quarta-feira, 15 de outubro de 2025

TRILHAS DA MINHA VIDA – 2ª PARTE

 

Meu destino foi moldado pelos filmes que assisti. A música que os acompanhou faz a trilha sonora da minha vida. Segue a 2ª parte:

 21) CASABLANCA (Michael Curtiz), 1942

Impossível não associar o cultuado drama ambientado durante a II Guerra a AS TIME GOES BY, uma das canções mais marcantes do cinema que, tocada ao piano, faz com que o galã Humphrey Bogart se recorde de seu antigo amor, Ingrid Bergman. Curiosamente, o aclamado tema é de 10 anos antes, não tendo sido composto para o filme, cuja trilha sonora pertence a Max Steiner que o utilizou habilmente. O austríaco Steiner é um dos maiores compositores de Hollywood, assinando mais de 300 trilhas com 24 indicações ao Oscar, destacando-se outro clássico, E O VENTO LEVOU (1939) além do primeiro (e melhor) King Kong (1933).

 22) DIAMANTES SÃO ETERNOS (Guy Hamilton), 1971

Não se pode deixar de mencionar as trilhas da franquia 007. Injusto ressaltar uma dentre elas, já que muitas foram marcantes, em especial aquelas compostas por John Barry (também um dos autores do famoso tema de James Bond). Cada novo filme revelou uma canção principal com algum intérprete renomado: Paul McCartney (LIVE AND LET DIE), Carly Simon (NOBODY DOES IT BETTER), Matt Monro (FROM RUSSIA WITH LOVE), Louis Armstrong (WE HAVE ALL THE TIME IN THE WORLD), Tom Jones (THUNDERBALL), Duran Duran (A VIEW TO A KILL), Nancy Sinatra (YOU ONLY LIVE TWICE), Sheena Easton (FOR YOUR EYES ONLY), Adele (SKYFALL) etc. Mas a coroa vai para Shirley Bassey, agraciada com 3 temas (GOLDFINGER, DIAMONDS ARE FOREVER e MOONRAKER).

 23) LUZES DA CIDADE (Charles Chaplin), 1931

Nesse clássico que combina comédia e drama, Carlitos desempenha um vagabundo que sustenta uma florista cega que, ao voltar a enxergar, não consegue esconder a frustração ao reconhecer seu maltrapilho benfeitor. Não bastasse ser diretor, produtor, roteirista e ator principal, Chaplin ainda compôs a bela trilha sonora. Em se tratando de um filme mudo, a música desempenha papel primordial traduzindo as emoções dos personagens. É utilizada também a espanhola VIOLETERA como tema da florista. Deve-se ressaltar que Chaplin compôs THIS IS MY SONG (sucesso na voz de Petula Clark) para o filme CONDESSA DE HONG KONG, além da célebre SMILE (filme TEMPOS MODERNOS) regravada por Nat King Cole, Michael Jackson, Judy Garland, Barbra Streisand e Lady Gaga, dentre tantos.

24)  OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE (John Badham), 1977

Na década de 60, os Bee Gees eram tidos como um trio de soft rock que alcançava sucesso com canções singelas como MASSACHUSETTS e I STARTED THE JOKE. Pegando carona na onda ‘disco’, os irmãos Gibb emplacaram uma das mais bem sucedidas trilhas, SATURDAY NIGHT FEVER com canções como STAYIN’ ALIVE, HOW DEEP IS YOUR LOVE, YOU SHOULD BE DANCING e NIGHT FEVER com John Travolta arrepiando na pista. De quebra, outros grupos representativos dos anos 70: Kool & the Gang, KC & Sunshine Band e Tavares.

 25) UM HOMEM, UMA MULHER (Claude Lelouch), 1966

Esse drama romântico de Lelouch, vencedor da Palma de Ouro de Cannes e do Oscar de filme estrangeiro, que consolidou a importância do diretor francês no contexto internacional, deve seu sucesso em grande parte à maravilhosa trilha de Francis Lai. Aliás, a parceria entre Lelouch e Lai estendeu-se para outros filmes do diretor como VIVER POR VIVER, UM BOM ANO etc. Outra trilha icônica de Lai, que lhe valeu um Oscar, é a do blockbuster americano LOVE STORY de 1970. O tema instrumental de Lai, THEME FROM LOVE STORY, lançada em single por Henry Mancini, alcançou grande êxito comercial. Quando lhe foi adicionada uma letra, sendo rebatizada como WHERE DO I BEGIN?, voltou repetidamente às paradas nas vozes de Andy Williams, Tony Bennett e Shirley Bassey.

 26) SE MEU APARTAMENTO FALASSE (Billy Wilder), 1960

Billy Wilder é um dos mais respeitados diretores do cinema com obras primas inesquecíveis como CREPÚSCULO DOS DEUSES, PACTO DE SANGUE, FARRAPO HUMANO e SABRINA, versão com Humphrey Bogart e Audrey Hepburn. A que tem a trilha mais conhecida - composta por Adolf Deutsch - é provavelmente THE APARTMENT com Jack Lemmon e Shirley MacLaine. Deutsch musicou também outra comédia de Wilder, QUANTO MAIS QUENTE MELHOR além de RELÍQUIA MACABRA (de John Huston) e o musical SETE NOIVAS PARA SETE IRMÃOS (Stanley Doney).

27) ORFEU NEGRO (Marcel Camus), 1959

Apesar de o enredo (baseado na mitologia grega) ter transcorrido no Rio de Janeiro durante o Carnaval, com elenco de atores brasileiros, os méritos ficaram com a França do diretor Camus nos grandes festivais em que concorreu, por aquele país ganhando o Oscar de melhor filme estrangeiro e a Palma de Ouro em Cannes. A trilha sonora, de autoria de Tom Jobim (com participação de Vinícius) e do violonista Luiz Bonfá, que compôs os temas MANHÃ DE CARNAVAL (interpretada por Agostinho dos Santos) e SAMBA DE ORFEU (ambas em parceria com Antônio Maria) marca o início da explosão da bossa nova. MANHÃ DE CARNAVAL consolidou-se como uma das músicas brasileiras mais conhecidas no exterior com versões de Sinatra, Sarah Vaughan, Nina Simone, Stan Getz, Paul Desmond, Quincy Jones etc.

28) THE BLUES BROTHERS (John Landis), 1980

A simpática comédia musical estrelada por John Belushi e Dan Aykroyd teve uma das ‘soundtracks’ mais bem sucedidas de todos os tempos. Boa parte das músicas (clássicos de blues, soul e R&B, inclusive uma versão de PETER GUNN de Henry Mancini) foi executada pela própria dupla, algumas ao lado de astros de primeira linha que participaram pessoalmente da trama como Ray Charles, Aretha Franklin, James Brown e Cab Calloway. Houve uma continuação, BLUES BROTHERS 2000, que, apesar da boa seleção musical, não vingou.

29) FALE COM ELA (Pedro Almodovar), 2002

Preferido de Almodóvar, Alberto Iglesias compôs diversas trilhas para o cineasta espanhol como VOLVER, MÁ EDUCAÇÃO e TUDO SOBRE MINHA MÃE. A mais bela e pungente talvez tenha sido HABLE CON ELLA que abre espaço para temas da MPB com Elis Regina interpretando POR TODA A MINHA VIDA (Tom & Vinícius) e Caetano Veloso com CUCURRUCUCÚ PALOMA que aparece em pessoa cantando a pérola do folclore mexicano, faixa do álbum FINA ESTAMPA AO VIVO. Iglesias musicou outros filmes como LÚCIA E O SEXO, CHE, O CAÇADOR DE PIPAS e O JARDINEIRO FIEL, este dirigido por Fernando Meirelles.

 30)  MY FAIR LADY (George Cukor), 1964

Baseada no megassucesso do musical da Broadway, a comédia estrelada por Audrey Hepburn e Rex Harrison arrebatou 8 Oscars incluindo o de trilha sonora com a memorável I COULD HAVE DANCED ALL NIGHT interpretada pela própria atriz. A trilha foi composta e supervisionada pelo maestro e pianista André Previn, outro colecionador de indicações às estatuetas, tendo faturado mais três: GIGI, PORGY AND BESS e IRMA LA DOUCE, sempre fundindo pop com jazz e música clássica. Cukor foi também o diretor da mais famosa versão de NASCE UMA ESTRELA (1954) com Judy Garland e canções da dupla Arlen/Gershwin.

31)  EASY RIDER, SEM DESTINO (Dennis Hopper), 1969

O celebrado ‘road movie’ protagonizado por Peter Fonda (que também o produziu) e Dennis Hopper (que também o dirigiu) marcou o surgimento da geração beat com uma trilha sonora pertinente que traz The Jimi Hendrix Experience e The Byrds (com seu líder Roger McGuinn em duas faixas solo). Mas a canção que marcou realmente foi o hino libertário BORN TO BE WILD (que passou a ser também o hino dos motociclistas) interpretada pelo grupo Steppenwolf que a lançara em seu álbum de estreia um ano antes. À icônica canção é atribuída a origem do termo ‘heavy metal’, contido em um de seus versos.

32)  CANTANDO NA CHUVA (Stanley Donen), 1952

A cena começa com Gene Kelly deixando Debbie Reynolds em casa e termina com ele entregando o guarda-chuva a um necessitado, sob o olhar repreensivo de um guarda. Esses 4 antológicos minutos bastaram para credenciar SINGIN’ IN THE RAIN como um dos musicais mais famosos do cinema. O curioso é que quase nenhuma das músicas da dupla Freed/Brown que tocam no musical foi feita para o filme, tendo sido oriundas de outros espetáculos da MGM, inclusive a que dá título à película, composta em 1929, época em que não havia quase filmes falados, inspirando o diretor Donen que popularizou a canção.

 33)  MISSÃO IMPOSSÍVEL (Bruce Geller), 1966

Não estamos nos referindo à franquia estrelada por Tom Cruise com diversos longas metragens de ação iniciada em 1996, mas ao bem sucedido seriado para a TV em que ela se baseou, criado e produzido por Bruce Geller que foi ao ar entre 1966 e 1973 em 7 temporadas. O famosíssimo tema musical (reaproveitado na versão cinematográfica) marca o ponto alto da carreira por Lalo Schifrin. O maestro, músico e arranjador argentino trabalhou com diretores de renome como, Peter Yates (BULLITT com Steve McQueen) e Don Siegel (DIRTY HARRY com Clint Eastwood) além das trilhas de OPERAÇÃO DRAGÃO (Bruce Lee), A HORA DO RUSH (Jackie Chan) e TERROR EM AMYTVILLE dentre tantas.

34)  VELUDO AZUL (David Lynch), 1986

Angelo Badalamenti foi o compositor preferido de David Lynch, compondo 4 trilhas de destaque: TWIN PEAKS, CIDADE DOS SONHOS, ESTRADA PERDIDA e BLUE VELVET. Nessa última, a canção tema, mega-sucesso do cantor Bobby Vinton (interpretada no filme pela atriz Isabella Rosselini) inspirou o título. Roy Orbinson também comparece com IN DREAMS, reforçando o clima pop vintage, justaposto por uma partitura orquestral conduzida por Badalamenti, tendo como referência o compositor clássico Shostakovich. A combinação desses elementos tão díspares criou um clima perfeito para o perturbador enredo com características neo-noir.

 35)  O PICOLINO (Mark Sandrich), 1935

Russo de nascimento, Irving Berlin foi indiscutivelmente um dos mais profícuos compositores da história, com inúmeras canções que se tornaram clássicos do cancioneiro americano. Dentre as trilhas mais famosas, O PICOLINO (TOP HAT) com a inesquecível CHEEK TO CHEEK em que Fred Astaire exibe suas habilidades vocais e de sapateado acompanhado de Ginger Rogers. Outros filmes que contaram com composições de Berlin são BLUE SKIES, EASTER PARADE (DESFILE DE PÁSCOA) e HOLIDAY INN que revelou WHITE CRISTMAS imortalizada por Bing Crosby, cujo single é referenciado como o mais vendido de todos os tempos, com 50 milhões de cópias,

36) FURYO (Nagisa Oshima), 1983

A produção nipônica de guerra estrelada por David Bowie ganhou uma bastante pertinente trilha assinada por Ryuichi Sakamoto, combinando composição sinfônica ocidental com sons tradicionais do extremo oriente e um toque de música eletrônica. O conhecido tema instrumental ganhou uma maravilhosa versão vocal de David Sylvian do grupo Japan (que de japonês só tem o nome). Sakamoto viria também a compor para três filmes de Bernardo Bertolucci, O CÉU QUE NOS PROTEGE, O PEQUENO BUDA e O ÚLTIMO IMPERADOR (ganhando o Oscar por esse último).  Compôs também para OLHOS DE SERPENTE (Brian de Palma) e DE SALTO ALTO (Almodóvar). O diretor Oshima é o mesmo do arrojado IMPÉRIO DOS SENTIDOS, filme que desafiou os padrões de censura com suas cenas de sexo explícito.

37) ADEUS ÀS ILUSÕES (Vincente Minelli), 1965

Nesse filme rodado na costa da California, o casal Richard Burton & Elizabeth Taylor protagonizou um tórrido romance proibido que desafiou as convenções moralistas da época. Apesar das críticas mornas e do desempenho comercial sofrível, o filme teve o mérito de revelar THE SHADOW OF YOUR SMILE (também conhecida como LOVE THEME FROM SANDPIPER), composição de Johnny Mandel, que, não apenas ganhou o Oscar de melhor canção, como foi, devido à sua melodia refinada, uma preferidas por intérpretes ligados ao jazz, com incontáveis gravações: Tony Bennett, Andy Williams, Frank Sinatra, Barbra Streisand, Astrud Gilberto, Stevie Wonder, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, George Benson, Gerry Mulligan, Bill Evans, Wes Montgomery etc.

 38)  HAIR (Milos Forman), 1979

O diretor e roteirista tcheco Milos Forman é um dos mais respeitados do cinema, com diversos filmes premiados como UM ESTRANHO NO NINHO, AMADEUS, HAIR e O POVO CONTRA LARRY FLYNT, dos quais, HAIR, recheado de hinos hippies é o que dispõe da trilha sonora mais conhecida. A ópera-rock antibelicista, baseada no musical homônimo da Broadway de 1968, captou o clima da contracultura e na rejeição à Guerra do Vietnam. O álbum vendeu milhões de cópias revelando canções como AQUARIUS/LET THE SUNSHINE IN (imortalizada pelo grupo 5th Dimension) e GOOD MORNING STARSHINE (hit do cantor Oliver). Por sua vez, a trilha de AMADEUS com músicas de Mozart regidas por Neville Marriner ajudou a popularizar o músico erudito.

39) O SENHOR DOS ANEIS (Peter Jackson), 2001

A quantidade de trilhas assinadas por Howard Shore impressiona. Musicou quase todos os filmes de Cronenberg (A MOSCA, VIDEODROME, SCANNERS, MARCAS DA VIOLÊNCIA) e diversos de Scorsese (O AVIADOR, OS INFILTRADOS, GANGUES DE NOVA YORK, AFTER HOURS), além de SILÊNCIO DOS INOCENTES, SEVEN dentre tantas. Mas, indubitavelmente, suas trilhas mais conhecidas são as das trilogias O SENHOR DOS ANEIS e O HOBBIT dirigidas por Peter Jackson com base na literatura fantástica de R R Tolkien. A grandiosidade de tarefa de Howard é notável, empenhando uma orquestra com uma quantidade absurda de músicos e instrumentos. Como resultado, faturou 3 Oscars, inclusive melhor canção para INTO THE WEST (parceria com Annie Lennox).

 40)  FAÇA A COISA CERTA (Spike Lee), 1989

Spike Lee é conhecido por explorar em filmes engajados temáticas raciais. DO THE RIGHT THING foi seu maior êxito. O filme trata da escalada de violência gerada pela instalação no bairro predominantemente negro do Brooklin, NY, de uma pizzaria por um italiano branco e seus filhos. A trilha que serve como fundo a esse quadro de conflitos traz diversos ritmos da música black: hip hop (Public Enemy), jazz (Al Jarreau), swing (Teddy Riley), reggae (Steel Pulse), gospel (Take 6) e até salsa (Ruben Blades).

 

 

Confira a 1ª parte:

 https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2025/10/trilhas-da-minha-vida-1-parte.html

 

Nenhum comentário: