sábado, 14 de setembro de 2024

ENTROPIA

Existe um princípio na Física chamado Lei da Entropia que enuncia que haverá um aumento progressivo da desordem em todas as áreas. Esse conceito sempre me pareceu bastante aterrador pois indica que o Universo caminha inexoravelmente para a desagregação de todas as formas de vida e de organização, chegando no limite ao caos completo e irreversível. Nosso destino inelutável será nos transformar, todos e tudo, numa massa melequenta e amorfa.

O alívio é que esse processo disruptivo teria um prazo de alguns bilhões de anos até se consumar. Dessa maneira, poderemos dormir sossegados assim como nossos filhos, netos e bisnetos, antes que o fantasma da entropia dê com as caras.

Será? Pelo que ando observando com preocupação, a ação perversa do homem sobre o meio-ambiente está acelerando dramaticamente tal processo fatídico, cortando alguns zerinhos desse cálculo de bilhões. As queimadas dos pecuaristas, por exemplo, não estavam nas contas dos físicos.

Não entendo nada de Física, mas minha percepção adquirida no decorrer dessas poucas décadas de vida terrena que desfrutei é que essa tal de entropia já está batendo em nossas portas.

Alguns sinais são perceptíveis. Basta ver, por exemplo, a mudança de perspectiva com que nossa sociedade encara o futuro. A grande maioria dos filmes da primeira metade do século XX como os de Frank Capra sempre tinham um happy end que nos permitia sair do cinema sorrindo, acreditando ingenuamente que caminhávamos para um porvir glorioso onde o bem sempre venceria o mal e o amor e a harmonia, com a graça de Deus, prevaleceriam.

O futuro distópico que nos é apresentado nas produções hollywoodianas mais recentes mostra uma situação bem diferente. Blade Runner, Laranja Mecânica e Mad Max são exemplos de filmes que marcaram essa reversão, antevista em livros proféticos como 1984 e Admirável Mundo Novo, mostrando um mundo em decomposição.

As espécies mais belas de pássaros, peixes e borboletas coloridas estão desaparecendo da face do planeta enquanto proliferam ratos, baratas, gafanhotos, mosquitos, cupins e outros seres repulsivos, incluindo nessa lista, claro, o gado (de bois e de gentes) que domina as paisagens monocromáticas pinceladas pelo agronegócio.

Os cenários apocalípticos de florestas em chamas e hecatombes climáticas extremas invadem em tempo real as telas de nossas TVs Smart, espetáculos hiper-realistas em que, extasiados, presenciamos em alta definição nossas existências serem tragadas pelo buraco negro da irresponsabilidade.

Quem mora em grandes metrópoles, onde a anarquia urbana se faz mais evidente, não precisa sequer aguçar os sentidos para perceber as deletérias transmutações na qualidade de vida.

Os mais endinheirados imaginam que se isolando nas redomas dos condomínios cercados com muros e seguranças armados podem criar um paraíso particular artificial, asséptico e climatizado, imune aos efeitos dilaceradores da entropia que despeja seus efeitos brutais sobre os bilhões de desabrigados, apinhados em favelas e áreas de risco.

Outros, lunáticos, investem fortunas em viagens interespaciais na esperança de que possam recriar em Marte ou Vênus com a ajuda da ciência e da tecnologia as condições utópicas que, sua própria ação devastadora eliminou do nosso outrora planeta azul.

Talvez me acusem de alarmista. O que constato é que, assim como tudo ao meu redor, estive submetido a esse processo desagregador que me alterou a forma de ser e de pensar. Pessimista? Não, apenas me tornei entrópico.

 

 

 

 

 

 

3 comentários:

Britto disse...

Tremendo absurdo canalha manda para o espaço um foguete, despejando milhões de quilos de fumaça, para que dois alienados milionários possam dar uma voltinha de meia hora no espaço. E a mídia bate palmas, sem ligar o aquecimento global a nada disso. Parte da humanidade é insana!

Ivo Korytowski disse...

O mundo sempre foi uma bagunça, e desde o tempo de Jesus se previu um fim do mundo iminente, mais recentemente a escassez de alimentos anunciada por Malthus e o esgotamento das matérias-primas até o fim do século XX anunciado pelo Clube de Roma, etc. Mas a humanidade sempre acaba "dando um jeitinho"...

Celinha Padovan disse...

Nada de alívio! A contagem de bilhões de anos para o fim já tá correndo há bilhões! Mas é importante não se calar diante da ação nefasta dos negacionistas e dos que só vêm o potencial exploratório da Terra... só o negócio.