41) PULP FICTION (Quentin Tarantino), 1994
Tarantino
divide os críticos. Menos quando se trata das trilhas sonoras, quando a opinião
unânime é que o diretor não dá bola fora. PULP FICTION é não apenas seu mais
badalado filme, como o que possui a trilha mais arrojada. Além da sacada de
ressuscitar empoeirados clássicos da surf music, realizou a proeza de
transformar em sucesso uma antiga canção de Neil Diamond interpretada por Urge
Overkill (GIRL YOU’LL BE A WOMAN SOUL). Tarantino tem por hábito garimpar
músicas antigas esquecidas para servir como pano de fundo a suas películas.
Teve por mérito permitir ao lendário Ennio Morricone faturar seu único Oscar
pela trilha de OS OITO ODIADOS.
42) SUPLÍCIO DE UMA SAUDADE (Henry King), 1955
Alfred Newman foi um verdadeiro colecionador de Oscars, tendo composto para mais de 200 filmes. Sua parceria com o diretor Henry King foi das mais profícuas dos anos de ouro de Hollywood. Dentre as trilhas mais marcantes de Newman, destacam-se A MALVADA (ALL ABOUT EVE), O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, COMO ERA VERDE O MEU VALE, CANÇÃO DE BERNARDETTE, AEROPORTO e a arrebatadora LOVE IS A MANY SPLENDORED THING, cujo tema (de autoria da dupla Fain/Webster) foi gravado por uma pá de artistas (Andy Williams, Matt Monro, Bing Crosby, Nat King Cole, Shirley Bassey, Frank Sinatra etc.) e até suplantou o sucesso do filme.
A série televisiva TWILIGHT ZONE que reúne elementos de ficção científica, fantasia e terror, criada e apresentada por Rod Serling, alcançou sucesso sem precedentes no período 1959 a 1964 com 5 temporadas, originando três revivals que não repetiram o êxito, além de um longo produzido por Steven Spielberg. Apesar de a primeira temporada receber trilha do celebrado Bernard Herrmann que trabalhou em diversas películas do mestre Hitchcock, o tema que ‘emplacou’ foi o que abriu a segunda temporada e as 3 seguintes, de autoria de Marius Constant com sons dissonantes que criam uma atmosfera perturbadora.
44) ZORBA O GREGO (Michael Cacoyannis), 1964
A trilha do filme greco-americano, estrelado por Anthony Quinn, Alan Bates e Irene Papas, composta por Mikis Theodorakis, fez bastante sucesso, sobretudo o envolvente tema instrumental, ZORBA´S DANCE, utilizado para acompanhar a dança tradicional grega. Mikis, conhecido por seu engajamento em causas sociais, compôs também a trilha de SERPICO de Sidney Lumet e duas obras primas do cinema político de Costa Gavras, Z e ESTADO DE SÍTIO.
O drama neozelandês transcorrido no século XIX e protagonizado por Holly Hunter e Harvey Keitel gira em torno da paixão de uma mulher muda desde a infância por seu piano, do qual se viu privada, ao iniciar vida em companhia do novo marido numa terra estranha. Com ele, a diretora Jane Campion consagrou-se como a primeira mulher a ganhar a Palma de Ouro de Cannes. A belíssima trilha ajudou a popularizar seu autor, o prestigiado pianista e compositor minimalista Michael Nyman. É dele também a trilha do instigante O COZINHEIRO, O LADRÃO, SUA MULHER E A AMANTE do diretor Peter Greenaway.
Bertolucci foi um dos maiores diretores de todos os tempos com inúmeras obras primas. Várias de suas trilhas se destacam, como a de 1900, composta por Ennio Morricone, O CÉU QUE NOS PROTEGE, O PEQUENO BUDA e O ÚLTIMO IMPERADOR, as 3 de Ryuichi Sakamoto, além de OS SONHADORES e BELEZA ROUBADA que apresentam um bem selecionado painel de temas pop. O ÚLTIMO TANGO EM PARIS foi um filme que provocou polêmica pelo conteúdo sexual explícito (em especial a insólita cena da manteiga como lubrificante), contracenado por Marlon Brando e Maria Schneider. Controvérsias à parte, a trilha sonora, composta pelo saxofonista argentino Gato Barbieri se sobressai, em especial o tema principal, um dos mais belos e pungentes do cinema.
47) ROUND MIDNIGHT (Bertrand Tavernier), 1986
O saxofonista Dexter Gordon surpreendeu por sua atuação nessa película do diretor francês, concorrendo ao Oscar como ator. A trilha sonora (vencedora da estatueta) homenageia os anos dourados do jazz reunindo cobras como Herbie Hancock, Ron Carter (que também atuaram no filme), Bobby McFerrin, John McLaughlin, Chet Baker, Freddie Hubbard e Wayne Shorter, dentre outros. Uma celebração ao nobre gênero musical. A canção que dá nome à película, composição de Thelonious Monk, é um dos principais clássicos do gênero, tendo recebido dezenas de gravações.
48) O EXORCISTA (William Friedkin), 1973
Friedkin foi laureado com 5 Oscars (incluindo filme e direção) por OPERAÇÃO FRANÇA que teve trilha composta pelo trompetista Don Ellis. Em O EXORCISTA, um dos mais horripilantes filmes de terror de todos os tempos, Friedkin rejeitou a composição de Lalo Schifrin feita de encomenda, acabando por utilizar alguns temas clássicos contemporâneos. Além disso, lançou mão de trechos do já consagrado álbum TUBULAR BELLS do multi-instrumentista Mike Oldfield (expoente do rock progressivo) que, embora não tenha sido elaborado com essa finalidade, acabou associado à película. O diretor considerou a atmosfera densa e repetitiva do álbum (em que Mike executa todos os instrumentos) apropriada para o tom sombrio imprimido ao filme, sendo utilizada a faixa GEORGETOWN como tema principal
49) MANHATTAN (Woody Allen), 1979
Woody Allen sempre foi apaixonado pelo som dos anos de ouro de New Orleans e pelos clássicos dos anos 20/30. As trilhas sonoras de seus filmes refletem suas preferências musicais. Em MANHATTAN, filmado em preto e branco, em que atua ao lado de Diane Keaton e Meryl Streep, podemos encontrar os principais chavões que caracterizam suas comédias cerebrais. A ideia do filme surgiu a partir de uma canção de Gershwin (assim como Allen, um apaixonado por NY). Todas as canções da trilha sonora são do compositor norte-americano e executadas pela Filarmônica de Nova York sob a regência de Zubin Mehta, com destaque para as conhecidíssimas RHAPSODY IN BLUE e EMBRACEABLE YOU. Outro filme famoso com músicas de Gershwin é AN AMERICAN IN PARIS de Vincente Minnelli.
O compositor húngaro Miklós Rósza tornou-se conhecido por suas trilhas orquestrais de filmes épicos e bíblicos como BEN-HUR, EL CID, QUO VADIS, O REI DOS REIS, EL CID e JULIUS CAESAR, tendo influenciado fortemente John Williams. Indicado para 17 Oscars, faturou 3, incluindo BEN-HUR, personagem vivido por Charlton Heston, filme grandioso, um dos mais custosos da história, até então. São de Miklós também QUANDO FALA O CORAÇÃO de Hitchcock, UMA VIDA DUPLA de George Cukor (pelos quais também faturou Oscars), PACTO DE SANGUE e FARRAPO HUMANO, ambos de Billy Wilder, dentre outros.
51) BETTY BLUE (Jean Jacque Beineix), 1985
A carreira do celebrado compositor e pianista libanês Gabriel Yared (que chegou a morar no Brasil no início dos anos 70), deslanchou quando ele se dedicou à execução de trilhas para o cinema francês como CAMILLE CLAUDEL e SALVE-SE QUEM PUDER (Jean Luc Godard). Foi laureado com o Oscar pela trilha sonora do filme O PACIENTE INGLÊS de Anthony Minghella. Desse mesmo cineasta britânico, assinou as trilhas de COLD MOUNTAIN e O TALENTOSO RIPLEY, além de CIDADE DOS ANJOS. A película francesa 37º2 LE MATIN (que no Brasil recebeu o título de BETTY BLUE) teve uma trilha sonora que acabou se tornando mais badalada que o próprio filme.
Primeiro filme dirigido pelo irmão mais novo de Ridley Scott, que depois se especializaria em filmes de ação como TOP GUN (que lançou Tom Cruise ao estrelato), CHAMAS DE VINGANGA, INIMIGOS DE ESTADO e DIAS DE TROVÃO. Estrelado por Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon FOME DE VIVER (THE HUNGER) é um filme sobre vampirismo. Tornou-se cult por sua estética gótica, atmosfera sensual, abordagem sexual e pela trilha sonora que expôs como tema de abertura a canção BELA LUGOSI’S DEAD com o grupo Bauhaus, de 9 minutos de duração, que se tornou uma espécie de hino gótico com seus efeitos fantasmagóricos alucinantes.
53) AGUIRRE, A CÓLERA DOS DEUSES (Werner Herzog), 1972
Werner Herzog sempre foi um diretor obscuro cultuado por um grupo restrito de cinéfilos. Logicamente, as trilhas de seus filmes refletiam essa condição. Assim como ocorreu com o ator Klaus Klinki, o conjunto alemão Popol Vuh (capitaneado pelo tecladista Florian Fricke) foi colaborador recorrente do cineasta alemão. Assinou diversas trilhas, como as de FITZCARRALDO e NOSFERATU, conferindo às trilhas um clima onírico, combinando as viagens eletrônicas de grupos como o Kraftwerk e o Tangerine Dream com influências místicas e orientais e, no caso do filme em questão, andinas.
54) INTERESTELAR (Christopher Nolan), 2014
O diretor britânico Christopher Nolan tem uma parceria bem sucedida com Hans Zimmer que compôs algumas de suas trilhas mais icônicas como as de BATMAN BEGINS, BATMAN O CAVALEIRO DAS TREVAS, A ORIGEM e INTERESTELAR. Esse último, com um elenco (inter)estelar, liderado por Matthew McConaghey, é um épico de ficção científica ambientado num futuro distópico em que a Terra está ameaçada de extinção pela fome e catástrofes naturais. A trilha minimalista com o uso de órgão de tubos alterna suavidade e silêncio com momentos grandiosos. Zimmer musicou outras trilhas famosas como as de GLADIADOR, REI LEÃO, O ÚLTIMO SAMURAI e MELHOR É IMPOSSÍVEL.
Dispensável falar da importância de Cole Porter para a cultura norte-americana. Celebrados pelos principais nomes da música, seus standards tornaram-se presença obrigatória em qualquer compilação representativa da era de ouro do jazz. Sem falar dos inúmeros espetáculos da Broadway, muitos transpostos para a tela. Filmes como CAN CAN, KISS ME KATE e O PIRATA trazem a marca de Porter. HIGH SOCIETY, do diretor de musicais Charles Walters (o mesmo de EASTER PARADE) traz Bing Crosby, Frank Sinatra e Grace Kelly (seu último papel antes de se tornar princesa), e a presença marcante de Louis Armstrong e banda executando HIGH SOCIETY CALYPSO. Além de TRUE LOVE com Crosby e Grace, último grande sucesso do compositor.
56) IMENSIDÃO AZUL (Luc Besson), 1988
Éric Serra colaborou com o diretor francês Besson em diversas películas como O PROFISSIONAL, NIKITA e O QUINTO ELEMENTO. Em IMENSIDÂO AZUL (THE BIG BLUE), filme que trata da rivalidade esportiva entre dois mergulhadores que competem para obter maior profundidade no mar, procurou transferir para a música a sonoridade etérea do vasto oceano, misturando sons naturais com melodias suaves e elementos eletrônicos, com destaque para a faixa de abertura. Serra foi convocado também para compor a trilha de 007 CONTRA GOLDENEYE com Pierce Brosnan no papel de James Bond.
57) TRAINSPOTTING (Danny Boyle), 1996
O diretor de YESTERDAY (regravações de temas dos Beatles) e do premiado QUEM QUER SER UM MÍLIONÁRIO? (com canções indianas), já chamava a atenção dos cinéfilos desde os desconcertantes COVA RASA e TRAINSPOTTING, ambos com Ewan McGregor. Esse último retrata sem retoques o mundo das drogas em Edimburgo nos anos 80. A trilha tornou-se ainda mais cultuada que o filme, reunindo a nata da canção pop inglesa e americana da época: Lou Reed, Brian Eno, Iggy Pop, Blur, Primal Scream, New Order, destacando-se BORN UNSLEEPY com o grupo Underworld (que se tornou um hino rave).
58) TITANIC (James Cameron), 1997
O cineasta canadense James Cameron é o segundo com maior bilheteria (atrás apenas de Steven Spielberg). Duas de suas megaproduções receberam trilhas de James Horner, AVATAR e TITANIC. Esta última rendeu a Horner um Oscar, além de obter um enorme sucesso comercial com o álbum, um dos campeões de vendas de todos os tempos, em grande parte puxado pela canção tema (também de sua autoria em parceria), MY HEART WILL GO ON interpretada por Céline Dion, igualmente laureada pela Academia. Horner musicou ainda os filmes ALIENS, O RESGATE (também de Cameron), O HOMEM BICENTENÁRIO, CORAÇÃO SELVAGEM. APOLLO 13, COCOON, CAMPO DE SONHOS, JUMANJI, O NOME DA ROSA e DOSSIÊ PELICANO
Tim Robbins é conhecido como ator (como no aclamado UM SONHO DE LIBERDADE). Aqui exercita seus dotes de diretor (além de roteirista e produtor) num filme que retrata um prisioneiro condenado à morte (representado por Sean Penn), sendo confortado em seus momentos finais por uma freira (Susan Sarandon, que faturou o Oscar), estabelecendo-se entre os dois uma relação intensa e debates sobre justiça, perdão e responsabilidade. A memorável trilha sonora inclui artistas pop de renome como Bruce Springsteen, Patti Smith, Tom Waits e Suzanne Vega. Mas o ponto alto são duas faixas cantadas em dueto por Eddie Vedder, vocalista do Peal Jam, com o cantor paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan que, a partir daí, ganhou visibilidade no Ocidente.
60) DO FUNDO DO CORAÇÃO (Francis Ford Coppola), 1982
O maior fracasso comercial da filmografia do cultuado diretor da trilogia O PODEROSO CHEFÃO talvez seja paradoxalmente o que tenha uma das trilhas mais cativantes, a cargo de Tom Waits. Não obstante Waits seja um músico cult, seu vínculo com o cinema fica mais por conta de suas atuações como ator coadjuvante, sobretudo em filmes de Jim Jarmush (DOWN BY LAW, COFFEE AND CIGARETTES) e do próprio Coppola (SELVAGEM DE MOTOCICLETA, VIDAS SEM RUMO, DRÁCULA DE BRAM STOKER). Em ONE FROM THE HEART, no entanto, brilha como compositor (sendo o autor das 12 faixas que integram o álbum) e como cantor, fazendo dupla com Crystal Gayle, convertida do country para o jazz romântico.
Confira 2ª parte:
https://oquedemimsoueu.blogspot.com/2025/10/trilhas-da-minha-vida-2-parte.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário