As notícias estão ficando cada vez mais surreais. A última é
que estão acusando as outrora inocentes sandálias havaianas de estar a serviço
do comunismo internacional. Nem me dei ao trabalho de entender a origem dessa
estapafúrdia ideia, fruto de um ambiente social doentio.
Esclareço que embora não seja usuário dessas sandálias, reconheço
nelas a virtude da perfeita adaptabilidade às necessidades das extremidades dos
membros inferiores da perna, também chamadas de pés, que têm a função crucial
de promover o equilíbrio e a sustentação do corpo.
São elas práticas, laváveis, arejadas, não usam costuras e seu
formato anatômico proporciona bem estar ao referido órgão de apoio, com uma
base homogênea de borracha em que se sobressai a famosa tira em Y, sua marca
registrada.
Além disso, são
baratas e duradouras, sendo por isso acessíveis a pessoas de todas as classes
sociais. A possibilidade de se adotar milhões de estampas com motivos e cores
variadas permitiu que caíssem no gosto até de pessoas mais estilosas, sem perder
o charme de sua estrutura básica.
Com isso, conquistaram corações e pés de todos. Há lojas de havaianas
espalhadas mundo afora. Sim, é um item essencialmente brasileiro que alcançou sucesso
internacional e colocou o mundo abaixo de nossos resguardados pés, o que deveria
encher de orgulho esse país tão pobre em referências.
Então por que a implicância agora com esse artefato tão
simpático que exporta a descontração e a maneira de ser do brasileiro?
Devo dizer que particularmente não sou fã das havaianas, ao
contrário de minha esposa que se esbalda com os inúmeros modelos de estampas
que parecem nunca se repetir, em exposição tanto nas vitrines produzidas dos
shoppings como em araras improvisadas de mercadinhos populares.
Minha desavença com elas é de cunho estritamente pessoal. Não
me dou bem com a sua peculiar tira que separa o dedão dos demais dedos. Por natureza,
acho que os cinco dedos de cada pé, ainda que por natureza tenham autonomia,
foram moldados para ficar perfilados uns ao lado dos outros sem barreiras. A
tira da sandália que faz com que ela se sustente no pé deixa o dedão separado,
o que me passa uma dolorosa sensação de ‘divisionismo podal’ que gera certo
desconforto.
Mas para 99% dos humanos, homens e mulheres, adultos e
crianças, essa característica parece não importar, tanto que as sandálias são um
sucesso. Exceto para aquela parcela paranoica da sociedade que, por alguma
razão, teima em achar que o divisionismo das havaianas vai muito além da
questão do dedão.

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