe seria uma pedra no sapato.

Antenado às mais recentes inovações tecnológicas, o casto Vladimir dá importância especial à cibernética, como sempre a utilizando de maneira sórdida. Atua na formação de um exército de hackers com objetivo de sabotar processos eleitorais no mundo todo, como aconteceu na eleição de Donald.  Os hackers russos recebem plena cobertura do governo para atuarem livremente, não importa com que maléficos fins, desde, é claro, que não voltem suas ações contra os interesses de seu protetor mor.

A Rússia é reconhecidamente território livre, sem lei, para a ação desses indivíduos. Não é à toa que é lá que está sediado o Telegram, conhecido por não impor restrições a seus usuários de modo a poderem postar as fake news ou infâmias que bem entenderem.

Como se pode ver, por trás de uma aparência de sobriedade, Vladimir lidera um estado permissivo de banditismo, onde a corrupção corre solta, o que possibilita que 1/3 da riqueza do país fique concentrada nas mãos de uma centena de oligarcas. A Rússia está entre os países que têm o maior número de magnatas do mundo, aqueles que concentram uma quantidade de grana tão estupidamente imensa que nem sabem o que fazer com ela.

Segundo estudo da revista Forbes, os mega-milionários insurgentes de países como a Rússia, a Índia e a China (que ironicamente se diz uma nação comunista) não têm o hábito de doarem parte de sua fortuna a entidades filantrópicas como ocorre em países ocidentais. São indivíduos com uma ganância infinita que querem juntar mais e mais grana, contando para tanto com a cumplicidade dos governos pátrios que lhes dão guarita.

O próprio Vladimir é fascinado por riqueza. Adora ostentar a imponência do Kremlin e a opulência de suas luxuosas residências oficiais para impressionar os visitantes. É ele uma das pessoas mais ricas do mundo, tendo amealhado, ao que se estima uma fortuna de 50 bilhões de dólares, camuflada no exterior. Obviamente, essa condição é oculta da população do país para quem o dirigente detém como bens declarados um modesto apartamento de 70 m2 e dois automóveis antigos.

Nada a estranhar. Afinal, o governo russo controla a imprensa e manipula o judiciário e o legislativo, o que lhe permitirá através de subterfúgios manter-se no poder até 2036 quando já será um ancião decrépito que poderá usufruir pacientemente de sua fortuna dando uma banana para o que permitiu sobrar do mundo.

Como costuma acontecer com autocratas populistas, Vladimir se vangloria publicamente em respeitar os sólidos valores tradicionais da família que aparenta cultivar, o que foi ressaltado como algo em comum por nosso presidente Jair, que lhe hipotecou solidariedade no aperto de mão em sua recente visita àquele país.

Assim como Jair e Donald, Vladimir também se declara religioso, praticante que é do credo ortodoxo, professado pela maioria da população do país. Ao contrário do que ocorria nos tempos em que o comunismo encarava a religião como ópio do povo, o crápula se ajoelha e com cinismo reza para Jesus por um mundo mais justo.

Mas não é apenas nosso presidente Jair que reluta em condenar Vladimir. Boa parte da nossa esquerda também o aplaude devido ao fato de ele enfrentar o “grande satã” americano, não importa por quais razões. Aquela história: o inimigo do meu inimigo é meu amigo.

Veja como é a política, caro leitor. Tanto a direita quanto a esquerda ficam em cima do muro na hora de se posicionar claramente contra esse crápula. Com isso Vladimir sobrevive e ganha força, liderando sem qualquer escrúpulos um estado delinquente expansionista sustentado por meia dúzia de oligarcas corruptos, utiliza-se de práticas inomináveis para governar e controla um arsenal bélico assustador capaz de deixar o planeta em frangalhos em poucos minutos.

Já imaginou o que pode esse indivíduo fazer com a cabeça cheia de vodka?

 

 

 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

FACE OCULTA

 

Antigamente, o brasileiro era tido como um sujeito cortês, camarada e descontraído. Essa imagem já não corresponde à realidade, tendo dado lugar a um ‘outro brasileiro’, não tão afável, cuja face sinistra corrompeu a figura simpática com que era retratado.

O dito sujeito brincalhão é o mesmo que agora dissemina piadas racistas e estigmatiza com expressões preconceituosas ‘crioulos’, ‘balofos’, ‘nanicos’, ‘coroas’, ‘geninhos’, ‘deficientes’, ‘retardados’, ’vadias’, ‘viados’, aqueles que o fazem gargalhar por serem ‘diferentes’ do padrão que ele julga aceitável.  Quem está do outro lado, talvez não ache tanta graça. E daí?

Deleita-se ao assistir coitados serem humilhados nas pegadinhas da TV, os bobões desavisados, os puros de coração, iscas fáceis para ridicularização pelos ‘espertos’ como ele, escolados em sacanagens baratas. “Quem mandou o idiota confiar no semelhante?”

Essa é a cruel índole do brasileiro. Aquele que perde a decência, mas não perde a piada. Pois decência é mercadoria barata à venda no camelô da esquina.

 É o mesmo que não deixa passar a oportunidade de furar uma fila, ocupar a vaga do cadeirante ou passar, pelo acostamento, à frente dos trouxas que respeitam civilizadamente as regras do trânsito.

Aquele que, quando um caminhão capota, aproveita-se do motorista desfalecido pra se apropriar da carga espalhada pelo chão. Que, quando vê o idoso deixar cair uma nota de 100, corre pra socorrer a pobre nota abandonada. Antes que outro brasileiro o faça.

Que, ao ver um desesperado prestes a saltar de um edifício, engrossa o coro: “pula, pula”. Que compra mercadoria roubada pela metade do preço. Afinal, como bom brasileiro, nunca deixa de levar vantagem.

Dá pra ver pela qualidade do nosso congresso o nível dos políticos que elege. Seu modelo de homem público não é o abnegado que luta em prol da coletividade. Seu político predileto é o picareta que pratica clientelismo e troca de favores. É o espertalhão que faz da atividade parlamentar meio para se encher de grana. O otário honesto e idealista tem mais é que se ferrar.

Sua religião não é a do monge que prega compaixão, solidariedade e dedica sua vida monástica aos mais humildes, mas a dos pastores abastados, que ostentam riqueza material. Seu deus não é aquele que reconhece com amor os atos de caridade de seu rebanho, mas o ente mercenário que oferece uma vida mundana de bens de luxo àquele que crê na força de quem sobe na vida, pisando nos menos afortunados.

Mas o crente não é descrente de tudo. Acredita na força das armas para se defender dos ‘vagabundos’ que ameaçam seu patrimônio. Porque esse brasileiro não confia que a justiça e as instituições do seu país o protejam. Em verdade, não acredita em seu país. “Quer viver num lugar decente, brother? Se manda pra Noruega ou pra Finlândia”.

Esse é o povo do nosso Brasil. Quem é o grande ídolo nacional? O cientista que descobre o medicamento que salva milhões de vidas? O benfeitor que dedica sua existência a melhorar a condição dos necessitados? O artista premiado internacionalmente? Nada disso! É o campeão da Fórmula 1. Aquele que, na pista, deixa os gringos para trás. Pois seu grande ideal na vida é passar à frente dos outros. Nem que seja pelo acostamento.

É esse o povo da nação que jamais criou condições para surgir em seu meio um escritor que fosse digno de um Nobel, um cineasta que fizesse jus a um Oscar.

Nas eleições para presidente, tendo que optar entre o médico, o professor, a ambientalista e o miliciano, adivinhe quem escolheu. Um malandro-mor que quando chegou lá em cima, aliviou para os infratores, aposentou os radares de trânsito e as multas do IBAMA. Liberou geral para todos os transgressores do país, exceto os que não têm grana. Para os ambientais, nem se fala: os que roubam madeira, os que queimam florestas, os que envenenam rios, os que assassinam índios. Livres e soltos.

Tendo sido autuado por pesca ilegal no passado, vingou-se com classe de quem ousou aplicar-lhe a lei. Ao chegar lá em cima, anulou a multa e encostou o fiscal que exercia sua função com correção. Esse é o ‘mito’ que representa condignamente o brasileiro. Aquele que usa a máquina do Estado em benefício próprio. Como deve ser.

Não vê a hora de chegar também lá em cima pra dar uma carteirada no coitado encarregado de fazer cumprir as regras e esfregar-lhe na cara um “sabe com quem tu tá falando?” Ser uma autoridade ou um policial, não para aplicar a lei, mas pra poder dar corretivo no vizinho infeliz com quem não vai com a cara.

Esse é o tipo de indivíduo que constitui um simulacro da nação que diziam, seria o país do futuro.

Apenas um país que não deu certo.

 

  

 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

OS 200 MAIORES ROCKS DO SÉCULO XX (10ª PARTE)

 Segue a última parte do levantamento dos 200 principais rocks do século XX, segundo dois aspectos: 1) receptividade do público traduzida por vendas e execução nas rádios; 2) relevância dentro do cenário musical.

 

181) BAND – I SHALL BE RELEASED

O grandioso show de despedida do grupo canadense The Band deu origem ao álbum triplo THE LAST WALTZ (1978) e se transformou também num espetacular filme-documentário dirigido por Martin Scorsese, considerado por muitos o melhor filme de rock da história. O nível dos convidados dispensa comentários: Bob Dylan, Eric Clapton, Muddy Waters, Neil Young, Stephen Stills, Joni Mitchell, Ringo Starr, Ronnie Wood, Van Morrison, Paul Butterfield, Dr. John, Emmylou Harris, Neil Diamond e muitos outros. O álbum abriga em 30 faixas diversas canções que ficaram fora do filme. Um box com 4 CDs lançado posteriormente agregou mais 24 faixas inclusive duas jam sessions envolvendo diversos participantes. The Band ganhou projeção como banda de apoio a Bob Dylan, vindo a firmar-se como conjunto independente em 1968, quando lançou seu primeiro álbum, MUSIC FROM BIG PINK.  A canção I SHALL BE RELEASED do repertório de Dylan está presente nesse disco, sendo também o tema que fechou o filme, reunindo no palco quase todos os convidados.

 

182) PHIL COLLINS – ANOTHER DAY IN PARADISE

Quando Phil Collins deixou de ser apenas o baterista do Genesis para ser vocalista e líder da banda, em substituição a Peter Gabriel, os apreciadores de rock progressivo ficaram desapontados com as mudanças de rumo do grupo para uma linha mais pop e um repertório calcado em canções radiofônicas. Com isso, Phil tornou-se alvo dos críticos musicais. O que não se pode negar é a competência do astro inglês para produzir hits, tendo vendido em sua carreira solo 150 milhões de discos. O álbum ...BUT SERIOUSLY (1989) lidera, puxado pelo mega-sucesso ANOTHER DAY IN PARADISE. A canção, que conta com David Crosby no vocal de apoio, trata do drama dos sem-teto. Aqui também Phil foi criticado por não pautar sua atuação pública em defesa dos desvalidos, ao contrário do que propõe a letra da música.

 

183) BAD COMPANY – CAN´T GET ENOUGH

Super-grupo inglês de hard rock formado pelo vocalista Paul Rodgers e pelo baterista Simon Kirke, ambos integrantes da histórica banda Free (de ALL RIGHT NOW), pelo guitarrista Mick Ralphs (ex-Mott the Hoople) e pelo baixista Boz Burrell (ex-King Crimson). Seu auto-denominado álbum de estreia (1974) superou as mais otimistas expectativas, batendo no primeiro lugar nos EUA (país onde obteve maior êxito do que em sua terra natal) puxada pela faixa de abertura CAN´T GET ENOUGH. O sucesso foi repetido no álbum seguinte, STRAIGHT SHOOTER (1975), puxado pelas faixas SHOOTING STAR e FEEL LIKE MAKIN’ LOVE. Rodgers levou adiante projetos paralelos com Jimmy Page (banda The Firm) e ao lado do Queen (em substituição a Freddy Mercury) nos anos 2000, reagrupando sua banda de origem em 2014.

 

184) GARY NUMAN – CARS

Gary Numan era líder e vocalista do Tubeway Army, grupo que lançou dois álbuns no final dos anos 70, emplacando o sucesso ARE FRIENDS ELECTRIC? Sendo líder absoluto e único compositor do grupo, decidiu assumir carreira individual, convocando os membros do ex-grupo para acompanhá-lo. CARS, faixa do primeiro disco solo do artista inglês, THE PLEASURE PRINCIPLE (1979), tornou Gary mundialmente conhecido por ser considerada a canção pioneira a adotar a estética synthpop e new wave  (gêneros que abriram caminho para grupos como o Duran Duran, Ultravox e Human League), caracterizados pela prevalência dos sintetizadores às guitarras. Numan lançaria mais de vinte álbuns ao longo dos trinta anos seguintes, mas nunca conseguiu reviver o sucesso do disco de estreia.

 

185) VAN DER GRAAF GENERATOR – A PLAGUE OF LIGHTHOUSE KEEPERS

Respeitada banda britânica de rock progressivo com um som estruturalmente complexo e sombrio (lembrando em alguns momentos o King Crimson), comandada pelo guitarrista e vocalista Peter Hammill o qual paralelamente desenvolveu carreira solo. O estranho nome do grupo deriva de um gerador eletrostático inventado por um engenheiro descendente de holandeses. Seu disco mais cultuado, PAWN HEARTS (1971), de apenas 3 faixas, estourou na Itália, onde o grupo é especialmente venerado, chegando a liderar a lista de mais vendidos, algo insólito face às características não comerciais do produto. Nas turnês de divulgação pelo país os membros eram ovacionados como super-astros e suas apresentações tinham auditórios lotados. PLAGUE OF... é uma peça de 23 minutos, dividida em diversas seções ocupando todo o lado B do álbum, tendo a participação de Robert Fripp nas guitarras.

 

186) NINA HAGEN – SMACK JACK

Nascida no lado oriental de Berlim, a cantora recebeu uma formação erudita operística, colocando seus dotes a serviço do rock e do punk. Suas habilidades líricas permitiram-lhe fazer estrepolias vocais inimagináveis para um cantor pop, atingindo notas extremas. A canção SMACK JACK foi o destaque de NUNSEXMONK’ROCK (1982), primeiro álbum solo após se desvincular da Nina Hagen Band. Em agitada passagem pelo Brasil deixou marcas: o cantor Supla que com ela teve um breve affair gravou com a participação da dita cuja GAROTA DE BERLIM (1985) que acabou se convertendo no grande sucesso da banda Tokyo por ele liderada. Mais surpreendente ainda foi ter uma canção sua escolhida pela austera chanceler germânica Angela Merkel para assinalar a cerimônia formal de sua aposentadoria, após 16 anos de vida pública.

 

187) JAMES TAYLOR – FIRE AND RAIN

O jeito sereno desse americano de Boston conquistou uma legião de fãs, atingindo próximo de 100 milhões de discos vendidos. Foi o primeiro artista não inglês a gravar pela Apple e seu álbum de estreia (1968) foi produzido por ninguém menos que Paul McCartney. Mas foi o segundo álbum, SWEET BABY JANE (1970), que revelou o primeiro big hit, FIRE AND RAIN, de sua autoria. Vindo a seguir, MUD SLIDE SLIM AND THE BLUE HORIZON, trouxe outro super-hit, YOU’VE GOT A FRIEND de Carole King (backing vocals de Joni Mitchell). O álbum GREATEST HITS que reúne seus maiores sucessos até 1976 obteve um desempenho excepcional, tendo vendido apenas nos EUA 12 milhões de cópias e continua vendendo. O terceiro grande sucesso veio depois: HANDY MAN, um cover de uma canção dos anos 50, é do album JT (1977). Em 1985, James compôs ONLY A DREAM IN RIO em gratidão às 300 mil pessoas que o recepcionaram no Rock in Rio entoando suas canções de cor, o que ajudou a superar dois traumas: o da fossa pela separação de Carly Simon após 11 anos de casamento e o da batalha contra o vício em heroína que quase liquidou sua carreira.

 

188) SHOCKING BLUE – VENUS

Essa canção de 1969 colocou no mapa da música pop a pouco lembrada Holanda, de onde proveio esse até então desconhecido grupo. O single fez um sucesso arrasador em todo o mundo, chegando a primeiro lugar nos EUA e em inúmeros outros países, incluindo o Brasil onde liderou as paradas por semanas consecutivas. Grande parte do êxito deve-se à expressiva Mariska Veres, cantora de olhos ‘blue shocking’ e longos cabelos negros (que as más línguas diziam ser peruca), agregada ao grupo em substituição à vocalista original.  VENUS não integrou nenhum LP de carreira do grupo, sendo incluída apenas na edição em CD do álbum AT HOME (1969). O Shocking Blue lançaria mais dois bem sucedidos singles, MIGHTY JOE (1969) e NEVER MARRY A RAILROAD MAN (1970), esse último também sucesso por aqui. A banda se desfez em 1974 e Mariska tentou carreira à parte até falecer em 2006.

 

189) RICK WAKEMAN – CATHERINE OF ARAGON

Ao lado de Keith Emerson (do Emerson, Lake & Palmer), Rick Wakeman é apontado como maior tecladista do rock. Quando ingressou no Yes, com 22 anos já era um prodígio, tendo sido convidado por David Bowie para integrar sua banda de apoio. Recusou, antevendo que teria maior potencial no grupo progressivo. Ainda assim, a banda foi insuficiente para efetivar os arroubos megalômanos de Rick, que o levaram a colocar em prática empreendimentos mirabolantes em carreira solo em paralelo à bem sucedida atividade no Yes. Lançou três álbuns conceituais, os de maior visibilidade de sua imensa discografia de mais de 90 títulos: THE SIX WIVES OF HENRY VIII (1973), JOURNEY TO THE CENTRE OF THE EARTH (1974) THE MYTHS AND LEGENDS OF KING ARTHUR... (1975). O primeiro deles, com a participação dos demais integrantes do Yes, tem seis faixas, dedicadas a cada uma das esposas de Henrique VIII, como CATHERINE OF ARAGON, a faixa de abertura.

 

190) MALCOLM MCLAREN – PARIS PARIS

O inglês Malcolm, falecido em 2010, será sempre lembrado por ter concebido os Sex Pistols. No entanto, o agenciador e compositor extraiu do punk bem mais do que cabelos moicanos e trajes rudimentares, herdando do movimento o espírito inquieto e contestador. Formado em artes, casado com uma estilista (que concebeu o visual dos Pistols) tinha ideias apuradas e inovadoras. Passada a tempestade punk, Malcolm deu andamento a projetos próprios, incluindo o lançamento de diversos álbuns solo. O primeiro, DUCK ROCK (1983), faz uma salada musical de ritmos sendo apontado como precursor da world music, do hip hop e do “scratch” utilizado pelos DJs. Vivendo em Paris, lançaria PARIS (1994), um chiquérrimo álbum homenageando a cidade e celebrando o jazz, com participação das divas Françoise Hardy e Catherine Deneuve (como na faixa PARIS PARIS). Outros tempos...

 

191) BJORK – JÓGA

Essa intérprete inclassificável provinda do grupo de rock alternativo Sugarcubes é tão exótica quanto seu país, a Islândia, e está sempre surpreendendo com novas sonoridades. Sobressaem-se trip hop, música eletrônica, jazz, art rock e experimentalismo. Não bastasse ser reverenciada pelas qualidades vocais, ainda ganhou prêmio de atriz em Cannes pelo filme Dançando no Escuro de Lars von Trier para o qual compôs a trilha sonora SELMASONGS. Seus três álbuns lançados no século XX, DEBUT (1993), POST (1995) e HOMOGENIC (1997) foram bem recebidos por público e crítica. Este último, gravado na Espanha, embora o menos vendido dos três, foi o que mais elogios arrancou pelo arrojo e atributos vocais. Os arranjos foram de seu amigo brasileiro Eumir Deodato. Destaque para a faixa JÓGA.

 

192) STING – DESERT ROSE

The Police é uma das mais exitosas bandas, em termos de público e crítica. Todos seus álbuns foram coroados de boas vendas e elogios. O último, SYNCHRONICITY (1983) foi o mais bem sucedido comercialmente e a canção EVERY BREATH YOU TAKE um sucesso arrasador. O auge da popularidade todavia não segurou seu líder, o vocalista e multi-instrumentista Sting que buscou novos caminhos longe da banda de origem. Sem abandonar o rock, Sting aproximou-se em sua carreira solo do jazz (sobretudo no álbum duplo ao vivo BRING ON THE NIGHT, com aporte do saxofonista Brandford Marsalis e outros expoentes do gênero) e da world music como na canção DESERT ROSE do álbum BRAND NEW DAY (1999) que traz um dueto com o argelino Cheb Mami. Consoante com essa nova fase, Sting passou a se dedicar a causas humanitárias e ecológicas.

 

193) BLUE ÖYSTER CULT – THE REAPER

Banda estadunidense em atividade desde o início dos anos 70. Embora sua sonoridade seja inspirada em grupos britânicos de hard rock como o Black Sabbath e o Uriah Heep, sobressai-se por adotar a temática de terror em letras enigmáticas. O primeiro grande êxito do grupo, (DON´T FEAR) THE REAPER, é faixa do álbum AGENTS OF FORTUNE (1976), o único de estúdio a conseguir disco de platina. A banda conseguiu ainda maior êxito com a versão ao vivo do álbum SOME ENCHANTED EVENING (1978), o mais vendido do BÖC, que apresenta performances nos EUA e na Inglaterra. O escritor Stephen King cita a canção como inspiração para um de seus livros e o diretor John Carpenter utilizou-a no filme Halloween.

 

194) MEN AT WORK – DOWN UNDER

BUSINESS AS USUAL (1981) foi o álbum de estreia da banda australiana comandada pelo cantor, compositor e músico Colin Hay, e o maior sucesso de sua carreira, tendo vendido em torno de 15 milhões de cópias. Permaneceu 15 semanas na liderança do hit parade americano, um recorde. O álbum contém duas das canções mais conhecidas do grupo, WHO CAN IT BE NOW? e DOWN UNDER. Essa última conseguiu outro feito raro: liderou concomitantemente a parada de singles americana e britânica. A letra ressalta as desventuras de um australiano em viagens pelo mundo.  O outro sucesso, OVERKILL, é do álbum seguinte, CARGO (1983). Estourando em plena era new wave, o Men at Work conservou uma linha mais pop com pitadas de reggae.

 

195) MORRISEY – SUEDEHEAD

Após o meteórico sucesso dos Smiths, seu líder, o cantor e compositor Morrissey deu sequência a uma longa trajetória solo tendo lançado diversos álbuns entre 1988 e 1997, retomando a carreira em plena forma com o álbum YOU ARE THE QUARRY (2004), após um interregno de sete anos. O mais conhecido da série foi o inicial, lançado logo após a dissolução dos Smiths, VIVA HATE (1988) com seu hit mais conhecido, SUEDEHEAD, que traz a marca de seu ex-grupo. Para substituir o antigo companheiro Johnny Marr, foi convidado para acompanhá-lo nas guitarras o reverenciado Vini Reilly do Durutti Column. Morrisey tem se envolvido em diversas polêmicas, da defesa extremada aos direitos dos animais (ele é vegano), até posições políticas controversas acusadas de racistas e xenófobas.

 

196) MONKEES – I’M A BELIEVER

No princípio, The Monkees era uma banda ficcional, criada especificamente para estrelar um seriado da TV americana. A intenção era estimular, através da mídia, um contraponto americano às bandas inglesas em franca ascensão.  Mas suas músicas fizeram tanto sucesso que o grupo sobreviveu à série. Em 1967, segundo algumas fontes, chegaram a vender nos EUA mais discos do que os Beatles. No início, as músicas eram preparadas pelos produtores do programa e os membros do conjunto não tinham praticamente nenhuma interferência na produção. Isso gerou um preconceito contra o grupo que durou toda sua história. O single de I’M A BELIEVER, canção de autoria de Neil Diamond, fez um sucesso avassalador no mundo todo. Foi incluída em MORE OF THE MONKEES, álbum lançado à revelia do grupo para capitalizar sua popularidade que estava no auge, o que provocou o acirramento pelo controle da produção do grupo.  O álbum HEADQUARTERS (1967) marca o rompimento desse padrão com o grupo assumindo as rédeas de sua obra com composições e performances instrumentais próprias.

 

197) CULTURE CLUB – KARMA CHAMELEON

A banda britânica liderada pelo polêmico Boy George, conhecido pela aparência andrógina e espalhafatosa e maquiagem carregada, inspirada no glam rock de Bowie, Lou Reed e Marc Bolan, adotou o estilo new wave com incursões ao reggae e ritmos latinos. A curta duração do grupo deveu-se ao envolvimento de Boy George com heroína que exigiu internação e a seu embaraçoso e secreto relacionamento com o baterista da banda, Jon Moss. George ainda arriscou carreira solo. Os dois álbuns iniciais (e principais) do grupo, KISSING TO BE CLEAR (1982) e o elogiadíssimo COLOUR BY NUMBERS (1983) produziram também os dois maiores hits: DO YOU REALLY WANT TO HURT ME e KARMA CHAMALEON cuja letra tornou-se um hino drag queen (“Eu sou um homem sem convicção que não sabe como vender uma contradição”) que retrata a condição ambígua de George e ao mesmo tempo foi usada em campanhas políticas para atacar os que, como camaleão, adaptam-se às circunstâncias.

 

198) LIVING COLOUR – CULT OF PERSONALITY

Apesar das raízes negras de astros como Chuck Berry, Little Richard, Bo Diddley e Jimi Hendrix, o rock acabou sendo apossado por brancos. Dá para contar com os dedos os grupos exclusivamente negros, como o Fishbone, o Bad Brains e o Living Colour, que romperam o racismo que paira sobre o gênero, especialmente dos gestores que dominam esse segmento do mercado. No caso do Living Colour, contou com a mãozinha de um ardoroso fã, Mick Jagger, para quebrar essa barreira. Embora o ritmo prevalecente seja o rock (mais especificamente o hard rock), o grupo bebe em fontes que remetem à cultura negra como o funk, o hip hop, o jazz e o afro. Comandada pelo guitarrista e vocalista Vernon Reid, a banda estourou com VIVID (1988) (participação de Jagger), onde se sobressai a faixa CULT OF PERSONALITY, conceito comum a Kennedy e Mussolini (conforme diz a letra).

 

199) TROGGS – WILD THING

WILD THING tornou-se uma das canções mais conhecidas do pop/rock, com inúmeros covers. Ainda que associada aos Troggs, não é do grupo, como se imagina, e sim do compositor Chip Taylor (irmão do ator Jon Voight e tio de Angelina Jolie), tendo sido lançada originalmente pelos pouco conhecidos Wild Ones. Mas foi a versão dos Troggs no ano seguinte que a popularizou, tornando-se a música mais conhecida do grupo. Foi lançada em single, integrando o disco de estreia da banda nomeado FROM NOWHERE (1966) na Inglaterra, país de onde é originária. Nos EUA, o nome do álbum foi alterado para WILD THING. Os Troggs, nascidos Troglodytes em 1964, foram chamados “os progenitores do punk”, tendo influenciado bandas de garagem e punk rock como Stooges, Buzzcocks e Ramones.

 

200) INXS - NEVER TEAR US APART

O INXS (in excess) provindo de Sydney, Austrália, atuava na fronteira entre o pop e a new wave. A figura principal, o carismático vocalista galã Michael Hutchence (comparado a Jim Morrison dos Doors) morreu em 1997, presumidamente de suicídio, em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas. Ele tocava em paralelo uma carreira musical individual e cinematográfica. Após sua morte, o grupo não conseguiu recuperar o prestígio dos tempos áureos dos álbuns KICK (1987), X (1990) e WELCOME TO WHEREVER YOU ARE (1992). KICK, o de maior sucesso de público e crítica, com mais de 20 milhões de cópias, concentra alguns dos principais temas do grupo como NEED YOU TONIGHT, MYSTIFY, DEVIL INSIDE, NEW SENSATION e a poderosa balada NEVER TEAR US APART.

 

 

 

Confira a 1ª parte:

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Confira 2a parte:

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Confira 3a parte:

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Confira a 4ª parte:
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Confira a 5ª parte:
http://oquedemimsoueu.blogspot.com/2020/08/os-100-maiores-rocks-do-seculo-xx-5.html

 

Confira a 6ª parte:

https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2021/12/os-200-maiores-rocks-do-seculo-xx-6.html

 

Confira a 7ª parte:

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Confira a 8ª parte:

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 Confira a 9ª parte:

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