sexta-feira, 24 de maio de 2013

METROLOGIA EXACERBADA (II)

Irrompeu mais recentemente uma onda futebolística, movimento que se iniciou ao se trocar o nome da estação Itaquera para Corinthians-Itaquera, pretendendo consumar, com dez anos de antecedência, a incerta construção do futu­ro Itaquerão que ainda nem saíra do papel e tampouco fora oficialmente homologada.

Com o precedente criado, abriu-se caminho para o tur­bilhão de reivindicações que se seguiram. Homenageado o Coringão, os simpatizantes dos outros times da capital, Palmei­ras, São Paulo, Portuguesa, requisitaram igualdade de direitos metroviários, tendo sido atendidos. Cada um quer abocanhar uma estação, pouco se importando com a circunstância de que os nomes existentes já estavam consagrados pelo uso.

Aí, a turma do Neymar resolveu meter a colher. Qui­seram homenagear o Santos, apesar de este clube nem ser da capital. Ofereceram para sacrifício a estação Imigrantes, que passou a exibir a risível denominação de Santos-Imigrantes, não obstante o pequeno detalhe de que o time de Vila Bel­miro tem sua sede a não menos de 60 km da estação. Com esse precedente, poderiam, pela mesma lógica, nomear even­tuais estações próximas a Rodovias para: Dutra – Flamengo, Fernão Dias – Cruzeiro, Bandeirantes – Ponte Preta, Régis Bittencourt – Atlético Paranaense, e assim por diante.

Eu teria, a esse respeito, respeitosamente, duas reclama­ções a fazer. A primeira, na qualidade de são paulino, é que fosse apressada a construção da linha que atenderá a região do Morumbi, a fim de que logo seja entregue ao público a es­tação São Paulo – Morumbi, colocando o tricolor paulista em igualdade de condições com os demais clubes da Divisão Es­pecial, já aquinhoados pela benesse. Em segundo lugar, como cidadão, revisaria a reivindicação anterior e passaria a reclamar da mentalidade tacanha que privilegia interesses de segmentos específicos da população, de clubes de futebol, de igrejas e colônias, em detrimento da comunidade como um todo.

Nunca é demais lembrar que os times de futebol já go­zam de privilégios em excesso, oferecendo em troca quase nada à comunidade. Elegem parlamentares medíocres, pagam salários pornográficos a jogadores que nem suam a camisa, não quitam suas dívidas previdenciárias, têm regalias sobre terrenos, estádios construídos com dinheiro público, benefí­cios fiscais, etc. Em troca de tantas vantagens feitas com sa­crifício de todos os paulistanos, o que têm eles a oferecer é o incentivo à ação criminosa de suas torcidas organizadas, ver­dadeiras quadrilhas, que ameaçam a tranquilidade da popula­ção com arruaças, violência, vandalismo, destruição de ônibus e equipamentos públicos. Não satisfeitos, ainda recebem, em homenagem, o nome de estações de metrô, que, para tanto, precisam ser esdruxulamente rebatizadas, tendo-se que alte­rar todas as placas e documentos, com todo o custo que isso implica.

Qual o sentido, se é que existe algum, por exemplo, de renomear a tradicional estação Tietê para Tietê-Portuguesa, agre­gando ao nome de nosso principal rio, o de um clube de futebol, só para satisfazer as poucas centenas de torcedores da Lusa, cujo estádio do Canindé fica a cinco quilômetros da estação?
E aqueles que não gostam de futebol, preferem talvez uma boa leitura, ou outra atividade mais enriquecedora para a alma, também são obrigados a arcar com o ônus de todas essas mudanças?

E os clubes, entidades e agremiações esportivas que, embora tradicionais e de importância para a capital, não atu­am no futebol, tais como os clubes Pinheiros, Paulistano, Pai­neiras, Espéria, Jockey, Hípica, Sírio, Monte Líbano, Hebraica, Tietê e tantos outros, também não mereciam essa distinção do poder público? Por que essa discriminação?

Enfim, os nomes das estações de metrô, cedendo a essas práticas provincianas, descaracterizaram-se como pon­to de referência. O nome do bairro ou de algum ponto de localização conhecido, que já deveria ser suficiente, cedeu espaço a interesses específicos de grupos de pressão e pas­sou a ser objeto de manipulação de pessoas com poucos escrúpulos e nenhum espírito público.


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