Meu destino foi moldado
pelos filmes que assisti. A música que os acompanhou faz a trilha sonora da
minha vida. Segue a 2ª parte:
Impossível não associar o cultuado drama ambientado durante a II Guerra a AS TIME GOES BY, uma das canções mais marcantes do cinema que, tocada ao piano, faz com que o galã Humphrey Bogart se recorde de seu antigo amor, Ingrid Bergman. Curiosamente, o aclamado tema é de 10 anos antes, não tendo sido composto para o filme, cuja trilha sonora pertence a Max Steiner que o utilizou habilmente. O austríaco Steiner é um dos maiores compositores de Hollywood, assinando mais de 300 trilhas com 24 indicações ao Oscar, destacando-se outro clássico, E O VENTO LEVOU (1939) além do primeiro (e melhor) King Kong (1933).
Não se pode deixar de mencionar as
trilhas da franquia 007. Injusto ressaltar uma dentre elas, já que muitas foram
marcantes, em especial aquelas compostas por John Barry (também um dos autores
do famoso tema de James Bond). Cada novo filme revelou uma canção principal com
algum intérprete renomado: Paul McCartney (LIVE AND LET DIE), Carly Simon (NOBODY
DOES IT BETTER), Matt Monro (FROM RUSSIA WITH LOVE), Louis Armstrong (WE HAVE
ALL THE TIME IN THE WORLD), Tom Jones (THUNDERBALL), Duran Duran (A VIEW TO A
KILL), Nancy Sinatra (YOU ONLY LIVE TWICE), Sheena Easton (FOR YOUR EYES ONLY),
Adele (SKYFALL) etc. Mas a coroa vai para Shirley Bassey, agraciada com
3 temas (GOLDFINGER, DIAMONDS ARE FOREVER e MOONRAKER).
Nesse clássico que combina comédia e
drama, Carlitos desempenha um vagabundo que sustenta uma florista cega que, ao
voltar a enxergar, não consegue esconder a frustração ao reconhecer seu
maltrapilho benfeitor. Não bastasse ser diretor, produtor, roteirista e ator
principal, Chaplin ainda compôs a bela trilha sonora. Em se tratando de um
filme mudo, a música desempenha papel primordial traduzindo as emoções dos
personagens. É utilizada também a espanhola VIOLETERA como tema da
florista. Deve-se ressaltar que Chaplin compôs THIS IS MY SONG (sucesso na voz
de Petula Clark) para o filme CONDESSA DE HONG KONG, além da célebre SMILE
(filme TEMPOS MODERNOS) regravada por Nat King Cole, Michael Jackson, Judy
Garland, Barbra Streisand e Lady Gaga, dentre tantos.
24) OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE (John Badham), 1977
Na década de 60, os Bee Gees eram tidos como um trio de soft rock que alcançava sucesso com canções singelas como MASSACHUSETTS e I STARTED THE JOKE. Pegando carona na onda ‘disco’, os irmãos Gibb emplacaram uma das mais bem sucedidas trilhas, SATURDAY NIGHT FEVER com canções como STAYIN’ ALIVE, HOW DEEP IS YOUR LOVE, YOU SHOULD BE DANCING e NIGHT FEVER com John Travolta arrepiando na pista. De quebra, outros grupos representativos dos anos 70: Kool & the Gang, KC & Sunshine Band e Tavares.
Esse drama romântico de Lelouch,
vencedor da Palma de Ouro de Cannes e do Oscar de filme estrangeiro, que
consolidou a importância do diretor francês no contexto internacional, deve seu
sucesso em grande parte à maravilhosa trilha de Francis Lai. Aliás, a parceria
entre Lelouch e Lai estendeu-se para outros filmes do diretor como VIVER POR
VIVER, UM BOM ANO etc. Outra trilha icônica de Lai, que lhe valeu um Oscar, é a
do blockbuster americano LOVE STORY de 1970. O tema instrumental de Lai, THEME
FROM LOVE STORY, lançada em single por Henry Mancini, alcançou grande êxito
comercial. Quando lhe foi adicionada uma letra, sendo rebatizada como WHERE DO
I BEGIN?, voltou repetidamente às paradas nas vozes de Andy Williams, Tony
Bennett e Shirley Bassey.
26) SE MEU APARTAMENTO FALASSE (Billy Wilder), 1960
Billy Wilder é um dos mais respeitados
diretores do cinema com obras primas inesquecíveis como CREPÚSCULO DOS DEUSES,
PACTO DE SANGUE, FARRAPO HUMANO e SABRINA, versão com Humphrey Bogart e Audrey
Hepburn. A que tem a trilha mais conhecida - composta por Adolf Deutsch - é
provavelmente THE APARTMENT com Jack Lemmon e Shirley MacLaine. Deutsch musicou
também outra comédia de Wilder, QUANTO MAIS QUENTE MELHOR além de RELÍQUIA
MACABRA (de John Huston) e o musical SETE NOIVAS PARA SETE IRMÃOS (Stanley
Doney).
27) ORFEU NEGRO (Marcel Camus), 1959
Apesar de o enredo (baseado na mitologia
grega) ter transcorrido no Rio de Janeiro durante o Carnaval, com
elenco de atores brasileiros, os méritos ficaram com a França do diretor Camus nos grandes
festivais em que concorreu, por aquele país ganhando o Oscar de melhor filme
estrangeiro e a Palma de Ouro em Cannes. A trilha sonora, de autoria de Tom
Jobim (com participação de Vinícius) e do violonista Luiz Bonfá, que compôs os
temas MANHÃ DE CARNAVAL (interpretada por Agostinho dos Santos) e SAMBA DE
ORFEU (ambas em parceria com Antônio Maria) marca o início da explosão da
bossa nova. MANHÃ DE CARNAVAL consolidou-se como uma das músicas brasileiras mais conhecidas no
exterior com versões de Sinatra, Sarah Vaughan, Nina Simone, Stan Getz,
Paul Desmond, Quincy Jones etc.
28) THE BLUES BROTHERS (John Landis), 1980
A simpática comédia musical estrelada
por John Belushi e Dan Aykroyd teve uma das ‘soundtracks’ mais bem sucedidas de
todos os tempos. Boa parte das músicas (clássicos de blues, soul e R&B,
inclusive uma versão de PETER GUNN de Henry Mancini) foi executada pela própria
dupla, algumas ao lado de astros de primeira linha que participaram pessoalmente
da trama como Ray Charles, Aretha Franklin, James Brown e Cab Calloway. Houve
uma continuação, BLUES BROTHERS 2000, que, apesar da boa seleção musical, não vingou.
29) FALE COM ELA (Pedro Almodovar), 2002
Preferido de
Almodóvar, Alberto Iglesias compôs diversas trilhas para o cineasta espanhol
como VOLVER, MÁ EDUCAÇÃO e TUDO SOBRE MINHA MÃE. A mais bela e
pungente talvez tenha sido HABLE CON ELLA que abre espaço para temas da MPB com
Elis Regina interpretando POR TODA A MINHA VIDA (Tom & Vinícius) e Caetano
Veloso com CUCURRUCUCÚ PALOMA que aparece em pessoa cantando a pérola do
folclore mexicano, faixa do álbum FINA ESTAMPA AO VIVO. Iglesias musicou
outros filmes como LÚCIA E O SEXO, CHE, O CAÇADOR DE PIPAS e O JARDINEIRO FIEL,
este dirigido por Fernando Meirelles.
Baseada no
megassucesso do musical da Broadway, a comédia estrelada por Audrey Hepburn e
Rex Harrison arrebatou 8 Oscars incluindo o de trilha sonora com a memorável I
COULD HAVE DANCED ALL NIGHT interpretada pela própria atriz. A trilha foi
composta e supervisionada pelo maestro e pianista André Previn, outro
colecionador de indicações às estatuetas, tendo faturado mais três: GIGI, PORGY
AND BESS e IRMA LA DOUCE, sempre fundindo pop com jazz e música clássica. Cukor
foi também o diretor da mais famosa versão de NASCE UMA ESTRELA (1954) com Judy
Garland e canções da dupla Arlen/Gershwin.
31) EASY RIDER, SEM DESTINO (Dennis Hopper), 1969
O celebrado ‘road movie’ protagonizado
por Peter Fonda (que também o produziu) e Dennis Hopper (que também o dirigiu)
marcou o surgimento da geração beat com uma trilha sonora pertinente que traz
The Jimi Hendrix Experience e The Byrds (com seu líder Roger McGuinn em duas
faixas solo). Mas a canção que marcou realmente foi o hino libertário BORN TO
BE WILD (que passou a ser também o hino dos motociclistas) interpretada pelo
grupo Steppenwolf que a lançara em seu álbum de estreia um ano antes. À icônica canção
é atribuída a origem do termo ‘heavy metal’, contido em um de seus versos.
32) CANTANDO NA CHUVA (Stanley Donen), 1952
A cena começa com Gene Kelly deixando
Debbie Reynolds em casa e termina com ele entregando o guarda-chuva a um
necessitado, sob o olhar repreensivo de um guarda. Esses 4 antológicos minutos
bastaram para credenciar SINGIN’ IN THE RAIN como um dos musicais mais famosos
do cinema. O curioso é que quase nenhuma das músicas da dupla Freed/Brown que
tocam no musical foi feita para o filme, tendo sido oriundas de outros
espetáculos da MGM, inclusive a que dá título à película, composta em 1929,
época em que não havia quase filmes falados, inspirando o diretor Donen que popularizou a
canção.
Não estamos nos referindo à franquia
estrelada por Tom Cruise com diversos longas metragens de ação iniciada em
1996, mas ao bem sucedido seriado para a TV em que ela se baseou, criado e
produzido por Bruce Geller que foi ao ar entre 1966 e 1973 em 7 temporadas. O
famosíssimo tema musical (reaproveitado na versão cinematográfica) marca o
ponto alto da carreira por Lalo Schifrin. O maestro, músico e arranjador
argentino trabalhou com diretores de renome como, Peter Yates (BULLITT com
Steve McQueen) e Don Siegel (DIRTY HARRY com Clint Eastwood) além das trilhas
de OPERAÇÃO DRAGÃO (Bruce Lee), A HORA DO RUSH (Jackie Chan) e TERROR EM
AMYTVILLE dentre tantas.
34) VELUDO AZUL (David Lynch), 1986
Angelo Badalamenti foi o compositor
preferido de David Lynch, compondo 4 trilhas de destaque: TWIN PEAKS, CIDADE
DOS SONHOS, ESTRADA PERDIDA e BLUE VELVET. Nessa última, a canção tema,
mega-sucesso do cantor Bobby Vinton (interpretada no filme pela atriz Isabella
Rosselini) inspirou o título. Roy Orbinson também comparece com IN DREAMS,
reforçando o clima pop vintage, justaposto por uma partitura orquestral
conduzida por Badalamenti, tendo como referência o compositor clássico
Shostakovich. A combinação desses elementos tão díspares criou um clima
perfeito para o perturbador enredo com características neo-noir.
Russo de nascimento, Irving Berlin foi
indiscutivelmente um dos mais profícuos compositores da história, com inúmeras
canções que se tornaram clássicos do cancioneiro americano. Dentre as trilhas
mais famosas, O PICOLINO (TOP HAT) com a inesquecível CHEEK TO
CHEEK em que Fred Astaire exibe suas habilidades vocais e de sapateado
acompanhado de Ginger Rogers. Outros filmes que contaram com composições de
Berlin são BLUE SKIES, EASTER PARADE (DESFILE DE PÁSCOA) e HOLIDAY INN que
revelou WHITE CRISTMAS imortalizada por Bing Crosby, cujo single é referenciado
como o mais vendido de todos os tempos, com 50 milhões de cópias,
36) FURYO (Nagisa Oshima), 1983
A produção nipônica de guerra estrelada por David Bowie ganhou uma bastante pertinente trilha assinada por Ryuichi Sakamoto, combinando composição sinfônica ocidental com sons tradicionais do extremo oriente e um toque de música eletrônica. O conhecido tema instrumental ganhou uma maravilhosa versão vocal de David Sylvian do grupo Japan (que de japonês só tem o nome). Sakamoto viria também a compor para três filmes de Bernardo Bertolucci, O CÉU QUE NOS PROTEGE, O PEQUENO BUDA e O ÚLTIMO IMPERADOR (ganhando o Oscar por esse último). Compôs também para OLHOS DE SERPENTE (Brian de Palma) e DE SALTO ALTO (Almodóvar). O diretor Oshima é o mesmo do arrojado IMPÉRIO DOS SENTIDOS, filme que desafiou os padrões de censura com suas cenas de sexo explícito.
37) ADEUS ÀS ILUSÕES (Vincente Minelli), 1965
Nesse filme rodado na costa da
California, o casal Richard Burton & Elizabeth Taylor protagonizou um
tórrido romance proibido que desafiou as convenções moralistas da época. Apesar
das críticas mornas e do desempenho comercial sofrível, o filme teve o mérito
de revelar THE SHADOW OF YOUR SMILE (também conhecida como LOVE THEME FROM
SANDPIPER), composição de Johnny Mandel, que, não apenas ganhou o Oscar de
melhor canção, como foi, devido à sua melodia refinada, uma preferidas por
intérpretes ligados ao jazz, com incontáveis gravações: Tony Bennett, Andy
Williams, Frank Sinatra, Barbra Streisand, Astrud Gilberto, Stevie Wonder, Ella
Fitzgerald, Sarah Vaughan, George Benson, Gerry Mulligan, Bill Evans, Wes
Montgomery etc.
O diretor e roteirista tcheco Milos
Forman é um dos mais respeitados do cinema, com diversos filmes premiados como
UM ESTRANHO NO NINHO, AMADEUS, HAIR e O POVO CONTRA LARRY FLYNT, dos quais,
HAIR, recheado de hinos hippies é o que dispõe da trilha sonora mais conhecida.
A ópera-rock antibelicista, baseada no musical homônimo da Broadway de 1968,
captou o clima da contracultura e na rejeição à Guerra do Vietnam. O álbum
vendeu milhões de cópias revelando canções como AQUARIUS/LET THE SUNSHINE IN
(imortalizada pelo grupo 5th Dimension) e GOOD MORNING STARSHINE (hit do cantor
Oliver). Por sua vez, a trilha de AMADEUS com músicas de Mozart regidas por
Neville Marriner ajudou a popularizar o músico erudito.
39) O SENHOR DOS ANEIS (Peter Jackson), 2001
A quantidade de trilhas assinadas por
Howard Shore impressiona. Musicou quase todos os filmes de Cronenberg (A MOSCA,
VIDEODROME, SCANNERS, MARCAS DA VIOLÊNCIA) e diversos de Scorsese (O AVIADOR,
OS INFILTRADOS, GANGUES DE NOVA YORK, AFTER HOURS), além de SILÊNCIO DOS
INOCENTES, SEVEN dentre tantas. Mas, indubitavelmente, suas trilhas mais
conhecidas são as das trilogias O SENHOR DOS ANEIS e O HOBBIT dirigidas por
Peter Jackson com base na literatura fantástica de R R Tolkien. A grandiosidade
de tarefa de Howard é notável, empenhando uma orquestra com uma quantidade absurda de músicos e instrumentos. Como resultado, faturou 3 Oscars, inclusive melhor
canção para INTO THE WEST (parceria com Annie Lennox).
Spike Lee é conhecido por explorar em
filmes engajados temáticas raciais. DO THE RIGHT THING foi seu maior êxito. O
filme trata da escalada de violência gerada pela instalação no bairro
predominantemente negro do Brooklin, NY, de uma pizzaria por um italiano branco
e seus filhos. A trilha que serve como fundo a esse quadro de conflitos traz
diversos ritmos da música black: hip hop (Public Enemy), jazz (Al Jarreau),
swing (Teddy Riley), reggae (Steel Pulse), gospel (Take 6) e até salsa (Ruben
Blades).
Confira a 1ª parte: