“O russo que guardava o botão da bomba H, tomou um pilequinho e quis mandar tudo pro ar” (Raul Seixas)
Você conhece o Vladimir? Seguem alguns detalhes da vida desse russo que ganhou as manchetes e ameaça explodir o mundo, se este não se curvar a seus caprichos.
Quando jovem, Vladimir ingressou na KGB, lá permanecendo por 15 anos. Para quem não sabe, a KGB foi o temido órgão de serviço secreto e polícia política da antiga União Soviética durante o período da guerra fria. Ficou famosa pelos métodos horripilantes de tortura que aplicava aos presos políticos. Foi nesse ambiente dignificante que Vladimir deu início à nobre trajetória que o levaria a ser um dos homens mais poderosos do planeta.
Mas sua participação nessa organização de espionagem do governo comunista não significa que Vladimir tivesse apreço pelos valores desse sistema de governo. Vladimir não estava nem aí com os preceitos dos antigos bolcheviques que inspiraram Lênin e Trotsky a criar um estado proletário. Seus anseios de construir uma “Grande Rússia” estão muito mais para os ideais dos czares de erigir um portentoso império russo, centralizado nas mãos de um líder absolutista.
Vladimir criticou o esfacelamento da União Soviética não porque tivesse saudades do regime socialista, algo de que ele, tendo militado num partido de direita, queria distância. Sentia falta porém da época em que seu país capitaneava um conjunto de nações satélites, tornando-se uma potência hegemônica mundial.
Vladimir tem popularidade entre os russos, sobretudo os mais velhos, saudosos do poder que o país detinha após a 2ª Grande Guerra Mundial. Não se conformam com a bagunça que tomou conta do país com a derrocada do comunismo e a chegada atabalhoada do capitalismo ao país. É considerado “mito” pelos velhos cossacos deslumbrados, cavalgando sem camisa, com seu porte físico viril de praticante de artes marciais que ressalta a figura do machão num país onde as mulheres são vistas com inferioridade e os direitos dos homossexuais são quase inexistentes.
Essa veneração ao salvador da pátria escamoteia o fato de a Rússia ser hoje um país decadente. Apesar de ter o maior território do mundo e uma população de 150 milhões de habitantes, o produto nacional fica abaixo do de países como a Itália, a Coreia do Sul, a Índia e até mesmo de economias em baixa como a do Brasil.
Mas se a Rússia perdeu boa parte da glória do passado, o mesmo não se pode dizer de seus efetivos militares. O país só está abaixo dos EUA, sendo que, em termos de arsenal nuclear de destruição em massa, fica à frente dos americanos! Vladimir não descuidou de aparelhar seu exército com modernos equipamentos. Tem obsessão pelo poderio bélico, com a certeza de que, se a coisa ficar ruça, isso o ajudará a se manter no poder, voltando as baionetas dos inimigos externos para os opositores internos.
Essa é uma característica aliás dos líderes autocráticos: investir prioritariamente recursos em armamentos ao invés de promover a melhoria de condições de vida da população.
Mas Vladimir não é egoísta. Partilha esse colossal poderio militar com seus amigos estrangeiros, sejam eles de direita ou de esquerda, não importa, desde que lhe devotem fidelidade.
Vladimir fornece sem exigir qualquer protocolo de conduta armamento pesado para rebeldes separatistas de vários lugares, muitas vezes meras gangues armadas, como os que usaram mísseis balísticos russos para derrubar um pacífico avião de passageiros da Malaysia Airlines nos céus da Ucrânia em 2014, matando 300 civis inocentes, incluindo 80 crianças. Como era de se esperar, Vladimir lavou as mãos.
É dessa maneira também que Vladimir auxilia aliados impopulares e opressores, fornecendo-lhes suporte bélico. É o caso de seu amigo Nicolás na Venezuela que usou armamento russo para reprimir barbaramente protestos de rua em Caracas. Com ajuda de seu protetor russo, Nicolás prestigia com benesses os membros das forças armadas para garantir lealdade e se eternizar no poder.
É o caso também do déspota Bashar da Síria que esfacelou seu país numa guerra civil sangrenta que já matou 500 mil pessoas e provocou o êxodo de 1/3 da população. Mas o importante para Vladimir é garantir a sobrevivência, não importa por quais meios, de um estratégico aliado no Oriente Médio. Para esmagar os opositores, Bashar lançou armas químicas fornecidas pelo parceiro Vladimir inclusive sobre hospitais e escolas, fritando idosos e crianças.
Como se sabe, armas químicas têm uso proibido pelas convenções internacionais mas Vladimir está pouco se lixando para tratados internacionais, sobretudo aqueles não afinados com seus planos geopolíticos.
Outro tipo de ‘arma química’ usada pelo benemérito Vladimir é o ‘novichok’. São conhecidos diversos casos de desafetos e jornalistas envenenados por esse agente neurotóxico letal, utilizado pelo tirano russo para eliminar do mapa qualquer um que ouse colocar-se em seu caminho.
Fascinado por esse tipo de ‘arma’, Vladimir tentou também patrocinar o uso de substâncias proibidas para melhorar o desempenho dos atletas da Rússia nas olimpíadas, onde o país vinha perdendo espaço nas últimas edições. Acabou se dando mal, pois a mutreta foi desmascarada pelos exames antidoping pelo Comitê Olímpico Internacional e a Rússia foi banida dos jogos do Tóquio de 2021.
Deu para perceber que Vladimir não tem muito senso ético. A única coisa que lhe importa é beneficiar sua amada Rússia, ainda que tenha que atropelar todos os princípios morais e passar sobre milhares de cadáveres de inocentes.
“First, Russia” diria inspirado em seu amigo ianque Donald. Aliás, esses dois autocratas, apesar de atuarem em polos opostos compreendem-se perfeitamente e têm grandes afinidades em seus indecorosos projetos para se conservar no poder a qualquer custo.
Vladimir conviveu pacificamente com Donald, cada um em seu quintal, explorando seus vizinhos mais fracos, com o tácito consentimento um do outro. Por isso, Vladimir desencadeou uma guerra cibernética para interferir nas eleições americanas e eleger seu preferido Donald contra Hillary em 2016, candidata que lhe seria uma pedra no sapato.
Antenado às mais recentes inovações tecnológicas, o casto Vladimir dá importância especial à cibernética, como sempre a utilizando de maneira sórdida. Atua na formação de um exército de hackers com objetivo de sabotar processos eleitorais no mundo todo, como aconteceu na eleição de Donald. Os hackers russos recebem plena cobertura do governo para atuarem livremente, não importa com que maléficos fins, desde, é claro, que não voltem suas ações contra os interesses de seu protetor mor.
A Rússia é reconhecidamente território livre, sem lei, para a ação desses indivíduos. Não é à toa que é lá que está sediado o Telegram, conhecido por não impor restrições a seus usuários de modo a poderem postar as fake news ou infâmias que bem entenderem.
Como se pode ver, por trás de uma aparência de sobriedade, Vladimir lidera um estado permissivo de banditismo, onde a corrupção corre solta, o que possibilita que 1/3 da riqueza do país fique concentrada nas mãos de uma centena de oligarcas. A Rússia está entre os países que têm o maior número de magnatas do mundo, aqueles que concentram uma quantidade de grana tão estupidamente imensa que nem sabem o que fazer com ela.
Segundo estudo da revista Forbes, os mega-milionários insurgentes de países como a Rússia, a Índia e a China (que ironicamente se diz uma nação comunista) não têm o hábito de doarem parte de sua fortuna a entidades filantrópicas como ocorre em países ocidentais. São indivíduos com uma ganância infinita que querem juntar mais e mais grana, contando para tanto com a cumplicidade dos governos pátrios que lhes dão guarita.
O próprio Vladimir é fascinado por riqueza. Adora ostentar a imponência do Kremlin e a opulência de suas luxuosas residências oficiais para impressionar os visitantes. É ele uma das pessoas mais ricas do mundo, tendo amealhado, ao que se estima uma fortuna de 50 bilhões de dólares, camuflada no exterior. Obviamente, essa condição é oculta da população do país para quem o dirigente detém como bens declarados um modesto apartamento de 70 m2 e dois automóveis antigos.
Nada a estranhar. Afinal, o governo russo controla a imprensa e manipula o judiciário e o legislativo, o que lhe permitirá através de subterfúgios manter-se no poder até 2036 quando já será um ancião decrépito que poderá usufruir pacientemente de sua fortuna dando uma banana para o que permitiu sobrar do mundo.
Como costuma acontecer com autocratas populistas, Vladimir se vangloria publicamente em respeitar os sólidos valores tradicionais da família que aparenta cultivar, o que foi ressaltado como algo em comum por nosso presidente Jair, que lhe hipotecou solidariedade no aperto de mão em sua recente visita àquele país.
Assim como Jair e Donald, Vladimir também se declara religioso, praticante que é do credo ortodoxo, professado pela maioria da população do país. Ao contrário do que ocorria nos tempos em que o comunismo encarava a religião como ópio do povo, o crápula se ajoelha e com cinismo reza para Jesus por um mundo mais justo.
Mas não é apenas nosso presidente Jair que reluta em condenar Vladimir. Boa parte da nossa esquerda também o aplaude devido ao fato de ele enfrentar o “grande satã” americano, não importa por quais razões. Aquela história: o inimigo do meu inimigo é meu amigo.
Veja como é a política, caro leitor. Tanto a direita quanto a esquerda ficam em cima do muro na hora de se posicionar claramente contra esse crápula. Com isso Vladimir sobrevive e ganha força, liderando sem qualquer escrúpulos um estado delinquente expansionista sustentado por meia dúzia de oligarcas corruptos, utiliza-se de práticas inomináveis para governar e controla um arsenal bélico assustador capaz de deixar o planeta em frangalhos em poucos minutos.
Já imaginou o que pode esse indivíduo fazer com a cabeça cheia de vodka?