sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

FACE OCULTA

 

Antigamente, o brasileiro era tido como um sujeito cortês, camarada e descontraído. Essa imagem já não corresponde à realidade, tendo dado lugar a um ‘outro brasileiro’, não tão afável, cuja face sinistra corrompeu a figura simpática com que era retratado.

O dito sujeito brincalhão é o mesmo que agora dissemina piadas racistas e estigmatiza com expressões preconceituosas ‘crioulos’, ‘balofos’, ‘nanicos’, ‘coroas’, ‘geninhos’, ‘deficientes’, ‘retardados’, ’vadias’, ‘viados’, aqueles que o fazem gargalhar por serem ‘diferentes’ do padrão que ele julga aceitável.  Quem está do outro lado, talvez não ache tanta graça. E daí?

Deleita-se ao assistir coitados serem humilhados nas pegadinhas da TV, os bobões desavisados, os puros de coração, iscas fáceis para ridicularização pelos ‘espertos’ como ele, escolados em sacanagens baratas. “Quem mandou o idiota confiar no semelhante?”

Essa é a cruel índole do brasileiro. Aquele que perde a decência, mas não perde a piada. Pois decência é mercadoria barata à venda no camelô da esquina.

 É o mesmo que não deixa passar a oportunidade de furar uma fila, ocupar a vaga do cadeirante ou passar, pelo acostamento, à frente dos trouxas que respeitam civilizadamente as regras do trânsito.

Aquele que, quando um caminhão capota, aproveita-se do motorista desfalecido pra se apropriar da carga espalhada pelo chão. Que, quando vê o idoso deixar cair uma nota de 100, corre pra socorrer a pobre nota abandonada. Antes que outro brasileiro o faça.

Que, ao ver um desesperado prestes a saltar de um edifício, engrossa o coro: “pula, pula”. Que compra mercadoria roubada pela metade do preço. Afinal, como bom brasileiro, nunca deixa de levar vantagem.

Dá pra ver pela qualidade do nosso congresso o nível dos políticos que elege. Seu modelo de homem público não é o abnegado que luta em prol da coletividade. Seu político predileto é o picareta que pratica clientelismo e troca de favores. É o espertalhão que faz da atividade parlamentar meio para se encher de grana. O otário honesto e idealista tem mais é que se ferrar.

Sua religião não é a do monge que prega compaixão, solidariedade e dedica sua vida monástica aos mais humildes, mas a dos pastores abastados, que ostentam riqueza material. Seu deus não é aquele que reconhece com amor os atos de caridade de seu rebanho, mas o ente mercenário que oferece uma vida mundana de bens de luxo àquele que crê na força de quem sobe na vida, pisando nos menos afortunados.

Mas o crente não é descrente de tudo. Acredita na força das armas para se defender dos ‘vagabundos’ que ameaçam seu patrimônio. Porque esse brasileiro não confia que a justiça e as instituições do seu país o protejam. Em verdade, não acredita em seu país. “Quer viver num lugar decente, brother? Se manda pra Noruega ou pra Finlândia”.

Esse é o povo do nosso Brasil. Quem é o grande ídolo nacional? O cientista que descobre o medicamento que salva milhões de vidas? O benfeitor que dedica sua existência a melhorar a condição dos necessitados? O artista premiado internacionalmente? Nada disso! É o campeão da Fórmula 1. Aquele que, na pista, deixa os gringos para trás. Pois seu grande ideal na vida é passar à frente dos outros. Nem que seja pelo acostamento.

É esse o povo da nação que jamais criou condições para surgir em seu meio um escritor que fosse digno de um Nobel, um cineasta que fizesse jus a um Oscar.

Nas eleições para presidente, tendo que optar entre o médico, o professor, a ambientalista e o miliciano, adivinhe quem escolheu. Um malandro-mor que quando chegou lá em cima, aliviou para os infratores, aposentou os radares de trânsito e as multas do IBAMA. Liberou geral para todos os transgressores do país, exceto os que não têm grana. Para os ambientais, nem se fala: os que roubam madeira, os que queimam florestas, os que envenenam rios, os que assassinam índios. Livres e soltos.

Tendo sido autuado por pesca ilegal no passado, vingou-se com classe de quem ousou aplicar-lhe a lei. Ao chegar lá em cima, anulou a multa e encostou o fiscal que exercia sua função com correção. Esse é o ‘mito’ que representa condignamente o brasileiro. Aquele que usa a máquina do Estado em benefício próprio. Como deve ser.

Não vê a hora de chegar também lá em cima pra dar uma carteirada no coitado encarregado de fazer cumprir as regras e esfregar-lhe na cara um “sabe com quem tu tá falando?” Ser uma autoridade ou um policial, não para aplicar a lei, mas pra poder dar corretivo no vizinho infeliz com quem não vai com a cara.

Esse é o tipo de indivíduo que constitui um simulacro da nação que diziam, seria o país do futuro.

Apenas um país que não deu certo.

 

  

 

4 comentários:

Unknown disse...

Olá sérgio, excelente reflexão. Não sabemos o que virá pela frente, o Brasileiro se acomodou na malandragem...

Anônimo disse...

Triste realidade bem pontuada

Anônimo disse...

Texto ridículo, provavelmente um esquerdinha caviar mamador de tetas que ainda não se conforma que Bolsonaro é o melhor Presidente que o país já teve. Perdeu mamata, né ?

Anônimo disse...

Sérgio, mais uma vez, parabéns por suas conotações bem colocadas.
Pela coragem de abordar esse tema.
No meu modo de ver, faltou falar do " brasileiro" que " RESTOU" .
E, NESSE GRUPO O INCLUO E ME INCLUO.
E, há dezenas de milhares que se incluem.
Há que diga : " tenho vergonha de ser brasileiro" , por isso vou me mudar para outro país.
Aí, chega lá e é , a princípio , mal visto, pois, a grande maioria age como o atual chefe da Nação o ilustre " Cartão BOLSONARO, O ÚNICO, " macho, macho, macho, mem " ( música) do Brasil.Parabéns,SERGIO!
Gostei de sua crônica.
Siga em frente, porque vc é um escritor, mesmo.